(Remember the Titans)
Filmes em Geral #95
Dirigido por Boaz Yakin.
Elenco: Denzel Washington, Will Patton, Wood Harris, Ryan Hurst, Ryan Gosling, Donald Faison, Craig Kirkwood, Ethan Suplee e Kate Bosworth.
Roteiro: Gregory Allen Howard.
Produção: Jerry Bruckheimer e Chad Oman.
[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].
A história do esporte é uma fonte inesgotável de inspiração para todo e qualquer artista que se proponha a pesquisá-la. Independente da modalidade escolhida, inúmeros são os casos de superação, ascensão repentina e decadência absoluta, além das diversas oportunidades em que o esporte provou ter influência na política e na sociedade de maneira geral. O problema é que estas histórias tendem a ser repetitivas e, ainda que tenham as melhores intenções por trás do projeto, tornam-se esquemáticas e previsíveis demais nas mãos de um diretor menos habilidoso. Infelizmente, este é o de “Duelo de Titãs”.
Baseado numa história real e com grande potencial, o fraco roteiro escrito por Gregory Allen Howard nos leva ao início dos anos 70 na Virginia, EUA, quando a integração racial começava a ganhar força nas escolas, para o protesto da grande maioria da população local. Assim, a simples substituição do técnico de um time de futebol americano numa universidade é capaz de gerar enorme desconforto tanto entre os jogadores como em toda a sociedade somente porque o antigo treinador Bill Yoast (Will Patton) é branco e o novo técnico Herman Boone (Denzel Washington) é negro. Diante deste contexto, a dura missão do novo treinador vai além de formar uma equipe competitiva, tendo também que forçar os jogadores a superarem suas diferenças e conquistarem o campeonato.
A grande sacada de “Duelo de Titãs” é justamente utilizar o esporte como pano de fundo para abordar o racismo nada velado daquele período da historia norte-americana. Por isso, é muito interessante observar a maneira crua como o roteiro mostra que o racismo estava cravado na cultura do local, com professores, alunos, comerciantes e até mesmo os próprios pais demonstrando enorme preconceito racial, como fica evidente no protesto contra a integração feito pelas mães dos alunos que nos leva a refletir como o ser humano é mesmo capaz de fazer coisas horríveis. Por isso, utilizar o esporte como um fator de união entre as pessoas é algo que normalmente funciona, ainda que isto não seja nada original. Só que os meios utilizados por Howard e pelo diretor Boaz Yakin para nos levar a esta agregação é que são decepcionantes.
Abusando de diversas situações mais que batidas, a dupla cria uma sequência de discussões e conflitos totalmente artificiais, fazendo com que a narrativa soe cada vez menos realista. Aliás, os conflitos entre negros e brancos são tantos que, antes da metade da projeção, já estamos entediados, num excesso que esvazia o efeito que estes embates poderiam causar. Pra piorar, a dupla aposta no velho clichê dos brancos e negros que primeiro se odeiam para depois se adorarem, só que felizmente esta transição ocorre rapidamente e, apesar de soar pouco verossímil, traz uma melhora sensível na narrativa, tornando-a mais interessante quando eles começam a se dar bem, graças também à dinâmica do grupo, que realça a boa atuação coletiva daqueles jovens.
Na verdade, extrair boas atuações do elenco de apoio é um dos raros acertos de Yakin em “Duelo de Titãs”. Com atores certos nos papeis certos, ele consegue criar um grupo carismático, onde se destacam o determinado Gerry (Ryan Hurst), o sensível Julius (Wood Harris), o inteligente “Raios de Sol” (Kip Pardue) e o divertido Alan Bosley, interpretado por um ainda jovem Ryan Gosling. Apesar disso, nem sempre os atores conseguem driblar as falhas gritantes do roteiro. Repare, por exemplo, como num instante “Raio do sol” surge intimidado e sem confiança somente para em seguida se transformar num líder nato, capaz de orientar toda a equipe e virar uma partida – esta vibrante partida, aliás, consegue empolgar mesmo com sua pequena duração, o que não acontece na maioria dos jogos.
Entre os atores mais conhecidos, a postura durona e autoritária de Herman Boone combina muito bem com o estilo de Denzel Washington, mas não com a profissão de treinador, já que este método militar e ultrapassado não se encaixa mais aos modelos modernos de liderança. Ainda assim, o competente Washington leva bem a narrativa, ainda que seu personagem chegue bem perto de se tornar antipático. Já o estilo mais humano e intimista de liderar de Bill Yoast consegue recuperar jogadores e aproximá-lo do grupo, mas isto é insuficiente para que ele se torne o “bom moço” diante da plateia, graças exclusivamente a inexpressividade gritante de Will Patton.
Aparentemente sem perceber a falta de expressividade de Patton, Yakin abusa de close-ups não apenas dele, mas de todo o elenco. Além disso, ao imprimir um ritmo acelerado e cheio de cortes secos nos treinamentos e jogos, Yakin e seu montador Michael Tronick tornam as sequências confusas, não permitindo que o espectador compreenda o que está acontecendo com clareza – e mais uma vez o excesso de closes do diretor só piora as coisas nestes momentos. Ao menos, o estádio, os uniformes dos jogadores e a iluminação precisa utilizada nas partidas noturnas nos ambientam com precisão ao clima dos jogos, o que é mérito do design de produção de Deborah Evans, dos figurinos de Judy Ruskin Howell e da fotografia de Philippe Rousselot.
Da mesma forma, o design de som merece destaque por permitir que o espectador ouça desde detalhes como o apito e os gritos dos jogadores até os sons mais intensos dos choques entre eles e da vibração da torcida. Por outro lado, apesar de apresentar músicas empolgantes como a que acompanha um treinamento de madrugada, a trilha sonora de Trevor Rabin se excede constantemente, especialmente quando tenta ressaltar algum momento dramático como no ataque à casa de Boone. Além disso, as músicas diegéticas (cantadas pelos atletas) são repetitivas e enjoam.
Repetição, aliás, é uma palavra que define bem “Duelo de Titãs”, já que constantemente temos aquela sensação de estar assistindo mais do mesmo. O desfile de clichês continua com o mais que previsível acidente de Gerry, anunciado assim que ele convida Julius para sair e o amigo se recusa. Tentando conferir naturalidade a sequência, Yakin escorrega ao focar o rosto do garoto olhando para o lado segundos antes da colisão, permitindo que o espectador antecipe o que irá acontecer e, consequentemente, diminuindo o impacto da cena. Seguindo a tendência de todo o filme, a partida final é totalmente previsível e sem graça, permitindo que o espectador antecipe seu resultado muito tempo antes de sua concretização. Fica óbvio que “Rev” (Craig Kirkwood) será um jogador chave na partida desde o instante em que ele pede para jogar a final, assim como fica óbvio que as mudanças dos treinadores trarão resultado imediato no confronto assim que eles “abrem mão do orgulho” e aceitam conselhos. Assim, todos se reconciliam e vivem felizes, como aconteceria em qualquer novela do horário nobre.
Usar o esporte como pano de fundo para abordar um tema tão complicado quanto o preconceito racial é um dos raros trunfos de “Duelo de Titãs”. Infelizmente, no entanto, este acerto é diluído diante de tantos problemas.
Texto publicado em 19 de Dezembro de 2012 por Roberto Siqueira
O Filme é bom. Mas realmente é previsivel
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