Comentário: Cubo (1997)

Olá pessoal,

Finalmente estou de volta! Hoje quero apenas anunciar que fiz um pequeno comentário sobre o filme “Cubo” no Ilha de Lost, blog do qual participo junto com meu primo e amigo Thiago e sua esposa e minha amiga Amanda. Para acessar, clique aqui.

Fiquem à vontade para ler e comentar.

Neste fim de semana, a volta da Videoteca do Beto!

Um abraço e até breve.

Texto publicado em 21 de Março de 2012 por Roberto Siqueira

Comentário: Eu sou a Lenda (2007)

Olá pessoal,

Fiz um pequeno comentário sobre o filme “Eu sou a Lenda” no Ilha de Lost, blog do qual participo junto com meu primo e amigo Thiago e sua esposa e minha amiga Amanda. Para acessar, clique aqui.

Fiquem à vontade para ler e comentar.

Um abraço.

Texto publicado em 11 de Fevereiro de 2012 por Roberto Siqueira

O fim dos filmes comentados

Os comentários divulgados ontem de “M – O Vampiro de Düsseldorf” foram os últimos do Cinema & Debate. A partir de agora, pretendo divulgar somente críticas completas, em textos estruturados como os da “Videoteca do Beto” ou dos “Filmes em Geral”, ao invés dos tópicos que caracterizavam a categoria “Filmes Comentados”. Ainda não decidi se eu vou transformar os tópicos dos filmes já divulgados em críticas, como avisei que faria na criação desta categoria. Isto vai depender exclusivamente do tempo disponível que terei para realizar este complicado trabalho. Pode ser que eu decida simplesmente deixar estes vinte e cinco filmes comentados como registro da história do blog, como também nada me impede de ir transformando os comentários em críticas ao longo do tempo.

Num primeiro momento, apenas vou inserir o aviso abaixo antes de cada um dos vinte e cinco filmes comentados, buscando deixar bem claro que não se trata de uma crítica. O modelo do aviso é este que segue:

[Antes de qualquer coisa, gostaria de esclarecer que os filmes comentados não são críticas. Tratam-se apenas de impressões que tive sobre o filme, que divulgo por falta de tempo para escrever uma crítica completa e estruturada de todos os filmes que assisto. Gostaria de pedir que só leia estes comentários se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Relevante mesmo é informar aos leitores que este formato pouco confortável não existirá mais. Ainda que escreva sobre menos filmes, vou priorizar a crítica da forma como deve ser. Um texto completo, coeso, que mostre claramente as minhas impressões sobre cada filme com base em argumentos que vocês podem ou não concordar. E só o tempo dirá se os antigos filmes comentados permanecerão como estão ou se estes tópicos serão transformados em críticas.

Espero que gostem.

Um grande abraço.

Texto publicado em 07 de Agosto de 2010 por Roberto Siqueira

LAVOURA ARCAICA (2001)

(Lavoura Arcaica)

 

 

Filmes Comentados #19

Dirigido por Luiz Fernando Carvalho.

Elenco: Selton Mello, Raul Cortez, Juliana Carneiro da Cunha, Leonardo Medeiros, Mônica Nassif, Christiana Kalache, Caio Blat, Renata Rizek, Simone Spoladore, Pablo César Câncio e Leda Samara Antunes.

Roteiro: Luiz Fernando Carvalho.

Produção: Luiz Fernando Carvalho.

[Antes de qualquer coisa, gostaria de esclarecer que os filmes comentados não são críticas. Tratam-se apenas de impressões que tive sobre o filme, que divulgo por falta de tempo para escrever uma crítica completa e estruturada de todos os filmes que assisto. Gostaria de pedir que só leia estes comentários se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

– Obra-prima do cinema nacional, este poético e belo “Lavoura Arcaica” é um exercício cinematográfico primoroso, que abusa do estilo e da originalidade para contar uma estória difícil, polêmica e intensamente sufocante. A difícil convivência entre um pai rígido e um filho rebelde é o tema central do maravilhoso filme dirigido por Luiz Fernando Carvalho.

– A visceral atuação de Selton Mello é nada menos que sensacional, expondo em diversos momentos a angústia que o rebelde reprimido André sentia por não poder viver da forma que gostaria e experimentar tudo que tinha vontade. As emoções do personagem quase saltam da tela e caem no colo do espectador. Perfeito.

– O filme aborda temas complicados como os limites impostos pela sociedade e pela religião, o difícil relacionamento familiar e às vontades e instintos da natureza humana. Não à toa André vive em contato com a natureza, como quando coloca os pés no chão ou quando se encobre com folhas secas. Ele é puro instinto. E a câmera de Carvalho nos faz praticamente entrar em André, tornando palpável o seu contato com a natureza nestes momentos.

– Dentre as vontades de André está o polêmico amor, na verdade pura paixão, pela própria irmã Ana. Longe de querer justificar o incesto (condenável, em minha opinião), mas esta é a forma que ele encontrou para expor sua fúria insaciável por liberdade. André enfrentou a rígida repressão com a mais profana das libertinagens.

– Raul Cortez dá seu show particular, numa interpretação digna de aplausos. Destaque para a feroz e sensacional discussão que tem com André, o filho pródigo que regressa ao lar, na mesa da cozinha da fazenda.

– O trabalho técnico do longa é espetacular. A Direção de Arte de Yurika Yamasaki cria uma fazenda verossímil, suja, que reflete a vida dura daquela família. A Direção de Fotografia de Walter Carvalho nos brinda com uma imagem crua, seca e árida, totalmente coerente com o ambiente do longa. A trilha sonora de Marco Antônio Guimarães é linda, representando com sensibilidade o drama de André.

– A montagem do próprio Luiz Fernando Carvalho também é espetacular e merece um capítulo à parte. Observe como pequenos detalhes dizem mais que qualquer palavra, como na seqüência em que ao mesmo tempo vemos André (ainda criança) capturando uma pomba e André (já jovem) capturando a irmã, num ambiente cheio de grades que remete a uma gaiola. O simbolismo é evidente. Nas duas oportunidades, ele consumava seu desejo.

– A direção de Luiz Fernando Carvalho beira a perfeição, com inúmeras cenas marcantes e movimentos de câmera cheios de estilo. A narrativa lenta e muito bem desenvolvida permite a construção perfeita dos personagens, e o diretor é responsável direto por isso. O roteiro também de Luiz Fernando Carvalho é igualmente maravilhoso, poético, repleto de frases igualmente marcantes e que aborda temas complicados de forma contundente e corajosa.

– “Lavoura Arcaica” é cinema da mais alta qualidade. Esta obra marcante serve como referência obrigatória do excelente resultado que o cinema nacional pode alcançar e prova que podemos produzir verdadeiras obras-primas.

Texto publicado em 05 de Março de 2010 por Roberto Siqueira

ÔNIBUS 174 (2002)

(Ônibus 174)

 

Filmes Comentados #18

Dirigido por José Padilha.

Elenco: Não divulgado.

*DOCUMENTÁRIO*

Produção: José Padilha e Marcos Prado.

[Antes de qualquer coisa, gostaria de esclarecer que os filmes comentados não são críticas. Tratam-se apenas de impressões que tive sobre o filme, que divulgo por falta de tempo para escrever uma crítica completa e estruturada de todos os filmes que assisto. Gostaria de pedir que só leia estes comentários se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

– Este incrível documentário de Jose Padilha nos faz refletir muito sobre a delicada questão das diferenças sociais, da falta de oportunidade e da cegueira proposital que a maioria da sociedade se impõe, evitando olhar e debater qual seria o caminho ideal para solucionar o drama dos menores abandonados, dos meninos de rua e da vida criminosa no país.

– Padilha, o mesmo diretor de “Tropa de Elite”, faz um interessante trabalho nos mostrando todos os lados da situação. Se pensarmos que “Tropa de Elite” mostra o olhar da polícia e este “Ônibus 174” disseca a vida do “marginal”, temos os dois lados da mesma moeda de um enorme problema social brasileiro. Não é a toa, como diz o crítico Pablo Villaça em sua crítica de “Tropa de Elite”, que os personagens centrais dos dois filmes têm o mesmo sobrenome (Nascimento), representando os dois lados da mesma moeda.

– Importante deixar claro que apesar do tema merecer um olhar mais sério e uma discussão que leve a algum lugar, entendo que nenhum crime jamais deve ser justificado ou interpretado como simples conseqüência dos problemas sociais. Crime é crime de qualquer forma e jamais deve ser aceitável.

– A direção de Padilha é firme e alterna em bom ritmo entre as entrevistas e as cenas reais do assalto ao ônibus no Rio de Janeiro.

– Finalmente, podemos dizer que “Ônibus 174” é um documentário contundente e definitivo, que deveria abrir os olhos da sociedade para este grave problema social do nosso país.

Texto publicado em 18 de Fevereiro de 2010 por Roberto Siqueira

MEU NOME NÃO É JOHNNY (2008)

(Meu Nome não é Johnny)

 

Filmes Comentados #17

Dirigido por Mauro Lima.

Elenco: Selton Mello, Rafaela Mandelli, Eva Todor, André di Biasi, Ângelo Paes Leme, Orã Figueiredo, Hossen Minussi, Luís Miranda, Gillray Coutinho, Kiko Mascarenhas, Flávio Bauraqui, Aramis Trindade, Neco Vila Lobos, Charly Braun, Felipe Martins, Roney Villela, Wendell Bendelack, Cléo Pires, Júlia Lemmertz, Ivan de Almeida, Giulio Lopes, Flávio Pardal, Cássia Kiss e Rodrigo Amarante.

Roteiro: Mariza Leão e Mauro Lima, baseado em livro de Guilherme Fiúza.

Produção: Mariza Leão.

[Antes de qualquer coisa, gostaria de esclarecer que os filmes comentados não são críticas. Tratam-se apenas de impressões que tive sobre o filme, que divulgo por falta de tempo para escrever uma crítica completa e estruturada de todos os filmes que assisto. Gostaria de pedir que só leia estes comentários se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

– A história do playboy João Guilherme Estrella (Selton Mello), que se tornou o maior traficante do Rio de Janeiro sem jamais pisar numa favela, é contada neste longa irregular, que infelizmente não alcança um resultado satisfatório.

– Logo no início do filme, Johnny solta um morteiro na sala e o pai passa a mão na cabeça, demonstrando claramente como a educação é fundamental na formação do caráter do ser humano.

– Apesar de errar a mão no tom, a direção de Mauro Lima consegue alguns bons momentos, como o elegante movimento de câmera quando o pai de Johnny morre. Por outro lado, a briga na cadeia, além de pouco realista, é bastante confusa devido à câmera instável de Mauro Lima.

– O mundo do tráfico retratado no filme é pouco verossímil, com droga sendo vendida a luz do dia em uma peixaria (!), por exemplo. Além disso, é um mundo muito clean para o universo que retrata, revelando uma grave falha da direção de fotografia de Uli Burtin.

– Quando Johnny é preso, sua conversa com o advogado é muito curta e sem sentido, evidenciando falhas do roteiro de Mariza Leão e Mauro Lima, que jamais se define como comédia, drama, documentário ou policial, o que é lamentável. Não há problema em transitar entre os gêneros, desde seja feito com elegância e tenha coerência com a proposta do filme, o que não é o caso.

– Selton Mello inicia bem sua atuação no papel de João Guilherme, mas se perde e acaba tendo um resultado apenas mediano, o que é decepcionante para um ator de sua qualidade. Destaque negativo para a cena em que compra um apartamento, quando fala rapidamente com o vendedor e com sua namorada de uma forma nada elegante e até mesmo incompreensível.

– A acidentada montagem de Marcelo Moraes corta algumas cenas subitamente como, por exemplo, quando Johnny conta que o “Tainha” (Aramis Trindade) foi pescado. Pra piorar, a montagem estica demais o fraquíssimo terceiro ato, que destoa do ritmo forte do restante do filme. Muito menos interessante do que sua trajetória no tráfico – esta sim cheia de energia – a seqüência dentro da cadeia (e, principalmente, a seqüência dentro do hospício) poderia ser menor.

– No final, João vê tudo que perdeu no dia do Natal e reflete sobre a vida que teve até então. Esta seria a mensagem ideal para acabar o filme, mas infelizmente o otimismo exagerado do roteiro faz questão de reforçar que João Guilherme saiu da cadeia e se deu bem na vida. Apesar de ser uma história real, infelizmente este final deixa uma mensagem simplória demais sobre o mundo que retrata. Ou seja, você se mete no tráfico, ganha milhões, viaja o mundo, é preso, fica dois anos internado em um hospício por alegar insanidade mental e sai numa boa. A realidade é bem diferente para a maioria absoluta das pessoas que se arriscam neste mundo violento e, não raramente, sem volta.

Texto publicado em 17 de Fevereiro de 2010 por Roberto Siqueira

LADRÕES DE BICICLETA (1948)

(Ladri di Biciclette)

 

Filmes Comentados #16

Dirigido por Vittorio De Sica.

Elenco: Lamberto Maggiorani, Enzo Staiola, Lianella Carell, Gino Saltamerenda, Vittorio Antonucci, Michele Sakara, Fausto Guerzoni, Sergio Leone, Giulio Chiari, Elena Altieri e Carlo Jachino.

Roteiro: Cesare Zavattini, baseado em estória de Oreste Biancoli, Suso Cecchi d’Amico, Vittorio De Sica, Adolfo Franci, Gerardo Guerrieri e Cesare Zavattini e em romance de Luigi Bartolini.

Produção: Giuseppe Amato e Vittorio De Sica.

[Antes de qualquer coisa, gostaria de esclarecer que os filmes comentados não são críticas. Tratam-se apenas de impressões que tive sobre o filme, que divulgo por falta de tempo para escrever uma crítica completa e estruturada de todos os filmes que assisto. Gostaria de pedir que só leia estes comentários se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

– A estória de Antonio Ricci (Lamberto Maggiorani), um humilde trabalhador italiano que tem sua bicicleta (utilizada para trabalhar) roubada durante os difíceis anos pós-guerra, é contada com extrema sensibilidade neste tocante “Ladrões de Bicicleta”, dirigido por Vittorio De Sica.

– O filme retrata com fidelidade o período negro do pós-guerra na Itália (e em toda Europa) – o que é uma característica do neo-realismo italiano – através da dificuldade para conseguir emprego, da degradação das casas e da dificuldade para conseguir andar no transporte público, por exemplo. A enorme dificuldade financeira e a escassez de produtos fizeram da vida daquelas pessoas a mais difícil que se possa imaginar.

– A terrível sensação de ser assaltado é retratada com muita fidelidade quando a bicicleta de Antonio Ricci é roubada. O olhar incrédulo e a falta de saber o que fazer e pra onde ir demonstram a boa atuação de Lamberto Maggiorani.

– A policia não dá muita atenção ao caso, já que é “apenas uma bicicleta” e a enorme dificuldade em encontrá-la é de dar dó. O que fazer naquela situação? Esta dúvida será utilizada como justificativa para a atitude final de Ricci.

– A alegria de Ricci e seu filho Bruno (Enzo Staiola) na trattoria e a reflexão do pai sobre o que poderia ter se tivesse o emprego de volta são comoventes.

– O diretor Vittorio De Sica utiliza muitos planos gerais, evitando o close, normalmente utilizado para gerar emoção na platéia ao potencializar as reações dos atores. Desta forma, o longa soa distante, frio e cru, o que era exatamente a intenção de De Sica ao retratar aquele momento triste da humanidade. O plano final, misturando Ricci na multidão, simboliza que ele é apenas um exemplo entre tantos outros que enfrentavam enormes dificuldades para conseguir sobreviver.

– A direção de fotografia de Carlo Montuori também merece destaque, por utilizar o foco em toda a cena e explorar bem o “novo conceito” (na época) de profundidade de campo, que ficou realmente famoso com “Cidadão Kane” em 1941. Desta forma, podemos acompanhar com nitidez diversas ações paralelas que ocorrem em segundo plano que, acompanhadas dos elegantes movimentos de câmera de De Sica, criam um belo visual.

– Apesar do tom realista do longa, podemos notar algumas características que normalmente não são associadas aos filmes que prezam pelo realismo, como a trilha sonora (presente em momentos importantes do filme) e a câmera elegante de Vittorio De Sica, com movimentos perfeitos e em nada parecidos com a câmera agitada, normalmente utilizada para conferir realismo às cenas.

– Não podemos julgar a atitude final do pai desesperado que não vê alternativa para sobreviver. Ele evita que o filho veja e pede que vá embora por pura vergonha, para em seguida tentar roubar uma bicicleta e “consertar” sua vida. A ironia é que ele é pego, mas por sorte (e piedade do proprietário da bicicleta), se salva de ser preso. A vida, ou o destino, o levou a tomar aquela atitude. Ele não era uma pessoa ruim, mas a situação o tornou um desesperado em busca de alguma solução. Um final arrebatador, emocionante e que nos faz pensar muito sobre a questão.

– Maior representante do neo-realismo italiano, “Ladrões de Bicicleta” destaca-se pela sensibilidade com que conta a história tocante do pai que tem sua bicicleta (e meio de trabalho) roubada e pela forma realista que retrata um período tão amargo da humanidade. E mesmo utilizando propositalmente uma abordagem mais fria e distante, quase que como um registro fiel da época, não deixa de ser emocionante o irônico final deste belo filme.

Texto publicado em 16 de Janeiro de 2010 por Roberto Siqueira

CABO DO MEDO (1991)

(Cape Fear)

 

Filmes Comentados #15

Dirigido por Martin Scorsese.

Elenco: Robert De Niro, Nick Nolte, Jessica Lange, Juliette Lewis, Joe Don Baker, Robert Mitchum, Gregory Peck, Martin Balsam, Illeana Douglas, Fred Dalton Thompson e Zully Montero.

Roteiro: Wesley Strick, baseado em livro de John D. MacDonald.

Produção: Barbara De Fina e Robert De Niro.

[Antes de qualquer coisa, gostaria de esclarecer que os filmes comentados não são críticas. Tratam-se apenas de impressões que tive sobre o filme, que divulgo por falta de tempo para escrever uma crítica completa e estruturada de todos os filmes que assisto. Gostaria de pedir que só leia estes comentários se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

– Remake de “Círculo do Medo”, de 1962, este thriller interessante dirigido por Scorsese garante bons sustos, mas jamais alcança o nível de excelência de outras obras do renomado diretor.

– Scorsese mantém uma de suas características marcantes ao criar planos interessantes e criativos, como aquele em que Sam escova os dentes diante do espelho, além de utilizar muitos zooms para realçar as reações assustadas dos atores. O diretor também demonstra durante uma revista policial o enorme desejo de vingança de Max, através de diversos closes nas tatuagens espalhadas pelo seu corpo de versículos bíblicos como “A vingança será minha” e “O tempo nos vingará”.

– O roteiro de Wesley Strick, baseado em livro de John D. MacDonald, utiliza de forma inteligente o dialogo expositivo para explicar o motivo da perseguição de Max, quando Sam explica para um colega que sonegou a informação de que a vitima era promiscua no caso dele. Além disso, cria um clima crescente de suspense, culminando com a exagerada (e tensa!) seqüência final no barco.

– A ameaça provocada pela presença de Max causa um conflito na relação entre Sam e Leigh, expondo problemas do passado e criando dúvida sobre o presente do casal. Impressionante como um erro cometido há muito tempo pode prejudicar tanto a vida de uma pessoa. Interessante notar também que com este erro o roteiro evita caracterizar Sam como herói, fugindo do maniqueísmo. Como podemos perceber, não dá pra rotular Sam como uma pessoa boa ou má. E nem mesmo os outros personagens podem ser rotulados desta forma, já que até mesmo Max tem suas qualidades como ser humano.

– Max parece uma sombra na vida de Sam, um verdadeiro pesadelo. Ciente de seus direitos, ele jamais cruza a linha permitida pela lei, mas consegue infernizar a vida de Sam ao ponto de fazê-lo chegar (e ultrapassar) seu limite. Seja no restaurante, seja no cinema, seja na porta da sua própria casa, a imagem de Max dentro de seu conversível persegue Sam.

– A tensa cena em que Max se rebela contra os agressores contratados por Sam e sai à procura dele simboliza também uma inversão de valores na cabeça do espectador (e dentro própria da narrativa). A partir de agora, Max é a vítima.

– Thelma Schoonmaker, responsável pela montagem e costumeira colaboradora de Scorsese, dita um ritmo intenso ao longa, o que é essencial em um filme de suspense.

– Robert de Niro tem outra atuação de alto nível como o determinado e psicopata Max Cady, criando através da fala e dos gestos um vilão aterrorizante. Extremamente inteligente (estudou na prisão livros de direito e filosofia, além de ler a Bíblia), Max é temível até por saber utilizar muito bem a lei a seu favor, o que o transforma num personagem assustador, mas que ao mesmo tempo consegue ser fascinante. Suas ações são calculadas para atingir Sam de uma forma que ele não possa se defender, como quando ataca sua colega de trabalho (numa cena de forte impacto visual) sabendo que ela jamais iria testemunhar contra ele para não expor sua relação com Sam. Cady quer provar que Sam também pode se transformar num criminoso, e alcança seu objetivo.

– Nick Nolte como Sam e Jessica Lange como sua esposa Leigh atuam com competência, mas são ofuscados pela excelente atuação de Robert De Niro. Por outro lado, Juliette Lewis consegue uma atuação fantástica como a rebelde adolescente Danielle, mostrando inocência e agressividade em quantidades colossais. Ela teme e admira Max, agindo como se fosse uma criança fascinada com o perigo. Danielle sabe que corre riscos, mas seu desejo de conhecer melhor aquele homem que ameaça sua família é maior do que seu medo.

– Na cena mais tensa do filme, o encontro entre Max e Danielle no teatro da escola apresenta também um show de interpretação da dupla Lewis e De Niro. Danielle exala sensualidade e inocência diante de um sombrio e ameaçador Max, que por sua vez, utiliza muito bem o sentimento de rebeldia da garota a seu favor.

– Interessante como a lei é ineficaz na defesa de pessoas em constante ameaça. Desde que se conheça a lei (como era o caso de Max) é possível atormentar a vida de alguém e, dependendo da reação do perseguido, ainda sair como vitima do caso.

– O final soa irreal com as muitas tentativas de matar Max, que sempre consegue escapar. Este exagero praticamente o transforma em um super-herói, o que não é coerente com o restante da narrativa. Por outro lado, toda a seqüência é incrivelmente eletrizante e assustadora, cumprindo bem o propósito do filme, que é gerar medo no espectador.

– Vale destacar também na seqüência final o tom obscuro da direção de fotografia de Freddie Francis. O visual sombrio, com o barco desgovernado vagando pelo cabo do medo, cria uma série de imagens marcantes.

– De uma forma geral, “Cabo do Medo” cumpre seu propósito, mas não dá um passo sequer além, o que não é comum nos filmes dirigidos por Martin Scorsese.

Texto publicado em 08 de Janeiro de 2010 por Roberto Siqueira

REQUIEM PARA UM SONHO (2000)

(Requiem for a Dream) 

 

Filmes Comentados #12

Dirigido por Darren Aronofsky.

Elenco: Ellen Burstyn, Jared Leto, Jennifer Connelly, Marlon Wayans, Chrisopher McDonald, Louise Lasser, Keith David e Sean Gullette. 

Roteiro: Darren Aronofsky, baseado em livro de Hubert Selby Jr.. 

Produção: Eric Watson e Palmer West.

[Antes de qualquer coisa, gostaria de esclarecer que os filmes comentados não são críticas. Tratam-se apenas de impressões que tive sobre o filme, que divulgo por falta de tempo para escrever uma crítica completa e estruturada de todos os filmes que assisto. Gostaria de pedir que só leia estes comentários se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama]. 

– Requiem significa “repouso” em latim. Uma das famosas composições de Mozart é o Requiem, que a Igreja Católica utiliza em cerimônias fúnebres. Portanto, o “repouso” em questão tem um sentido de morte mesmo. Sendo assim, Requiem para um Sonho pode ser interpretado como o repouso eterno (ou morte) dos sonhos dos quatro personagens que o longa nos apresenta.

– Grande libelo anti-drogas, “Requiem para um Sonho” consegue passar uma mensagem sensível de forma direta e atordoante. O mundo do vício é abordado sem maquiagens, de forma crua e real, chocando o espectador e alcançando um resultado espetacular.

– A montagem de Jay Rabinowitz é simplesmente sensacional. Desde o inicio, com a tela dividida mostrando simultaneamente as ações de Harry (Jared Leto) e Sara (Ellen Burstyn), passando pelo pequeno clipe que simboliza o uso de drogas, notamos a qualidade do trabalho, que dita um ótimo ritmo ao filme. Podemos citar também o café da manhã de Sara, quando a laranja, o café e o ovo somem rapidamente, mostrando a agonia que ela sentia comendo somente aquilo, enquanto o relógio mostra a lenta passagem do tempo. A refeição parecia durar alguns segundos, enquanto que no restante do dia o tempo passava lentamente.

– A trilha sonora de Clint Mansell é linda. Reflete bem a agonia daquelas vidas presas a tantos vícios.

– Repare como o estilo do pequeno clipe que passa toda vez que alguém usa uma droga também é utilizado toda vez que Sara liga ou desliga a TV. A analogia é lógica: a TV também é um vicio, assim como as drogas. Harry chega até mesmo a dizer para Marion (Jennifer Connelly) que a mãe é viciada em televisão. E não são somente estes dois vícios que o filme aborda com competência. Temos também o vício em pírulas para emagrecer, os viciados em dinheiro, viciados em sexo e até mesmo um viciado em mulheres.

– Ellen Burstyn tem uma atuação fantástica, com destaque para a cena em que ela chega à emissora de televisão e é retirada pela polícia para ser levada ao hospital. Sua transformação de mulher tranqüila para completamente viciada em remédios para emagrecer é sensacional.

– Jennifer Connelly também tem uma atuação excepcional, retratando bem até que ponto o ser humano pode chegar quando está viciado. Moça de bom coração, porém seriamente afetada pelo vicio, ela vai até o fundo do poço, chegando inclusive a participar de festas com sexo bizarro para conseguir droga. Observe sua reação ao elogio de Harry quando está deitada com ele. Ela o ama de verdade, mas o vicio destruiu sua vida.

– Marlon Wayans e Jared Leto estão muito bem como os dois jovens sonhadores e viciados. A química da dupla é ótima, e os dois atores conseguem grandes desempenhos nos momentos mais dramáticos, como a prisão de Tyrone (Wayans) e o desespero de Harry ao sentir saudades de Marion. Além disso, estão praticamente perfeitos quando drogados (Connelly não fica atrás), mostrando a euforia e o desespero que o vício provoca.

– Harry é um bom filho, como podemos notar quando dá a televisão para a mãe e diz que vai visitá-la. Porém, infelizmente, o vício o transformou em um jovem problemático, que abandona a mãe e a faz sofrer. A família desestruturada sente muito a falta do pai, como fica evidente no contundente diálogo entre Sara e Harry (“Eu vivo só!”). Sara buscou na televisão uma válvula de escape para a solidão e a tristeza. Harry buscou nas drogas. E embora possamos entender, não podemos aceitar nenhuma das duas alternativas encontradas.

– A direção de Darren Aronofsky é muito dinâmica e cheia de planos criativos. A narrativa segue um ritmo ágil e Aronofsky é competente ao manter este ritmo com perfeição. Um exemplo de movimento de câmera interessante é quando Harry escuta o ranger dos dentes de sua mãe e a câmera lentamente gira em torno de sua cabeça até ficar de frente para ela, com o som mostrando o que lhe incomodava. Em outro momento, auxiliado pela excelente montagem, ele mostra Harry olhando para a janela e vendo Marion à beira da água. A imagem então transita para Harry andando em direção dela, e quando ela some, podemos ver que ele estava na casa, imaginando tudo aquilo. Outro momento de destaque é o video com imagens aceleradas que simboliza a agitação e ansiedade de Sara, além de alguns momentos em que a câmera fica presa aos atores, captando de perto suas reações, como quando Tyrone foge dos traficantes e quando Marion sai do apartamento de Arnold (Sean Gullette).

– O médico sequer olha no rosto de Sara para receitá-la. O tratamento impessoal mostra que ele não se importava se ela estava ou não com problemas, se limitando apenas a dar os remédios, sem se preocupar com as possíveis conseqüências do mau uso deles.

– A completa degradação do ser humano é retratada nas seqüências finais, quando todos eles chegam ao fundo do poço, completamente decadentes e afundados em problemas por causa de seus vícios. A fotografia de Matthew Libatique propositalmente utiliza cores frias, sem vida, refletindo a tristeza daquelas vidas vazias.

– A posição final de cada um deles, deitados na cama como bebês, mostra como o viciado pode ser visto como uma criança que não entende os limites do que pode e do que não pode fazer. Porém, sendo adultos, as conseqüências de seus desejos proibidos são infinitamente mais dolorosas e prejudiciais.

– “Requiem para um sonho” deveria ser exibido para os jovens, como forma de alertar sobre os perigos deste mundo das drogas. Não que eu acredite que esta seria a solução para o problema. Longe disso. Mas se de alguma forma o filme colaborar para que pelo menos um jovem não entre neste caminho, já será algo importante e que deve ser celebrado. 

 

Texto publicado em 06 de Dezembro de 2009 por Roberto Siqueira

MONTY PYTHON – A VIDA DE BRIAN (1979)

(Monty Python’s Life of Brian)

5 Estrelas 

Filmes em Geral #119

Filmes Comentados #3 (Comentários transformados em crítica em 04 de Dezembro de 2013)

Dirigido por Terry Jones.

Elenco: Graham Chapman, Terry Jones, John Cleese, Michael Palin, Eric Idle, Terry Gilliam, Spike Milligan, Sue Jones-Davis, Ken Colley e Terence Bayler.

Roteiro: Graham Chapman e John Cleese.

Produção: John Goldstone.

A Vida de Brian[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Segundo longa-metragem do lendário grupo britânico Monty Python, “A Vida de Brian” mantém o frescor e a força criativa do primeiro filme, apesar do distanciamento temático e cronológico entre eles. Na verdade, o bom espaço de tempo entre os dois filmes só ajudou, retirando a pressão por uma nova empreitada cinematográfica e dando o tempo necessário para a elaboração de novas piadas, o que seria algo muito mais complicado de se conseguir nos tempos de hoje. Assim, Terry Jones e companhia puderam presentear os fãs com outro longa divertidíssimo, repleto de cenas memoráveis e tiradas inspiradas.

Desta vez escrito apenas por Graham Chapman e John Cleese, “A Vida de Brian” tem início na Judéia quando o jovem judeu Brian Cohen (Graham Chapman) se torna acidentalmente um importante líder religioso, sendo seguido por multidões e, para o desespero de sua mãe (Terry Jones), caçado pelos soldados romanos à serviço de Pilatos (Michael Palin).

Ácido como de costume, o roteiro de Chapman e Cleese aborda de forma inteligente temas polêmicos, como na hilária cena da sandália e da cabaça que satiriza a divisão de igrejas que teoricamente se baseiam na mesma fé, seguida pelo falso milagre da árvore no deserto, criticando também o fanatismo religioso na ótima cena do apedrejamento, na qual eles acusam de blasfêmia qualquer simples menção ao nome sagrado e, finalmente, ilustrando como as inúmeras divisões dentro do povo judeu (que teoricamente lutava pelo mesmo objetivo, mas na prática lutava entre si) deixavam de lado a causa do movimento e priorizavam o poder.

No entanto, a qualidade principal de “A Vida de Brian” não está no teor crítico de suas piadas, mas sim na qualidade das mesmas. Construindo diálogos primorosos que se tornam ainda mais engraçados pela maneira como os atores encarnam seus personagens, Chapman e Cleese acumulam uma série de momentos hilários, conduzidos com precisão pela câmera de Terry Jones, como na reunião em que os judeus discutem que benefícios os romanos trouxeram pra eles ou na cena em que Pilatos cita o nome de seu amigo romano, na qual os soldados mal conseguem segurar o riso diante do imperador.

A sandália e a cabaçaÓtima cena do apedrejamentoJudeus discutem que benefícios os romanos trouxeramEsta conversa de Pilatos com Brian e os soldados está entre os momentos mais engraçados do longa, dentre os quais também vale destacar seu discurso diante da multidão que se diverte enquanto escolhe qual prisioneiro será libertado – com participação de seu amigo romano -, a perseguição de Brian por um grupo de soldados e a conversa entre um prisioneiro animado e o calmo soldado romano que dá as orientações na fila da crucificação. Finalmente, a cena em que os líderes do movimento são avisados que Brian será crucificado e decidem fazer uma reunião de emergência para discutir o caso deveria ser usada em palestras para grandes corporações contemporâneas.

Exibindo sua melhor forma, os integrantes do Monty Python interpretam nada menos que 40 personagens em “A Vida de Brian”, em atuações de alto nível que confirmam a versatilidade do grupo. Mas se todos têm os seus bons momentos, o grande destaque certamente vai para Michael Palin na pele de um engraçado Pilatos que não consegue pronunciar a letra R – observe, por exemplo, sua hilária expressão facial ao questionar seu amigo se os cidadãos judeus estão zombando dele.

Já tecnicamente “A Vida de Brian” não tem grande destaque, evidenciando o lado B das produções do Monty Python sem pudor, ainda que a fotografia árida e cheia de cores quentes de Peter Biziou e a reconstituição de época de Roger Christian colaborem na imersão do espectador naquela época. Por outro lado, Terry Jones e seu montador Julian Doyle são inteligentes o bastante para imprimir um ritmo ágil e evitar que a narrativa perca tempo com cenas desnecessárias, como fica evidente no momento em que o líder do movimento dos judeus narra como será o plano de invasão do palácio de César enquanto as imagens já mostram a execução do plano.

Conversa de Pilatos com Brian e os soldadosHilária expressão facialPasseio de Brian com os ET´sEsta benéfica economia narrativa também se reflete na direção discreta de Jones, que emprega movimentos de câmera mais estilizados apenas quando estes tem alguma função, como quando a câmera se afasta de Jesus Cristo e, auxiliada pelo design de som, ilustra a dificuldade dos personagens para ouvir o sermão da montanha. Da mesma forma, Jones prolonga ao máximo o suspense antes de revelar o grupo rival que invade o palácio de César no mesmo instante que os parceiros de Brian. Além disso, o diretor mostra coragem ao nos tirar completamente do universo da narrativa através do passeio de Brian com os ET´s, numa estratégia arriscada que poderia arruinar completamente a experiência do espectador, mas que funciona justamente pelo absurdo da situação – e por sabermos que o grupo não costuma seguir convenções narrativas ou respeitar regras cinematográficas.

Assim, os ingleses do Monty Python conseguiram mais uma vez nos divertir com seu humor criativo, baseado na inteligência da composição de seus diálogos e situações em detrimento do humor puramente físico (que também pode funcionar nas mãos de pessoas talentosas, vale dizer). A excelente canção “Always look to the good side of life” cantada pelos prisioneiros crucificados no final mostra bem a real intenção do grupo. Olhar para o lado bom da vida, dar risada e levar as coisas de um modo menos sério. Muito bom.

PS: Comentários divulgados em 19 de Agosto de 2009 e transformados em crítica em 04 de Dezembro de 2013.

A Vida de Brian foto 2Texto atualizado em 04 de Dezembro de 2013 por Roberto Siqueira