Vídeo: Minari

No vídeo de hoje, conversei com Hector Colacelli e Thyago Bertoni sobre “Minari”, filme dirigido por Lee Isaac Chung, estrelado por Steven Yeun, Alan S. Kim e Yuh-Jung Youn, com estreia prevista para 22 de abril nos cinemas.

Confira:

Um abraço e uma semana cinematográfica para todos nós!

Vídeo publicado em 11 de Abril de 2021 por Roberto Siqueira

DUELO DE TITÃS (2000)

(Remember the Titans)

2 Estrelas 

Filmes em Geral #95

Dirigido por Boaz Yakin.

Elenco: Denzel Washington, Will Patton, Wood Harris, Ryan Hurst, Ryan Gosling, Donald Faison, Craig Kirkwood, Ethan Suplee e Kate Bosworth.

Roteiro: Gregory Allen Howard.

Produção: Jerry Bruckheimer e Chad Oman.

Duelo de Titãs[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

A história do esporte é uma fonte inesgotável de inspiração para todo e qualquer artista que se proponha a pesquisá-la. Independente da modalidade escolhida, inúmeros são os casos de superação, ascensão repentina e decadência absoluta, além das diversas oportunidades em que o esporte provou ter influência na política e na sociedade de maneira geral. O problema é que estas histórias tendem a ser repetitivas e, ainda que tenham as melhores intenções por trás do projeto, tornam-se esquemáticas e previsíveis demais nas mãos de um diretor menos habilidoso. Infelizmente, este é o de “Duelo de Titãs”.

Baseado numa história real e com grande potencial, o fraco roteiro escrito por Gregory Allen Howard nos leva ao início dos anos 70 na Virginia, EUA, quando a integração racial começava a ganhar força nas escolas, para o protesto da grande maioria da população local. Assim, a simples substituição do técnico de um time de futebol americano numa universidade é capaz de gerar enorme desconforto tanto entre os jogadores como em toda a sociedade somente porque o antigo treinador Bill Yoast (Will Patton) é branco e o novo técnico Herman Boone (Denzel Washington) é negro. Diante deste contexto, a dura missão do novo treinador vai além de formar uma equipe competitiva, tendo também que forçar os jogadores a superarem suas diferenças e conquistarem o campeonato.

A grande sacada de “Duelo de Titãs” é justamente utilizar o esporte como pano de fundo para abordar o racismo nada velado daquele período da historia norte-americana. Por isso, é muito interessante observar a maneira crua como o roteiro mostra que o racismo estava cravado na cultura do local, com professores, alunos, comerciantes e até mesmo os próprios pais demonstrando enorme preconceito racial, como fica evidente no protesto contra a integração feito pelas mães dos alunos que nos leva a refletir como o ser humano é mesmo capaz de fazer coisas horríveis. Por isso, utilizar o esporte como um fator de união entre as pessoas é algo que normalmente funciona, ainda que isto não seja nada original. Só que os meios utilizados por Howard e pelo diretor Boaz Yakin para nos levar a esta agregação é que são decepcionantes.

Abusando de diversas situações mais que batidas, a dupla cria uma sequência de discussões e conflitos totalmente artificiais, fazendo com que a narrativa soe cada vez menos realista. Aliás, os conflitos entre negros e brancos são tantos que, antes da metade da projeção, já estamos entediados, num excesso que esvazia o efeito que estes embates poderiam causar. Pra piorar, a dupla aposta no velho clichê dos brancos e negros que primeiro se odeiam para depois se adorarem, só que felizmente esta transição ocorre rapidamente e, apesar de soar pouco verossímil, traz uma melhora sensível na narrativa, tornando-a mais interessante quando eles começam a se dar bem, graças também à dinâmica do grupo, que realça a boa atuação coletiva daqueles jovens.

Protesto contra a integraçãoConflitos entre negros e brancosGrupo carismáticoNa verdade, extrair boas atuações do elenco de apoio é um dos raros acertos de Yakin em “Duelo de Titãs”. Com atores certos nos papeis certos, ele consegue criar um grupo carismático, onde se destacam o determinado Gerry (Ryan Hurst), o sensível Julius (Wood Harris), o inteligente “Raios de Sol” (Kip Pardue) e o divertido Alan Bosley, interpretado por um ainda jovem Ryan Gosling. Apesar disso, nem sempre os atores conseguem driblar as falhas gritantes do roteiro. Repare, por exemplo, como num instante “Raio do sol” surge intimidado e sem confiança somente para em seguida se transformar num líder nato, capaz de orientar toda a equipe e virar uma partida – esta vibrante partida, aliás, consegue empolgar mesmo com sua pequena duração, o que não acontece na maioria dos jogos.

Entre os atores mais conhecidos, a postura durona e autoritária de Herman Boone combina muito bem com o estilo de Denzel Washington, mas não com a profissão de treinador, já que este método militar e ultrapassado não se encaixa mais aos modelos modernos de liderança. Ainda assim, o competente Washington leva bem a narrativa, ainda que seu personagem chegue bem perto de se tornar antipático. Já o estilo mais humano e intimista de liderar de Bill Yoast consegue recuperar jogadores e aproximá-lo do grupo, mas isto é insuficiente para que ele se torne o “bom moço” diante da plateia, graças exclusivamente a inexpressividade gritante de Will Patton.

Durão e autoritárioMais humano e intimistaClosesAparentemente sem perceber a falta de expressividade de Patton, Yakin abusa de close-ups não apenas dele, mas de todo o elenco. Além disso, ao imprimir um ritmo acelerado e cheio de cortes secos nos treinamentos e jogos, Yakin e seu montador Michael Tronick tornam as sequências confusas, não permitindo que o espectador compreenda o que está acontecendo com clareza – e mais uma vez o excesso de closes do diretor só piora as coisas nestes momentos. Ao menos, o estádio, os uniformes dos jogadores e a iluminação precisa utilizada nas partidas noturnas nos ambientam com precisão ao clima dos jogos, o que é mérito do design de produção de Deborah Evans, dos figurinos de Judy Ruskin Howell e da fotografia de Philippe Rousselot.

Da mesma forma, o design de som merece destaque por permitir que o espectador ouça desde detalhes como o apito e os gritos dos jogadores até os sons mais intensos dos choques entre eles e da vibração da torcida. Por outro lado, apesar de apresentar músicas empolgantes como a que acompanha um treinamento de madrugada, a trilha sonora de Trevor Rabin se excede constantemente, especialmente quando tenta ressaltar algum momento dramático como no ataque à casa de Boone. Além disso, as músicas diegéticas (cantadas pelos atletas) são repetitivas e enjoam.

Repetição, aliás, é uma palavra que define bem “Duelo de Titãs”, já que constantemente temos aquela sensação de estar assistindo mais do mesmo. O desfile de clichês continua com o mais que previsível acidente de Gerry, anunciado assim que ele convida Julius para sair e o amigo se recusa. Tentando conferir naturalidade a sequência, Yakin escorrega ao focar o rosto do garoto olhando para o lado segundos antes da colisão, permitindo que o espectador antecipe o que irá acontecer e, consequentemente, diminuindo o impacto da cena. Seguindo a tendência de todo o filme, a partida final é totalmente previsível e sem graça, permitindo que o espectador antecipe seu resultado muito tempo antes de sua concretização. Fica óbvio que “Rev” (Craig Kirkwood) será um jogador chave na partida desde o instante em que ele pede para jogar a final, assim como fica óbvio que as mudanças dos treinadores trarão resultado imediato no confronto assim que eles “abrem mão do orgulho” e aceitam conselhos. Assim, todos se reconciliam e vivem felizes, como aconteceria em qualquer novela do horário nobre.

Usar o esporte como pano de fundo para abordar um tema tão complicado quanto o preconceito racial é um dos raros trunfos de “Duelo de Titãs”. Infelizmente, no entanto, este acerto é diluído diante de tantos problemas.

Duelo de Titãs foto 2Texto publicado em 19 de Dezembro de 2012 por Roberto Siqueira

SEM SAÍDA (1988)

(No Way Out)

 

Videoteca do Beto #54

Dirigido por Roger Donaldson.

Elenco: Kevin Costner, Gene Hackman, Sean Young, Will Patton, Howard Duff, George Dzundza, Jason Bernard, Iman, Fred Dalton Thompson, Leon Russom, David Paymer e Dennis Burkley.

Roteiro: Robert Garland, baseado em livro de Kenneth Fearing.

Produção: Robert Garland e Laura Ziskin.

[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido o filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

O que você faria se fosse nomeado o responsável por uma investigação que, buscando livrar a pele de um homem importante, procurasse jogar a culpa de um assassinato que ele acidentalmente cometeu em cima de alguém inocente? Imagine agora que a moça assassinada, além de amante deste poderoso homem, era também a mulher por quem você estava apaixonado e vivendo um romance. Pra piorar ainda mais, o homem inocente que deverá levar a culpa é justamente você, mas só você sabe disto. Pois esta é a complicada situação em que se meteu o tenente Farrell, neste ótimo “Sem Saída”, dirigido por Roger Donaldson.

Tom Farrell (Kevin Costner) é um jovem e promissor oficial que tem um caso com Susan Atwell (Sean Young), a amante do Secretário de Defesa dos Estados Unidos, David Brice (Gene Hackman). Num momento de fúria, após descobrir que Susan passou o fim de semana com outro homem (o próprio Farrell), Brice acidentalmente mata a garota e Farrell, que acabara de deixar o local, sabe que ele é o assassino. Brice sabe que alguém o viu entrar no apartamento, mas não sabe quem é, e ironicamente ordena que Farrell comande as investigações do caso, ciente de que a culpa deverá ser direcionada ao homem com quem Susan passou o fim de semana.

Um dos grandes méritos de “Sem Saída” reside na criatividade do excepcional roteiro de Robert Garland (baseado em livro de Kenneth Fearing), que utiliza a guerra fria como pano de fundo para criar este thriller eletrizante e bastante complexo. Repleto de dicas e recompensas – ou seja, momentos que refletirão no futuro da narrativa – o roteiro explora com competência a complicada situação de Tom, deixando o espectador o tempo todo colado na cadeira e atento ao que pode acontecer. Além disso, utiliza inteligentemente a teoria sobre a existência do Yuri – uma espécie de espião russo infiltrado no Pentágono. Finalmente, desenvolve com consistência os personagens (observe, por exemplo, como o envolvimento entre Tom e Susan toma boa parte da narrativa), permitindo com que o espectador se envolva e tema pelo destino deles. O longa conta ainda com as cores limpas da fotografia de John Alcott, que misturadas aos uniformes brancos e aos trajes formais dos oficiais (figurinos de Dallas Dornan e Kathy O’Rear), cria um visual elegante e coerente com o ambiente em que se passa a trama. A fotografia, aliás, tem importância crucial no momento chave da narrativa, quando Tom é mergulhado nas sombras ao sair do apartamento de Susan, não permitindo que David enxergue o seu rosto.

A primeira troca de olhares entre Tom e Susan na festa já indica a atração mútua do casal. Susan está na festa a pedido de alguém (“meu acompanhante não vai gostar, mas a esposa dele vai”) e Tom apenas para fazer contatos que podem ajudar em sua carreira. Entediados com a festa, os dois saem para se divertir na limusine enquanto passeiam pela cidade, numa seqüência bastante erótica, embalada por uma canção romântica. Após a diversão no carro, Susan decide ir para a casa da amiga Nina (Iman) e este breve encontro entre Nina e Tom refletirá em outro momento bastante tenso da narrativa. Durante todo este primeiro ato, Sean Young exala sensualidade e mantém uma excelente química com Costner, como podemos notar na viagem do casal e nos encontros no apartamento, especialmente na cena em que ela tira uma foto dele – e que também pesará no futuro da narrativa. Mas quando Tom liga das Filipinas para falar com Susan e ela desliga na cara dele, a primeira revelação importante acontece e descobrimos que David é o poderoso homem com quem ela sai. Tom só descobre que o amante de Susan é David algum tempo depois, e mesmo assim, leva a situação até o limite. Mas em determinado momento, ele não agüenta mais ter que ser “o outro” e explode, num grande momento de Kevin Costner, demonstrando muito bem a irritação por ser obrigado a sair do apartamento pelos fundos. Costner, aliás, está muito bem como o jovem Tom, transmitindo a angústia e desespero do personagem em busca de uma saída para a enrascada que se meteu. O ator retrata com competência, por exemplo, o choque de Tom ao saber da morte de Susan, quando entra no banheiro e chega a perder as forças ao pensar no futuro obscuro que o aguardava. Extremamente inteligente, Tom Farrell demonstra seu talento logo nos primeiros dias no Pentágono, chegando a assustar Scott (Will Patton) com suas palavras no primeiro encontro com um agente da CIA, e esta inteligência será crucial para sua sobrevivência.

A cena da morte de Susan, muito bem dirigida por Donaldson, é também o momento crucial da narrativa, que vai alterar brutalmente o destino de todas as pessoas envolvidas naquela situação. A câmera lenta acentua a reação dos personagens e o plano plongèe (por cima) de Susan caindo, além de elegante, causa forte impacto. Em seguida, a trilha sonora realça o tom trágico e a câmera busca a reação desesperada de David. A partir deste momento, Hackman inicia um pequeno show particular ao transmitir com exatidão a angústia de David, até então um sujeito absolutamente confiante e inabalável, através da feição desolada ao dizer para o amigo Scott “Eu acho que matei Susan”. Deixando clara a sua importância e status desde sua primeira aparição, o poderoso David Brice passa a ser uma pessoa desesperada e insegura após matar acidentalmente a amante – e Hackman transmite esta sensação com exatidão. Will Patton também é muito competente na pele do fiel Scott Pritchard, deixando claro que fará tudo que estiver ao seu alcance para salvar a pele de David. Scott é manipulador e astuto, sabendo perfeitamente jogar o jogo sujo dos bastidores do poder, e sua devoção por David (“Daria minha vida por ele”) pode ser explicada como uma paixão platônica, o que esclareceria os comentários dos agentes da CIA sobre sua sexualidade.Finalmente, George Dzundza interpreta corretamente o gênio Sam, e sua amizade será a única possibilidade de encontrar uma saída para Tom. Inicialmente, Sam acaba atrapalhando o amigo sem saber, pois está focado na busca pelo “assassino”, sem jamais imaginar que se tratava de um bode expiatório (e pior, que este laranja era o próprio Farrell). Observe a reação decepcionada de Farrell quando Sam conta sobre o filtro por tipo sangüíneo (“Você é um gênio Sam”). Por outro lado, o velho amigo busca ajudá-lo assim que Farrell conta o que está acontecendo, retardando a revelação da foto e inserindo um presente recebido por Brice (e dado para Susan) nos computadores do governo. Infelizmente, o hacker não suportou a pressão e abriu a boca para a pessoa errada, confirmando que Farrell tinha razão quando não queria contar para o amigo o que estava acontecendo (“É para sua proteção”). O resultado não poderia ser outro que não a sua morte.

O ritmo alucinante que domina o longa após o início das investigações reflete o bom trabalho de montagem de William Hoy e Neil Travis, além da excelente condução da narrativa empregada por Donaldson. Nesta etapa podemos apreciar detalhes interessantes do processo de investigação de um crime, como o estudo da composição dos alimentos no estômago da vítima utilizado para descobrir onde ela jantou na noite anterior ao crime. É também a partir do início das investigações que Tom e Scott começam a entrar em conflito, e os dois atores retratam muito bem o lento afastamento dos personagens e o desespero de cada um deles para defender sua causa. Roger Donaldson abusa dos travellings de locais importantes, como o prédio do Pentágono, o Quartel General da CIA e no início do filme, quando somos levados da Casa Branca, passando pelo Pentágono, até a casa onde Tom é interrogado, num movimento que será repetido, no sentido contrário, na última cena do filme. Donaldson se destaca também na tensa seqüência em que Tom e Scott interrogam Nina. Repare como o zoom empregado pelo diretor destaca a reação de Nina a notícia da morte da amiga. Ainda nesta cena, Donaldson cria um plano emblemático, onde podemos ver simultaneamente Scott pressionando Nina em busca do nome do outro amante de Susan (“Quem é o outro homem?!”) e Tom, ao fundo, já se preparando para atacar Scott, desesperado com a possibilidade de ouvir seu nome ser citado. A trilha sonora de Maurice Jarre colabora com o clima tenso, como fica evidente na perseguição de Tom aos assassinos de aluguel, que se transforma numa frenética corrida para encontrar Nina. A tensão aumenta gradualmente, alcançando um clima quase insuportável no momento em que duas testemunhas percorrem o prédio buscando identificar a pessoa com quem Susan passou o fim de semana. O final da busca pelo “Yuri” é chocante, culminando com o suicídio de Scott e a sensacional discussão entre Farrell e Brice, num ótimo duelo entre Costner e Hackman.

Em resumo, “Sem Saída” é um thriller bastante tenso, repleto de reviravoltas interessantes e que conta ainda com ótimas atuações. Talvez a última reviravolta não fosse necessária, mas o restante do longa compensa esta derrapada final. É verdade que sem esta cena, “Sem Saída” seria um filme praticamente perfeito, mas ainda assim é cinema de alta qualidade.

Texto publicado em 18 de Abril de 2010 por Roberto Siqueira