(RoboCop 3)
Videoteca do Beto #217
Dirigido por Fred Dekker.
Elenco: Robert John Burke, Nancy Allen, Mario Machado, Remy Ryan Hernandez, Jodi Long, John Posey, Rip Torn, Mako, John Castle, S.D. Nemeth, CCH Pounder, Bradley Whitford e Daniel von Bargen.
Roteiro: Fred Dekker.
Produção: Patrick Crowley.
[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].
Mesmo após uma continuação claramente inferior ao longa original, a marca RoboCop ainda seguia em alta e justificava a produção de outra continuação, ao menos em termos comerciais. No entanto, se “RoboCop 2” já evidenciava a falta de criatividade dos envolvidos para explorar o interessante tema de maneira eficaz, “RoboCop 3” abandona de vez qualquer pretensão mais ousada tematicamente e investe na criação de um super-herói, falhando miseravelmente na missão e determinando o fim da linha para o policial do futuro – ao menos até a recente refilmagem comandada pelo brasileiro José Padilha.
Assumindo roteiro e direção, Fred Dekker não consegue explorar com eficiência o futuro distópico e o pano de fundo político e social tão presente na franquia, falhando também quando tenta explorar a questão filosófica envolvendo a existência de um robô com resquícios de humanidade, algo que funcionava tão bem no primeiro filme. Contudo, ainda que as discussões provocadas pela ideia da existência do RoboCop, tanto do ponto de vista filosófico quanto pelo social, garantissem boa parte da qualidade de “RoboCop – O policial do futuro”, o fato é que tanto o primeiro quanto o segundo filme contavam também com boas cenas de ação, mas aqui não podemos enumerar uma cena sequer que seja realmente marcante. Assim, Dekker perde a chance de suavizar ou ao menos maquiar a pobreza temática de seu roteiro através das cenas de ação, o que acaba tendo efeito contrário e ressalta ainda mais os problemas do filme.
A trama é simples. Numa Detroit ainda dominada pelo crime, a PCO em parceria com uma empresa japonesa inicia um projeto de realocação de pessoas que vivem em bairros mais pobres conhecido como “Rehab”, retirando-as de maneira forçada para, na realidade, abrir caminho para a construção da nova e lucrativa metrópole chamada Delta City. Mas durante uma destas operações o grupo é surpreendido pela resistência do RoboCop (Robert John Burke), que passa a lutar ao lado dos menos favorecidos e ser encarado como um fora da lei.
Apostando na inversão de papéis ao colocar o protagonista e o espectador do lado oposto ao da lei, “RoboCop 3” até poderia funcionar não fosse a latente falta de talento de Fred Dekker. Ainda assim, o diretor ao menos consegue inserir elementos interessantes, como ao realçar os óbvios interesses econômicos que norteiam as decisões da empresa que comanda a polícia, numa denúncia que, infelizmente, não se tornou anacrônica. Auxiliado pela direção de fotografia de Gary B. Kibbe, o diretor também consegue criar uma boa contraposição entre o visual sombrio do bairro em que as pessoas mais pobres vivem com as cenas coloridas e vivas de Delta City, a cidade prometida. Além disso, o visual acinzentado da PCO reforça as intenções nada nobres do projeto de reabilitação, que nada mais é do que uma pouco disfarçada alusão ao nazismo.
Repleto de estereótipos, “RoboCop 3” mais parece ter caricaturas do que personagens, algo escancarado no visual punk dos arruaceiros criado pela figurinista Ha Nguyen e em pequenas decisões nada sutis como a escolha do nome da doutora Lazarus (Jill Hennessy). Nada sutil também é a trilha sonora de Basil Poledouris, que surge deslocada em diversos momentos, como quando RoboCop é atacado por policiais. Na mesma linha, as atuações caricatas de grande parte do elenco secundário não ajudam a suavizar o tom estridente do longa.
Ao contrário dos filmes anteriores, a introdução do RoboCop aqui é pouco inspirada e o próprio personagem destoa bastante do robô com resquícios de humanidade e de certa forma amargurado que conhecíamos até ali. Desta vez vivido por Robert John Burke, o personagem até tem momentos interessantes, como ao tomar uma decisão consciente (algo que já ocorrera antes) e ao viver uma cena sentimental com uma criança, mas já não possui o carisma inegável de antes.
E se o protagonista não funciona como antes, as cenas de ação são ainda piores, falhando miseravelmente em praticamente todo o longa. Incapaz de gerar tensão ou orquestrar ações interessantes ao lado de seu montador Bert Lovitt, Dekker ainda atenua a violência, reduzindo o impacto das ações dos vilões; vilões estes que surgem nada ameaçadores, como é o caso do ninja Kanemitsu vivido por Mako. A luta dele com RoboCop é péssima e serve como exemplo da ineficácia das cenas comandadas pelo diretor. Para piorar, os efeitos visuais soam totalmente datados, o que fica evidente quando o RoboCop surge voando no ato final, numa decisão que confirma a intenção de transformá-lo num super-herói e garantir a venda de alguns milhares de bonecos para as crianças da época.
E se o clímax é fraco como o restante do filme, ao menos temos uma boa cena, talvez a única, quando os policiais largam o emprego e decidem lutar ao lado do herói (ok, vamos assumir logo a transformação).
Pra quem começou a trajetória no cinema propondo ao mesmo tempo reflexões filosóficas e questionamentos políticos e sociais, RoboCop encerrava sua passagem pelas telonas de forma melancólica, num desfecho tão desolador quanto o futuro distópico que o cerca.
Texto publicado em 31 de Janeiro de 2016 por Roberto Siqueira
Trash total! Levou a empresa Orion Pictures a falência.
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Na verdade a Orion Pictures já estava dando indícios de falência depois do lançamento de R2, Em Robocop 3 o orçamento foi bem menor e o estúdio estava interessado em um público para crianças.. transformando e explorando o nosso herói em um personagem tosco e inútil só pra vender jogos e brinquedos.
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