(Die Another Day)
Filmes em Geral #121
Dirigido por Lee Tamahori.
Elenco: Pierce Brosnan, Halle Berry, Toby Stephens, Rosamund Pike, Rick Yune, Judi Dench, John Cleese, Michael Madsen, Will Yun Lee, Kenneth Tsang, Emilio Echevarría, Colin Salmon, Samantha Bond e Madonna.
Roteiro: Neal Purvis e Robert Wade, baseado em personagens criados por Ian Fleming.
Produção: Michael G. Wilson e Barbara Broccoli.
[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].
Após um início promissor que teve seu auge no ótimo “007 O Amanhã nunca morre”, Pierce Brosnan viu sua trajetória como James Bond chegar ao fundo do poço neste indefensável “007 Um Novo dia para morrer”, longa dirigido por Lee Tamahori que, por muito pouco, não decretou o fim da franquia no cinema. Repleto de personagens absurdos e cenas pavorosamente mal elaboradas em CGI, o filme torna difícil à tarefa de apontar seus melhores momentos – e se o mais marcante deles é uma homenagem a outro filme da própria franquia é porque a falta de criatividade de seus realizadores extrapolou os limites.
Escrito por Neal Purvis e Robert Wade com base nos já clássicos personagens de Ian Fleming, “007 Um Novo dia para morrer” começa com James Bond (Pierce Brosnan) sendo capturado numa missão na Coréia do Norte na qual deveria assassinar o general Moon (Kenneth Tsang), mas acaba mesmo é testemunhando o suicídio do filho do coreano. Após passar 14 meses na prisão, o governo britânico resolve trocar Bond por um perigoso terrorista internacional conhecido como Zao (Rick Yune). No entanto, o MI-6 desconfia que ele revelou informações importantes nos tempos de cativeiro e acaba desligando-o de suas funções. Decidido a provar sua inocência, o agente parte em busca do terrorista, o que o faz cruzar o caminho do excêntrico milionário Gustav Graves (Toby Stephens).
Repleta de alfinetadas políticas interessantes, a tensa sequência de abertura que se divide entre as ações na Coréia do Norte e no comando do MI-6 acaba nos dando a falsa esperança de que “007 Um Novo dia para morrer” será mais um ótimo filme da franquia. Ainda que seja recheada por exageradas explosões e pirotecnias (uma característica da época), esta sequência funciona muito bem e fisga o espectador rapidamente para a trama. O problema é que, a partir daí, o roteiro não sabe exatamente para onde ir, criando situações potencialmente interessantes para, em seguida, não conseguir desenvolvê-las. O conflito entre Bond e M, por exemplo, não funciona tão bem quanto em filmes anteriores, chegando a parecer bobo e sem sentido inicialmente por surgir tão carregado dramaticamente.
Por outro lado, o roteiro acerta ao inserir momentos de bom humor como quando a pessoa que avalia o estado físico de Bond após o resgate afirma que “o fígado não está muito bem, definitivamente é ele”. No entanto, estes momentos não salvam uma narrativa mal conduzida e que sequer consegue desenvolver bem seus personagens. Não que a franquia 007 seja marcada pela presença de personagens complexos, mas ao menos os melhores filmes tinham narrativas envolventes e criativas. Pra piorar, o diretor Lee Tamahori investe em reviravoltas extremamente previsíveis, como a revelação de que Graves é o filho do general Moon e a traição de Miranda Frost, a agente secreta interpretada por Rosamund Pike que não consegue esconder o fascínio dela pelo milionário.
O próprio Gustav Graves de Toby Stephens é um personagem totalmente unidimensional, demonstrando sua inquietação diante da primeira provocação de Bond e escancarando seu passado, sendo capaz ainda de assassinar o próprio pai e sorrir em seguida, numa das composições mais caricatas de uma franquia já marcada por vilões caricatos. E enquanto Judi Dench tenta conferir algum peso ao raso conflito que tem com Bond, John Cleese confirma que poderia ser um ótimo substituto para Desmond Llewelyn na pele de Q. Finalmente, Halle Berry até que se sai bem nas sequências que exigem esforço físico, tendo ainda o privilégio de estar numa das raras cenas memoráveis do longa ao sair da água da mesma maneira que Ursula Andress havia feito na icônica cena de “007 Contra o Satânico Dr. No”, que aqui claramente é homenageada.
Mais a vontade no papel, Pierce Brosnan poderia ter oferecido uma boa atuação caso o roteiro lhe permitisse, mas infelizmente é sabotado por uma trama confusa e, principalmente, por cenas de ação totalmente prejudicadas pelo mau uso do CGI – voltaremos a elas em instantes. Não que a parte técnica de “007 Um Novo dia para morrer” seja um desastre completo, já que a fotografia de David Tattersall, por exemplo, faz um interessante trabalho ao estabelecer claramente a atmosfera de cada ambiente através do visual acinzentado na Coréia do Norte, da fotografia árida que predomina a sequência cubana e da paleta gélida na Islândia. Por sua vez, o design de produção do bom Peter Lamont cria interessantes cenários de gelo na Islândia, ao passo que os figurinos de Lindy Hemming mantêm o padrão da série com roupas elegantes para Bond e, neste caso, também para os vilões.
Já a trilha sonora de David Arnold não consegue chamar a atenção, mas é claramente prejudicada por utilizar variações da música tema de Madonna. Eu gosto de muitas músicas da Madonna, que curiosamente tem uma rápida participação como a professora de esgrima Verity, mas “Die Another Day” está bem longe de ser uma boa música. Ao menos, Arnold consegue compor trilhas instrumentais interessantes para embalar as cenas de ação.
No entanto, a feroz luta de espadas entre Bond e Graves é uma das raras cenas empolgantes de “007 Um Novo dia para morrer”, já que o diretor Lee Tamahori perde a mão na condução da narrativa, especialmente no segundo ato em que o ritmo arrastado imprimido pelos montadores Andrew MacRitchie e Christian Wagner não consegue envolver o espectador, falhando ainda, por exemplo, ao abusar do uso da câmera lenta em diversos momentos, tirando a agilidade das cenas sem ter qualquer ganho estilístico significativo com isto.
Mas todos estes erros não se comparam ao grotesco uso do CGI que torna as pavorosas sequências em que Bond surfa numa avalanche e aquela na qual um avião pega fogo no ato final ainda mais artificiais, como se a decisão de colocar o agente surfando num fenômeno cataclísmico como aquele não fosse suficiente para arruinar a narrativa – OK, concordo que Bond já fez de quase tudo nesta vida, mas exagero tem limite. Pra piorar, o diretor emprega movimentos bruscos que tornam a citada cena do avião ainda mais confusa, chegando a provocar náuseas no espectador mais sensível. Ao menos, algumas ideias mirabolantes funcionam bem, como o carro invisível que, ironicamente, apoia-se em bons efeitos visuais para tornar-se verossímil – o que não ocorre nas citadas cenas que abusam do CGI. E finalmente, a sequência em que Moneypenny (Samantha Bond) imagina um encontro romântico com Bond é divertida, apesar de ser bem previsível.
A imaginação, aliás, é o problema central de “007 Um Novo dia para morrer”. Enquanto algumas cenas de ação pecam justamente pelo excesso, outras surgem pouco inspiradas, o que, somado aos personagens mal desenvolvidos e a preguiçosa condução da narrativa, fazem deste o pior filme da franquia até hoje. Foram necessários quatro anos e um reboot da série para amenizar o estrago feito pelo filme de Lee Tamahori.
O pior filme da franquia oficial..
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