007 MARCADO PARA A MORTE (1987)

(The Living Daylights)

4 Estrelas 

Videoteca do Beto #205

Dirigido por John Glen.

Elenco: Timothy Dalton, Maryam d’Abo, Jeroen Krabbé, Joe Don Baker, John Rhys-Davies, Art Malik, Andreas Wisniewski, Desmond Llewelyn, Robert Brown, Geoffrey Keen, Walter Gotell, Caroline Bliss e John Terry.

Roteiro: Richard Maibaum e Michael G. Wilson, baseado em história de Ian Fleming.

Produção: Albert R. Broccoli e Michael G. Wilson.

007 Marcado para a Morte[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

A saída de Roger Moore marcou o fim de uma fase complicada na franquia 007. Sem conseguir dosar muito bem a ação e o humor e contando com Moore cada vez menos interessado, John Glen acabou sendo responsável por dirigir alguns dos momentos mais embaraçosos do agente secreto (o grito do Tarzan é imperdoável!). Coube então a Timothy Dalton a missão de resgatar a abordagem mais séria neste “007 Marcado para a Morte” e, felizmente, o ator se saiu bem na missão, ainda que desta vez a dosagem peque justamente pela falta de alívios cômicos. Menos mal. Melhor exagerar na criação de uma atmosfera crível de ameaça ao protagonista do que ridicularizar o mesmo.

Pela quarta vez seguida, a missão de adaptar a história de Ian Fleming para o cinema ficou a cargo de Richard Maibaum e Michael G. Wilson. Em “007 Marcado para a Morte”, eles trazem James Bond (Timothy Dalton) ajudando o general Georgi Koskov (Jeroen Krabbé) a fugir da Cortina de Ferro, mas logo depois o russo é capturado e levado de volta a União Soviética. Antes de voltar, Koskov denuncia um plano do general Leonid Pushkin (John Rhys-Davies) que envolvia o assassinato de agentes secretos britânicos, o que leva Bond a investigar o caso e descobrir que, na realidade, o traficante de armas Brad Whitaker (Joe Don Baker) é quem tinha planos potencialmente perigosos.

Ainda que a trama não seja o mais importante num filme de James Bond, construir um roteiro minimamente interessante era o primeiro passo para recuperar o prestígio da franquia. Felizmente, a dupla responsável por roteiros bem fracos com o de “007 Contra Octopussy” surpreendeu neste “007 Marcado para a Morte”, elaborando uma trama com boas reviravoltas e que, mesmo com exageros, consegue prender a atenção do espectador. Por sua vez, John Glen procura conduzir a narrativa de maneira mais séria, já que, em pleno auge dos macho movies, seguir na linha cômica que marcou seus trabalhos anteriores poderia enterrar de vez a franquia.

Assim, o diretor procura criar uma atmosfera mais sóbria, ainda que abra espaço para momentos bem humorados como quando Bond e Kara (Maryam d’Abo) fogem para a Áustria utilizando um violoncelo e, ao passarem pela fronteira, gritam que não tem nada a declarar. Nesta mesma linha, a fotografia de Alec Mills aposta num visual predominantemente obscuro, especialmente nas sequências que se passam dentro da Cortina de Ferro, criando um contraste interessante com a fotografia árida em Tangier, no Marrocos, e com toda a beleza imperial de Viena.

Auxiliando ao estabelecer com clareza cada ambiente através da decoração detalhada, o design de produção de Peter Lamont mais uma vez chama a atenção através de cenários como a casa de Óperas na antiga Tchecoslováquia e a casa repleta de armas de Whitaker, assim como são importantes também os figurinos de Emma Porteous que diferenciam bem as elegantes vestimentas britânicas dos uniformes utilizados pelos soviéticos e, principalmente, das roupas despojadas dos afegãos.

Por sua vez, a trilha sonora de John Barry também oscila bastante de um ambiente para o outro, surgindo numa composição tensa na Cortina de Ferro, numa marcha triunfal na chegada ao Afeganistão após a fuga de 007 da prisão e com variações da música tema “The Living Daylights”, do A-ha, que segue a tendência mais dançante estabelecida no filme anterior com o Duran Duran, escorregando apenas na composição deslocada que acompanha o ataque do agente da KGB disfarçado de leiteiro.

Visual obscuro na Cortina de FerroCasa de Óperas na antiga TchecoslováquiaJames Bond mais sérioSuperando o natural incômodo inicial do espectador após sete filmes estrelados por Roger Moore, Timothy Dalton compõe um James Bond mais sério, adotando uma postura firme e até mesmo agressiva que recupera o respeito perdido em sequências ridículas dos filmes anteriores, ainda que falte um pouco do charme diante das mulheres que, por exemplo, Connery tinha. Mesmo assim, Dalton segue uma linha coerente com o histórico do personagem, por exemplo, ao hesitar na hora de assassinar uma atiradora, demonstrando no rosto o interesse de James Bond na garota, da mesma forma como seu semblante indica a fúria de 007 após a morte de Saunders (Thomas Wheatley) no parque Prater em Viena. Convencendo ainda nas lutas corporais, como no segmento de abertura, o ator se sai bem na difícil tarefa de assumir um personagem já bem estabelecido e com uma enorme quantidade de fãs.

Para a alegria destes mesmos fãs, “007 Marcado para a Morte” marca também a volta do estiloso Aston Martin, o carro de luxo super equipado que estrela a fuga alucinada de Bond com a violinista Kara, na qual somos apresentados aos engenhosos opcionais do veículo que ajudam o protagonista a se livrar dos inimigos. Interpretada por Maryam d’Abo, Kara divide-se entre o amor por Kostov e a atração momentânea por Bond até que reencontre o amado e, enganada por ele, traia o agente britânico, numa das interessantes reviravoltas do roteiro. Outro destaque feminino do elenco fica para a primeira aparição de Caroline Bliss como a nova Moneypenny, mantendo o estilo “esquisita, mas simpática” que marcou a adorável Lois Maxwell.

Volta do estiloso Aston MartinViolinista KaraRespeitável general Leonid PushkinEntre os vilões, o mais respeitável é o general Leonid Pushkin interpretado com firmeza por John Rhys-Davies com seu tom de voz imponente e expressão rígida. No entanto, Pushkin acaba servindo apenas como isca, escondendo os verdadeiros vilões Georgi Koskov e Brad Whitaker, vividos de maneira mais leve e caricata por Jeroen Krabbé e Joe Don Baker, o que infelizmente enfraquece a narrativa já que estes são personagens bem menos ameaçadores que Pushkin. E finalmente, Art Malik tem uma participação rápida e sem grande destaque na pele de Kamran Shah, o líder afegão que ajuda Bond a derrotar os russos.

A batalha no Afeganistão, aliás, dura mais tempo do que deveria, enquanto o confronto final com Whitaker acaba rápido demais, o que denuncia um problema na montagem de Peter Davies e John Grover que até ali caminhava muito bem. Em todo caso, a condução do restante da narrativa agrada e sua solução é satisfatória.

Para a alegria dos fãs, James Bond finalmente estava de volta com todo vigor após algumas escorregadas perigosas. E ainda que John Glen tenha seus méritos, é inegável que a presença de Timothy Dalton foi crucial neste processo, trazendo de volta parte da credibilidade e do respeito perdidos nos últimos anos de Roger Moore.

007 Marcado para a Morte foto 2Texto publicado em 30 de Maio de 2014 por Roberto Siqueira

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