Depois de assistir mais cinco clássicos dos mundiais (se quiser ver os comentários dos primeiros cinco jogos, clique aqui), transmitidos de forma brilhante pelos canais ESPN, deixo minhas impressões sobre cada um destes jogos:
FINAL DA COPA DO MUNDO DE 1978: ARGENTINA 3 X 1 HOLANDA
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Após a sonora (e até hoje contestada) goleada sobre a seleção peruana, os argentinos finalmente teriam a chance de disputar mais uma final de Copa do Mundo, 48 anos depois da decisão perdida diante do Uruguai, em Montevidéu. Com o clima político claramente influenciando a disputa do mundial, os hermanos chegavam à decisão diante da famosa (e já não tão brilhante) seleção holandesa, que não contava mais com seu grande ídolo Johan Cruyff – ele não foi à Argentina como forma de protesto político. O jogo foi equilibradíssimo, como ficou evidente na excelente transmissão da ESPN, e aquela bola da Holanda na trave segundos antes do apito final no tempo normal, com o jogo ainda empatado, poderia ter mudado os rumos do futebol nos anos seguintes (e deve ter matado alguns argentinos do coração). Na prorrogação, no entanto, a seleção local impôs seu futebol vertical, de velocidade e toque de bola rápido, e acabou vencendo a partida por 3 x 1, sagrando-se campeã mundial de futebol pela primeira vez. Infelizmente, não podemos dizer que foi um título incontestável…
COPA DO MUNDO DE 1982: ITÁLIA 3 X 2 BRASIL
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Maravilhosa oportunidade de ver como a brilhante seleção de Telê Santana, recheada de craques incontestáveis e que conseguia jogar com alegria e eficiência, foi eliminada pela “retranca” italiana. Maravilhosa e dolorida, diga-se de passagem, pois como diziam João Palomino e Antero Grecco durante a transmissão do VT, ainda nos pegamos torcendo para que a zaga afaste a bola que resultou no terceiro gol italiano ou para que Zoff não defenda a cabeçada fulminante minutos antes do apito final. Ainda assim, rever este jogo foi uma oportunidade de ouro para derrubar muitos mitos que o futebol construiu ao longo dos anos. O principal deles, de uma injustiça ímpar, é dizer que a seleção italiana era fraca. Não era. E o jogo mostrou a qualidade da defesa italiana, o poder de marcação (ainda que faltoso) de Gentile e o bom ataque liderado pelo artilheiro (até hoje, escrever o nome deste cara é sofrido) Paolo Rossi. Um jogo belíssimo, cheio de alternativas e que me deu a oportunidade de ver como Zico, Falcão, Sócrates, Leandro & Cia jogavam um futebol de alta qualidade, muito bonito de se ver. O futebol é assim, e quis o destino que estas duas grandes seleções se cruzassem antes da final. Sorte dos italianos, que venceram justamente e sagraram-se campeões dias depois. Vale dizer também, para os mais patriotas e apaixonados, que a Itália ainda marcou um quarto gol legítimo, mal anulado pela arbitragem. Contestar a vitória italiana é, portanto, puro ato de fanatismo. Não é preciso tirar os méritos da Squadra Azzurra para valorizar aquela que, depois do time de 1970, foi a maior seleção brasileira em Copas do Mundo. E o tempo tratou de confirmar isto, fazendo com que esta seleção seja lembrada até hoje.
COPA DO MUNDO DE 1986: ARGENTINA 2 X 1 INGLATERRA
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“Como jogava bola o Maradona” foi meu pensamento imediato, antes mesmo do gol antológico, escolhido como o gol mais bonito de todos os tempos. Não foram “apenas” os dois gols geniais (por razões diferentes) que marcaram a brilhante atuação de Don Diego nesta partida (e em toda a Copa, diga-se de passagem), lembrada também pelo clima hostil, devido a guerra das Malvinas. A incrível habilidade de Maradona era muito mais que beleza plástica, era decisiva. É importante dizer que o time argentino era bem limitado, o que engrandece ainda mais o feito do gênio, que levou a Argentina ao título. Interessante também é notar a evolução gigantesca do futebol inglês nos dias de hoje, quando comparamos ao futebol de chuveirinhos da seleção de 86. E ainda que jogasse na base dos chuveirinhos, a Inglaterra quase empatou o jogo com duas jogadas de Barnes (porque diabos ele não era titular?), meia que faria sucesso no Liverpool anos depois. Um belo jogo, com jogadas de gênio e que é também uma ótima oportunidade de ver lances corriqueiros de Maradona, como um simples passe, um lançamento em profundidade e os dribles desconcertantes.
FINAL DA COPA DO MUNDO DE 1986: ARGENTINA 3 X 2 ALEMANHA
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Após o épico jogo entre Argentina e Inglaterra, os canais ESPN reprisaram esta que certamente é uma das mais emocionantes finais de Copa do Mundo. De um lado, a Argentina do gênio Maradona, do outro a sempre eficiente e freqüentemente finalista Alemanha. Este jogo serviu também para mostrar como a bola parada (vista com indiferença pelo torcedor brasileiro, que normalmente torce o nariz para este tipo de lance) é mortal, pois três dos cinco gols do jogo saíram em jogadas deste tipo. Mas quem decidiu mesmo foi o talento dos pés de Diego Maradona, autor do passe decisivo para o gol de Burruchaga, minutos depois do vibrante empate alemão, que buscou o resultado após estar perdendo por dois a zero. Vale conferir também o talento de jogadores como Matthäus, Völler e Rummenigge (que jogava muito mais do que apresentou na final) pelo lado alemão, comandado pelo Kaiser Beckenbauer, e de Valdano, artilheiro argentino que jogou no Real Madrid e fez gol nesta final. E vale especialmente por poder ver Maradona no auge, em forma e fazendo lindas jogadas. Finalmente, os mexicanos provaram ter sorte, já que nas duas finais de Copa que receberam, tiveram a honra de ver grandes jogos e cinco gols.
COPA DO MUNDO DE 1990: ARGENTINA 1 X 1 ITÁLIA (Nos pênaltis, Argentina 4 x 3 Itália)
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Esta partida entrou para história mais por causa do clima que cercava a partida do que pelo futebol apresentado dentro de campo pelas seleções. Ídolo incontestável da fanática torcida napolitana, Maradona (que havia levado o Napoli a títulos inimagináveis até hoje) mandava e desmandava na cidade. Ele era rei. Quis o destino que sua seleção chegasse às semifinais da Copa, disputada na Itália, para enfrentar os favoritos donos da casa justamente na cidade de Nápoles. Sempre inteligente, Don Diego tentou utilizar sua influencia na cidade para diminuir a pressão da torcida, dizendo que o norte da Itália sempre tratou o sul com desdém (mais ou menos como ocorre no Brasil, só que de forma inversa, pois aqui o sul é que desrespeita o norte/nordeste). Não conseguiu reverter a torcida (“Maradona, nós te amamos, mas a Itália é nossa pátria”, dizia um dos cartazes), mas claramente amenizou o clima hostil da partida. A Itália, com uma defesa fantástica (novidade!), saiu na frente logo no inicio da partida com um gol do artilheiro Totó Schillaci. Mas a poucos minutos do fim, Caniggia conseguiu marcar o gol de empate, o primeiro sofrido por Walter Zenga desde o início do mundial (recorde de 517 minutos sem levar gol em Mundiais, que dura até hoje). Nos pênaltis, o “tapa penales” Goycochea garantiu a vaga para a Argentina e calou um país inteiro. Os fanáticos italianos choraram a eliminação em casa.
Bom, por enquanto é isto. Em breve comento os últimos cinco grandes clássicos dos mundiais. E gostaria de parabenizar mais uma vez os canais ESPN pela excelente iniciativa.
Um grande abraço.
Texto publicado em 30 de Maio de 2010 por Roberto Siqueira
Um comentário sobre “Os Clássicos dos Mundiais – Parte 2”