(School of Rock)
Filmes em Geral #112
Dirigido por Richard Linklater.
Elenco: Jack Black, Joan Cusack, Joey Gaydos Jr., Robert Tsai, Angelo Massagli, Kevin Clark, Maryam Hassan, Caitlin Hale, Cole Hawkins, Brian Falduto, Mike White, Adam Pascal, Lucas Papaelias, Chris Stack, Sarah Silverman, Lucas Babin, Jordan-Claire Green e Miranda Cosgrove.
Roteiro: Mike White.
Produção: Scott Rudin.
[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].
Se para muita gente o rock n’ roll é sinônimo de diversão, “Escola de Rock” é certamente um dos filmes que conseguem captar esta essência com precisão, transmitindo para a plateia a energia de um verdadeiro show de rock através de sua narrativa ágil e de seus personagens extremamente carismáticos. Encabeçado pelo ótimo Jack Black, o longa dirigido pelo talentoso Richard Linklater é tão leve e despretensioso que nem parece que possui tantas qualidades, mas ao examiná-lo com paciência o espectador notará que sua aura envolvente é fruto do trabalho árduo de pessoas muito competentes.
Escrito especialmente para Jack Black por seu amigo Mike White, “Escola do Rock” começa quando Dewey Finn (Black) é expulso de sua banda devido ao seu comportamento polêmico e acaba sendo obrigado a procurar outro emprego. Assim, quando uma escola telefona procurando seu amigo Ned Schneebly (Mike White) no apartamento em que eles vivem junto com a namorada de Ned chamada Patty (Sarah Silverman), ele não hesita em aceitar o emprego no lugar dele, assumindo as aulas de uma rígida escola de ensino fundamental como professor substituto.
Diretor eficiente, Richard Linklater nos insere na atmosfera de “Escola de Rock” já durante a criativa apresentação dos créditos iniciais, quando um plano-sequência acompanhado pela música agitada ao fundo nos leva até o palco onde o personagem de Jack Black se apresenta sem sucesso. Empregando seus costumeiros elegantes movimentos de câmera, o diretor prende nossa atenção através de uma narrativa ágil que praticamente não nos permite notar o tempo passar, o que é mérito também do ritmo perfeito empregado pela montadora Sandra Adair, que mantém o foco nas divertidas aulas do professor, deixando as pequenas subtramas envolvendo a diretora da escola e os amigos de Dewey em segundo plano, além é claro de construir transições muito interessantes como quando saímos de Dewey caído no palco para ele deitado na cama logo no início.
Neste instante, muitas informações a respeito do personagem são passadas somente através do visual, com seu quarto repleto de LPs e CDs de rock, além dos pôsteres e faixas de bandas como “Black Sabbath” e “The Who” que surgem espalhados pelo apartamento (design de produção de Jeremy Conway). Observe ainda como as fortes cores que predominam no apartamento como preto, marrom e vermelho contrastam com a clara sala de aula, na qual predomina o branco e onde a luz consegue preencher o aconchegante ambiente com muito mais facilidade, o que obviamente é mérito do diretor de fotografia Rogier Stoffers. E finalmente, os uniformes sóbrios dos alunos em tons de azul e branco e as roupas engraçadas do protagonista criam um contraste evidente que, não à toa, só deixará de existir no ato final, quando o professor finalmente surgirá no palco vestido como eles (figurinos de Karen Patch).
Repleta de clássicos do rock que vão de AC/DC à Black Sabbath, a trilha sonora de Craig Wedren só poderia ser mesmo empolgante, incluindo ainda excelentes sacadas como a escolha da música “Substitute”, do “The Who”. Os fãs de rock vão vibrar também com as menções a gênios como Jimi Hendrix e Neil Peart nas lições de casa aplicadas pelo professor, que, além de engraçadas, são muito apropriadas para cada instrumentista.
Professor Dewey que é interpretado por um Jack Black solto e divertido, que se mostra muito a vontade num papel feito sob medida pra ele. Afinal, suas expressões marcantes e exageradas caem muito bem na pele do roqueiro improvisado como professor, responsável por muitos dos momentos hilários do longa, como quando ele aponta três dedos para Theo (Adam Pascal) e manda ele ler nas entrelinhas ou na empolgante primeira vez em que ele toca na sala de aula com os alunos e arranca os primeiros riffs de Zack (Joey Gaydos Jr.). No entanto, o engraçado Dewey demonstra também uma surpreendente capacidade de liderança ao dividir as tarefas entre os alunos, colocando cada um na função correta (e ajustando aqueles que se oferecem para outras áreas), num exemplo perfeito de motivação que orgulharia muitos palestrantes por aí. E o que dizer do ótimo momento em que Dewey hesita antes de cantar sua própria canção para os alunos, numa demonstração de falta de confiança graciosa e divertida?
Encarnando a diretora durona da escola, Joan Cusack tem ótimos momentos, como quando toma cerveja toda desajeitada num bar e em seguida curte a música que adora ao lado de Dewey ou quando desabafa no carro sobre o quanto a pressão do cargo mudou seu jeito de ser, além do engraçado instante em que ela revela aos pais que seus filhos sumiram – e graças a sua expressão realçada pelo close de Linklater, nós praticamente sentimos o desespero dela quando é pressionada pelos pais na escola. Por sua vez, o verdadeiro Ned Schneebly interpretado pelo roteirista Mike White é inerte, alguém totalmente passivo diante das ações de Dewey e da detestável namorada dele Patty, vivida por Sarah Silverman.
Ainda que quase todo o elenco adulto se saia bem, inegavelmente o grande mérito de Linklater está na direção do elenco mirim, que dá um verdadeiro show coletivo de talento e carisma através de personagens adoráveis como o tímido Zack vivido por Joey Gaydos Jr., os complexados Lawrence de Robert Tsai (“Não sou maneiro”, diz) e Tomika de Maryam Hassan (“Eles vão rir de mim porque sou gorda”), o descolado Freddy interpretado por Kevin Clark e que muda seu penteado para o estilo punk rock, além das adoráveis Marta (Caitlin Hale) e Michelle (Jordan-Claire Green), do inteligente Leonard (Cole Hawkins) e da determinada Summer (Miranda Cosgrove). No entanto, o grande destaque das atuações mirins fica mesmo para Brian Falduto, que cria um afeminado Billy com tanta perfeição e graça que fica impossível não rir em quase todas as vezes que ele aparece.
Criando um pequeno conflito que serve para desmascarar Dewey e deixar a plateia aflita, o roteiro parte para a resolução do problema no empolgante clímax, quando os pais se apressam para chegar ao local do show e acompanham a sensacional apresentação dos filhos, captada com perfeição por Linklater. Com o auxilio de seu montador, ele transita num ritmo perfeito entre os vários integrantes da banda e a vibração da plateia, compondo uma apresentação belíssima e vibrante, fechando a ótima sequência com a polêmica votação e o público emocionado pedindo BIS. O final metalinguístico já na escola de rock oficial com Dewey falando diretamente com a plateia apenas fecha com chave de ouro este filme delicioso e empolgante.
Captando a essência do rock sob o filtro do olhar inocente das crianças, Richard Linklater realizou um filme memorável, que conta também com a estupenda atuação de Jack Black e do elenco infantil para se tornar ainda melhor. E assim como os pais dos alunos e a diretora da escola, você não precisa necessariamente ser roqueiro para se encantar com o desempenho deles.
Texto publicado em 14 de Setembro de 2013 por Roberto Siqueira
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