MÁQUINA MORTÍFERA 2 (1989)

(Lethal Weapon 2)

 

Videoteca do Beto #63

Dirigido por Richard Donner.

Elenco: Mel Gibson, Danny Glover, Joe Pesci, Joss Ackland, Derrick O’Connor, Patsy Kensit, Darlene Love, Traci Wolfe, Steve Kahan, Mark Rolston, Jenette Goldstein, Dean Norris, Juney Smith e Nestor Serrano.

Roteiro: Jeffrey Boam, baseado em estória de Shane Black e Warren Murphy.

Produção: Richard Donner e Joel Silver.

[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Embalado pelo sucesso de “Máquina Mortífera”, o diretor Richard Donner se juntou novamente a dupla Mel Gibson e Danny Glover para realizar este “Máquina Mortífera 2”, que felizmente consegue manter as melhores características do primeiro filme e, através da introdução de novos elementos na narrativa, renova a trama, evitando que o espectador tenha a sensação de estar vendo uma simples repetição do que já viu anteriormente. Além disso, o longa apresenta seqüências de ação de tirar o fôlego, recheadas com um humor sarcástico que mantém a narrativa leve e descontraída.

A dupla de policiais formada pelo maluco Martin Riggs (Mel Gibson) e pelo pai de família Roger Murtaugh (Danny Glover) tenta combater o traficante de drogas Arjen “Aryan” Rudd (Joss Ackland) que, por ser do corpo diplomático da África do Sul, usa sua imunidade política como escudo para poder cometer seus crimes livremente. A situação da dupla de policiais se complica ainda mais quando os dois são escolhidos para dar proteção a uma testemunha chave do governo, o chato Leo Getz (Joe Pesci).

Logo no início de “Máquina Mortífera 2” o espectador já pode perceber que as principais características do primeiro filme foram mantidas nesta seqüência, através da alucinante perseguição de carro pela cidade. Novamente, Riggs se mostra agitado e sem medo da morte e Roger mais preocupado com sua família do que com qualquer outra coisa. A empolgante perseguição serve também para confirmar o bom trabalho técnico da equipe liderada por Richard Donner, a começar pela a excelente montagem de Stuart Baird – que mantém a cena num ritmo frenético – e pelo belo trabalho de som e efeitos sonoros, que capta com precisão o barulho dos veículos em alta velocidade, os diálogos e principalmente os tiros e explosões. Também se destaca o bom trabalho do próprio Donner, que conduz a cena com segurança e envolve o espectador completamente na narrativa com menos de dez minutos de projeção. A seqüência de abertura revela ainda a característica principal da série, misturando ação e bom humor quando Riggs ri durante a perseguição e diz pra Roger que ele tinha razão, pois “não tinha espaço” para o carro passar. Finalmente, a trilha sonora nostálgica dos excelentes Eric Clapton, Michael Kamen e David Sanborn também está presente nesta continuação.

Um dos grandes destaques do longa, o roteiro de Jeffrey Boam, baseado em estória de Shane Black e Warren Murphy, espalha pela narrativa diversos diálogos sobre coisas banais, como o método utilizado pelo drive-thru para enganar os clientes, o que reforça o clima descontraído. Também colabora a direção de fotografia de Stephen Goldblatt, que utiliza cores vivas durante boa parte da narrativa, o que contrasta muito bem com os momentos de tensão, que normalmente se passam no período da noite e, portanto, com um visual mais sombrio. O roteiro aproveita o clima descontraído para apresentar características dos personagens que refletirão em momentos chave da narrativa, como a brincadeira de Riggs ao deslocar o ombro no departamento de polícia. Uma das marcas da série, o bom humor aparece com força total neste segundo filme, por exemplo, quando Roger assiste junto com toda a família o comercial de Rianne sobre camisinhas (até mesmo Roger ri quando os policiais montam uma árvore em homenagem ao comercial de sua filha) ou quando o som da máquina de pregar faz com que Riggs e Roger se deitem no chão com as armas na mão. Repare que nem mesmo os vilões escapam das piadas do roteiro, como quando um dos capangas de Arjen diz que “só estava vendo se estava em cima do plástico”, numa engraçada referencia à morte de outro parceiro. Mas se por um lado este aspecto mantém a narrativa leve e descontraída, por outro claramente enfraquece os vilões diante do espectador. Em outro momento hilário, Roger fica preso na privada devido a uma bomba e Riggs, apesar de prometer não causar muito alarde, convoca todo o departamento de polícia e a imprensa. Rapidamente, o momento de descontração é substituído pela tensão antes da explosão da bomba, o que serve também para que a dupla prove mais uma vez sua afinidade e amizade através do diálogo que precede a explosão. Outro momento que foge do tom leve da narrativa acontece quando Trish Murtaugh (Darlene Love) encontra uma caneta dourada, o que serve de gancho para que o roteiro explique como foi a morte de Vicki, esposa de Riggs, e mostre como este assunto claramente ainda o perturba. Finalmente, Jeffrey Boam espalha pelo roteiro algumas críticas de forma sutil, como a aposta paga por um policial com a moeda sul-africana que demonstra a corrupção da polícia ou o interessante protesto político contra a matança dos peixes através dos gritos para Roger não comer atum.

Mantendo uma das características do primeiro filme, a fragilidade dos vilões fica evidente em diversos momentos do longa. Repare, por exemplo, a facilidade com que Riggs entra no prédio do consulado sul-africano depois da confusão armada por Roger. Novamente os vilões não conseguem dar a sensação de que representam alguma ameaça à dupla de policiais, talvez pelo tom leve da narrativa ou simplesmente pelas atuações apenas razoáveis dos bandidos. Nem mesmo a tentativa de Donner, ao engrandecer Arjen na tela filmando-o de baixo pra cima ou ao mostrar o chefão eliminando um de seus comparsas após este perder o dinheiro numa fuga de carro, consegue transformar o vilão em alguém temível. Somente no terceiro ato é que os bandidos finalmente passam a representar uma séria ameaça, quando começam a eliminar de seu caminho todos os policiais. Neste momento, aliás, a trama aumenta consideravelmente a carga dramática, através do assassinato de Rika (Patsy Kensit), num plano impressionante embaixo da água, da tortura de Leo e da revelação do assassino de Vicki. Até mesmo a atuação de Gibson melhora consideravelmente neste momento, expressando muito bem a raiva do personagem (“Esta noite não sou policial. É pessoal!”) e partindo para a vingança de forma alucinada. “Não tente me deter Roger”, diz Riggs, claramente transtornado e sedento por vingança. Este, aliás, é um tema recorrente na carreira de Gibson, que freqüentemente interpreta homens que, após terem a família dizimada, partem para a vingança sem medir esforços e conseqüências – o que não diminui a qualidade do trabalho do ator, por mais que não seja uma novidade.

Mel Gibson, vale dizer, que está bem novamente na pele do debochado Riggs. O ator mantém o ritmo frenético do personagem, correndo, pulando, lutando e dando a sensação, com seus olhos arregalados, de estar sempre pronto para explodir. Mas além deste aspecto, Gibson mostra muita qualidade no timing cômico, já que Riggs é responsável por grande parte das ótimas piadas do filme. Observe, por exemplo, como ele contém o riso quando o “careta” Roger se irrita ao ver o comercial de Rianne ou sua forma “carinhosa” de curar um ferimento no nariz de Leo. Quem também repete a boa atuação do primeiro filme é Danny Glover. Seu Roger Murtaugh é o contraponto ideal para a loucura de Riggs, se mostrando sempre focado em sua família e ao mesmo tempo, jamais deixando o parceiro na mão. Novamente a dupla demonstra uma sintonia incrível através dos diálogos sarcásticos e irônicos, o que garante a empatia do espectador. Mas “Máquina Mortífera 2” precisava de algo novo para não se tornar um filme do tipo “mais do mesmo” e para isto conta com um reforço de peso em seu elenco, já que o fantástico Joe Pesci dá as caras para interpretar o irritante Leo Getz de forma fabulosa. Suas falas rápidas, o jeito atrapalhado e as constantes piadas e perguntas infantis fazem de Leo um personagem encantador. Repare sua empolgação quando finalmente se envolve numa perseguição policial (“Isto é assunto da polícia!”) e sua felicidade quando enfim os amigos policiais permitem que ele ligue a sirene.

A competente direção de Donner é responsável ainda pela condução das ótimas seqüências de ação. Numa das grandes cenas do filme, o som dos helicópteros sobre a água serve de alerta para que Riggs e Rika tentem fugir antes do massacre proporcionado pelos vilões em seu trailer. A ação também aparece com força total no terceiro ato, primeiro com a fúria de Riggs, que resulta na destruição da casa de Arjen (repare como ele explode de satisfação quando a casa vem abaixo) e depois, com a tensa seqüência final dentro do navio, onde assim como no primeiro filme, Riggs resolve seus problemas numa luta com seu rival. Donner cria ainda um pequeno suspense quando Riggs cai baleado, mas o bom humor volta com força total no último e engraçado diálogo da dupla, com Riggs deitado no colo do amigo.

Richard Donner consegue repetir em “Máquina Mortífera 2” a fórmula de sucesso do primeiro filme da série, mesclando com competência o bom humor e as espetaculares cenas de ação. Talvez a narrativa leve demais não dê ao tema abordado o peso dramático que este sugere, mas felizmente o segredo do sucesso do filme está na mistura entre ação e humor, e não na discussão sobre o tráfico e suas conseqüências. Dentro de sua proposta, é um filme eficiente, que diverte plenamente o espectador, graças também ao competente trabalho da dupla Gibson e Glover. Por tudo isto, assim como Roger fez com seu tiro certeiro em Arjen, Richard Donner acertou novamente no alvo.

Texto publicado em 03 de Setembro de 2010 por Roberto Siqueira

13 comentários sobre “MÁQUINA MORTÍFERA 2 (1989)

    • Roberto Siqueira 3 outubro, 2012 / 10:49 pm

      Não precisa xingar Jhonatan, basta alugar o filme.
      Abraço.

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  1. Eduardo 18 janeiro, 2012 / 2:15 am

    Um filmaço!!! Para mim é o melhor da série. A verdadeira amizade entre os dois atores principais emociona. São mais do que irmãos sanguíneos. E a vingança orquestrada por Mel Gibson é espetacular…ercarnamos na atuação dele como que se ele fizesse a “justiça” por nós. Eu tenho o dvd e não me desfaço dele por nada, pois é um dos melhores filmes que já assisti.

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    • Roberto Siqueira 19 janeiro, 2012 / 11:40 pm

      Obrigado pelo comentário Eduardo.
      Também gosto muito do filme.
      Abraço.

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  2. francisco 29 julho, 2011 / 11:15 am

    È verdade , roberto…vc disse o principal: A química entre os dois atores, provavelmente foi o principal ingrediente para o grande sucesso desta série. Um abraço !

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    • Roberto Siqueira 2 agosto, 2011 / 9:29 pm

      Com certeza, além da boa direção do Donner, um diretor muito subestimado, mas com grandes trabalhos na carreira.
      Abraço.

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  3. francisco 20 julho, 2011 / 2:11 am

    Sem dúvida um grande filme dos anos 80 quase 90, uma das melhores continuações que já assisti, mas gostaria de comentar especificamente a sequencia da banheira onde Danny Glover, com aquela cara de constrangimento nos proporcionou uma das cenas de suspense mais tragi-cômicas e desconcertantes do cinema (imagino toda a equipe rindo por detrás das câmeras) , um achado!, não consigo deixar de considerar a melhor cena do filme. Um abraço, grande Roberto…

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    • Roberto Siqueira 22 julho, 2011 / 12:36 am

      Excelente cena de um ótimo filme.
      E a química dos atores é sensacional, o que colabora bastante.
      Abraço!

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  4. lele 15 março, 2011 / 1:03 pm

    eu querro é ver o filme……

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    • lele 15 março, 2011 / 1:04 pm

      haaaaaa

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