(Dr. No)
Videoteca do Beto #191
Dirigido por Terence Young.
Elenco: Sean Connery, Joseph Wiseman, Ursula Andress, John Kitzmuller, Yvonne Shima, Lois Maxwell, Eunice Gayson, Zena Marshall, Jack Lord, Bernard Lee, Anthony Dawson, Colonel Burton, William Foster-Davis, Marguerite LeWars e Peter Burton.
Roteiro: Richard Mailbaum, Johanna Harwood e Berkely Mather, baseado em romance de Ian Fleming.
Produção: Albert R. Broccoli e Harry Saltzman.
[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].
Criado pelo escritor Ian Fleming em 1953, o agente secreto 007 tornou-se febre no Reino Unido e em todo mundo. No entanto, sua primeira aparição nas telas de cinema só aconteceria em 1962, após passagens por séries de televisão e filmes feitos diretamente para a própria TV. O que os produtores Albert R. Broccoli e Harry Saltzman não sabiam era que, ao decidir levar o sedutor agente britânico para o cinema, estavam criando também uma das mais amadas, duradouras e lucrativas franquias da história da sétima arte. Com Terence Young na direção, a icônica trilha sonora composta por Monty Norman e Sean Connery no papel do astuto agente, nascia à lenda James Bond.
Adaptado para o cinema a seis mãos por Richard Mailbaum, Johanna Harwood e Berkely Mather, “007 Contra o Satânico Dr. No” traz o agente secreto James Bond (Sean Connery) durante a investigação do desaparecimento de um colega do serviço secreto britânico na Jamaica. Com a ajuda do cidadão local Quarrel (John Kitzmuller) e da jovem Honey Ryder (Ursula Andress), ele acaba descobrindo a ilha onde se esconde o temido Dr. No (Joseph Wiseman), um cientista de descendência germânico-chinesa extremamente inteligente que utiliza a radiação da região para desenvolver armas extremamente poderosas.
Estabelecendo o perigo que Dr. No representa através de seus capangas que assassinam friamente duas pessoas logo de cara, “007 Contra o Satânico Dr. No” é um exemplar genuíno do estilo marcante da série que ele próprio inaugurou, ainda que o ritmo empregado pelo montador Peter Hunt seja mais lento do que estamos acostumados nas aventuras contemporâneas. Mas se este ritmo lento jamais chega a incomodar, até porque esta é uma característica da época, as lutas corporais e a perseguição de carro na montanha soam totalmente datadas, cumprindo sua função narrativa sem grande destaque. Por outro lado, Terence Young acerta ao estender ao máximo a cena em que uma aranha anda pelo corpo de Bond, num dos raros momentos em que a tensão realmente toma conta da tela.
Os ambientes luxuosos concebidos pelo design de produção de Ken Adam tanto em Londres como na suntuosa mansão de Dr. No também criam uma atmosfera elegante e coerente com a postura do protagonista. Além disso, “007 Contra o Satânico Dr. No” tem o mérito de estabelecer características básicas da franquia que durariam décadas, começando pelo impactante tema composto por Monty Norman, identificável até mesmo por quem nunca assistiu a um filme sequer de James Bond (existe este ser?) e que se tornou clássico ao longo dos anos.
Além da trilha, marcam presença também as mulheres sensuais que cruzam o caminho do agente e escancaram sua flagrante incapacidade de resistir ao charme delas. Tendo que ser dublada na pós-produção devido ao forte sotaque, a suíça Ursula Andress se destaca entre as primeiras bondgirls, criando empatia com Bond enquanto o auxilia na descoberta do esconderijo do Dr. No – e no momento em que ela conta sua história, juro que cheguei a pensar que ela poderia ser filha do grande vilão, mas descartei esta possibilidade instantes depois. A imagem de sua Honey Ryder emergindo da água é uma das mais icônicas de toda a franquia, sendo até mesmo homenageada décadas depois.
Imaginado por Ian Fleming para ser vivido por Cary Grant, James Bond ganhou vida mesmo na pele de Sean Connery, na época um ilustre desconhecido ator escocês. Alto e com seu porte físico esguio, Connery se saiu tão bem no papel que ainda hoje é o mais reverenciado intérprete de 007 no cinema. Logo em sua primeira aparição, ele surge dizendo a célebre frase “Bond. James Bond”, em outro momento icônico que ficaria marcado na história do cinema. Impondo-se naturalmente com sua postura elegante que combina perfeitamente com o classudo terno que veste, o Bond de Connery é extremamente astuto e inteligente, sendo capaz de farejar o perigo de longe, além de fugir do convencional estereótipo do “herói bonzinho” ao matar a sangue frio o geólogo Dent interpretado por Anthony Dawson.
Diante de um herói tão competente, era necessária também a presença de um vilão que justificasse o temor gerado na plateia. Com seu nome sendo mencionado pela primeira vez já com mais de 30 minutos de projeção, o misterioso Dr. No ganha ares ainda mais ameaçadores na voz de Joseph Wiseman, que só surge em cena já no ato final, com seu rosto gélido e sua postura simultaneamente elegante e agressiva durante o ótimo diálogo no jantar com James Bond. É uma pena, portanto, que o final previsível e sem forte impacto enfraqueça um pouco este ótimo vilão.
Despretensioso e divertido, “007 Contra o Satânico Dr. No” vale muito também pela curiosidade de ser a primeira incursão de James Bond no cinema, tendo importante papel histórico nesta longa trajetória do agente secreto mais amado do planeta. Depois dele, o universo dos filmes de espionagem jamais seria o mesmo, pois agora todos já conheciam Bond. James Bond.
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