DRÁCULA DE BRAM STOKER (1992)

(Dracula)

Filmes em Geral #89

Dirigido por Francis Ford Coppola.

Elenco: Gary Oldman, Winona Ryder, Anthony Hopkins, Keanu Reeves, Richard E. Grant, Cary Elwes, Bill Campbell, Sadie Frost, Tom Waits, Monica Bellucci e Jay Robinson.

Roteiro: James V. Hart, baseado em romance de Bram Stoker.

Produção: Francis Ford Coppola, Fred Fuchs e Charles Mulvehill.

[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

O mínimo que podemos esperar de um filme dirigido por Francis Ford Coppola é o cuidado com os detalhes que ajudam a criar um visual marcante. Seja em filmes de época com grandes orçamentos como “O Poderoso Chefão” ou em filmes menores (mas nem por isso menos qualificados) como a pérola “A Conversação”, o cuidado com o aspecto visual sempre foi uma marca do diretor. O problema é que na maioria das vezes Coppola também se preocupava com a composição dos personagens e a condução da narrativa, algo que, infelizmente, não ocorre de maneira tão eficiente neste “Drácula de Bram Stoker”, um filme visualmente belo, mas emocionalmente vazio.

Baseado no mítico romance de Bram Stoker, o roteiro escrito por James V. Hart é bastante fiel à obra que o inspirou (o que certamente agradou aos fãs), narrando a história desde os tempos em que o guerreiro Drácula (Gary Oldman) se revolta contra Deus após o suicídio de sua esposa até quando o advogado Jonathan Harker (Keanu Reeves) fica aprisionado em seu imponente castelo, enquanto ele parte para Londres em busca de Mina (Winona Ryder), a noiva de Harker que Drácula acredita ser a reencarnação de sua amada.

Historicamente, a lenda do Drácula costuma provocar fascínio, misturando elementos díspares com o terror, a sensualidade e o amor. Ciente disso, Coppola investe nestes elementos clássicos, deixando clara sua preferência pelo “amor”, numa estratégia que busca romantizar o vampiro e justificar suas ações diante do espectador. Só que desta vez ele comete um erro raro em sua carreira e perde a mão, exagerando na abordagem romântica e enfraquecendo o lado sombrio da narrativa. Além disso, a caracterização do Drácula soa exagerada, com sua maquiagem carregada passando do ponto ideal, mas felizmente a boa atuação do excelente Gary Oldman compensa esta falha. Inicialmente limitado ao papel de vampiro assustador, lentamente Oldman transforma o Drácula num personagem carismático, conseguindo a proeza de fazer o espectador torcer por ele em alguns momentos e fazendo jus a fama de sedutor do personagem.

Enquanto isso, o quase sempre inexpressivo Keanu Reeves até que se sai bem inicialmente, mas é totalmente ofuscado diante da presença de Anthony Hopkins do segundo ato em diante, que assume muito bem a função de herói e rouba a cena com seu Van Helsing. Pra piorar, mesmo com cabelo grisalho e tudo mais, o envelhecimento de Reeves não convence graças ao seu rosto juvenil. O ator também não consegue estabelecer boa química com a bela Winona Ryder, que exala a delicadeza necessária no papel e se sai bem melhor ao lado de Gary Oldman. Fechando o elenco, vale citar a caricata atuação de Tom Waits como o lunático Renfield e o desempenho selvagem de Sadie Frost como Lucy, que cai muito bem no papel.

Mas “Drácula de Bram Stoker” também tem suas qualidades. A começar pela competente direção de arte de Andrew Precht e pelos figurinos impecáveis de Eiko Ishioka que reforçam a ambientação do espectador e colaboram na criação de um visual marcante. Apoiando-se neste bom trabalho e na fotografia repleta de tons avermelhados de Michael Ballhaus, Coppola cria diversos planos estilizados, abusando também de recursos como a aceleração da imagem, criando um visual sombrio, normalmente reforçado pela chuva e pelo vento, que se torna ainda mais expressivo pelo uso constante da sensualidade feminina numa trama que naturalmente já é carregada de conotação sexual. Aliás, vale reparar também como a fotografia colorida das cenas que envolvem Mina contrasta bastante com os tons obscuros na Transilvânia, onde até mesmo as sombras ganham vida. Finalmente, o diretor não se esquece de homenagear os filmes antigos do famoso vampiro, fazendo referência ao clássico “Nosferatu”, de 1922, e a outros filmes clássicos, por exemplo, na aula do professor Van Helsing e ao utilizar uma paleta granulada na chegada de Drácula em Londres, numa alusão aos tempos da moviola.

A estilização visual continua através da montagem de Anne Goursaud, Glen Scantlebury e Nicholas C. Smith, que abusa de transições interessantes, como quando a pluma de um pavão se transforma no túnel de um trem ou quando os furos no pescoço de Lucy dão lugar aos olhos de um lobo. E ainda que possam parecer datados atualmente, os efeitos especiais funcionam na verdade como outra grande homenagem ao cinema antigo, com trucagens, maquetes e pinturas de fundo que tornam o aspecto visual de “Drácula de Bram Stoker” ainda mais impressionante. Fechando a parte técnica, a trilha sonora de Wojciech Kilar alterna bem entre os tons macabros, como quando o navio que traz Drácula chega a Londres, e os momentos melódicos, como no belo encontro entre Mina e Drácula num quarto.

Voltamos então ao problema central de “Drácula de Bram Stoker”. Talvez pela boa química existente nas cenas que envolvem Ryder e Oldman, Coppola acaba investindo demasiadamente neste lado romântico, enfraquecendo outro aspecto muito importante da narrativa, que é o lado sombrio do vampiro. Até mesmo a frase que promoveu o filme denuncia esta abordagem excessivamente melódica (“O amor nunca morre”), mas estes momentos adocicados demais acabam esvaziando o longa, ainda que em certos momentos Coppola consiga sucesso em sua abordagem, como quando Drácula diz para Mina que a ama demais para condená-la. Reequilibrando a conta, o decepcionante terceiro ato traz uma perseguição que jamais empolga e um final seco demais, impedindo que Coppola entregue um trabalho a altura de sua brilhante carreira. Ainda assim, trata-se de um bom filme.

Grandioso e operístico como um filme de Coppola deve ser, “Drácula de Bram Stoker” é um deleite para os olhos, mas funciona exatamente como aquela moça bonita que perde seu encanto após meia hora de conversa. Infelizmente, beleza não é tudo.

Texto publicado em 16 de Outubro de 2012 por Roberto Siqueira

8 comentários sobre “DRÁCULA DE BRAM STOKER (1992)

  1. Edinaldo 30 março, 2019 / 9:42 pm

    Esse filme é fantástico!!!
    Melhor filme de vampiros que existe!!!

    Curtido por 1 pessoa

    • Roberto Siqueira 31 março, 2019 / 7:44 am

      Obrigado pelo comentário Edinaldo. Abraço.

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  2. Anônimo 3 setembro, 2016 / 11:01 am

    E um filme classico de epoca, inteligente e de super produçao”””
    Otimo filme””””
    Espetacular”””

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  3. Anônimo 3 setembro, 2016 / 10:48 am

    um filme classico inteligente, e de alta produçao”””””
    otimo filme””

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  4. Guilherme Azeredo 22 abril, 2016 / 9:04 pm

    Sou fan do seu site e das suas críticas só tenho 14 anos e já sou apaixonado por cinema.

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    • Roberto Siqueira 25 abril, 2016 / 10:33 pm

      Que legal Guilherme, fico feliz.

      Um abraço e fique a vontade para comentar.

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  5. Matheus Kullack 20 março, 2016 / 12:04 am

    Nossa Mas Esse Filme Merecia Cinco Estrelas é o Melhor Filme De Vampiro De Todos Os Tempos !!!!! Não Fiquei Nada Satisfeito Com a Critica!!!!!!

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    • Roberto Siqueira 22 março, 2016 / 6:25 pm

      Pelo número de exclamações, não ficou mesmo. 😉
      Ao menos poderia apresentar argumentos que justifiquem sua opinião, caso contrário, fica extremamente subjetivo.
      Abraço.

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