MÁQUINA MORTÍFERA 4 (1998)

(Lethal Weapon 4)

3 Estrelas 

Videoteca do Beto #185

Dirigido por Richard Donner.

Elenco: Mel Gibson, Danny Glover, Joe Pesci, Rene Russo, Chris Rock, Jet Li, Steve Kahan e Kim Chan.

Roteiro: Channing Gibson.

Produção: Richard Donner e Joel Silver.

Máquina Mortífera 4[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Apostando na competente mistura de cenas de ação de tirar o fôlego com muito bom humor, a série “Máquina Mortífera” consolidou-se como uma franquia de sucesso que, obviamente, também contava com o enorme carisma de seus personagens para conquistar a plateia. No entanto, se os três primeiros trabalhos eram marcados pela eficiência e regularidade, este quarto filme traz uma leve queda neste aspecto, ainda que o tombo não seja suficiente para fazer de “Máquina Mortífera 4” um longa ruim, apenas um trabalho claramente mais preguiçoso que os anteriores.

Escrito por Channing Gibson (que não tem relação de parentesco com Mel Gibson), “Máquina Mortífera 4” nos traz os policiais Martin Riggs (Mel Gibson) e Roger Murtaugh (Danny Glover) já mais velhos e agora promovidos ao cargo de Capitão após causarem mais confusão pelas ruas de Los Angeles. O problema é que eles acidentalmente descobrem uma gangue chinesa que atua na cidade trazendo imigrantes ilegais, dando início a uma investigação que levará a novas descobertas que colocarão em perigo suas famílias e amigos, entre eles Lorna (Rene Russo), a namorada de Riggs, o falastrão Leo (Joe Pesci) e o novato Detetive Lee Butters (Chris Rock), especialmente quando se deparam com o perigoso Wah Sing Ku (Jet Li).

Logo em seus empolgantes instantes iniciais, “Máquina Mortífera 4” já deixa claro que estamos assistindo a um legítimo filme da série, nos colocando dentro da ação enquanto acompanhamos o divertido diálogo dos carismáticos personagens, numa sequência muito bem conduzida por Richard Donner e que conta ainda com o excepcional design de som para nos ambientar, permitindo distinguir a conversa em meio aos tiros e explosões com precisão. Ciente de que já somos familiarizados com os personagens e seus dramas, traumas, problemas familiares e qualidades, o roteiro economiza tempo e parte logo para a apresentação do conflito que moverá a narrativa, através da chegada dos chineses no porto.

O problema é que Channing Gibson infla demais a trama com um excesso desconfortável de personagens que busca arrumar espaço para cada estrela que compõe o elenco, se perdendo também através de “surpresas” extremamente previsíveis, como a revelação de que Butters engravidou uma das filhas de Murtaugh. Por outro lado, a mistura de humor e ação que marca toda a série aparece novamente com força, balanceada de maneira extremamente eficiente durante toda a narrativa, encontrando espaço também para criticar a exploração de imigrantes ilegais nos Estados Unidos.

Com tantos personagens, a montagem de Dallas Puett, Kevin Stitt, Eric Strand e Frank J. Urioste soa um pouco confusa em certos momentos, mas acerta ao focar a maior parte do tempo no núcleo de sucesso da série, que é a relação entre Riggs e Murtaugh. Vividos novamente por Gibson e Glover de maneira extremamente descontraída e entrosada, os dois policiais são os grandes destaques de um elenco recheado, garantindo os melhores momentos do longa através de suas brincadeiras. Com o passar dos anos e o conhecimento mútuo, a relação de amizade entre eles só melhora, e isto fica evidente em “Máquina Mortífera 4”, que traz ainda um momento marcante da série, quando Riggs finalmente diz que “está velho demais para isso”, num instante que sinaliza a nostalgia que tomará conta da tela no ato final.

Empolgantes instantes iniciaisRelação de amizade só melhoraEstou velho demais para issoE se a química entre Riggs e Murtaugh continua intacta, o mesmo pode se dizer da relação entre Riggs e Lorna, novamente interpretada por Rene Russo e agora auxiliada pelo charme que a gravidez traz. Já Joe Pesci surge ainda mais falastrão e caricato na pele do engraçado Leo, que agora ganha a companhia de outro falastrão, o nem tão engraçado Butters vivido por Chris Rock.

Lorna e o charme que a gravidez trazEngraçado LeoNem tão engraçado ButtersJá os vilões continuam sendo a pedra no sapato da série, já que novamente eles surgem enfraquecidos e raramente representam alguma ameaça aos protagonistas. Esta sensação é reforçada pelo momento em que Riggs ridiculariza quase todos eles no restaurante de Benny (Kim Chan), que serve ao menos para apresentar a rara exceção dentro daquele grupo. Obviamente, estou me referindo ao misterioso Wah Sing Ku, interpretado por Jet Li. Compondo o vilão mais perigoso de toda franquia, Li não escapa da natureza unidimensional que marca os antagonistas da série, mas ao menos consegue oferecer alguma ameaça aos protagonistas, o que claramente não acontece com os outros vilões de “Máquina Mortífera”. Inicialmente soando ameaçador somente através da expressão facial, ele apresenta o quanto é letal quando mata um integrante da gangue num telhado, demonstrando toda sua capacidade nas artes marciais.

A presença dos chineses oferece uma oportunidade para que a figurinista Ha Nguyen se divirta ao criar as típicas roupas orientais, ganhando destaque também por chamar a atenção para o contraste entre Riggs e Murtaugh, que antes associávamos às diferenças de estilo entre eles, mas agora passamos a associar ao suposto sucesso financeiro de Murtaugh que gera desconfiança em Riggs. Já a fotografia de Andrzej Bartkowiak aposta novamente em cenas diurnas e iluminadas, que contrastam com o ato final, claramente mais sombrio e banhado pela chuva (outra marca da série). E finalmente, a trilha sonora composta por Eric Clapton (sim, ele!), Michael Kamen e David Sanborn aposta novamente em toques de guitarra que remetem aos bons momentos da franquia, mas agora inova ao trazer uma composição que faz alusão à China na sequência em Chinatown, escorregando por outro lado pelo tom exagerado que emprega em certos instantes, como na chegada do navio que carrega os chineses logo no começo.

Misterioso Wah Sing KuCenas diurnasAto final sombrio e banhado pela chuvaConduzindo todo este trabalho com segurança, Richard Donner acerta novamente na criação de cenas marcantes, como a excelente perseguição de carros envolvendo um trailer numa autopista de Los Angeles, repleta de malabarismos absurdos dos personagens e conduzida de maneira ágil e nunca confusa pelo diretor. Já quando Riggs para o carro na beira do trilho do trem, a tensão toma conta da tela justamente por termos acompanhado um assassinato semelhante no início do filme – e o posicionamento idêntico da câmera ajuda nesta associação. Balanceando estes momentos de adrenalina e tensão, as cenas engraçadas surgem em profusão, mas a que mais se destaca é mesmo a hilária conversa entre Riggs, Murtaugh e Benny num consultório odontológico. E finalmente, Donner mantém-se fiel à estrutura narrativa clássica da série, nos levando ao confronto final entre Riggs e o vilão numa noite chuvosa, fotografada de maneira bem obscura para ampliar a tensão. Só que desta vez, a luta corporal conta também com a participação de Murtaugh e, obviamente, é reforçada pela presença de um oponente realmente ameaçador.

Excelente perseguição de carros envolvendo um trailerHilária conversa num consultório odontológicoConfronto final entre Riggs e o vilãoEscorregando especialmente no roteiro, “Máquina Mortífera 4” representa uma leve queda na qualidade da série, mas está longe de ser um fracasso. Ainda que falte um pouco mais de ação, a foto da “família” e a criativa apresentação dos créditos finais conferem uma atmosfera nostálgica ao desfecho do longa, garantindo o encerramento digno de uma série muito eficiente e divertida.

Máquina Mortífera 4 foto 2Texto publicado em 17 de Fevereiro de 2014 por Roberto Siqueira

3 comentários sobre “MÁQUINA MORTÍFERA 4 (1998)

  1. David 5 março, 2016 / 11:08 pm

    Já eu acho um dos melhores, justamente por fechar a franquia com chave de ouro. Ação e humor na medida certa.

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    • Roberto Siqueira 22 março, 2016 / 6:24 pm

      Obrigado pelo comentário David.
      Abraço.

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  2. Lucas Tavares 27 outubro, 2014 / 5:29 pm

    Preciso fazer contato contigo Roberto. Abs!

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