A NOVIÇA REBELDE (1965)

(The Sound of Music)

5 Estrelas 

Videoteca do Beto #155

Vencedores do Oscar #1965

Dirigido por Robert Wise.

Elenco: Julie Andrews, Christopher Plummer, Eleanor Parker, Richard Haydn, Peggy Wood, Charmian Carr, Heather Menzies, Nicholas Hammond, Duane Chase, Angela Cartwright, Debbie Turner, Kym Karath, Anna Lee, Portia Nelson, Ben Wright e Norma Varden.

Roteiro: Ernest Lehman, baseado em musical de Howard Lindsay e Russel Crouse.

Produção: Robert Wise.

A Noviça Rebelde[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Se explicar a magia do cinema em palavras é uma tarefa complicada, mais difícil ainda é explicar porque certos filmes jamais envelhecem e permanecem encantadores ao longo de décadas. No entanto, basta assistir ao clássico musical “A Noviça Rebelde” para compreender as razões pelas quais estes filmes tornaram-se imortais. Por mais que o tempo passe e certos aspectos soem datados (as roupas, penteados, a maneira de falar, etc.), o espírito jovial e empolgante do longa dirigido por Robert Wise segue intacto – e é justamente por se apoiar nele que a narrativa jamais perde sua magia.

Escrito por Ernest Lehman, baseado em musical de Howard Lindsay e Russel Crouse, “A Noviça Rebelde” tem início quando Maria (Julie Andrews) não consegue se adaptar as rígidas regras do convento em que vive e, por isso, acaba sendo enviada para trabalhar na casa do capitão Von Trapp (Christopher Plummer), um homem viúvo e que educa seus sete filhos com a mesma disciplina que costumava comandar a Marinha. A chegada da moça muda completamente o destino daquela família, ainda mais quando ela se apaixona pelo Capitão, que já estava comprometido com uma rica baronesa (Eleanor Parker).

Apesar de criar conflitos interessantes que alteram o seguimento natural da narrativa, o roteiro de “A Noviça Rebelde” não prima exatamente pela originalidade, o que inevitavelmente torna previsíveis as ações dos personagens. Ainda assim, Lehman consegue criar algum suspense com eficiência, por exemplo, ao focar no conflito de sentimentos de Maria que impede que ela fique com o Capitão num primeiro instante, o que, consequentemente, torna ainda mais saboroso o reencontro dela com as crianças quando ela decide voltar para a casa. Por outro lado, algumas transições acontecem rápido demais, como a mudança de comportamento do próprio Capitão. Só que o segredo do sucesso da narrativa não se baseia nestas pequenas reviravoltas, ainda que elas funcionem bem. A força do clássico está mesmo na direção de Robert Wise e na qualidade das canções que conferem ao longa uma aura de fábula.

Conflito de sentimentosReencontro dela com as criançasMudança de comportamento do CapitãoMesmo com quase três horas de duração, “A Noviça Rebelde” jamais se torna um filme cansativo, graças ao ritmo delicioso empregado pela montagem de William Reynolds que intercala as canções e as ações com precisão e, o que é ainda melhor, faz com que as músicas sempre deem seguimento a narrativa, surgindo naturalmente em diversos momentos, como quando Maria ajuda as crianças a superar o medo de uma tempestade. Obviamente, as inúmeras canções criativas compostas por Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II são cruciais para isto, como fica evidente desde o travelling inicial que passeia pelas lindas paisagens de Salzburg e nos apresenta a protagonista sob o embalo da bela “The Sound of Music” (o nome original do filme). Além dela, merecem destaque as divertidas “Do-Re-Mi” e “My Favorite Things”, assim como a divertida “Sixteen Going on Seventeen”, cantada por Liesl (Charmian Carr) e Rolfe (Daniel Truhitte) no charmoso namoro deles sob o luar.

Medo da tempestadeLindas paisagens de SalzburgCharmoso namoro sob o luarConduzida com o mesmo charme por Wise, outra cena que se destaca é a linda dança entre o Capitão e Maria, que serve também para evidenciar pela primeira vez a química existente entre eles. Esta lenta aproximação chegará ao auge no primeiro beijo do casal, não por acaso conduzido sem a mínima pressa pelo diretor. Enriquecido pela atmosfera romântica daquela bela noite, pela trilha sonora envolvente e pelo lindo plano que enquadra o casal de mãos dadas sob a luz do luar, o beijo de Von Trapp e Maria é um destes momentos belíssimos que só o cinema consegue criar, o típico beijo cinematográfico capaz de deixar o espectador em êxtase e conduzido com uma sensibilidade rara nos tempos atuais.

Dança entre o Capitão e MariaPrimeiro beijo do casalMãos dadas sob a luz do luarAinda que estes dois momentos aconteçam à noite, a fotografia de Ted McCord aproveita a luz do dia na maior parte do tempo e aposta em cores vivas para criar um visual coerente com o espírito alegre de “A Noviça Rebelde”, ressaltado também nas roupas coloridas das crianças (figurinos de Dorothy Jeakins) e nos planos gerais de Wise que realçam a beleza da região – aliás, o design de produção de Boris Leven também se destaca, não apenas por acertar em cheio na escolha da mansão em que se passa à narrativa (e que hoje se tornou um dos pontos turísticos mais visitados de Salzburg), mas também por escolher a própria Áustria, um país famoso por respirar música e que, por isso, se configura no cenário ideal para um musical. Por contraste, o visual sombrio do convento nos indica o quanto Maria se sente deslocada ali, assim como o uso das sombras torna ainda mais tensa a eletrizante sequência em que os Von Trapp se escondem dentro do convento e são caçados pelos nazistas, logo após o festival de música que não por acaso ocorre à noite.

Roupas coloridas das criançasMansãoVisual sombrio do conventoLiderando os encantadores irmãos Von Trapp, a bela Liesl é interpretada por Charmian Carr com muito carisma e auxilia na empatia entre o público e os personagens. Entre o elenco secundário, merecem destaque ainda a sábia Madre Abbess de Peggy Wood e o sarcástico Max de Richard Haydn, além da Baronesa de Eleanor Parker que, apesar de mostrar seu lado cruel na festa, jamais se torna uma caricatura, também pela maneira adorável com que Parker encarna a personagem. Afinal, não dá pra ter raiva de alguém que sai de cena com tamanha elegância e honestidade, aceitando o fim do relacionamento e sugerindo que o Capitão fique com Maria.

Bela LieslSarcástico MaxBaronesaPronunciando as palavras pausadamente, Christopher Plummer cria um Capitão simultaneamente severo e charmoso, escondendo sob aquela carcaça de durão seu coração enorme e sua simpatia, que aflora primeiramente ao lado da Baronesa e especialmente quando aceita que os filhos cantem novamente. Para ele, a disciplina parece ser a única forma de controlar seus filhos atentados, funcionando também como uma maneira de esquecer a dor da perda da esposa. Por isso, a primeira discussão entre o Capitão e Maria funciona tão bem, nos levando ao emocionante momento em que o pai quebra o gelo e volta a cantar com os filhos. A música tem este poder de agregar as pessoas. Finalmente, é ótimo constatar que o Capitão começa a mudar seu comportamento antes da metade do filme, evitando o clichê da mudança final repentina e injustificável, ainda que esta transição aconteça abruptamente.

Severo e charmosoPrimeira discussãoPai quebra o geloMas se todas estas atuações são satisfatórias para a época, não há como negar que a grande performance de “A Noviça Rebelde” é mesmo da carismática Julie Andrews, que carrega a narrativa com enorme facilidade, transformando Maria numa protagonista alegre e encantadora, que conquista nossa empatia desde o instante em que chega atrasada ao convento. Divertida e ousada, a garota consegue mudar completamente o ambiente hostil em que é inserida, com seu jeito gracioso e empolgante de encarar a vida. Se o espírito jovem e alegre é a alma do filme, a atuação enérgica de Andrews contribui muito para isto. Finalmente, a atriz convence até mesmo nos momentos dramáticos, demonstrando o sofrimento de Maria diante da situação complicada em que o Capitão se mete após a chegada dos nazistas.

Alegre e encantadoraDivertida e ousadaSofrimento de MariaCitado algumas vezes na primeira metade da narrativa em tom ameaçador, o nazismo terá função importante no desfecho de “A Noviça Rebelde”. Após o casamento de Maria e Von Trapp, um travelling seguido por um imponente plano geral revela a chegada dos alemães e inicia o último ponto de virada do roteiro, ampliando consideravelmente a carga dramática do longa. A partir deste instante, o espectador acompanha tenso o desenrolar dos acontecimentos e torce pelo sucesso dos Von Trapp – e o fato de nós nos importarmos com o destino deles só evidencia a eficiência da narrativa.

Casamento de Maria e Von TrappChegada dos alemãesTorcemos pelo sucesso dos von TrappAlém de rimar tematicamente com a abertura, o encerramento nas montanhas ainda eleva o espírito da plateia e nos deixa com uma deliciosa sensação de alegria por sairmos satisfeitos com o que vimos. E é justamente esta magia que faz de “A Noviça Rebelde” um filme delicioso, que permanece empolgante mesmo décadas depois de lotar as salas de cinema pelo mundo afora.

A Noviça Rebelde foto 2Texto publicado em 22 de Janeiro de 2013 por Roberto Siqueira

10 comentários sobre “A NOVIÇA REBELDE (1965)

  1. Jorge André 2 janeiro, 2016 / 1:20 pm

    Oi Renato. Eu tinha postado o texto na integra com os devidos créditos e link para o seu site. Porém, vi sua resposta hoje. Vou retirar então. Obrigado pela atenção e parabéns mais uma vez. Vou continuar acessando seu site. Abç

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    • Roberto Siqueira 5 janeiro, 2016 / 6:30 pm

      Obrigado Jorge.

      Abraço.

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    • Roberto Siqueira 31 dezembro, 2015 / 12:50 pm

      Olá Jorge,

      Em primeiro lugar, agradeço pelo elogio.

      Se quiser divulgar o link para a crítica, fique a vontade. Pode até colocar um ou dois parágrafos, mas não o texto inteiro, ok?

      Abraço.

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  2. Anônimo 27 junho, 2015 / 6:51 pm

    ES-PE-TA-CU-LAR!THE HILLS WILL BE ALWAYS ALIVE!

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  3. Francisco 19 junho, 2013 / 2:29 pm

    Olá roberto, que bela análise para um belo filme…sou até suspeito pra elogiar, visto que tenho um afeto de mais de 40 anos por esse musical impar da história do cinema! Até um crítico muito chato chamado Rubens adora o filme. Fica até difícil comentar sôbre as inúmeras qualidades deste clássico e nem precisa, vc já disse as principais, e pode ter certeza que na sua próxima revisão vai encontrar muitas outras, como acontece com todos os clássicos né…então só cabe a mim afirmar que nunca na minha vida vi uma abertura de filme mais sensacional e que o título original ‘O Som da Música’ é mais significativo que o título brasileiro que soa meio clichê. Obrigado…grande abraço !

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    • Roberto Siqueira 8 agosto, 2013 / 10:41 pm

      É verdade Francisco, o título nacional é muito fraco.
      Um filme realmente ímpar, apaixonante.
      Abraço.

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    • Roberto Siqueira 28 janeiro, 2013 / 9:48 pm

      Obrigado!

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