007 O MUNDO NÃO É O BASTANTE (1999)

(The World is not enough)

3 Estrelas 

Videoteca do Beto #209

Dirigido por Michael Apted.

Elenco: Pierce Brosnan, Sophie Marceau, Robert Carlyle, Denise Richards, Robbie Coltrane, Judi Dench, Desmond Llewelyn, John Cleese, Maria Grazia Cucinotta, Samantha Bond, Michael Kitchen, Colin Salmon e Ulrich Thomsen.

Roteiro: Neal Purvis, Robert Wade e Bruce Feirstein, com base nos personagens criados por Ian Fleming.

Produção: Michael G. Wilson e Barbara Broccoli.

007 O Mundo não é o bastante[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Se por um lado as cenas de ação não garantem o sucesso de um filme de James Bond, por outro a falta delas normalmente é sentida pelos fãs, ansiosos pelas sequências mirabolantes em que o agente secreto se livrará do perigo das mais diferentes e originais maneiras imagináveis. No entanto, uma boa narrativa e, especialmente, bons antagonistas costumam saciar parte desta ausência e, felizmente, este é o caso de “007 O Mundo não é o bastante”, longa dirigido por Michal Apted que, se não acerta na condução das sequências, digamos, mais agitadas, ao menos desenvolve bem uma das personagens chave da narrativa.

Escrito por Neal Purvis, Robert Wade e Bruce Feirstein com base nos personagens criados por Ian Fleming, “007 O Mundo não é o bastante” traz James Bond (Pierce Brosnan) incumbido de proteger Elektra King (Sophie Marceau), a herdeira de um bilionário assassinado em plena sede da MI6 que tinha sido sequestrada pelo terrorista Renard (Robert Carlyle), um homem atingido por uma bala de outro agente britânico e que, lentamente, perdeu alguns de seus sentidos – entre eles, a capacidade de sentir dor.

Repleta de adrenalina, a sequência de abertura de “007 O Mundo não é o bastante” dá a falsa sensação de que o longa repetirá o ritmo empolgante de seu antecessor, trazendo Bond fugindo de Bilbao com uma maleta cheia de dinheiro, a explosão de parte do centro da MI6 que resulta na morte de Sir Robert King (David Calder) e a perseguição de lancha pelo rio Tâmisa que culmina no suicídio da atiradora enviada por Renard do alto de um balão. No entanto, estes momentos não surgem com tanta frequência ao longo da narrativa e, quando surgem, nem sempre são conduzidos com destreza pelo diretor. O ataque ao galpão de Valentin Zukovsky (Robbie Coltrane) no mar Cáspio, por exemplo, é uma sequência bastante agitada, mas um pouco confusa, graças à montagem excessivamente dinâmica de Jim Clark e a fotografia às vezes sombria de mais de Adrian Biddle, que não nos permite enxergar com clareza o que está acontecendo. Da mesma forma, a sequência final dentro de um submarino jamais consegue nos empolgar e, pra piorar, ainda enfraquece o vilão Renard, que é facilmente derrotado por Bond.

Ainda assim, merecem destaque as belas imagens que surgem na intensa perseguição em que Bond e Elektra fogem esquiando e, principalmente, a cena em que Bond e Christmas Jones (Denise Richards) tentam desarmar uma bomba dentro de um oleoduto, certamente uma das mais tensas do filme. Embalando estes escassos momentos de tensão, a trilha sonora de David Arnold utiliza com mais frequência o tema clássico de 007, incluindo também as tradicionais variações da música tema – a interessante “The World is not enough”, do grupo Garbage.

Perseguição de lancha pelo rio TâmisaAtaque ao galpão de Valentin ZukovskyBond e Christmas Jones tentam desarmar uma bombaComo já mencionado, Robbie Coltrane dá as caras novamente como o divertido ex-agente da KGB Valentin Zukovsky, o “amigo” russo de James Bond que tem envolvimento com os negócios milionários da família King. Já Samantha Bond mantém o charme e o sarcasmo de Moneypenny, a sempre simpática secretária que nunca concretiza o romance com Bond e que, desta vez, tem uma rápida crise de ciúmes diante da médica dele. Escolhido para ser o substituto de “Q”, John Cleese encarna “R” com o mesmo sarcasmo de seu antecessor, numa escolha que me deixa feliz por gostar de Cleese, mas triste pela despedida do ótimo Desmond Llewelyn. Enquanto isso, Judi Dench ganha mais espaço para demonstrar seu talento como “M”, ao passo que Denise Richards se limita ao papel de parceira de Bond sem grande destaque na pele de Christmas Jones. E finalmente, Robert Carlyle até soa ameaçador inicialmente, mas Renard é suplantado por Elektra ao longo da narrativa e perde o posto de vilão mais interessante do longa.

Acompanhada pelo poético som de gaitas de fole em sua primeira aparição (referencia à sua participação em “Coração Valente”?), Sophie Marceau compõe uma Elektra frágil e indefesa que, ao mesmo tempo, exala charme e sensualidade, chamando imediatamente a atenção de Bond. No entanto, a boa atuação de Marceau não é suficiente para disfarçar a abordagem nada sutil do diretor Michal Apted, que parece gritar em diversos momentos que ela esconde algo, tornando perceptível para o espectador mais atento desde o início que Elektra está envolvida na morte do pai. Assim, logo no primeiro encontro entre Bond e Renard durante o roubo de uma bomba, o terrorista dá a dica daquilo que o espectador já desconfiava e escancara que Elektra não é tão inocente assim.

Por outro lado, este problema não diminui a complexidade da personagem, uma vítima da síndrome de Estocolmo que, apaixonada pelo sequestrador, enxerga nele também a oportunidade de recuperar o império da mãe que fora parar nas mãos de seu pai. Esta ambição, no entanto, esconde a fragilidade de uma mulher que enxerga sua sensualidade como a única arma que tem para se defender, como fica claro no envolvente diálogo que ela trava com Bond antes de morrer, um breve momento que diz muito sobre a personagem. Ela de fato acreditava que seu poder de sedução poderia salvá-la em qualquer situação, o que chega a ser melancólico.

Renard até soa ameaçador inicialmenteElektra frágil e indefesaIntensidade e carismaMais uma vez comprovando que pode tranquilamente sustentar o papel, Pierce Brosnan vive James Bond com a mesma intensidade e carisma dos filmes anteriores, destacando-se em momentos especiais como o confronto verbal entre Bond e “M” em que desafia sua liderança imediata e, como de costume, saindo-se muito bem nas cenas que exigem esforço físico. Além disso, o ator demonstra bem a determinação do agente em cumprir seu dever ao atirar a queima roupa contra Elektra na frente de “M”, num momento marcante que comprova a frieza do personagem.

Com uma trama interessante, “007 O Mundo não é o bastante” tem bons momentos, apoiando-se mais na narrativa e na qualidade de alguns de seus personagens do que na própria ação para funcionar. E funciona bem, ainda que não ganhe grande destaque na filmografia do agente mais famoso do planeta.

007 O Mundo não é o bastante foto 2Texto publicado em 05 de Junho de 2014 por Roberto Siqueira

007 O AMANHÃ NUNCA MORRE (1997)

(Tomorrow Never Dies)

5 Estrelas 

Videoteca do Beto #208

Dirigido por Roger Spottiswoode.

Elenco: Pierce Brosnan, Jonathan Pryce, Michelle Yeoh, Teri Hatcher, Ricky Jay, Götz Otto, Joe Don Baker, Vincent Schiavelli, Judi Dench, Desmond Llewelyn, Samantha Bond, Colin Salmon, Julian Fellowes, Gerard Butler, Hugh Bonneville e Philip Kwok.

Roteiro: Bruce Feirstein, inspirado nos personagens criados por Ian Fleming.

Produção: Michael G. Wilson e Barbara Broccoli.

007 O Amanhã nunca morre[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Após uma estreia apenas morna na pele do agente secreto mais famoso do mundo, Pierce Brosnan finalmente teve a chance de estrelar um grande filme da franquia James Bond neste “007 O Amanhã nunca morre”, longa eletrizante dirigido por Roger Spottiswoode que, além das inúmeras boas cenas de ação, conta com uma narrativa envolvente e ótimos personagens para nos agradar, trazendo ainda uma interessante crítica em sua temática que ajuda a estabelecê-lo como um dos melhores de toda a série.

Inspirado nos personagens criados por Ian Fleming, Bruce Feirstein escreveu o roteiro de “007 O Amanhã nunca morre” e, mesmo não utilizando uma história concebida pelo escritor como base, conseguiu criar uma narrativa envolvente, que traz todas as características marcantes da obra de Fleming. Aqui, James Bond (Pierce Brosnan) tem dois dias para descobrir os planos do bilionário Elliot Carver (Jonathan Pryce), um poderoso homem da mídia que planeja provocar uma crise política mundial em troca de obter os direitos de transmissão exclusiva na China. Só que Carver não sabe que sua esposa Paris (Teri Hatcher) já teve um caso com Bond no passado e pode ser a chave do sucesso do agente ao lado da agente chinesa Wai Lin (Michele Yeoh).

Com um bom roteiro em mãos, Roger Spottiswoode e seus montadores Michel Arcand e Dominique Fortin imprimem um ritmo alucinante ao longa desde o início, quando acompanhamos Bond mais uma vez salvando a pátria enquanto um míssil enviado pelos próprios britânicos se aproxima perigosamente do acampamento na fronteira russa em que ele se encontra – e os planos que acompanham a viagem do míssil são muito interessantes e plasticamente belíssimos. Desde então, nota-se também a qualidade do excepcional design de som, que nos permite distinguir os diálogos das barulhentas explosões que tomam conta do local, numa sequência de abertura agitada que já estabelece o tom da narrativa.

Desta vez explorando a bela Hamburgo, no norte da Alemanha, e a exótica locação no Vietnã em que se passa o segundo ato da narrativa, a fotografia de Robert Elswit define muito bem a diferença entre o frio escritório do comando britânico, o visual mais vivo das sequências ao ar livre e o sufocante encerramento dentro dos navios no ato final, estabelecendo uma diferença que ajuda a gradualmente aumentar o clima de tensão. Obviamente, o ótimo design de produção de Allan Cameron contribui significativamente neste processo através das linhas retas do escritório de onde partem as ordens para Bond, da imponente casa noturna que recebe a festa de Elliot Carver e dos apertados compartimentos de onde os marujos seguem as ordens recebidas no mar. Substituindo Peter Lamont após muitos anos de serviços prestados, o trabalho de Cameron se destaca ainda pelo criativo equipamento de Lin que surge do nada em determinado momento e na divertida apresentação dos acessórios da BMW de 007, que mantém a tradição criativa e inovadora dos gadgets elaborados por Q (Desmond Llewelyn).

Viagem do míssilCriativo equipamento de LinAcessórios da BMWSublinhando muito bem as cenas de ação e servindo também para ampliar a atmosfera de tensão, a boa trilha sonora de David Arnold se destaca mesmo no encontro entre Bond e Paris Carver, criando uma atmosfera romântica sem jamais soar apelativa, trazendo ainda inserções pontuais e bem sucedidas do tema clássico do agente e criando boas variações para a bela música tema “Tomorrow Never Dies”, de Sheryl Crowe.

Numa ousadia rara na série, “007 O Amanhã nunca morre” traz em sua temática uma interessante crítica ao poder da mídia, representada pela figura megalomaníaca de Elliot Carver, o vilão midiático interpretado de maneira eficiente por Jonathan Pryce. Além disso, os diálogos bem construídos ajudam a criar uma dinâmica interessante entre os personagens, como ocorre no primeiro encontro entre Bond e Carver na festa, repleto de ironias de ambas as partes, numa sequência que também serve para evidenciar que a sensual Paris Carver vivida por Teri Hatcher ainda sente atração pelo agente secreto e, de quebra, introduz de maneira eficiente a agente chinesa Lin, que na pele de Michelle Yeoh ganha à agilidade e o carisma necessários para o sucesso da personagem – e a rápida Yeoh se sai muito bem, especialmente nas lutas corporais.

Entretanto, o destaque do elenco fica mesmo para Pierce Brosnan, que equilibra muito bem o charme e o carisma já tradicionais do personagem com seu lado mais agressivo, evidenciado no repentino e convincente ataque ao Dr. Kaufman (Vincent Schiavelli, sempre notável) que faz jus ao famoso bordão “licença para matar”. Já nas ótimas sequências de ação, Brosnan nos faz acreditar que Bond realmente corre perigo, fazendo um esforço físico enorme para livrar-se das arriscadas situações sem jamais perder o senso de humor peculiar do personagem.

Megalomaníaco Elliot CarverSensual Paris CarverCharme e carismaSeguramente o ponto forte do longa, as citadas cenas de ação se espalham por toda a narrativa, misturando sequências de alta tensão com outras extremamente divertidas, todas elas conduzidas com enorme segurança por Roger Spottiswoode. Entre as divertidas, destaca-se a sequência eletrizante que se passa dentro do estacionamento do hotel Atlantic, em Hamburgo, na qual Bond dirige sua BWM pelo controle remoto deitado no banco de trás do veículo – e o diretor nos coloca ao lado dele dentro do carro, nos permitindo ter as mesmas sensações do agente. Em outro instante, Bond se joga de um avião pra mergulhar diretamente no oceano e a câmera o acompanha por todo trajeto, novamente nos permitindo compartilhar a sensação do protagonista, que se transforma radicalmente durante esta investigação, terminando de maneira sufocante na fuga de Bond e Lin de dentro do navio afundado.

Eletrizante também é a sequência em que Bond e Lin fogem do prédio da CMGN e saem de moto pelas ruas algemados, seguidos de perto por um helicóptero. Além de estilosa, a cena é muito bem dirigida por Spottiswoode, que novamente conta com seus montadores para alternar entre planos gerais, planos médios e planos subjetivos num ritmo alucinante, nos permitindo compreender perfeitamente a geografia local e o que está acontecendo na tela. E finalmente, o ato final dentro dos navios também é tenso e agitado na medida certa, concluindo com precisão esta empolgante aventura.

Repleto de personagens interessantes e principalmente de excelentes cenas de ação, “007 O Amanhã nunca morre” representa outro ponto alto na franquia 007. Olhando em retrospectiva, é uma pena notar que este foi o último momento de destaque de Pierce Brosnan como James Bond, já que o ator tinha muitas das qualidades necessárias para viver o personagem. Ao menos, hoje já sabemos que seu substituto faria um trabalho ainda melhor.

007 O Amanhã nunca morre foto 2Texto publicado em 04 de Junho de 2014 por Roberto Siqueira

007 CONTRA GOLDENEYE (1995)

(GoldenEye)

3 Estrelas 

Videoteca do Beto #207

Dirigido por Martin Campbell.

Elenco: Pierce Brosnan, Sean Bean, Izabella Scorupco, Famke Janssen, Joe Don Baker, Judi Dench, Gottfried John, Robbie Coltrane, Alan Cumming, Tchéky Karyo, Desmond Llewelyn, Samantha Bond, Michael Kitchen e Serena Gordon.

Roteiro: Jeffrey Caine e Bruce Feirstein, baseado em história de Michael France e personagens criados por Ian Fleming.

Produção: Barbara Broccoli e Michael G. Wilson.

007 Contra GoldenEye[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Após os dois ótimos filmes da curta passagem de Timothy Dalton como o agente 007, a franquia mais duradoura da história teve que esperar longos 6 anos por seu próximo longa, graças a uma batalha judicial pelos direitos da série. Assim, o ótimo ator acabou deixando a franquia e abriu espaço para a primeira aparição de Pierce Brosnan. Lançado após o fim da guerra fria, “007 Contra GoldenEye” traz ainda outras novidades, como o primeiro roteiro original da série e a introdução de uma mulher no papel de M. As novidades, no entanto, não garantem sozinhas o sucesso do longa, mas ainda que seja claramente inferior aos seus dois antecessores, o filme dirigido por Martin Campbell consegue agradar.

Escrito por Jeffrey Caine e Bruce Feirstein com base em história de Michael France e nos personagens criados por Ian Fleming, “007 Contra GoldenEye” é, como mencionado, o primeiro roteiro não inspirado em material de Fleming. Desta vez, James Bond (Pierce Brosnan) precisa encontrar uma perigosa arma espacial conhecida como GoldenEye, capaz de destruir tudo que tenha circuito elétrico na face da Terra. Após a arma letal destruir uma base de operações na Rússia, Bond descobre uma sobrevivente, a bela programadora de computadores Natalya Simonova (Izabella Scorupco), que aceita ajudá-lo. Só que o assassinato de seu amigo e agente secreto Alec Trevelyan (Sean Bean) em outra operação na Rússia tinha mais ligações com GoldenEye do que Bond poderia imaginar.

Assumindo pela primeira vez a direção de um filme da franquia, Martin Campbell e seu montador Terry Rawlings imprimem um ritmo dinâmico à narrativa desde seu interessante início em que marcam presença a ação absurda e o humor britânico tão característicos da série na sequência em que Bond invade uma base russa ao lado do amigo Alec. No entanto, este ritmo inicial não se mantém, sofrendo uma queda especialmente no sombrio segundo ato após a revelação de que Alec é, na verdade, o mentor do projeto envolvendo GoldenEye. Esta cena, aliás, é muito bem conduzida pelo diretor, explorando o visual afundado nas sombras criado pelo diretor de fotografia Phil Meheux para manter o suspense até o momento da revelação.

Enquanto o designer de produção Peter Lamont acerta novamente na criação de cenários imponentes como a ilha cubana que esconde os armamentos de Alec e os figurinos de Lindy Hemming mantém a elegância marcante de James Bond, a trilha sonora de Eric Serra aposta numa composição grandiosa em certos momentos, como na sequência da destruição da base russa em Severnaya, criando ainda variações para a pouco empolgante música tema “GoldenEye”, de Tina Turner.

Responsável por uma boa reviravolta na trama, o Alec de Sean Bean é um bom vilão, demonstrando inteligência e carisma na medida certa com sua postura agressiva e seu humor irônico. Por outro lado, Gottfried John cria um General Ourumov bastante caricato, ao passo que Robbie Coltrane nos diverte como Valentin Zukovsky, ex-agente da KGB que trava um interessante e engraçado diálogo com James Bond antes de ajudá-lo. E porque raios os russos falam inglês com um sotaque ridículo ao invés de simplesmente conversarem entre eles em russo é algo mais difícil de compreender do que o próprio idioma.

Bond invade uma base russa ao lado do amigo AlecAlec é o mentor do projetoGeneral Ourumov caricatoEntre as mulheres, a bela Natalya Simonova é vivida com carisma e leveza por Izabella Scorupco, criando boa empatia com 007 e estabelecendo um contraponto interessante para a postura mais rígida das outras atuações femininas, a começar por Judi Dench, que assume o papel de M com firmeza, numa subversão de expectativa que agrada e, de maneira elegante, se preocupa até mesmo em fazer uma menção ao seu antecessor. Por outro lado, a postura agressiva não combina muito bem com Onatopp (que nome hein!), a caricata personagem vivida por Famke Janssen que em nada agrega a narrativa. E fechando o elenco feminino, Samantha Bond mantém o tom bem humorado da interessante relação entre Bond e Moneypenny, demonstrando ainda uma curiosa e bem vinda evolução na autoconfiança da garota.

Com porte, carisma e timing cômico para viver 007, Pierce Brosnan se sai bem, carregando o projeto com facilidade e convencendo também nas cenas que exigem esforço físico, numa atuação equilibrada e coerente com o personagem. Com classe e estilo, Bond continua o mesmo de sempre, como fica evidente logo no início quando ele protagoniza uma eletrizante perseguição de carros numa montanha e, de quebra, ainda beija a psicóloga contratada para avalia-lo. Da mesma forma, o agente continua demonstrando enorme capacidade de improviso diante do perigo, além é claro do gosto refinado tão característico.

Bela Natalya SimonovaJudi Dench assume o papel de MPorte, carisma e timing cômico para viver 007No entanto, a queda de ritmo do segundo ato deixa a incômoda sensação de que faltam grandes cenas de ação em “007 Contra GoldenEye”, o que não é algo positivo, especialmente num filme de James Bond. A rigor, temos somente uma cena realmente marcante, que inicia na frenética fuga de Bond de uma base russa, seguida pela perseguição a bordo de um tanque de guerra pelas ruas da cidade em busca de Natalya Simonova. Além dela, somente o ato final contém momentos empolgantes, começando pelo movimento de câmera que revela que Bond deixou um explosivo na parede antes de ser levado pelos russos e terminando na esperada luta corporal entre o agente e o vilão, que é levemente prejudicada pelos pouco verossímeis efeitos visuais.

Assim, “007 Contra GoldenEye” diverte, mas o trabalho inicial de Pierce Brosnan representa uma leve queda no nível de qualidade apresentado na curta passagem de Timothy Dalton pela franquia. Nada, porém, que pudesse preocupar os fãs, especialmente se compararmos com os trabalhos que Brosnan seria obrigado a encarar alguns anos depois.

007 Contra GoldenEye foto 2Texto publicado em 03 de Junho de 2014 por Roberto Siqueira

007 PERMISSÃO PARA MATAR (1989)

(Licence to Kill)

4 Estrelas 

Videoteca do Beto #206

Dirigido por John Glen.

Elenco: Timothy Dalton, Benicio Del Toro, Anthony Zerbe, Robert Davi, Frank McRae, Desmond Llewelyn, Robert Brown, Carey Lowell, Talisa Soto, David Hedison, Anthony Starke, Everett McGill, Pedro Armendáriz Jr., Priscilla Barnes e Caroline Bliss.

Roteiro: Michael G. Wilson e Richard Maibaum, baseado nos personagens criados por Ian Fleming.

Produção: Albert R. Broccoli e Michael G. Wilson.

007 Permissão para Matar[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Após resgatar o prestígio da franquia 007 com uma atuação bem mais próxima do que se espera de James Bond, Timothy Dalton teve sua segunda e última oportunidade de interpretar o agente britânico neste “007 Permissão para Matar” e, novamente, não decepcionou. Compreendendo perfeitamente a proposta mais realista da abordagem de John Glen, Dalton consolidou a recuperação da série com outra atuação firme e, o que é melhor, num filme envolvente e empolgante.

Escrito por Michael G. Wilson e Richard Maibaum a partir dos personagens criados por Ian Fleming, “007 Permissão para Matar” traz o agente James Bond (Timothy Dalton) numa missão independente de vingança pessoal contra um conhecido traficante de drogas (Robert Davi) que assassinou a esposa (Priscilla Barnes) de seu amigo Felix (David Hedison), contrariando as ordens do Serviço Secreto Britânico.

A abertura em ritmo frenético e com cenas de ação bem mais realistas que de costume estabelece muito cedo a proposta de John Glen em “007 Permissão para Matar”. Apostando numa atmosfera mais crível e no ritmo intenso da montagem de John Grover, a franquia tentava se adaptar ao cinema de ação realizado na época e, porque não, competir com os bem-sucedidos “macho movies” da era Stallone e Schwarzenegger, deixando definitivamente para trás a fase mais cômica e de auto-paródia da fase Roger Moore. Não que, para isto, Glen tenha retirado o charme e a elegância característicos do agente. James Bond continua lá, inteligente o bastante para farejar o perigo, incapaz de resistir ao charme feminino e ainda dono de um gosto refinado.

Mas o fato é que o realismo é notável, por exemplo, quando o diretor faz questão de nos mostrar as fortes imagens do ataque do tubarão ao agente Felix e, em seguida, a impactante imagem de sua esposa assassinada. Aliás, são raros os momentos em que esta abordagem verossímil falha, como por exemplo, na briga num bar em que os golpes desferidos parecem artificiais, numa das cenas em que chama a atenção a presença de Benicio Del Toro ainda muito jovem como o capanga Dario. Empregando bons movimentos de câmera, John Glen trabalha na construção de cenas mais tensas, como quando realça um guincho sendo retirado por Bond no primeiro plano e os pés de um guarda caminhando no segundo plano antes do confronto físico entre eles, incluindo ainda um leve travelling que destaca as enguias elétricas que serão essenciais na conclusão da cena.

Visualmente o longa também é interessante, com a fotografia de Alec Mills oscilando entre momentos de brilho intenso e cores vivas nas cenas a beira mar que exploram toda a beleza da Guatemala e instantes bem mais sombrios, especialmente no segundo ato com as cenas dentro do cassino de Sanchez e de sua negociação com os asiáticos na noite em que é atacado. Ainda entre os destaques da parte técnica, a sombria trilha sonora de Michael Kamen pontua os momentos de suspense, surgindo diversas vezes sem jamais abusar do famoso tema de 007, o que evita seu desgaste.

Impactante imagem de sua esposa assassinadaGuincho sendo retirado por BondNegociação com os asiáticosNo entanto, esta abordagem realista por si só não garante um bom filme e, felizmente, “007 Permissão para Matar” conta também com um bom roteiro que, nas mãos de Glen, torna a narrativa bastante envolvente. Utilizando um fundo político interessante através do interesse de governos de países da América Latina, dos EUA e da Inglaterra nos negócios de Sanchez, o roteiro mantém o espectador sempre atento com suas interessantes reviravoltas, como quando Sanchez pensa que Bond o salvou na noite do atentado e quando Bond pensa que a agente Pam (Carey Lowell) o traiu ao vê-la no local em que Sanchez negocia com os asiáticos. Além disso, mesmo num universo tradicionalmente unidimensional o roteiro consegue desenvolver bem seus personagens.

Observe, por exemplo, como a narrativa estabelece desde o início a importância de Sanchez, o bom vilão vivido por Robert Davi. Saindo da mesmice, as intenções de Sanchez soam plausíveis, ainda que condenáveis. Ele não quer dominar o mundo, quer “apenas” ser um traficante bilionário. Criando um vilão respeitável com sua postura simultaneamente elegante e firme diante de seus comandados, Davi se sai bem também na tradicional cena da conversa com Bond que, desta vez, traz um intrigante diálogo no primeiro encontro deles no cassino. Já as bondgirls vivem situações distintas em “007 Permissão para Matar”. Enquanto a inexpressiva Talisa Soto jamais cria empatia com Bond na pele de Lupe, Carey Lowell se sai bem nesta tarefa, obtendo sucesso também como a tradicional parceira feminina do agente britânico nas cenas de ação.

Novamente adotando uma postura séria e até mesmo agressiva, Timothy Dalton confirma ser um ator capaz de dar vida a James Bond, convencendo tanto na elegância quanto especialmente nas cenas que exigem esforço físico, soando ameaçador em diversos momentos de uma maneira que Moore raramente foi capaz de fazê-lo. Repare também como o ator demonstra o quanto Bond está devastado após a trágica morte de Della, a esposa de seu amigo assassinada pelos capangas de Sanchez. Determinado e agindo mais pela emoção do que pela razão, o Bond de Dalton chega a destoar um pouco do personagem tradicional, mas funciona muito bem justamente por trazer a energia que andava faltando para a franquia.

Importância de SanchezTradicional parceiraPostura séria e agressivaEsta energia é notável nas ótimas cenas de ação de “007 Permissão para Matar”, que surgem de maneira mais espaçada, porém sempre com eficiência, como quando Bond faz um avião de Jet Sky, sobe nele e joga o piloto no mar, numa sequência tão radical e absurda que o próprio roteiro faz piada com ela mais pra tarde ao trazer o capanga Krest (Anthony Zerbe) contando o que aconteceu para Sanchez e todos reagindo com desdém de sua versão do ocorrido. Existem também os momentos em que os inimigos tomam decisões convenientemente equivocadas, como quando um mergulhador corta o tubo de oxigênio de Bond embaixo d´água ao invés de cortar o próprio agente, mas podemos perdoar estes pequenos deslizes – até porque, caso contrário, não teríamos mais filme nem franquia.

Finalmente, apesar de durar mais tempo que o necessário e de conter dois momentos absurdamente exagerados envolvendo o caminhão dirigido por Bond, a sequência de ação que encerra a narrativa é extremamente empolgante. Alternando entre planos que nos colocam dentro dos caminhões e tomadas aéreas que além de nos orientar geograficamente ainda nos permitem acompanhar as ações de Pam no avião, Glen conduz a sequência com muita segurança durante toda a descida do morro até o inevitável confronto final entre Bond e Sanchez.

Após anos bastante irregulares, a franquia 007 finalmente parecia encontrar seu rumo ao atualizar seu famoso agente sem, por isso, perder seu charme. Com uma narrativa envolvente, boas cenas de ação, a segurança de Dalton e um bom vilão, John Glen acertou novamente e fez deste “007 Permissão para Matar” um dos bons filmes da série.

007 Permissão para Matar foto 2Texto publicado em 02 de Junho de 2014 por Roberto Siqueira

007 MARCADO PARA A MORTE (1987)

(The Living Daylights)

4 Estrelas 

Videoteca do Beto #205

Dirigido por John Glen.

Elenco: Timothy Dalton, Maryam d’Abo, Jeroen Krabbé, Joe Don Baker, John Rhys-Davies, Art Malik, Andreas Wisniewski, Desmond Llewelyn, Robert Brown, Geoffrey Keen, Walter Gotell, Caroline Bliss e John Terry.

Roteiro: Richard Maibaum e Michael G. Wilson, baseado em história de Ian Fleming.

Produção: Albert R. Broccoli e Michael G. Wilson.

007 Marcado para a Morte[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

A saída de Roger Moore marcou o fim de uma fase complicada na franquia 007. Sem conseguir dosar muito bem a ação e o humor e contando com Moore cada vez menos interessado, John Glen acabou sendo responsável por dirigir alguns dos momentos mais embaraçosos do agente secreto (o grito do Tarzan é imperdoável!). Coube então a Timothy Dalton a missão de resgatar a abordagem mais séria neste “007 Marcado para a Morte” e, felizmente, o ator se saiu bem na missão, ainda que desta vez a dosagem peque justamente pela falta de alívios cômicos. Menos mal. Melhor exagerar na criação de uma atmosfera crível de ameaça ao protagonista do que ridicularizar o mesmo.

Pela quarta vez seguida, a missão de adaptar a história de Ian Fleming para o cinema ficou a cargo de Richard Maibaum e Michael G. Wilson. Em “007 Marcado para a Morte”, eles trazem James Bond (Timothy Dalton) ajudando o general Georgi Koskov (Jeroen Krabbé) a fugir da Cortina de Ferro, mas logo depois o russo é capturado e levado de volta a União Soviética. Antes de voltar, Koskov denuncia um plano do general Leonid Pushkin (John Rhys-Davies) que envolvia o assassinato de agentes secretos britânicos, o que leva Bond a investigar o caso e descobrir que, na realidade, o traficante de armas Brad Whitaker (Joe Don Baker) é quem tinha planos potencialmente perigosos.

Ainda que a trama não seja o mais importante num filme de James Bond, construir um roteiro minimamente interessante era o primeiro passo para recuperar o prestígio da franquia. Felizmente, a dupla responsável por roteiros bem fracos com o de “007 Contra Octopussy” surpreendeu neste “007 Marcado para a Morte”, elaborando uma trama com boas reviravoltas e que, mesmo com exageros, consegue prender a atenção do espectador. Por sua vez, John Glen procura conduzir a narrativa de maneira mais séria, já que, em pleno auge dos macho movies, seguir na linha cômica que marcou seus trabalhos anteriores poderia enterrar de vez a franquia.

Assim, o diretor procura criar uma atmosfera mais sóbria, ainda que abra espaço para momentos bem humorados como quando Bond e Kara (Maryam d’Abo) fogem para a Áustria utilizando um violoncelo e, ao passarem pela fronteira, gritam que não tem nada a declarar. Nesta mesma linha, a fotografia de Alec Mills aposta num visual predominantemente obscuro, especialmente nas sequências que se passam dentro da Cortina de Ferro, criando um contraste interessante com a fotografia árida em Tangier, no Marrocos, e com toda a beleza imperial de Viena.

Auxiliando ao estabelecer com clareza cada ambiente através da decoração detalhada, o design de produção de Peter Lamont mais uma vez chama a atenção através de cenários como a casa de Óperas na antiga Tchecoslováquia e a casa repleta de armas de Whitaker, assim como são importantes também os figurinos de Emma Porteous que diferenciam bem as elegantes vestimentas britânicas dos uniformes utilizados pelos soviéticos e, principalmente, das roupas despojadas dos afegãos.

Por sua vez, a trilha sonora de John Barry também oscila bastante de um ambiente para o outro, surgindo numa composição tensa na Cortina de Ferro, numa marcha triunfal na chegada ao Afeganistão após a fuga de 007 da prisão e com variações da música tema “The Living Daylights”, do A-ha, que segue a tendência mais dançante estabelecida no filme anterior com o Duran Duran, escorregando apenas na composição deslocada que acompanha o ataque do agente da KGB disfarçado de leiteiro.

Visual obscuro na Cortina de FerroCasa de Óperas na antiga TchecoslováquiaJames Bond mais sérioSuperando o natural incômodo inicial do espectador após sete filmes estrelados por Roger Moore, Timothy Dalton compõe um James Bond mais sério, adotando uma postura firme e até mesmo agressiva que recupera o respeito perdido em sequências ridículas dos filmes anteriores, ainda que falte um pouco do charme diante das mulheres que, por exemplo, Connery tinha. Mesmo assim, Dalton segue uma linha coerente com o histórico do personagem, por exemplo, ao hesitar na hora de assassinar uma atiradora, demonstrando no rosto o interesse de James Bond na garota, da mesma forma como seu semblante indica a fúria de 007 após a morte de Saunders (Thomas Wheatley) no parque Prater em Viena. Convencendo ainda nas lutas corporais, como no segmento de abertura, o ator se sai bem na difícil tarefa de assumir um personagem já bem estabelecido e com uma enorme quantidade de fãs.

Para a alegria destes mesmos fãs, “007 Marcado para a Morte” marca também a volta do estiloso Aston Martin, o carro de luxo super equipado que estrela a fuga alucinada de Bond com a violinista Kara, na qual somos apresentados aos engenhosos opcionais do veículo que ajudam o protagonista a se livrar dos inimigos. Interpretada por Maryam d’Abo, Kara divide-se entre o amor por Kostov e a atração momentânea por Bond até que reencontre o amado e, enganada por ele, traia o agente britânico, numa das interessantes reviravoltas do roteiro. Outro destaque feminino do elenco fica para a primeira aparição de Caroline Bliss como a nova Moneypenny, mantendo o estilo “esquisita, mas simpática” que marcou a adorável Lois Maxwell.

Volta do estiloso Aston MartinViolinista KaraRespeitável general Leonid PushkinEntre os vilões, o mais respeitável é o general Leonid Pushkin interpretado com firmeza por John Rhys-Davies com seu tom de voz imponente e expressão rígida. No entanto, Pushkin acaba servindo apenas como isca, escondendo os verdadeiros vilões Georgi Koskov e Brad Whitaker, vividos de maneira mais leve e caricata por Jeroen Krabbé e Joe Don Baker, o que infelizmente enfraquece a narrativa já que estes são personagens bem menos ameaçadores que Pushkin. E finalmente, Art Malik tem uma participação rápida e sem grande destaque na pele de Kamran Shah, o líder afegão que ajuda Bond a derrotar os russos.

A batalha no Afeganistão, aliás, dura mais tempo do que deveria, enquanto o confronto final com Whitaker acaba rápido demais, o que denuncia um problema na montagem de Peter Davies e John Grover que até ali caminhava muito bem. Em todo caso, a condução do restante da narrativa agrada e sua solução é satisfatória.

Para a alegria dos fãs, James Bond finalmente estava de volta com todo vigor após algumas escorregadas perigosas. E ainda que John Glen tenha seus méritos, é inegável que a presença de Timothy Dalton foi crucial neste processo, trazendo de volta parte da credibilidade e do respeito perdidos nos últimos anos de Roger Moore.

007 Marcado para a Morte foto 2Texto publicado em 30 de Maio de 2014 por Roberto Siqueira

007 NA MIRA DOS ASSASSINOS (1985)

(A View to a Kill)

3 Estrelas 

Videoteca do Beto #204

Dirigido por John Glen.

Elenco: Roger Moore, Christopher Walken, Grace Jones, Tanya Roberts, Patrick Macnee, Willoughby Gray, Patrick Bauchau, Robert Brown, Lois Maxwell, Desmond Llewelyn, Dolph Lundgren, David Yip, Fiona Fullerton, Maud Adams, Alison Doody e Walter Gotell.

Roteiro: Richard Maibaum e Michael G. Wilson, baseado em história de Ian Fleming.

Produção: Albert R. Broccoli e Michael G. Wilson.

007 Na Mira dos Assassinos[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Já contestado pelo peso da idade (na época, o ator estava com 57 anos), Roger Moore faria neste “007 Na Mira dos Assassinos” sua última aparição na pele de James Bond. Mesmo sem jamais alcançar o carisma de Sean Connery, o ator deixou sua contribuição para a franquia, criando um 007 mais cômico que seu antecessor e que, mesmo distante em tom e sem o mesmo charme, funcionava em muitos momentos. É uma pena, portanto, que os últimos trabalhos de Moore não estejam à altura de suas melhores aparições, nas quais ao menos o ator compensava as falhas da narrativa com atuações mais interessadas.

Escrito por Richard Maibaum e Michael G. Wilson novamente com base em história de Ian Fleming, “007 Na Mira dos Assassinos” narra à tentativa de James Bond (Roger Moore) de impedir que o milionário Max Zorin (Christopher Walken) controle o mercado de produção de chips através da execução de um plano que envolve a destruição de todas as indústrias do Vale do Silício, na Califórnia.

Em sua despedida da série, Roger Moore mais parece se divertir e relaxar na pele do personagem do que se preocupar em oferecer novas nuances a James Bond, saindo-se bem em alguns diálogos que denunciam seu tom quase sempre irônico, mas escancarando a flagrante falta de vigor nas lutas corporais. Claramente fora de forma e atuando quase no piloto automático, Moore oferece aqui sua pior atuação na pele de 007, numa despedida melancólica que dificulta a tarefa de apontar algum momento de destaque, com exceção dos comentários marcados por seu humor peculiar e pelo cavalheirismo na primeira noite com Sutton (Tanya Roberts), na qual Bond respeita o momento da moça e não dorme com ela – e a expressão de Moore evidencia esta abordagem respeitosa.

Entre gritos e expressões características da mocinha indefesa, Tanya Roberts oferece uma performance patética na pele de Stacey Sutton, não convencendo como uma moça rica e poderosa que decide bater de frente com Zorin e sequer conseguindo criar empatia com Moore, o que talvez explique a falta de cenas românticas entre os personagens. Já Grace Jones compõe May Day de maneira bastante caricata, mas a personagem ao menos funciona por representar alguma ameaça a Bond. Fechando os destaques femininos do elenco, “007 Na Mira dos Assassinos” marca também a última aparição de Lois Maxwell como a simpática Moneypenny – o que, com o perdão do infame trocadilho, é uma pena.

Roger Moore se diverte e relaxaMocinha indefesaMay DayVoltando ao elenco masculino, Patrick Macnee vive o simpático Tibbett, o amigo enviado para auxiliar Bond e que, passando-se por seu criado, vive alguns dos raros momentos bem humorados que realmente funcionam na narrativa. Repare, por exemplo, como Tibbett acaricia os cavalos após se esconder junto a eles no estábulo, num pequeno detalhe que demonstra o cuidado do ator na composição do personagem, já que para esconder-se ali por tanto tempo era necessário no mínimo que ele criasse alguma empatia com os animais.

Sorridente na frente de Bond e sério longe dele, Christopher Walken compõe um vilão interessante na pele de Max Zorin, demonstrando classe nas conversas em eventos públicos como a festa em seu palácio e evidenciando seu lado psicótico ao explicar seu plano para os parceiros. Aliás, a conversa com empresários para explanar o plano Main Strike remete diretamente a “007 Contra Goldfinger”, especialmente quando um deles se recusa a aceitar a proposta e é sumariamente assassinado.

Sublinhando a trama, a trilha sonora também convencional de John Barry surpreende apenas na sequência inicial em que o compositor ousa e insere um trecho de uma versão cover de “California Girls”, dos Beach Boys, fazendo uma brincadeira com as manobras radicais de James Bond sobre a neve e a água. Além disso, a dançante música tema do Duran Duran tem a cara dos anos 80 e traz uma boa energia para a série.

Tentando recuperar o tom mais sério após a piada “007 Contra Octopussy”, John Glen e seu diretor de fotografia Alan Hume ignoram o sol característico da Califórnia e apostam num visual mais obscuro que confere uma aura sombria a narrativa. Ainda assim, o diretor encontra espaço para criar belos planos, especialmente ao enquadrar toda a imponência da ponte Golden Gate em San Francisco e o charme de Paris, que finalmente é explorada na série. Além disso, o ótimo Peter Lamont capricha novamente no design de produção de ambientes como o luxuoso palácio de Zorin, a espaçosa e bem decorada casa de Sutton, a detalhada clínica que esconde o segredo do cavalo Pegasus e a impressionante mina que surge já no ato final.

Para balancear a falta de agilidade de Moore nos confrontos físicos, Glen tenta criar cenas de ação ainda mais mirabolantes, como a perseguição que inicia na Torre Eiffel e segue pelas ruas de Paris. Só que o convencional segmento de abertura envolvendo uma perseguição de esqui na neve já deixa claro que “007 Na Mira dos Assassinos” não trará grandes novidades neste aspecto também. O diretor tenta ainda utilizar a câmera para ampliar a tensão, como quando uma arma surge em primeiro plano enquanto Bond entra na casa de Sutton ao fundo, sinalizando a presença dos capangas de Zorin para o espectador, que passa a saber mais do que o personagem – o que é sempre eficiente na criação de uma atmosfera tensa. E finalmente, a morte de Tibbett no lava rápido é conduzida de maneira interessante pelo diretor.

Zorin, vilão interessanteImpressionante minaArma em primeiro planoMas o destaque das cenas de ação fica mesmo para o incêndio na prefeitura seguido pela perseguição envolvendo um carro de bombeiros e, principalmente, para a impactante destruição da mina, na qual o diretor utiliza planos subjetivos que nos colocam na posição dos personagens em diversos instantes enquanto a água domina o local sob os tiros alucinados do impiedoso Zorin. Além delas, a luta no alto da ponte Golden Gate também é tensa e diverte, mas a gritante lentidão de Moore e os efeitos visuais datados prejudicam a cena, ainda que no segundo caso a evolução em relação aos filmes anteriores seja perceptível.

Perceptível também é a tentativa de melhorar a imagem da franquia depois de seguidas derrapadas, mas infelizmente “007 Na Mira dos Assassinos” não conseguiu este feito. Roger Moore perdia aqui a sua licença para matar (ainda que, em certos momentos, tenha nos matado de vergonha), mas, para a alegria dos inúmeros fãs, James Bond ainda teria vida longa nas telonas.

007 Na Mira dos Assassinos foto 2Texto publicado em 29 de Maio de 2014 por Roberto Siqueira

007 CONTRA OCTOPUSSY (1983)

(Octopussy)

2 Estrelas 

Videoteca do Beto #203

Dirigido por John Glen.

Elenco: Roger Moore, Maud Adams, Louis Jourdan, Kristina Wayborn, Kabir Bedi, Steven Berkoff, David Meyer, Tony Meyer, Desmond Llewelyn, Robert Brown, Lois Maxwell, Walter Gotell, Vijay Amritraj e Albert Moses.

Roteiro: George MacDonald Fraser, Richard Maibaum e Michael G. Wilson, baseado em histórias de Ian Fleming.

Produção: Albert R. Broccoli.

007 Contra Octopussy[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Com uma sequência de abertura de tirar o fôlego e um ato final que poderia ser empolgante, “007 Contra Octopussy” tinha tudo para se tornar um dos bons filmes da franquia 007, não fossem os problemas narrativos apresentados entre estes dois momentos de impacto. Com boas cenas de ação e alguns personagens carismáticos, o segundo filme dirigido por John Glen apresenta uma pequena evolução em relação ao trabalho anterior do diretor, mas ainda peca em detalhes cruciais que tornam o longa bastante irregular, especialmente ao perder o senso do ridículo em momentos embaraçosos até mesmo para o mais fervoroso fã do agente secreto britânico.

Escrito a seis mãos por George MacDonald Fraser, Richard Maibaum e Michael G. Wilson com base em duas histórias de Ian Fleming (“Octopussy” and “The Property of a Lady“), “007 Contra Octopussy” inicia com o assassinato do agente 009 (Andy Bradford) após este roubar a réplica de uma relíquia soviética. Convocado para investigar o caso, James Bond (Roger Moore) acaba descobrindo um plano que poderia resultar na explosão de uma bomba atômica e numa provável guerra mundial.

Apesar da menção inicial a Cuba, o inimigo principal do governo britânico continua sendo a União Soviética em “007 Contra Octopussy”, com a diferença que, desta vez, outro histórico adversário finalmente entra em cena: a Alemanha. Outra vez envolvendo uma bomba atômica que irá dizimar milhões de inocentes, a trama tenta seguir elementos básicos da fórmula de sucesso da série, apostando em espetaculares cenas de ação, mulheres sensuais, pitadas de bom humor (que aqui raramente funcionam) e um inimigo comum ao espectador britânico e norte-americano. No entanto, a falta de inspiração de algumas gags (como o ridículo jacaré mecânico utilizado por Bond) e a latente ausência de um vilão prejudicam bastante a narrativa.

Partindo de uma Berlim inicialmente obscura e opressora, a fotografia de Alan Hume estabelece um forte contraste com o visual colorido e vivo de Nova Déli, na Índia, especialmente no plano inicial que enquadra toda a beleza do Taj Mahal. Da mesma forma, o excelente design de produção de Peter Lamont se destaca na criação de ambientes realmente impactantes como a sala de reuniões dos generais soviéticos e o aconchegante quarto de Octopussy, o que também estabelece corretamente a atmosfera de cada local. Reforçando a imagem que pretende passar em cada ambiente, John Glen retrata cada povo de maneira bastante estereotipada (o que também é uma marca da série), trazendo os sorridentes indianos aglomerados em volta do rio, os efusivos russos discutindo estratégias de guerra e os alemães, quando não são sisudos, surgem comendo salsichas e tomando cerveja num carro de família – o que certamente deve deliciar grande parte do público norte-americano, ainda que esteja bem longe da realidade.

Berlim inicialmente obscuraColorido de Nova DéliSala de reuniões dos generais soviéticosMas, convenhamos, realismo é algo que os filmes de James Bond jamais tentaram retratar. Neste aspecto, “007 Contra Octopussy” ganha pontos ao trazer na abertura uma estilosa fuga de 007 num jato sendo perseguido por um míssil, que se torna ainda mais interessante pela maneira como é montada por Peter Davies e Henry Richardson. Vale destacar ainda a ótima partida de gamão entre Bond e Kamal, que realça toda a esperteza do protagonista, além é claro da perseguição repleta de ação e humor nas ruas de Nova Déli. Já a perseguição com elefantes simplesmente não funciona, primeiro pela falta de dinamismo e depois pelas piadas sem graça, como quando Bond, acredite ou não, surge imitando Tarzan. Outro momento que falha nos dois sentidos ocorre quando Bond surge disfarçado de gorila e, segundos depois, já aparece sem o disfarce e saindo do trem. Além de não ser nada engraçada, a cena ainda tira o espectador da narrativa. Uma coisa é ter cenas de ação mirabolantes, outra são coisas impossíveis de acontecer.

Aliás, desta vez Roger Moore descamba de vez para o pastelão na pele de James Bond, intercalando momentos glamourosos como na citada partida de gamão com outros em que ridiculariza o personagem ao surgir vestido de palhaço ou disfarçado de gorila. Ao menos, Moore mantém a postura confiante e até desleixada diante do perigo e o senso de humor peculiar, superando ainda as limitações impostas pela idade na divertida sequência em que anda em cima de um trem em movimento, num momento que funciona quando se apoia nas trucagens e em efeitos mecânicos, falhando apenas quando recorre aos datados efeitos visuais.

Numa sacada inteligente, o tema de 007 tocado na flauta de Vijay (Vijay Amritraj) anuncia a chegada do agente em Nova Déli, num dos bons momentos da trilha sonora de John Barry, que se destaca ainda na composição romântica inspirada na música tema “All Time High” (uma das raras da franquia que não tem o mesmo nome do filme) que embala os momentos íntimos de Bond com as duas mulheres que cruzam o seu caminho – e é claro que ele dorme com ambas.

Apresentada durante o leilão que coloca Bond no caminho de Kamal, a sensual Magda vivida por Kristina Wayborn vive até melhores momentos ao lado do agente do que a personagem título, dentre os quais se destaca a primeira noite que eles passam juntos e, especialmente, a despedida pela manhã em que ela desce da sacada pendurada no próprio vestido. Por sua vez, Octopussy é cercada de mistérios. Evitando revelar seu rosto na primeira aparição dela no Palácio, o diretor mantém o suspense até o instante em que Maud Adams surge com seus olhos penetrantes para participar pela segunda vez da série. Classuda, com tom de voz controlado e bastante educada, Octopussy se torna uma personagem intrigante, impondo respeito e chamando a atenção sempre que entra em cena. É uma pena, portanto, que tenha tão pouco espaço na narrativa, aparecendo menos até mesmo que sua colaboradora Magda – e a personagem também é prejudicada pelo roteiro, que a enfraquece consideravelmente no decorrer da narrativa.

Estilosa fuga de 007 num jatoBond imitando TarzanOctopussy cercada de mistériosOctopussy, aliás, é a primeira vilã feminina da série. No entanto, ela não chega a ser de fato uma vilã, acolhendo Bond desde o primeiro instante e tornando-se sua parceira ao longo da narrativa, especialmente após descobrir que foi enganada por Kamal, o intermediador interpretado por Louis Jourdan. E é exatamente na falta de um grande vilão que reside um dos grandes problemas do fraco roteiro de “007 Contra Octopussy”. Teoricamente, a vilã seria a personagem título, mas na prática o homem a ser perseguido é mesmo o caricato e unidimensional General Orlov de Steven Berkoff, já que Kamal tem apenas a função de negociador. Só que Orlov raramente é confrontado por Bond, a não ser num embate que dura poucos segundos dentro de um trailer já no ato final. Assim, o mistério envolvendo os vilões acaba soando como um artifício raso utilizado para encobrir o vazio da narrativa neste aspecto.

Ainda que no íntimo o espectador sempre espere que Bond salve o dia, a sequência final no circo tem certa carga de tensão, mesmo com a escancarada tentativa de destruir a imagem do personagem ao trazê-lo em disfarces tão risíveis, assim como funciona a absurda cena final em que Bond luta do lado de fora de um avião, numa sequência exagerada, mas bem conduzida pelo diretor.

Infelizmente, estas boas cenas de ação não são suficientes para compensar os tropeços da narrativa e a falta de senso do ridículo de muitos momentos dela. Talvez por isso, Ian Fleming resolveu não misturar as duas histórias que inspiraram “007 Contra Octopussy”. Ao contrário dos alemães na época separados pelo muro, elas não foram criadas para coexistir.

007 Contra Octopussy foto 2Texto publicado em 28 de Maio de 2014 por Roberto Siqueira

007 SOMENTE PARA SEUS OLHOS (1981)

(For Your Eyes Only)

2 Estrelas 

Videoteca do Beto #202

Dirigido por John Glen.

Elenco: Roger Moore, Carole Bouquet, Topol, Lynn-Holly Johnson, Julian Glover, Cassandra Harris, Jill Bennett, Michael Gothard, John Wyman, Jack Hedley, Lois Maxwell, Desmond Llewelyn, Geoffrey Keen, Walter Gotell e Charles Dance.

Roteiro: Richard Maibaum e Michael G. Wilson, baseado em história de Ian Fleming.

Produção: Albert R. Broccoli.

007 Somente para seus olhos[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Responsável pela montagem de três filmes da série entre 1969 e 1979, John Glen assumiria a direção em “007 Somente para seus olhos”, o primeiro dos cinco trabalhos que realizaria na franquia. No entanto, o resultado ficou bem abaixo do esperado. Ainda que algumas sequências sejam bem interessantes, a sensação que temos é a de que tanto Glen quanto seus roteiristas apenas seguiram a fórmula básica da franquia, esquecendo-se de que o segredo do sucesso de James Bond não está na estrutura narrativa e sim na maneira – normalmente estilosa – como ela é contada.

Escrito por Richard Maibaum e Michael G. Wilson com base em história de Ian Fleming, “007 Somente para seus olhos” tem início quando um navio britânico que carregava uma poderosa arma secreta é atacado e naufraga próximo à Albânia, gerando enorme preocupação no governo de seu país. Enviado para investigar o caso, James Bond (Roger Moore) acaba descobrindo o envolvimento de um grande contrabandista local conhecido como Milos Columbo (Topol), graças ao auxilio do agente grego Aris Kristatos (Julian Glover). Determinada a vingar a morte dos pais ocorrida logo após o naufrágio, a jovem Melina Havelock (Carole Bouquet) também acaba se envolvendo nas investigações, contrariando a vontade de Bond.

O primeiro deslize de “007 Somente para seus olhos” ocorre logo no tradicional segmento de abertura em que a presença de um gato indica a volta de Blofeld, icônico vilão da série derrotado anteriormente por Bond e responsável pela morte de sua esposa, mas esta expectativa não é confirmada durante a narrativa, o que torna este segmento de abertura envolvendo um helicóptero controlado à distância totalmente deslocado, pouco inspirado e sem graça – na realidade, os produtores quiseram apenas provocar Kevin McClory, que travava uma batalha judicial pelos direitos sobre o personagem.

Levando-nos desta vez para a Espanha, os Alpes italianos e o litoral grego, “007 Somente para seus olhos” mantém a característica de explorar bem a beleza dos locais por onde passa o agente secreto através da fotografia gélida de Alan Hume nos Alpes, que contrasta com o visual ensolarado da pequena cidade próxima à Madri e, especialmente, com o visual romântico da bela Corfu, na Grécia, principalmente nas cenas noturnas ou próximas do anoitecer. Estes lugares pitorescos servem como cenários para sequências repletas de ação como a absurda perseguição de carros nas ruelas espanholas e a fuga de Bond num esqui seguido de perto por duas motos na neve, ambas conduzidas com dinamismo por John Glen e seu montador John Grover, alternando entre planos gerais e interessantes planos subjetivos que nos colocam dentro da ação.

No entanto, estas sequências são prejudicadas pela péssima e deslocada trilha sonora de Bill Conti, o mesmo compositor consagrado alguns anos antes em “Rocky, Um Lutador”, mas que aqui faz um trabalho bastante irregular, criando melodias que parecem tiradas de jogos de videogame nas cenas de ação, salvando-se apenas nas variações da bela música tema “For Your Eyes Only”, de Sheena Easton, e na composição romântica que embala o envolvimento entre a Condessa Lisl (Cassandra Harris) e Bond.

Visual romântico da bela CorfuFuga de Bond num esquiCarismático Milos ColumboQuem também não colabora são os atores Michael Gothard e John Wyman que, em atuações extremamente caricatas, fazem de Locque e Kriegler dois vilões quase risíveis, sendo parcialmente salvos apenas pelo roteiro que, ao evitar dar muitas informações sobre eles, consegue manter uma aura de mistério sobre os personagens. Revelando pouco a pouco as intenções de cada integrante do grupo, a narrativa nos leva até o carismático Milos Columbo interpretado por Topol que, com sua postura extremamente confiante, reverte à imagem pré-concebida do personagem logo nos primeiros minutos da conversa direta que tem com James Bond. Este mesmo diálogo traz ainda uma boa reviravolta na trama ao revelar que Kristatos é o verdadeiro vilão. Inicialmente amigável, o Kristatos de Julian Glover muda drasticamente seu comportamento após a revelação, assumindo uma postura mais agressiva e coerente com o papel de principal vilão.

Determinada a vingar o assassinato dos pais, a inteligente e elegante Melina de Carole Bouquet assume o posto de parceira de 007 da vez, demonstrando força quando necessário e, obviamente, transformando-se na nova bondgirl ao não resistir aos encantos do agente secreto. Novamente interpretado por Roger Moore (que desta vez esforça-se para soar menos debochado), James Bond mantém-se sempre alerta aos perigos que cercam sua profissão sem jamais desesperar-se diante deles, assumindo também uma faceta interessante e distante da postura politicamente correta normalmente associada aos heróis convencionais ao empurrar um carro ladeira abaixo com o indefeso Locque preso dentro dele.

Kristatos o verdadeiro vilãoInteligente e elegante MelinaJames Bond alertaMontador de origem, John Glen consegue criar sequências narrativamente envolventes, como quando Bond sobe correndo uma longa escadaria na Albânia para tentar impedir a fuga do carro de Locque, num momento tenso que se torna mais interessante pela forma como é montado, intercalando entre os planos de Bond e do carro num ritmo dinâmico. Outro momento tenso acontece quando Bond e Melina tentam destruir o ATAC no fundo do mar, culminando numa luta quase em câmera lenta que, mesmo criativa, perde força justamente pelo ritmo arrastado.

Mas é no ato final que reside o momento de destaque de “007 Somente para seus olhos”, começando pela angustiante escalada de James Bond pela montanha, conduzida com precisão pelo diretor. Prendendo nossa atenção a cada movimento do protagonista, Glen cria uma cena realmente impactante, mas o desfecho repentino da narrativa após a chegada ao topo acaba minando um pouco o efeito da subida. Encerrando o longa com outra piada sem graça, desta vez envolvendo Margaret Thatcher (Janet Brown), Glen ao menos demonstra coerência ao amarrar os dois extremos da narrativa com segmentos deslocados e sem nenhuma inspiração.

Seguindo a risca o padrão estabelecido na série, “007 Somente para seus olhos” tem todos os ingredientes de um filme de James Bond. O problema é que estes ingredientes são misturados numa narrativa sem grande inspiração, sem apelo visual e recheada com poucos personagens marcantes. No fim das contas, talvez o segmento de abertura tenha sim algum significado, indicando que toda a narrativa seria conduzida no modo “piloto automático”.

007 Somente para seus olhos foto 2Texto publicado em 27 de Maio de 2014 por Roberto Siqueira

007 CONTRA O FOGUETE DA MORTE (1979)

(Moonraker)

3 Estrelas 

Videoteca do Beto #201

Dirigido por Lewis Gilbert.

Elenco: Roger Moore, Lois Chiles, Michael Lonsdale, Richard Kiel, Corinne Clery, Bernard Lee, Geoffrey Keen, Desmond Llewelyn, Lois Maxwell, Toshirô Suga e Emily Bolton.

Roteiro: Christopher Wood, baseado em romance de Ian Fleming.

Produção: Albert R. Broccoli.

007 Contra o Foguete da Morte[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Primeiro filme da franquia 007 a passar pelo Brasil, “007 Contra o Foguete da Morte” diverte não apenas pela famosa cena no bonde do Rio de Janeiro, mas também pela presença de bons personagens e, principalmente, pela qualidade de algumas de suas cenas de ação. No entanto, o longa dá a sensação de durar mais do que realmente dura, o que nunca é um bom sinal. Ainda assim, a interessante sequência final no espaço compensa muitos de seus deslizes e salva o filme dirigido por Lewis Gilbert.

Adaptado do romance de Ian Fleming por Christopher Wood, “007 Contra o Foguete da Morte” tem início quando uma nave espacial some durante um voo sobre a Inglaterra, levando o agente secreto James Bond (Roger Moore) a investigar o caso e descobrir o envolvimento de um milionário conhecido como Hugo Drax (Michael Lonsdale), responsável pela fabricação das naves espaciais Moonraker na Califórnia. Auxiliado pela inicialmente arredia agente da CIA Dra. Goodhead (Lois Chiles), Bond acaba descobrindo que na realidade os planos de Drax eram muitos mais ambiciosos do que pareciam, envolvendo uma cidade espacial e o extermínio de toda a raça humana na Terra.

Apesar de partir de uma premissa baseada num dos capítulos mais negros da história da humanidade, o roteiro de Christopher Wood tende a misturar com frequência as cenas de ação com momentos bem humorados, acertando em diversos instantes, mas também errando em piadas sem graça como aquela em que um homem se choca contra uma placa da British Airways e na péssima referência ao western que surge em seguida, totalmente deslocada e sem propósito – e os chapéus utilizados pelos personagens dá a sensação de estarmos no México e não mais no Brasil. Ao menos, o diretor Lewis Gilbert acerta na condução de grande parte das cenas de ação, o que é crucial para o sucesso de um filme da série 007.

Mantendo a tradição de passar por diversos lugares do mundo, James Bond desta vez volta a sempre bela Veneza, passando também pela Califórnia e finalmente vindo ao Brasil. Aliás, a linda sede da Drax na Califórnia onde são fabricadas as espaçonaves Moonraker, toda construída em estilo francês e detalhadamente bem decorada no interior do palácio realça o habitual bom design de produção de Ken Adam, notável também no imponente centro de lançamentos das naves construído em plena floresta amazônica e, principalmente, na cidade espacial que surge já no ato final.

Outro costumeiro colaborador da franquia, John Barry retorna em “007 Contra o Foguete da Morte” para compor uma trilha sonora muito interessante através de melodias inspiradas e variações da bela música tema “Moonraker” (terceira canção de James Bond interpretada por Shirley Bassey), trazendo ainda uma brincadeira com o tema principal de “Contatos Imediatos de Terceiro Grau” através do toque do interfone que abre um laboratório em Veneza.

Estreante na série, o diretor de fotografia Jean Tournier faz um trabalho fabuloso, explorando inicialmente todo o charme de Veneza, com seus canais cortando a cidade e criando um visual singular, assim como ocorre no ensolarado Rio de Janeiro, enquadrado em belos planos gerais de Lewis Gilbert, que capricha também na composição dos planos e até mesmo de alguns travellings que passeiam pela linda Amazônia, com suas cachoeiras e a floresta criando um visual que é um deleite para os olhos.

Linda sede da DraxCharme de VenezaEnsolarado Rio de JaneiroNo entanto, a beleza do Brasil se limita mesmo aos aspectos naturais, já que “007 Contra o Foguete da Morte” segue quase todos os estereótipos possíveis, passando pelo Carnaval repleto de pessoas seminuas na rua e terminando, é claro, numa viagem para a perigosa Amazônia onde, obviamente, uma serpente gigante tentaria acabar com o protagonista. Por outro lado, o Rio de Janeiro ganha um visual bastante obscuro na noite de Carnaval em que Bond invade a sede da Drax, refletindo não apenas a aflição dos personagens como também o risco que eles corriam ali. Já quando Bond rouba os arquivos da Drax na Califórnia, não apenas a fotografia como também a trilha sonora indicam o risco da operação, com a diferença de que a trilha mistura seus tons sombrios com notas românticas por causa da presença de Corinne (Corinne Clery), a funcionária de Drax que se apaixona por Bond e, por isso, é assassinada de maneira cruel, numa cena simultaneamente linda e triste em que as luzes que vazam as árvores conferem um visual poético, conduzida em câmera lenta pelo diretor e seu montador John Glen, alternando entre a corrida desesperada da moça e a aproximação dos cães ferozes que a perseguem.

Sempre sério, mas com o semblante tranquilo e a voz calma, Michael Lonsdale compõe Drax como um vilão extremamente autoconfiante, o que é ótimo na construção da imagem de um antagonista que ofereça alguma ameaça ao protagonista, ainda que episódios como o da caça aos faisões o enfraqueçam diante da esperteza de 007. Mas o maior peso que o personagem poderia ter vem mesmo de seu plano audacioso e minuciosamente elaborado para que uma nova era tenha início sob seu comando no planeta. Fazendo clara alusão ao nazismo, a raça pura imaginada por Drax encontra em Mandíbula – o personagem caricato e icônico interpretado por Richard Kiel – e sua estranha namorada o seu ponto de ruptura, dando início à queda do império antes mesmo que ele se consolide.

Aliás, Drax não deve ser mesmo um chefe agradável, já que além de Corinne e Mandíbula, ele também é traído pela Dra. Goodhead, só que ao menos neste último caso a traição é justificada pelo fato da moça ser, na verdade, uma agente da CIA. Bela e muito esperta, a agente interpretada com carisma por Lois Chiles compartilha algumas das características marcantes de James Bond, demonstrando um faro aguçado para o perigo e total desconfiança de todos ao seu redor. Dona ainda de uma notável habilidade para a luta, Goodhead se constitui na melhor parceira de James Bond até então na franquia.

Cena simultaneamente linda e tristeVilão extremamente autoconfianteBela e muito espertaSurpreso com o fato de Goodhead ser mulher, Bond continua machista, é claro, mas mantém o charme e a elegância característicos do personagem, além do humor irônico notável, por exemplo, quando sorri imitando Mandíbula ao encontrar o velho rival. Cada vez mais a vontade no papel (até demais!), Roger Moore demonstra alguma evolução naquela que era sua deficiência mais chamativa, esforçando-se, por exemplo, na vibrante luta contra Chang (Toshirô Suga) na sala de um importante museu de Veneza. Além disso, o ator mostra boa empatia com Lois Chiles, o que torna a relação entre os personagens mais agradável.

Mas o ponto alto dos filmes de 007 são sempre as cenas de ação e elas surgem em quantidade e qualidade razoáveis neste “007 Contra o Foguete da Morte”, começando pela absurda e estilosa abertura em que Bond é jogado sem paraquedas de um avião, luta no ar com um inimigo e rouba o paraquedas dele, passando pela divertida perseguição de barco em que Bond foge numa gôndola motorizada e também pela perseguição das lanchas no rio Amazonas que, apesar de empolgante, dá a sensação de que os vilões brotam das árvores. No entanto, o grande destaque fica mesmo para a famosa sequência no bonde do Rio de Janeiro. Um pouco datada, especialmente pelos efeitos visuais e pelos golpes extremamente lentos e mal coreografados, a ousada sequência carrega grande tensão e ainda funciona.

E quando digo que os efeitos visuais estão datados, me refiro especialmente aos momentos que colocam os personagens em primeiro plano e imagens das locações no segundo, permitindo notar claramente a montagem. Este problema ocorre com frequência em “007 Contra o Foguete da Morte”, mas é compensado pelos excelentes efeitos visuais nas belíssimas cenas no espaço, que nos permitem acompanhar o balé das naves e dos próprios personagens enquanto se deslocam até a cidade construída por Drax – e apesar da ideologia condenável por trás daquela ideia, gosto muito do beijo romântico de um casal enquadrado com extrema sensibilidade pelo diretor durante a viagem.

Ambientando-nos perfeitamente ao local através da citada cidade espacial concebida por Ken Adam e das roupas espaciais escolhidas pela figurinista Jacques Fonteray, Lewis Gilbert conduz o confronto final com energia, ainda que alguns momentos pareçam inspirados nos antigos jogos de videogame, com tiros laser cortando a tela a todo instante – e o fraco design de som realça esta semelhança. Mas o importante é que a sequência final funciona bem, reservando ainda um pequeno momento de tensão quando Bond tenta destruir as bolas letais enviadas por Drax para a Terra. A costumeira piada final envolvendo Bond e sua parceira desta vez também é bem divertida.

Escorregando especialmente em seu irregular segundo ato, “007 Contra o Foguete da Morte” compensa seu deslize ao oferecer uma conclusão não apenas atraente visualmente como também envolvente narrativamente. Não é o caso de dizer que a ausência de Sean Connery não era mais sentida, mas Roger Moore ao menos demonstrava alguma evolução como James Bond.

007 Contra o Foguete da Morte foto 2Texto publicado em 26 de Maio de 2014 por Roberto Siqueira

007 O ESPIÃO QUE ME AMAVA (1977)

(The Spy Who Loved Me)

3 Estrelas 

Videoteca do Beto #200

Dirigido por Lewis Gilbert.

Elenco: Roger Moore, Barbara Bach, Vernon Dobtcheff, Caroline Munro, Richard Kiel, Curd Jürgens, Robert Brown, Walter Gotell, Lois Maxwell, Desmond Llewelyn, Bernard Lee, Edward de Souza, Michael Billington e George Baker.

Roteiro: Richard Maibaum e Christopher Wood, baseado em romance de Ian Fleming.

Produção: Albert R. Broccoli.

007 O Espião que me Amava[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Após “007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro” encerrar com dignidade a fase Guy Hamilton, Lewis Gilbert foi o escolhido para retomar a série 007 neste “007 O Espião que me Amava”, longa bastante irregular que, mesmo trazendo novos elementos para a tradicional fórmula da franquia, não consegue se equiparar ao bom trabalho de Gilbert em “Com 007 só se vive duas vezes”.

Escrito por Richard Maibaum e Christopher Wood com base em romance de Ian Fleming, “007 O Espião que me Amava” marca a primeira investigação de James Bond (Roger Moore) oficialmente acompanhado de outro agente, no caso, a agente secreta soviética Anya Amasova (Barbara Bach). Juntos, eles devem investigar o desaparecimento de um submarino carregado com 16 ogivas nucleares.

Outra vez utilizando a guerra fria como pano de fundo, o roteiro de Maibaum e Wood segue a fórmula de sucesso já estabelecida na série ao trazer James Bond diante de um temível vilão prestes a destruir o planeta, passando é claro pela conquista de belas mulheres, pela tradicional conversa com a charmosa Moneypenny (Lois Maxwell) e pelas inúmeras situações mirabolantes pelas quais o agente deve passar antes de atingir seu objetivo. Mas se todos os filmes de 007 seguem a mesma estrutura narrativa, onde está o diferencial entre eles? A resposta está na forma como cada aventura é conduzida – e, infelizmente, neste caso a condução não é das melhores.

É importante ressaltar que, além do diretor Lewis Gilbert, somente o montador John Glen e o designer de produção Ken Adam já tinham participado da série antes, enquanto todos os outros integrantes da equipe técnica de “007 O Espião que me Amava” eram estreantes. Não que a experiência seja tão crucial, mas certamente a inclusão de uma equipe técnica praticamente toda nova interferiu, ainda que este aspecto também tenha o seu lado positivo, injetando novas ideias que beneficiaram o longa. Caminhando entre a inexperiência e a novidade, o trabalho técnico em geral acaba soando irregular.

Entre as novidades bem sucedidas, podemos destacar a linda música tema “Nobody does it better”, que traz uma carga romântica interessante e, de quebra, inspira o bom trabalho de Marvin Hamlisch na composição da trilha sonora instrumental que, por outro lado, é pouco inspirada e totalmente datada quando embala as cenas de ação, como numa perseguição no fundo do mar. Já a escolha da música clássica nas cenas dentro do complexo onde vive o vilão Stromberg (Curd Jürgens) é muito eficiente, casando bem o som com o balé dos peixes dentro da água.

A própria estrutura interna do complexo submarino de Stromberg concebida pelo design de produção realça outro aspecto técnico que chama a atenção, notável também no inventivo carro-submarino Lotus Esprit desenvolvido por Q (Desmond Llewelyn), que deixa metade das pessoas presentes numa praia da Sardenha boquiabertas. A linda Sardenha, aliás, é captada de maneira sempre exuberante pelo diretor de fotografia Claude Renoir, criando um forte contraste com o árido visual das sequências que se passam no Egito. O visual de tirar o fôlego também se destaca na excelente fuga de Bond nos Alpes austríacos, conduzida com energia pelo diretor e seu montador. E finalmente, Renoir adota tons avermelhados no interior dos submarinos quando estes sofrem ataques, reforçando a sensação de perigo dos personagens.

Complexo submarino de StrombergInventivo Lotus EspritLinda SardenhaA fotografia também é marcante na sombria apresentação de Mandíbula, o homem quase indestrutível interpretado de maneira bem caricata por Richard Kiel que surge pela primeira vez durante um evento noturno no deserto egípcio. Caminhando quase como uma múmia, Mandíbula soa como um personagem cartunesco, chegando a nos divertir pela maneira como escapa dos diversos ataques que sofre – a cena em que ele sai ileso após a queda de um carro sobre uma casa é hilária. Já o vilão Karl Stromberg interpretado por Curd Jürgens está longe de ser divertido, demonstrando sua ganância e crueldade logo no início quando assassina a própria secretária e, em seguida, os dois cientistas que lhe entregaram um precioso projeto. No entanto, assim como ocorre com muitos dos vilões da franquia, Stromberg perde força ao longo da narrativa.

Responsável por dividir a investigação com James Bond, a sexy agente Anya Amasova vivida por Barbara Bach é apresentada através de uma interessante subversão de expectativa durante uma cena amorosa envolvendo outro agente secreto. Ao ouvirmos a menção ao nome do agente “XXX”, inicialmente podemos pensar que quem dividirá as ações com Bond é o homem que está com ela (e ele é mesmo um agente), mas quando Anya pega o telefone, descobrimos que ela é escolhida para a missão. Sedutora e perigosa, Anya foge um pouco do estereótipo de mulher frágil predominante na série, demonstrando até mesmo conhecimento de mecânica após uma piada machista de Bond envolvendo mulheres na direção, em outra subversão do clichê bastante interessante.

Mandíbula, o homem quase indestrutívelKarl Stromberg está longe de ser divertidoSedutora e perigosa AnyaA importância da participação de Anya é realçada até mesmo na mencionada trilha sonora de Marvin Hamlisch, claramente mais romântica que de costume – e o sorriso deles após receberem a noticia de que viajarão juntos pra Sardenha indica a atração mútua que resultará no romance. Claramente mais a vontade no papel, Roger Moore encarna Bond novamente como um homem inteligente e elegante, conferindo algum peso dramático ao personagem, por exemplo, ao demonstrar tristeza após Anya mencionar sua falecida esposa, sem jamais perder o ar irônico tão marcante em sua composição.

Responsável pelas atuações minimamente homogêneas, Lewis Gilbert acerta ainda na condução de cenas vitais como a perseguição na ilha envolvendo alguns carros, uma moto e até um helicóptero, que certamente é a melhor cena de ação do filme, culminando na apresentação do criativo carro-submarino já citado. Além dela, o extenso confronto final dentro do navio, repleto de explosões que realçam o bom design de som, e a tensa cena em que Bond desmonta um míssil também são eficientes, mas a sensação que temos ao final de “007 O Espião que me Amava” é a de que faltou algo.

E esta nunca é uma sensação boa, ainda mais num filme de James Bond.

007 O Espião que me Amava foto 2Texto publicado em 23 de Maio de 2014 por Roberto Siqueira