O BEBÊ DE ROSEMARY (1968)

(Rosemary’s Baby)

 

Videoteca do Beto #42

Dirigido por Roman Polanski.

Elenco: Mia Farrow, John Cassavetes, Ruth Gordon, Sidney Blackmer, Maurice Evans, Ralph Bellamy, Victoria Vetri, Patsy Kelly, Elisha Cook Jr., Emmaline Henry, Charles Grodin, Hanna Landy, Phil Leeds, Marianne Gordon e Tony Curtis. 

Roteiro: Roman Polanski, baseado em livro de Ira Levin. 

Produção: William Castle e Dona Holloway. 

[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido o filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Quando escrevi sobre “O Iluminado”, clássico do suspense dirigido por Stanley Kubrick, afirmei que a utilização de crianças como elemento chave do suspense é um artifício interessante, já que são teoricamente inofensivas, e por isso, quando envolvidas no suspense aumentam consideravelmente o medo provocado no espectador. Sendo assim, o que dizer então da utilização de um bebê que ainda se encontra no ventre de sua mãe? A aterrorizante busca pela verdade de uma mulher grávida que pensa ter sido vitima de bruxaria é o fio condutor deste excelente “O Bebê de Rosemary”, dirigido pelo ótimo Roman Polanski.

O jovem casal Guy (John Cassavetes) e Rosemary (Mia Farrow) se muda para um prédio antigo e ao chegar lá, se depara com vizinhos estranhos, porém muito receptivos. Algum tempo depois, Rosemary engravida e passa a ter estranhas visões, ao mesmo tempo em que seu marido, de forma suspeita, começa a se envolver cada vez mais com estes vizinhos, despertando dúvidas assustadoras em Rosemary.

Logo no elegante travelling inicial, Roman Polanski nos joga pra dentro do prédio onde toda a ação acontecerá. Em seguida, através das histórias contadas para o casal por Hutch (Maurice Evans) sobre o edifício para o qual eles estão se mudando, o diretor começa a criar o clima ideal para o suspense, aumentando gradualmente a expectativa no espectador. Quando Guy e Rosemary finalmente se mudam para o edifício e conhecem o casal de idosos Minnie Castlevet (Ruth Gordon) e Roman Castlevet (Sidney Blackmer), somos lentamente apresentados a diversos indícios que levantam dúvida sobre a idoneidade dos Castlevet. Muito receptivos, e até mesmo intrometidos, eles se mostram pessoas ao mesmo tempo encantadoras e assustadoras. A conversa sobre religião, logo no primeiro jantar na casa deles, é o primeiro claro sinal que reforçará os pensamentos futuros de Rosemary sobre bruxaria. Muitos outros indícios viriam com o passar do tempo, como o suicídio de Terry (Victoria Vetri), a moça que vivia com os Castlevet e, principalmente, o amuleto que é dado para Rosemary (e que pertencia a Terry), despertando desconfiança pelo mau cheiro e pela misteriosa erva que carrega dentro. Outro claro indicativo acontece quando, logo após conversar com Roman a respeito da dificuldade para conseguir um importante papel numa peça e ouvir “Tenho certeza de que os conseguirá” como resposta, o ator contratado fica cego e Guy é escolhido seu substituto. Finalmente, vale observar também como durante os pesadelos de Rosemary podemos escutar a mesma estranha reza, vinda do apartamento dos Castlevet, que antecedeu a morte de Terry. Seria apenas coincidência? Finalmente, a frase dita por Roman assim que soube da gravidez dela (“1966, o ano um!”) colabora ainda mais para os pensamentos da moça.

E que pensamentos são estes? Ora, Rosemary, na noite em que fica grávida, é assolada por visões no mínimo preocupantes. A composição da perturbadora cena em que o bebê é gerado é perfeita, repleta de imagens distorcidas que lembram um pesadelo. A mistura confusa – com o teto da Capela Sistina (símbolo católico), pessoas conhecidas e outras jamais vistas por Rosemary, um porão escuro com uma lareira que remete ao inferno, uma cama e a imagem da besta – acaba gerando dúvida sobre a realidade ou não destas imagens. Seria um pesadelo ou realmente aconteceu? Coincidentemente, após as conversas entre Guy e Roman, o ator começa a ter sucesso na carreira, ao mesmo momento em que finalmente deseja ter um bebê. A dúvida e a desconfiança começam a perambular pela mente da moça. Mas acertadamente, o excelente roteiro do próprio Polanski (baseado em livro de Ira Levin) não deixa claro se Rosemary realmente passou por tudo aquilo ou se ela está enlouquecendo. Como durante a gravidez é normal que as mulheres fiquem mais sensíveis, esta segunda possibilidade é plausível. Repare que nos momentos cruciais da narrativa – como a própria a noite em que o bebê é gerado – jamais podemos ter certeza se ela está tendo um pesadelo ou se o que vemos é realidade. Até mesmo os pequenos detalhes colaboram para criar esta dúvida, como o fato de Rosemary não comer todo o mousse de chocolate e os arranhões em seu corpo no dia seguinte ao “pesadelo”. Para os adeptos da teoria maligna de Rosemary, até mesmo a cor vermelha da roupa dela naquela noite pode simbolizar a união inconsciente com o demônio, o que revela uma escolha inteligente de Anthea Sylbert, responsável pelos figurinos. A trilha sonora de Christopher Komeda lembra uma canção de ninar, apresentando muitas variações do mesmo tema durante o filme. Já a Direção de Fotografia de William A. Fraker envolve os personagens em ambientes sombrios, além de trabalhar bem no contraste entre os apartamentos de Rosemary (claro e limpo) e dos Castlevet (bagunçado e escuro), revelando também o bom trabalho de Direção de Arte de Joel Schiller. Quando Rosemary e Guy fazem amor pela primeira vez no filme, Fraker mergulha os dois na completa escuridão, talvez refletindo o tortuoso caminho que ela seguiria na próxima vez em que os dois se relacionassem sexualmente.

Explorando muito bem a constante dúvida que o espectador sente ao testemunhar a busca de Rosemary pela verdade, Polanski acerta também na escolha do elenco, fundamental para o sucesso da trama. A atuação de Mia Farrow é muito boa, deixando as dúvidas e receios de Rosemary transparecer em seu semblante. Frágil e desconfiada, sua interpretação colabora com este sentimento ambíguo que o espectador sente durante praticamente todo o longa e sua determinação em defender seu bebê é tocante. As rezas estranhas escutadas através da parede e os quadros retirados quando Rosemary visita os Castlevet aumentam sua desconfiança, reforçada ainda pelo fato de Roman dizer que já viajou o mundo inteiro (“Diga um lugar e direi se já estive lá”), já que um bruxo não pode ficar muito tempo no mesmo local arriscando ser descoberto. O Guy de John Cassavetes é uma pessoa misteriosa. Bem humorado, como notamos quando faz piada sobre plantação de maconha e sobre os espíritos de duas irmãs no apartamento, ele mantém uma boa química com Rosemary no início. Por outro lado, seu fracasso profissional começa a afastá-lo da esposa, e curiosamente, aproximá-lo do casal de idosos, colaborando para a desconfiança de Rosemary. Observe como os dois reagem de maneira fria à gravidez, já refletindo o afastamento do casal. A alegria dela é contida, porém perceptível, ao passo em que Guy, apesar de feliz, não demonstra a empolgação esperada de um pai. Por outro lado, repare como ele corre para contar aos Castlevet assim que sabe da notícia da gravidez, gerando ainda mais desconfiança na garota. Finalmente, o fantástico casal Castlevet é interpretado por Ruth Gordon e Sidney Blackmer, com destaque para a belíssima atuação de Gordon como Minnie Castlevet. Intrometida e falastrona, ela nos deixa constantemente na dúvida sobre suas reais intenções enquanto faz amizade com o casal, fazendo com que o espectador jamais saiba se Minnie realmente é uma bruxa ou se simplesmente gosta deles. Ao mesmo tempo em que é receptiva e calorosa com Guy e Rosemary, a Sra. Castlevet demonstra um suspeito interesse no primeiro bebê da moça, ao dizer repetidas vezes que ela é jovem e com certeza vai ter “muitos” bebês ainda.

A descoberta lenta e tensa dos sinais – novamente, mérito do ótimo roteiro – leva Rosemary a procurar ajuda com outro médico. Porém, o diagnostico dele de que ela está delirando nos devolve a dúvida. E agora? Estaria ela realmente imaginando tudo aquilo ou seria um complô generalizado contra a indefesa garota? A excelente seqüência final em que Rosemary descobre toda a verdade, entrando pelos fundos do armário de sua casa com uma faca na mão, é esplendidamente bem conduzida por Polanski. Lentamente somos apresentados aos detalhes da casa, como os quadros sinistros e o berço negro, que confirmam a teoria de Rosemary. E o grande clímax acontece quando Rosemary finalmente se encontra com o filho, retirado de seus braços antes mesmo que ela pudesse ver seu rosto. O choque é tão grande que ela não consegue conter o espanto – e Mia Farrow dá um show nesta cena. Entretanto, após o susto e as conversas com Guy e Roman, ela volta ao berço e olha para o filho com os olhos encantados de mãe. E a dúvida volta: estaria ela ainda delirando quando entrou no local ou teria se conformado com a realidade? Eu fico com a segunda opção. Ainda assim, vale ressaltar que o longa jamais mostra o bebê de Rosemary, o que permite diversas interpretações diferentes e abre espaço para a imaginação do espectador fluir.

Extremamente bem conduzido, de forma a gerar pensamentos ambíguos em cada espectador, “O Bebê de Rosemary” revela-se um excelente filme de terror que não utiliza cenas violentas como forma de assustar o espectador. Polanski cria uma situação aterrorizante, capaz de causar pânico sem a necessidade de utilizar recursos artificiais como a trilha sonora para isto. É a situação em que os personagens estão envolvidos que causa temor, o que é muito mais interessante. A dúvida gerada em torno dos pensamentos e visões de Rosemary e a ambigüidade de sua atitude final elevam ainda mais a qualidade da obra. Por isso, independente de qual seja sua interpretação final, o espectador ficará satisfeito com o que viu. 

Texto publicado em 03 de Fevereiro de 2010 por Roberto Siqueira

SPARTACUS (1960)

(Spartacus)

 

Videoteca do Beto #40

Dirigido por Stanley Kubrick.

Elenco: Kirk Douglas, Laurence Olivier, Peter Ustinov, Jean Simmons, Charles Laughton, Tony Curtis, John Gavin, Nina Foch, John Ireland, Herbert Lom, John Dall, Charles McGraw, Joanna Barnes, Harold Stone, Woody Strode e Peter Brocco.

Roteiro: Dalton Trumbo, baseado em livro de Howard Fast.

Produção: Edward Lewis.

[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido o filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Extremamente atraente visualmente, o épico de Stanley Kubrick “Spartacus” é também um drama bastante humano sobre a luta de um escravo contra a opressão do imponente império Romano. Mesmo sem a costumeira liberdade artística que conseguiria alguns anos depois, Kubrick consegue realizar um excelente trabalho, construindo seqüências maravilhosas e narrando uma história extremamente cativante com a habitual competência.

Um escravo chamado Spartacus (Kirk Douglas), condenado à morte por morder um guarda, é comprado por um agente de gladiadores e levado para ser treinado como tal. Ao ser colocado na arena para servir de espetáculo para dois casais romanos e ser poupado por seu oponente, Spartacus vê crescer dentro de si a fúria contra o império romano, que explode de vez quando sua amada Varinia (Jean Simmons) é vendida e levada para Roma. Sua revolta rapidamente se transforma numa verdadeira rebelião contra Roma, que tomará proporções épicas e terminará de forma trágica para a maioria dos envolvidos.

Os gladiadores em “Spartacus” eram homens treinados somente para matar. Seus corpos esculpidos eram capazes de impressionar as mulheres romanas, arrancando sorrisos e olhares nada discretos por parte delas. Por outro lado, estes homens intuitivamente não estabeleciam relações de amizade entre si, pois sabiam que um dia poderiam ter que se enfrentar na arena. Exatamente quando descobre esta particularidade, Spartacus acaba mudando o conceito, e o gladiador que o contestou numa conversa sobre o assunto é justamente aquele que não consegue matá-lo na arena, mesmo com o oponente completamente dominado, justamente por causa da pequena conexão criada entre eles. Esta conexão se transforma então num sentimento muito maior, existente entre todos os gladiadores e escravos, quando Spartacus, ao ver sua amada ser vendida e levada para Roma, inicia sua rebelião.

Como podemos perceber, o bom roteiro de Dalton Trumbo (baseado em livro de Howard Fast) é repleto de momentos extremamente marcantes, como a emocionante frase repetida por todos os prisioneiros (“Eu sou Spartacus!”), após a sangrenta batalha entre romanos e escravos. Além disso, é dono de uma coragem ímpar para sua época, como podemos notar no diálogo entre Crassus (Laurence Olivier) e Antoninus (Tony Curtis) sobre ostras e caracóis, claramente contendo um subtexto homossexual (lembre-se, o filme é de 1960). O jogo de interesses pelo poder também é muito bem retratado no longa, reforçando a qualidade do roteiro de Trumbo. Notável também é o resultado alcançado pela direção de fotografia de Russell Metty (supervisionada tão de perto por Kubrick que Metty pediu para não ser creditado), que destaca cores áridas na primeira parte do filme (marrom, amarelo e bege) refletindo o clima quente e seco em que os escravos viviam, e posteriormente, alterna de cores fortes nas belas planícies para o mergulho nas sombras dentro dos ambientes pouco iluminados da época. O bom trabalho de montagem de Robert Lawrence alterna com consistência entre as seqüências de ação (treinamento, guerra), romance (Spartacus e Varinia) e até mesmo as sutilezas políticas nos bastidores do senado romano. Além disso, a montagem cria um grande momento quando os dois líderes (Spartacus e Crassus) estão discursando para os seus seguidores. A perfeita ambientação à época do império romano se consolida através da boa direção de arte de Eric Orbom e dos belos figurinos da dupla Valles e Bill Thomas, tornando aquele universo bastante crível. A bela trilha sonora de Alex North completa o ótimo trabalho técnico, alternando entre momentos leves e sentimentalistas (quando a cena envolve Varinia) e acordes rápidos e fortes (durante o treinamento), alcançando seu ápice durante a batalha final, em tom triunfal.

Mas Spartacus não é apenas um esplendor técnico. As atuações mantém o bom nível do longa, a começar por Kirk Douglas, que encarna Spartacus, o escravo que virou líder da rebelião, com grande vigor. Sua firmeza na condução de milhares de pessoas demonstra seu extinto nato de liderança, e Douglas é competente ao transmitir a firmeza necessária ao personagem. O ator também se mostra competente nos momentos sutis, como quando diz que Antoninus tem grande valor e que ele tem sede de saber (“Um animal aprende a lutar, mas recitar coisas bonitas… Sou livre e não sei ler, quero aprender tudo. Quero saber de onde vem o vento…”). Nas palavras de Varinia, Spartacus era forte o suficiente para ser fraco, demonstrando sentimentos e se mostrando alguém bastante humano, como fica claro quando tem a oportunidade de salvar sua pele e da sua família, mas ao invés disso, manda embora quem fez a oferta, extremamente ofendido pela idéia de deixar os outros escravos para trás. Além disso, o romance entre Spartacus e Varinia só é verossímil devido à excelente química do casal. O interesse de Spartacus por Varinia era verdadeiro (“Eles a machucaram?”), e ela sente isto. A paixão nasce quando ele a trata como uma pessoa, uma mulher de verdade, e não uma escrava sexual que está ali para servi-lo. Esta paixão será o estopim da revolta de Spartacus, que iniciará sua luta contra Roma no momento em que ver Varinia deixar os portões da cidade. Jean Simmons é a parceira ideal para Douglas, vivendo Varinia com sensualidade e sensibilidade. Seus grandes momentos acontecem justamente quando contracena com o escravo, criando empatia com o espectador, como em seu reencontro com Spartacus após ser levada para Roma, o momento em que conta que está grávida e a triste despedida do casal.

Completando o elenco, Charles McGraw é bem firme como Marcellus, o ex-gladiador que agora é treinador (“Teria o visual de Maximus, de Gladiador, sido inspirado nele?”). Peter Ustinov também está muito bem como o esperto agente de escravos Lentulus Batiatus. Repare como ao pressentir que o local estava em ebulição, ele foge sem pestanejar, largando tudo para trás, momentos antes da rebelião se consumar. Charles Laughton tem uma grande atuação como o senador Gracchus, que faz questão de deixar bem claro qual é o único meio de se manter vivo no sujo universo do senado romano (“Em Roma, a dignidade encurta a vida mais que a doença”). E finalmente, Laurence Olivier cria um Marcus Crassus absolutamente temível, alternando repentinamente seu senso de humor, por exemplo, quando está com Varinia. Sua crueldade fica evidente quando finalmente chega ao poder. Sua sede não era apenas por capturar Spartacus, ele queria “matar a lenda”. Mas suas atitudes tiveram um efeito contrário. Interessante notar como o cruel Crassus se rende ao poder de sedução da mulher quando vê Varinia, levando-a para viver com ele. Por mais cruel que seja, um homem jamais resiste aos encantos femininos.

E finalmente, não podemos deixar de destacar o homem responsável por este grande épico. Stanley Kubrick dirige “Spartacus” com a firmeza costumeira, trabalhando nos pequenos detalhes para criar cenas absolutamente inesquecíveis. Repare, por exemplo, o plano deslumbrante da caminhada dos escravos, já livres, filmado de cima de um monte, ou o curioso ponto de vista de Spartacus enquanto aguarda ansioso para lutar na arena, olhando pela fresta da madeira. Kubrick ainda comanda duas seqüências absolutamente sensacionais. A primeira delas é a rebelião dos gladiadores e a conseqüente fuga do local onde eram treinados, filmada com muito vigor e realismo. Ainda mais impressionante é a espetacular seqüência da batalha final, com movimentos orquestrados de mais de oito mil figurantes, movimentos de câmera extremamente ágeis e um ritmo alucinante completamente coerente com o momento, tornando a cena bastante realista. Um exemplo de grande direção. Destaca-se nesta seqüência o excelente trabalho de som que trabalha em pequenos detalhes, como o barulho das espadas, e em grande escala, através dos gritos da multidão.

A bela e triste cena final emociona, quando Spartacus, à beira da morte, conhece seu filho, que viverá livre como ele sonhou. O triste desfecho resume bem o fio condutor da trama. A luta de um homem para conseguir ser livre, viver normalmente e ter uma família. E exatamente por retratar esta batalha focando o drama de um homem só que “Spartacus” se torna bastante humano. O espectador se identifica com o drama que vê na tela, o que não aconteceria se apenas acompanhasse milhares de homens lutando em campo aberto, sem saber as motivações de cada um. As razões do conflito ficam claras e o espectador sabe o que está em jogo.

“Spartacus” não é o grande trabalho da vida de Stanley Kubrick, que faria depois pelo menos duas obras-primas da história do cinema. Mas nem por isso deixa de ser um grande filme, lindamente fotografado, com uma estória apaixonante e envolvente e, pra variar, extremamente bem dirigido. Contando ainda com excelentes atuações, o longa garante a diversão e prova que as grandes produções podem sim oferecer bom entretenimento, sem ofender a inteligência do espectador.

Texto publicado em 29 de Janeiro de 2010 por Roberto Siqueira