SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS (1989)

(Dead Poets Society)

 

Videoteca do Beto #65

Dirigido por Peter Weir.

Elenco: Robin Williams, Robert Sean Leonard, Ethan Hawke, Josh Charles, Gale Hansen, Dylan Kussman, Allelon Ruggiero, Kurtwood Smith, James Waterston, Norman Lloyd, Carla Belver, Leon Pownall, George Martin, Joe Aufiery e Lara Flynn Boyle.

Roteiro: Tom Schulman.

Produção: Steven Haft, Paul Junger Witt e Tony Thomas.

[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Utilizando uma rígida escola preparatória como pano de fundo, “Sociedade dos Poetas Mortos” ensina valores importantes aos jovens, contestando as burocráticas formas de ensino e incentivando o pensamento e o raciocínio livre, sem se prender aos métodos e fórmulas das instituições educacionais. Além disso, critica claramente o autoritarismo e utiliza belos poemas de gênios como Shakespeare para embasar sua mensagem principal de liberdade de expressão. Se há algum problema no belo filme dirigido por Peter Weir, certamente é o seu final melodramático e previsível, que, por outro lado, funciona perfeitamente como agente motivador daqueles que assistem ao filme antes de assistir a tantos outros com estrutura narrativa semelhante.

Ex-aluno da tradicional escola preparatória Welton Academy, o professor John Keating (Robin Williams) retorna ao local como o novo professor de literatura. Seus métodos nada tradicionais, que buscam incentivar os alunos a pensarem por si mesmos, colidem com a rígida direção do colégio, mas inspiram os jovens alunos a ressuscitarem a velha “Sociedade dos Poetas Mortos”.

Logo em sua primeira aula, o professor Keating causa grande impacto nos alunos, com seu método alternativo de lecionar. Através de belas mensagens, como o lema “Carpe Diem” (aproveitem o dia) sussurrado nos ouvidos dos jovens enquanto estes aprendem sobre os alunos do passado, o professor consegue despertar a paixão pela poesia e pela vida naquele grupo de alunos, ao mesmo tempo em que desperta a fúria de seus pais e dos diretores do colégio, que não aceitam seus métodos diferenciados. Com sua costumeira competência, Robin Williams transmite toda a segurança do professor naquilo que fala através do olhar sereno, sempre convicto. Alternando entre momentos de calmaria e viscerais explicações sobre seu método de olhar a vida, como quando sobe na mesa para ensinar os alunos a olhar o mundo sob outro prisma, o inteligente professor Keating é responsável por despertar o prazer pela leitura e, principalmente, a sede por realizar os sonhos naqueles jovens estudantes. E além de transmitir muito bem esta paixão do professor pela arte e pela vida, Williams ainda brinda o espectador com uma pequena (e engraçada) imitação de grandes atores do cinema, como a lenda Marlon Brando. Vale notar também como na excelente cena em que Keating pede para os alunos rasgarem a página de um importante autor, a personalidade de alguns deles fica evidente através da forma como eles agem. Enquanto alguns se empolgam e rasgam os papéis eufóricos, outros hesitam e até mesmo contestam o professor – o que refletirá num momento chave da trama, quando um aluno se volta contra a “sociedade” e contra Keating. Entre os destaques do jovem elenco, podemos citar a boa atuação de Robert Sean Leonard como o impetuoso e determinado Neil Perry. Extremamente carismático, o ator consegue transmitir o espírito jovial e aventureiro do personagem, que será determinante também para o seu trágico destino. Além de Leonard, também merece destaque o belo trabalho de Ethan Hawke, que interpreta muito bem o tímido Todd Anderson. De poucas palavras e evitando o contato direto através do olhar sempre baixo, o jovem Todd enfrenta enorme dificuldade para se adaptar à nova escola e o ator transmite este sentimento com enorme precisão. Repare, por exemplo, como Todd desvia o olhar quando confrontado por Keating na sala de aula, evidenciando sua enorme dificuldade de se expor e se relacionar com as pessoas. Carente, como fica evidente quando recebe um “presente” de seus pais, o jovem não tem forças para encarar a vida de frente, fechando-se completamente para tudo que está em sua volta. E será justamente a convivência com o excêntrico professor que fará com que ele consiga, à sua maneira, lidar melhor com o mundo ao seu redor. Finalmente, devo citar o unidimensional Sr. Perry, interpretado por Kurtwood Smith, que não consegue apoiar o filho nem mesmo quando testemunha o seu talento no palco, o que levará sua família a uma tragédia irreversível.

Além das boas atuações, “Sociedade dos Poetas Mortos” conta ainda com a eficiente direção de Peter Weir. Alternando entre os lindos planos no exterior da escola, que aproveitam a beleza do local, com o uso freqüente do close, que realça as reações dos alunos às palavras do professor, destacando as boas atuações do elenco, o diretor conduz a narrativa num ritmo lento, porém jamais cansativo. Além disso, ele utiliza a câmera para transmitir sensações ao espectador, como quando o professor Keating se empolga na tentativa de extrair o melhor de Todd. A câmera de Weir circula os personagens, fazendo com que o espectador sinta a mesma sensação de desorientação de Todd, que, atordoado, consegue esquecer onde está e mostrar seu talento. Finalmente, o diretor conduz muito bem a cena de maior impacto do longa, revelando lentamente um revólver no chão, seguido pelo plano da mão de Neil. Momentos depois, Weir diminui Todd na neve após a notícia da morte de Neil, refletindo o vazio no coração do jovem e a sensação de impotência diante da morte, numa cena melancólica, reforçada pela fotografia cinza de John Seale.

A fotografia de John Seale, aliás, é o grande destaque na parte técnica do longa. Repare, por exemplo, como no primeiro encontro na caverna, a fotografia escura cria um clima aconchegante e aproxima o espectador do grupo, como se ele fizesse parte daquela turma. A sensação de liberdade se mistura ao medo de ser encontrado pelos superiores da escola, justamente por causa da falta de visibilidade da cena. No segundo encontro na mesma caverna, a fotografia mais limpa e o local melhor iluminado refletem a segurança que eles já sentiam naquele local. Também merece destaque a direção de arte de Sandy Veneziano que, auxiliada pelos figurinos de Marilyn Matthews (o uniforme padrão dá um sentido de unidade ao grupo de alunos), ambienta com eficiência o espectador àquela rígida instituição, graças também a bela e melancólica trilha sonora de Maurice Jarre.

Mas apesar do trabalho eficiente de toda equipe, a força principal de “Sociedade dos Poetas Mortos” reside mesmo no bom roteiro de Tom Schulman que, através de pequenas mensagens motivacionais (como a citada cena em que Keating sobe na mesa), faz com que o espectador sinta uma enorme vontade de viver e buscar a realização de seus sonhos. O roteiro, auxiliado pela montagem de William M. Anderson e Lee Smith, também alterna muito bem entre estas mensagens motivacionais e os poemas, que funcionam como uma pequena homenagem à literatura e ao prazer pela leitura. Além disso, evidencia como o autoritarismo, tanto dos professores como dos pais, pode ser prejudicial ao desenvolvimento dos jovens. A rigidez no método de ensino e nos métodos de criação dos filhos servia apenas para causar temor naqueles jovens, inibindo qualquer manifestação de talento que pudesse surgir. Pais e professores confundiam, portanto, temor com respeito, fazendo com que eles fossem temidos, o que é bem diferente de ser respeitado e claramente prejudicial.

Dirigido e interpretado com eficiência e trazendo ainda uma bela mensagem, “Sociedade dos Poetas Mortos” funciona muito bem, elevando a auto-estima do espectador. O final, apesar de previsível, emociona e faz com que este se sinta recompensado ao ver os alunos se rebelarem contra a opressão, graças também a boa atuação do elenco, em especial de Hawke e Williams, que criam uma bela conexão na cena – afinal de contas, Keating foi o responsável pelos raros momentos de alegria na vida do jovem Todd. Por outro lado, passada a euforia da seqüência final, o espectador pensará racionalmente e perceberá que esta emoção, apesar de edificante, soa um pouco manipulada e previsível. Mas, assim como a assinatura de Todd na investigação de Keating, este é um escorregão menor diante de tantas qualidades.

Texto publicado em 11 de Setembro de 2010 por Roberto Siqueira

17 comentários sobre “SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS (1989)

  1. RAFAELA 14 setembro, 2014 / 3:02 pm

    EU QUE ESSE FILME FOI MUITO BEM FEITO E N ACHO NADA DE MAIS FAZE UM FILME ASSIM ADOREI

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  2. Mateus Aquino 15 maio, 2013 / 5:24 pm

    Muito chato. O que valeu foi o Robin Willians.

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    • Roberto Siqueira 8 agosto, 2013 / 10:16 pm

      Obviamente, discordo.
      Abraço.

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  3. Ana Paula Ramos 28 abril, 2013 / 2:16 pm

    Eu lembro que vi esse filme no colégio! Eles são ótimos atores, tem um grande desempenho! Robin Williams é otimo! Eu gostaria de ver novamente esse filme

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    • Roberto Siqueira 10 maio, 2013 / 11:36 pm

      Tem fácil na internet pra comprar ou alugar Ana.
      Abraço.

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  4. Cesar Duarte 15 abril, 2013 / 11:52 pm

    Olá Roberto. Parabéns pela excelente crítica, como sempre. Este é um de meus filmes prediletos, não exatamente por ser uma obra-prima cinematográfica, mas sim pela mensagem de ir contra os padrões caretas que faz com que as civilizações fiquem paradas no tempo. A principal constatação que este filme me passa é que as pessoas que estão à frente de seu tempo são incompreendidas, e até mesmo perseguidas, a história está repleta desses exemplos. Porém o tempo se encarrega de dizer e provar como elas estavam certas. Como no caso do filme Na Natureza Selvagem, o que importa nesse filme é a mensagem. Sabe aquele negócio de educador fascinante e inesquecível? Pois é. Tivesse o mundo professores desse porte e teríamos um mundo melhor. Sempre desconfie das verdades absolutas. Robin Williams perfeito(como eu sou fã desse cara). Dentre os alunos, o que me chamou mais atenção foi Sean Leonard. Para mim filmes com essas mensagens são capazes de modificar as pessoas e , consequentemente, o mundo. Um abraço e até mais.

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    • Roberto Siqueira 10 maio, 2013 / 11:13 pm

      Que belo comentário Cesar.
      Agradeço os elogios e parabéns pelas belas palavras.
      Abraço.

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  5. George Start 29 outubro, 2012 / 6:00 am

    Bom, eu prefiro uma repetição Clichê mas muito bem conduzida do que um filme original, e cansativo demais.
    Sociedade dos Poetas Mortos foi sucesso de bilheteria e de crítica, acho que Peter Weir alcançou o sucesso que desejava com esse filme, talvez até mais, porém eu acho que as pessoas deveriam dar mais valor a este filme. A atuação de Ethan Hawke é a melhor do elenco, com certeza, cheguei a até pensar que ele deve ser um Todd na vida real rsrs. Sean Leonard e Robin Williams também estão excelentes.
    Quanto ao final, é emocionante, realmente, já dava pra imaginá-lo, claro (apesar de que eu não esperava que Neil morresse)… Mas que os alunos iam se rebelar era óbvio, mas esta é a essência do filme, que mesmo com essa parte positiva, continua extremamente dramático, o professor continua demitido, e os alunos, principalmente o Todd, vão ser expulsos. Imagina o inferno que vai ser a vida de Todd dali em diante? Com sua família tão controladora quanto a do Neil? Por outro lado, sabemos que aqueles garotos irão passar a mensagem do John Keating em diante, livrando o mundo de pais extremamente controladores.
    Reparei diversas semelhanças com o filme “Conta Comigo”, que também é outro exemplo de filme clichê e previsível mas que funciona muito bem, embora eu ache Sociedade dos Poetas Mortos bem melhor. Não é a toa que Dead Poets Society é meu filme favorito.
    A cena que Todd lamenta a morte de Neil na neve pra mim é a melhor! De cortar o coração realmente.

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    • Roberto Siqueira 2 novembro, 2012 / 10:29 am

      É verdade George, os clichês não são um problema, desde que sejam bem conduzidos (o que é o caso aqui).
      Um abraço e obrigado pelo comentário.

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  6. Cibelli 22 fevereiro, 2011 / 7:27 pm

    Excelente texto.O filme é realmente arrebatador.Robin Willians dá show.Até hoje não entendi por que não levou o Oscar por esta interpretação?
    Ethan Hawke está ótimo,mas Robert Sean Leonard está magnífico.
    Anda sumido,uma pena.Um ator muito bom.

    Julia Roberts tentou fazer uma cópia barata,uma espécie de Sociedade… de saias mas se deu mal.O Sorriso de Monalisa foi fracasso de público e crítica.

    Robin Willinas é inimitável.
    Carpe Diem.

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    • Roberto Siqueira 2 março, 2011 / 9:47 pm

      Olá Cibelli, obrigado pelo elogio e pelo comentário.
      Não sei se Williams merecia o Oscar, pois tivemos outras grandes atuações naquele ano, mas certamente é uma excelente atuação.
      Um abraço e fique à vontade para comentar sempre que quiser.
      Carpe Diem!

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  7. Mandy Intelecto 24 novembro, 2010 / 3:47 pm

    Eu amo o Robin Willians…demais!!! E ele é perfeito para o papel que desempenhou…Mas é mais do mesmo…gostei, mas nada diferente!!!
    É o tipo de filme que já sabemos o final!!! E o final realmente não poderia ser diferente, perderia a essência do filme!

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    • Roberto Siqueira 24 novembro, 2010 / 6:30 pm

      Pois é, é a repetição de uma fórmula, mas ainda assim agrada.

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  8. Brasil Inteligente 24 novembro, 2010 / 7:41 am

    Bom filme… Cheio de clichês, mas com mensagens muito boas, principalmente quando o professor ensina os alunos a verem as coisas de formas diferentes, com visões diferentes. A inspiração gerada com o “Carpe Diem” também é memorável “Porque somos comida para minhoca… Cada um de nós nesta sala, um dia vai parar de respirar, ficar gelado e morrer.” É isso aí: Vamos aproveitar a vida, curtir os momentos e nos renovar, olhando a sala de cima da carteira de vez em quando…

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    • Roberto Siqueira 24 novembro, 2010 / 6:21 pm

      É isso aí Thi. Realmente o filme repete uma fórmula até mesmo batida, mas o faz com graça e agrada.
      Abraço.

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  9. Helio Jenné 6 novembro, 2010 / 9:57 am

    Na minha opinião este é um dos filmes mais emocionantes que já vi. É um filme de onde saí com vontade de mudar o mundo. A cena final, quando os alunos sobem nas carteiras e bradam “Oh Capitão, meu Capitão!” é emblemática. Acabei de rever. Vou lincar o seu blog. Parabéns e um abraço.

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    • Roberto Siqueira 6 novembro, 2010 / 10:29 am

      Obrigado pelo elogio e pelo comentário Helio.
      Agradeço por linkar o blog também!
      Muito obrigado pela visita, seja bem vindo ao Cinema & Debate e volte sempre.
      Abraço.

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