RAMBO – PROGRAMADO PARA MATAR (1982)

(First Blood)

 

Videoteca do Beto #28

Dirigido por Ted Kotcheff.

Elenco: Sylvester Stallone, Richard Crenna, Brian Dennehy, Bill McKinney, Jack Starrett, Michael Talbott, Chris Mukley, John McLiam, Alf Humphreys, David Caruso, David Crowgley e Bruce Greenwood.

Roteiro: Michael Kozoll, William Sackheim e Sylvester Stallone.

Produção: Buzz Feitshans.

[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido o filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Não é difícil imaginar a dificuldade de adaptação de um soldado que retorna da guerra para conviver em sociedade novamente. Treinados basicamente para lutar e tentar sobreviver em campo de batalha, raramente estas pessoas conseguirão uma oportunidade para trabalhar e viver normalmente, sendo tratados com enorme preconceito, ainda mais quando a guerra em questão foi perdida por seu país. Além disso, pode-se imaginar também o enorme trauma causado na mente humana ao testemunhar com os próprios olhos e sentir na pele todo o horror e insanidade da guerra. Estas duas importantes discussões estão presentes em “Rambo – Programado para Matar”, o filme repleto de ação e extremamente realista dirigido por Ted Kotcheff e estrelado por Sylvester Stallone.

John Rambo (Sylvester Stallone) é um veterano de guerra do Vietnã que vai para uma pequena cidade encontrar um amigo, também ex-combatente, e ao chegar lá, descobre que ele morreu de câncer. Ao caminhar pela cidade à procura de algo para comer, se depara com o xerife Will Teasle (Brian Dennehy) e é preso injustamente por ser “vagabundo”. Na prisão, após ser maltratado pelos policiais, consegue fugir e provoca uma guerra contra toda a cidade.

“Rambo” é inquestionavelmente um filme de ação, e neste sentido, a direção de Ted Kotcheff é muito competente, ao conseguir criar seqüências que além de empolgantes, são extremamente realistas. Desde o momento em que Rambo se rebela na prisão, dando início à implacável perseguição do xerife à Rambo, que corta as fazendas com sua moto e posteriormente, a pé, é notável a habilidade do diretor, que ainda cria planos bastante criativos. Observe por exemplo, o ótimo plano em que Rambo se esconde atrás de uma árvore enquanto o helicóptero tenta encontrar uma brecha para que o policial atire nele. Praticamente nos escondemos dos tiros junto com ele e torcemos por seu sucesso. Durante a caçada na mata (onde Rambo obviamente se sentia à vontade e sabia muito bem como se virar com o que encontrava pelo caminho) são muitas as cenas marcantes. Em uma delas, o plano permite ao espectador ver Rambo no alto enquanto um policial o procura no chão e não percebe sua presença, segundos antes dele atacar. Kotcheff, porém, cria também seqüências exageradas e pouco verossímeis, como quando Rambo pula de um penhasco e cai vivo lá embaixo ou quando enfrenta sozinho muitos policiais armados e escapa da delegacia. Mas para isso, ele conta com um trunfo especial, que é a habilidade de Stallone para atuar nestas seqüências que exigem força física. O ator consegue tornar estas seqüências críveis. Além disso, conta com a boa direção de fotografia de Andrew Laszlo, que confere um tom sombrio ao longa, principalmente nas seqüências dentro da mata, e com a ágil montagem de Joan E. Chapman, que garante o excelente ritmo da narrativa, além de colaborar nas ótimas cenas de ação. Completando a parte técnica, a bela trilha sonora de Jerry Goldsmith alterna do tom nostálgico que reflete o estado de espírito do soldado para momentos de um tom muito mais pesado, condizente com ação frenética que vemos na tela.

Parte de nossa empatia com Rambo se deve a situação em que ele é apresentado (claro que o carisma de Stallone ajuda). Temos a tendência de torcer por quem está vulnerável e o bom roteiro de Michael Kozoll, William Sackheim e Sylvester Stallone explora muito bem isso, ao apresentar Rambo sendo preso injustamente e acuado por todos os policiais. Stallone, aliás, resume sua atuação a olhares mal encarados, algumas poucas frases, gritos e muita correria, até os momentos finais, onde a conversa com o coronel Samuel Trautman (Richard Crenna) comprova que ele pode mostrar mais que isso como ator. O convincente choro amargurado, expondo todo seu sofrimento, mostra os efeitos da guerra na vida desta pessoa e expõe o quanto é difícil continuar vivendo normalmente depois dela. Sua frase “Aqui não consigo emprego nem de motorista!” resume bem como é difícil se adaptar novamente à sociedade. Em outro bom momento de Stallone (que é também um excepcional roteirista), Rambo conversa pelo rádio com o coronel e deixa claro o seu sofrimento com o que estava acontecendo. “Eles me machucaram primeiro” (They drew “first blood”, not me) são as palavras dele que remetem ao titulo original do filme em inglês.

A vida pacata de uma pequena cidade pode se tornar enfadonha. Talvez por isso o xerife Teasle, vivido com competência por Brian Dennehy, tenha encontrado em Rambo uma oportunidade de se divertir. O que ele não esperava era que este aparente vagabundo era, na verdade, uma verdadeira máquina treinada para a guerra. Podemos notar, através de conversas entre os policiais e dos objetos na mesa do xerife, que a pequena cidade tem como principal atividade de lazer a caça. Com a chegada de Rambo, ele se transforma no animal a ser caçado. E ironicamente, é ele quem acaba caçando todos que cruzam seu caminho. A caçada vira uma questão pessoal para Teasle, e nem mesmo a alegria do jovem policial, ao ouvir a descrição no rádio de John Rambo dizendo que ele é um herói de guerra, foi capaz de fazê-lo mudar de idéia.

Em resumo, “Rambo” conta a estória da guerra pessoal de um homem contra toda uma cidade. Mas felizmente, o filme não se resume as cenas de ação frenética, explosões e tiros. Suas ótimas seqüências de ação servem como pano de fundo para reflexões infinitamente mais profundas e interessantes. Retratando com fidelidade o que aconteceu com os soldados norte-americanos, que foram tidos como vagabundos e drogados em sua volta ao país, “Rambo – Programado para Matar” se estabelece como um filme de ação eficiente e realista, que deixa ainda duas profundas questões para reflexão, tanto de ordem filosófica quanto política. Qual o efeito causado na mente humana pelo horror da guerra? E como é o tratamento dado pelos governos a estas pessoas que lutam para defender os interesses, muitas vezes nada nobres, de seus países? Após assistir a este e tantos outros bons filmes que abordam o tema, não é difícil chegar a uma conclusão.

Texto publicado em 21 de Dezembro de 2009 por Roberto Siqueira

37 comentários sobre “RAMBO – PROGRAMADO PARA MATAR (1982)

  1. Wilmondes Ferreira Cavalcante 12 outubro, 2017 / 12:27 am

    Estou assistindo o filme neste exato momento no Studio Universal. Esse filme é um clássico eterno e sua crítica foi muito bem escrita. Stallone humilha qualquer um dos seus “herdeiros atuais”. Abraço a todos.

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  2. Eliel o fiel 23 agosto, 2017 / 9:57 pm

    O filme rambo PROGRAMADO P MATAR JÁ ASSISTI UMAS 10 vezes muito bom o roteiro a s imagens a edicao musica de fundo.os melhores rambo 1 2 4 só o rambo 3 nao gostei fugiu um pouco da realidade .até hj assisto os filmes do rambo

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  3. rauny moreira 19 agosto, 2013 / 12:45 pm

    Tambem acho este filme melhor que as sequencias, tem melhor enredo e passa mais realismo do que os outros, infelizmente isso ocorre quase sempre, poucas continuacoes conseguem superar os originais, acho que so Matrix superou, pelo menos e o que me vem a cabeca agora, mais um excelente texto Beto parabens por conseguir enxergar os filmes como poucos

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    • Roberto Siqueira 16 setembro, 2013 / 11:28 pm

      Muito obrigado pelos elogios Rauny.
      Um abraço.

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  4. cross98 4 abril, 2012 / 10:00 pm

    O Maior canastrão de todos os tempos

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    • Roberto Siqueira 20 abril, 2012 / 11:07 pm

      Discordo.
      Abraço.

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    • cross98 20 maio, 2012 / 2:07 pm

      Quem é então ^^?

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    • Roberto Siqueira 24 maio, 2012 / 11:11 pm

      Não sei, mas ele não é.
      Abraço.

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  5. francisco 27 setembro, 2011 / 1:14 am

    Não gostar de um filme é perfeitamente normal…um direito de qualquer pessoa, isto é obvio, mas levando-se em conta que todos os comentários presentes aqui são elogiosos e alguém chamar de ‘porcaria’ é no mínimo, desrespeito…não ao filme, mas ao gosto alheio. Pra mim este Rambo é um verdadeiro clássico como filme de ação. Um abraço, Roberto e obrigado pela oportunidade.

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    • Roberto Siqueira 13 outubro, 2011 / 11:51 pm

      Obrigado por mais este comentário Francisco.
      Também gosto muito do primeiro Rambo. Os outros eu não gosto, mas este é bom mesmo.
      Abraço.

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    • francisco 17 outubro, 2011 / 12:42 am

      Exatamente, roberto…as continuações de Rambo infelismente partiram para outras direções e se banalizaram, da mesma forma que algumas outras continuações de filmes importantes (geralmente sem o diretor original ) .Tubarão de spielberg é um outro grande exemplo. Obrigado pela atenção, Roberto, grande abraço!

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    • Roberto Siqueira 11 novembro, 2011 / 8:46 pm

      É verdade Francisco, tem razão.
      As continuações de Tubarão são bem inferiores ao grande trabalho do Spielberg.
      Abraço.

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  6. Cesar Duarte 23 julho, 2011 / 10:29 pm

    Uma das maiores bobagens já feitas por Hollywood. Vindas do stallone não poderia se esperar coisa acima dessa dessa porcaria.

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    • Roberto Siqueira 23 julho, 2011 / 11:00 pm

      Olá Cesar,
      Como deixei claro na crítica, discordo de sua opinião. Acho o primeiro filme da série “Rambo” muito bom. Já os outros são decepcionantes.
      Mas, acima de tudo, respeito sua opinião, ok?
      Abraço e obrigado por todos os comentários. Fico muito feliz!

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  7. Leonardo 12 junho, 2011 / 9:50 pm

    Sem dúvida, se a Academia Americana de Cinema tivesse uma categoria para filmes de ação “RAMBO – PROGRAMADO PARA MATAR” receberia uma estatueta do Oscar. Prestes a completar 30 anos, o fime continua atual, mostrando o abuso da autoridade policial, tortura e injustiças praticadas contra pessoas inocentes!!!

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    • Roberto Siqueira 13 junho, 2011 / 8:32 pm

      Olá Leonardo.
      Obrigado pela visita e pelo comentário.
      Grande abraço e volte sempre.

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    • Roberto Siqueira 31 março, 2011 / 7:05 pm

      Olá Bruno.
      Concordo com você, este é de longe o melhor filme da série.
      Um abraço, obrigado pelo comentário e volte sempre.

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  8. clara 12 fevereiro, 2011 / 12:14 pm

    agradecida, espero sua resposta!

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  9. clara 12 fevereiro, 2011 / 12:14 pm

    adorei sua crítica, estou aqui, em busca de críticas a respeito da trilogia do filme, pois irei encaixar na mina mono!Você pode me ajudar?!

    agradecida, espero sua resposta!

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  10. clara 12 fevereiro, 2011 / 12:12 pm

    adorei sua crítica, estou aqui, em busca de críticas a respeito da trilogia do filme, pois irei encaixar na mina mono!Você pode me ajudar?!

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    • Roberto Siqueira 14 fevereiro, 2011 / 7:45 pm

      Oi Clara, obrigado pelo elogio.
      Não tenho intenção de escrever sobre os outros filmes da série “Rambo”. Aliás, não gosto de nenhum deles, só o primeiro mesmo.
      Um abraço e obrigado pela visita.

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    • Roberto Siqueira 15 janeiro, 2011 / 12:50 pm

      Cobra quanto Wilson?

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  11. Amanda 1 janeiro, 2011 / 12:08 pm

    Oi, adorei seu post, esse filme é MUITO bom, já vi umas 10 vezes e não me canso de reve-lo.
    Gostaria de saber se você sabe mais ou menos em que região é essa cidade que ele vai procurar o amigo, sei que é interior e tudo mas nunca reparei, não me lembro de mencionarem nem em que estado é a cidade e eu queria saber se alguém sabe …

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    • Roberto Siqueira 5 janeiro, 2011 / 9:30 pm

      Obrigado pelo elogio Amanda.
      Não sei exatamente onde fica a cidade, mas talvez você encontre no Google maps ou algo do tipo.
      Abraço, obrigado pela visita e volte sempre.

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  12. francisco 17 julho, 2010 / 11:55 am

    Se desculpar ? Imagina…ao contrário, fiquei até surpreendido com a rapidez das respostas. Só tenho a agradecer ! Um abraço !

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    • Roberto Siqueira 17 julho, 2010 / 9:31 pm

      Obrigado Francisco!
      Abraço.

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  13. francisco 14 julho, 2010 / 11:52 am

    Ótimo comentário sobre um filme não reconhecido como obra de arte, mas que tem, no mínimo algumas das mais competentes cenas de ação já filmadas e representa uma das últimas tentativas de se fazer um filme deste estilo de forma séria. Pena que abriu caminho para uma série interminável de filmes com heróis trogloditas de muito músculo e pouca alma, inclusive as próprias continuações de Rambo. E neste sentido poderemos considerar este original, um clássico ! Abraço !

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    • Roberto Siqueira 16 julho, 2010 / 7:35 pm

      É verdade Francisco, Rambo é um filme de ação acima da média.
      Gostaria de aproveitar para me desculpar pelo tempo que demorei pra responder seus comentários. Estive fora um tempo, logo após o fim da Copa, e não pude responder antes.
      Grande abraço.

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  14. tiago 10 janeiro, 2010 / 10:41 am

    obriago como muitas criticas que so elogiam o diretor você não esquece dos peqeunos que juntos fazem uma grande obra trilha sonora fotografia etc

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    • Roberto Siqueira 10 janeiro, 2010 / 4:11 pm

      Obrigado Tiago. O cinema é uma arte coletiva, cada participante tem sua parcela de importância no resultado final.
      Um grande abraço, seja bem vindo ao Cinema & Debate e volte sempre.

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  15. Osmar 30 dezembro, 2009 / 2:29 pm

    Parabéns pela Critica!!!
    Vale lembrar que este filme é baseado no livro escrito por David Morell, o Rambo morre no fim. Este final chegou até a ser gravado mas já prevendo a continuação da série, resolveram dar outro fim pro Rambo!
    Confiram no meu site:
    http://www.stallone.com.br/
    Stallone For Ever!

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    • Roberto Siqueira 30 dezembro, 2009 / 7:03 pm

      Obrigado Osmar.
      Com certeza seria um final de grande impacto, mas mesmo sem este final Rambo continua sendo um grande filme.
      Abraço, seja bem vindo ao Cinema & Debate e volte sempre. E parabéns pelo seu site, bastante interessante.

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