Todo homem morre, mas nem todo homem realmente vive

Roger Ebert dizia que “nenhum filme bom é longo demais e nenhum filme ruim é curto o suficiente”.

Desde que me tornei pai, sempre tive a expectativa de apresentar grandes clássicos do cinema aos meus filhos. Sempre fui apaixonado por cinema, sonhava desde criança em ter minha própria coleção de filmes, mas tudo isso ganhou uma nova dimensão quando meus filhos nasceram.

Pensando em retrospectiva, parte da minha motivação em seguir colecionando filmes mesmo quando a evolução da tecnologia já apontava para o risco dos DVDs e Blurays tornarem-se obsoletos era justamente oferecer a eles algo que eu nunca tive e sempre sonhei, a chance de acessar a qualquer momento que quiserem um acervo de grandes clássicos do cinema.

Além disso, no meu íntimo eu projetava e idealizava o momento que apresentaria muitos dos filmes que são especiais e marcantes em minha vida. Faço isso desde que são muito pequenos, apresentando-os de acordo com o crescimento deles e a evolução da maturidade para compreender certos temas. Algumas vezes, o filme apresentado é muito importante na história do cinema, em outras, é importante apenas para mim. De vez em quando, o escolhido da vez se encaixa nas duas situações.

Por tudo isso, o último fim de semana foi muito especial. Não apenas por que finalmente, após 4 anos vivendo em Portugal, consegui remontar minha coleção pessoal de filmes, que chamo desde sempre aqui no blog de Videoteca do Beto, mas também por que aproveitei o momento em que eles estão muito interessados em épicos medievais para apresentar o filme mais importante da minha vida.

Eu estava um pouco preocupado, confesso, por que a violência gráfica de “Coração Valente” era algo brutal na época em que foi lançado e me impactou profundamente, além é claro do peso dramático da narrativa. Para piorar, a geração dos meus filhos tem pouca paciência para “filmes longos”, o que sempre me faz evitar ao máximo dizer a duração dos filmes para eles. No entanto, a verdade é que os anos passaram e a evolução da linguagem cinematográfica e até mesmo de outras formas de entretenimento como os jogos de videogame fizeram com que aquela brutalidade hoje soe mais, digamos, normal.

Isso não impediu o Arthur e o Raul de curtirem demais o filme. Ambos gostaram muito, se empolgaram nas cenas de batalha, ficaram aflitos com as atrocidades cometidas pelo império inglês, se surpreenderam com as reviravoltas da narrativa e se emocionaram com o desfecho da história. Quanto à duração, os dois terminaram dizendo que nem perceberam as 3 horas passarem. Ebert, como sempre, tinha razão.

Obviamente, o impacto da trajetória de Wiilliam Wallace sobre eles não foi e nem deveria ser o mesmo que teve em mim há quase 30 anos atrás. O mais importante é que pude viver este momento sonhado por anos ao lado deles e curtir cada segundo.

Certamente meus pequenos irão encontrar o “Coração Valente” da vida deles, aquele filme que gerará um impacto muito além da própria experiência cinematográfica. Por enquanto, eles vão se divertindo com o cinema da forma mais pura, sendo envolvidos pela história que está sendo narrada, sem grandes preocupações com o futuro. E no dia em que eles encontrarem o filme mais importante da vida deles, poderão contar comigo para conversar e refletir a respeito.

Roger Ebert também dizia que “os filmes são janelas para o mundo. Eles nos permitem desvendar outras mentes – não simplesmente pela identificação com os personagens, embora isso seja uma parte muito importante, mas por nos oferecem a oportunidade de ver o mundo como outras pessoas o vêem”.

E está sendo uma delícia ver o mundo novamente junto dos meus pequenos.

Texto publicado em 10 de Março de 2023 por Roberto Siqueira

De volta!

Quando eu era criança, era tão apaixonado por cinema que sonhava em ter minha própria coleção de filmes. Realizei o sonho no Brasil e compartilhei com os leitores aqui no Cinema & Debate, mas quando mudei para Portugal, não consegui juntar todos os filmes da coleção num mesmo local novamente.

Primeiro por que não consegui trazer todos os filmes do Brasil de uma vez, depois por que não conseguia encontrar um móvel que me agradasse e coubesse em nosso orçamento. Foram 4 anos de espera, mas neste fim de semana finalmente consegui remontar a Videoteca do Beto aqui em Lisboa. E agora a alegria foi maior.

Isso por que, desta vez, contei com a ajuda dos meninos, que fizeram questão de participar da organização e, no processo, perguntaram sobre vários filmes, o que aguçou ainda mais a curiosidade deles sobre muitos clássicos.

Tenho o costume de apresentar os filmes da coleção aos poucos, de acordo com o crescimento deles e a evolução da maturidade para compreender certos temas, mas o fato é que agora eles têm novamente um local de fácil acesso onde podem visualizar toda a coleção à vontade, sempre que quiserem, e me perguntar sobre os próximos filmes que veremos juntos.

Para concluir, fechamos o fim de semana assistindo “Coração Valente”, que é o filme mais importante da minha vida, mas o relato sobre esta experiência deixarei para o próximo post.

Como já deu para perceber, estou muito feliz. Não se trata da conquista de um objeto de madeira, não é isso. Trata-se do simbolismo por trás da coleção de filmes, do que ela representa em minha formação como cinéfilo e como ser humano. E agora posso novamente transmitir esta paixão aos meus filhos da forma como sonhei.

Também como já notaram, fiquei tão animado que até voltei a escrever para o Cinema & Debate. Trata-se de um recemoço? Talvez. Só o tempo dirá. O que posso afirmar é que este fim de semana me deu uma injeção de adrenalina que andava precisando em meio a tantos desafios da vida profissional e pessoal aqui em Portugal.

Quem sabe nas próximas semanas tenhamos mais novidades sobre o blog e o canal do Cinema & Debate.

Até lá, só posso desejar a todos os queridos leitores (se é que alguém ainda acompanha o C&D) que tenham uma semana cinematográfica.

Texto publicado em 06 de Março de 2023 por Roberto Siqueira

HEREDITÁRIO (2018)

Cartaz

E se não tivéssemos controle sobre nossos destinos? E se tudo já estivesse decidido, não importa o caminho que escolhermos? Em sua estreia, o diretor Ari Aster inicia Hereditário nos colocando essa dúvida. Lentamente, a câmera se aproxima da maquete da casa da família Graham e nos transporta para o quarto do filho. E assim ele nos mostra o que os aguarda. Serão apenas marionetes, conduzidas por algo além de sua compreensão, os levando para um fim inevitável.

Maquete

Junto com A Bruxa e Corra!, Hereditário faz parte de um tipo de terror que estava esquecido nos cinemas. Nos últimos anos, surfando na onda de Atividade Paranormal, veio uma série de filmes, onde o terror se resumia a sons surgindo de repente ou aparições fantasmagóricas pulando na tela. Subterfúgio apenas para assustar e provocar saltos na cadeira, mas sem acrescentar nada para a história. Hereditário e os outros exemplos citados no começo do parágrafo vão na contramão. Um terror totalmente psicológico e menos baseado em “jump scare”, com ênfase na história que está sendo contada. Para mim, “jump scare” nada mais é do que uma trapaça. Uma técnica preguiçosa. Um clichê do terror moderno.

Praticamente não existe essa técnica em Hereditário. A câmera se move organicamente, como se fosse o olhar do personagem. Isto auxilia a nossa imersão no filme. A adrenalina dispara com o que pode vir a ser mostrado. Ou não. E vem o susto. Ou o alívio. Sem barulho. Sem nada pulando na tela. Sem trilha sonora mudando de repente para nos induzir com o que vem a seguir.

Fazendo uma analogia bem boba, não sei se isso acontece só comigo. Imaginem que do nada vocês pensem “nossa, será que eu perdi minha carteira?”. A mão vai lentamente até o bolso. Os alertas do corpo começam a disparar. Quando a mão chega, vem o desespero ou o ufa! A sensação assistindo Hereditário é praticamente essa durante toda a película.

Hereditário é considerado o melhor filme de terror de 2018, e um dos destaques de forma geral do ano. Sua ausência na temporada de premiações foi sentida. Toni Collette ser ignorada foi uma tremenda injustiça. Sua atuação como Annie é fantástica, retratando o medo, o desespero, e por fim de resignação, quando percebe que não tem o controle de sua vida. Atuação que tinha tudo para ser caricata. Mas em nenhum momento chega a esse ponto. É possível sentir o terror vendo sua atuação.

A atuação de todos deve ser ressaltada. Milly Shapiro, em sua estréia, como Charlie, a caçula da família. Seu silêncio e olhares nos deixam intrigados. Alex Wolff, interpretando Peter, o filho mais velho, tem momentos memoráveis, como a cena do carro e sua atitude transtornada. Mesmo Gabriel Byrne, como Steve, o pai da família, que em um primeiro momento possui uma atuação mais centrada, mas que faz todo o sentido para o filme. Ele é o único que não possui laços de sanguíneos com a família de Annie, e por isso é cético e racional com o que passa ao seu redor. Destaque também para Ann Dowd como Joan, que nos momentos em que aparece, prende nossa atenção.

O filme se inicia no funeral da avó. Lá somos apresentados à família Graham, e passamos a ter ciência de alguns de seus desentendimentos. E conhecemos alguns estranhos amigos da avó.  Em conversas em um grupo de auxílio para superar o luto, descobrimos os problemas psicológicos que afligem os membros da família. Bem, desse ponto em diante, é ladeira abaixo para a família. Se não viu o filme ainda, recomento parar por aqui.

Há momentos chocantes. A cena da morte da filha caçula, uma reviravolta a la Psicose (guardadas as devidas proporções), já que tudo levava a crer que ela seria a personagem central. A reação do filho. A câmera focando seu rosto, catártico. Apenas som ambiente, iluminado somente por uma luz quase sobrenatural do painel do carro. E a forma que o corpo é descoberto pela mãe. A dor sentida e sua demonstração. Arrepia. Temos ainda a utilização de tabuleiros ouija, aparições sobrenaturais, corpos. E tudo sem um “jump scare” sequer.

Cabeça
E o final é uma catarse. O filme entra em um momento “gore”. Impossível focar em outra coisa além do que ocorre na sua frente. E o choque quando o filme termina. Demora uns minutos até que consigamos voltar para a realidade. Recomendo permanecer no sofá por alguns instantes, respirar fundo, pensar em coisas boas. Se submergir sem um período de descompressão, a chance de continuar vendo vultos em cantos escuros é enorme.

Outra característica é que não há uma interpretação definitiva a respeito do que acabamos de vivenciar no filme. Há outras leituras que podem ser feitas. Será que tudo foi verdade, ou eram apenas reflexos dos problemas psicológicos enfrentados pelos membros da família? Outra interpretação é que o filme trata das cicatrizes familiares. De não saber lidar com luto ou com perdas. Dos problemas de relacionamento a doenças psiquiátricas. E com o fato de não saber lidar com as dificuldade e problemas que vão surgindo, mesmo que as vezes aleatoriamente. E se a unidade familiar não é firme, ocorre a implosão.

Ari Aster não deixa pontas soltas. Está tudo lá. Assim como em O Sexto Sentido, em um primeiro momento pode não fazer sentido o que estamos vendo, mas depois ao rever o filme e ler a respeito, tudo fica claro. Dos símbolos que aparecem ao longo do filme, dos diálogos que podem parecer irrelevantes, as palavras na transição das cenas, que parecem aleatórias. Tudo nos guia para o final. O destino da família já estava traçado. Impossível fugir de sua hereditariedade.

STAR WARS: A ASCENSÃO SKYWALKER (2019)

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Antes de começarmos, vale destacar dois pontos:

1) Para mim, Os Últimos Jedi é o melhor filme dessa nova trilogia e um dos melhores da saga Star Wars;

2) Vai ser impossível fugir dos spoilers. Então se você ainda não viu, deixa esse texto para depois. Pensando bem, se você não viu ainda, você não é tão fã de Star Wars. Não veja o filme e guarde o que há de melhor de Star Wars na sua memória.

Depois dessa introdução, acho que já deu para ter uma ideia de como me senti depois de assistir ao filme.

Mas antes de começar a minha jornada até o Lado Negro, vou fazer um elogio, com uma pitada de ironia. A Ascensão Skywalker me fez apreciar melhor a trilogia prequel. A trilogia possui diversos defeitos, principalmente quanto as atuações e aos diálogos, mas George Lucas tinha um planejamento. Ele sabia onde queria chegar. E temos ai o principal problema da nova trilogia. Se algum dia eu rever A Ascensão Skywalker (esse dia chegará), e conseguir enxergá-lo como algo independente, creio que vá gostar do filme. Mas como encerramento de uma trilogia, ou ainda da forma que foi vendido, como o encerramento da saga Skywalker, ele é falho. Faltou à Disney / Lucasfilm um planejamento.

Começa com o fato de que muitos dos acontecimentos da nova trilogia não são ditos de forma explícita nos filmes. Ai alguém pode me falar: “Ah, mas você tem que ler os livros, ver os desenhos, ver as séries, ler as HQs…” Na boa, não quero ter que fazer pós-graduação para assistir Star Wars. Na sequência temos os personagens aleatórios ou mal aproveitados (ou criados para vender bonequinhos). Capitã Phasma provou ser apenas um visual cool. Maz Kanata surgiu em O Despertar da Força e pareceu que seria uma personagem relevante para a junção das duas trilogias, mas só ficamos com perguntas sem resposta (vindo de J .J. Abrams isso é normal, Lost está aí pra nos lembrar). E por último, os Cavaleiros de Ren. Quem são? De onde vieram? Do que se alimentam? Como se reproduzem? Em A Ascensão Skywalker tudo seria revelado. E foi. Não do jeito esperado. Simplesmente eles são os amigos roqueiros do Kylo Ren que surgem para brigar com ele depois que se converteu e virou crente.

Bem, acho que deu para perceber que será mais um desabafo do que uma crítica. Vou tentar separar em três partes: o impacto na nova trilogia, o impacto na saga e o filme como algo independente, sendo que somente neste último será possível tirar algo bom.

Não creio que a culpa seja inteiramente de J. J. Abrams, mas com certeza ele tem a sua parcela. A culpa recai principalmente na Lucasfilm com a pressa em lançar os filmes, aliada a falta de planejamento. Sobre J. J., recai principalmente as indiretas. Sim, o filme é recheado de recadinhos para Rian Johnson e seu Os Últimos Jedi. Pode-se dizer que A Ascensão Skywalker é a continuação direta de O Despertar da Força. Tudo o que foi estabelecido em Os Últimos Jedi foi ignorado, das histórias contadas aos personagens apresentados. Rose Tico se tornou irrelevante, uma vitória dos fãs tóxicos. A Manobra Holdo, algo importante no clímax de Os Últimos Jedi, foi banalizada em um diálogo. O capacete de Kylo Ren, cuja destruição no filme anterior foi importante para a jornada do personagem, foi reconstruído apenas para atender a um capricho do diretor. No meio do filme a peça voltou a ser ignorada por Kylo Ren. A própria jornada de Kylo Ren sofreu uma guinada para pior. Enquanto que em Os Últimos Jedi ele se ergue como o novo Líder Supremo, deixando para trás seu passado, aqui ele volta ser um subalterno, com uma redenção esperada, mas que poderia ser de outra maneira. Quanto aos recados a Rian Johnson, o maior deles foi com a aparição de Luke Skywalker. Enquanto em Os Últimos Jedi ele foi desconstruído, mas obtendo a redenção em seu ato final, aqui ele reaparece apenas para prestar respeito ao sabre de luz, desfazendo seu ato inicial de Os Últimos Jedi, e realizar um ato grandioso, com trilha clássica ao fundo, mas que é apenas um fan service. Toda sua jornada foi destruída. O raciocínio de J. J. para o personagem é que em 30 anos, ele não mudou nada, não passou por dificuldades, não teve sua escola destruída etc. É o mesmo Luke de O Retorno de Jedi. Mas pra mim especialmente, o mais doloroso foi a destruição do lindo final de Os Últimos Jedi, onde um garoto utilizava a Força, se portava como um Jedi, mostrando que a Força pode estar em qualquer um. Mas fomos enganados. Só uma classe de privilegiados consegue se destacar, principalmente se for um Skywalker, a agora, uma Palpatine.

E isso nos leva para o impacto do filme na saga. Qual a finalidade de trazer de volta o Imperador Palpatine? Algo totalmente equivocado. Ao fazer isso, todo o sacrifício de Darth Vader foi jogado no lixo. A profecia sobre Anakin Skywalker foi descartada. Qual o problema com a Rey ser ninguém? Ela tem que ter sobrenome para ser relevante na saga? Detalhe sobre a volta de Palpatine. O áudio citado no letreiro inicial apareceu pela primeira vez em uma partida de Fortnite. Ou seja, não basta ser pós-graduado para entender, tem que participar de atividades complementares.

Palpatine

E por último, o filme em si. Se no começo, com a volta de Palpatine, as milhares de naves surgindo do nada, ele não te ganha, bem-vindos ao clube. A coisa não irá melhorar.

Naves Ordem Final

Snoke era simplesmente um clone, e Palpatine falava através dele. Ai me veio uma questão. Se Snoke era Palpatine, e em Os Últimos Jedi, no duelo na sala do trono, é revelado que foi Snoke que criou o “skype” da Força entre Rey e Kylo Ren, como é que Palpatine não sabia da díade da Força entre os dois. O que é díade da Força? Acho que perdi essa aula. Daí em diante, é uma correria só.

A busca por artefatos é frenética, e a preguiça do roteiro não ajuda em nada. Do nada, as soluções aparecem para os personagens, e logo estamos no final do filme, sem saber como chegamos do ponto A ao ponto B.

Poe foi transformado num Han Solo genérico. Por que ele simplesmente não pode ser apenas o melhor piloto da Resistência? Ou se querem dar um background ao personagem, que façam algo melhor elaborado. Foi inserida uma personagem feminina, oriunda do passado de Poe, apenas para transformá-lo em um garanhão e contar que ele era um contrabandista de especiarias. Mas sabemos o motivo da inserção dessa personagem.

Personagem feminina

Finn não teve um tratamento melhor. Não evoluiu. Sua tentativa de sacrifício em Os Últimos Jedi, que marcaram um avanço no arco do personagem, não foi ressaltada. Muito menos sua relação com Rose. Era o mesmo Finn de O Despertar da Força. E ainda tem o diálogo “…Rey, preciso te falar algo”, que nunca é dito (e a reação de Poe neste momento, que poderia ter ido para outro caminho, mais natural). Nem o encontro com outros desertores da Resistência engrandece o personagem. Na realidade o diminui. Aparentemente, a deserção de Finn e dos outros não foi algo consciente. Foi uma mensagem da Força. No Star Wars que eu me recordo, a Força não interfere no livre arbítrio dos personagens. Mais uma aula que eu perdi.

Poe e Finn

E chegamos na Rey. O meu desalento com a personagem é basicamente no fato de pra que transformá-la numa Palpatine? Ela não saber o seu passado, ou ser ninguém, e mesmo assim aceitar e lutar para criar o seu futuro, e ser alguém ao final, é algo engrandecedor e passa uma mensagem poderosa. Mas decidiram seguir por outro caminho. A Rey independente não existe mais. Agora ela tem um par romântico e alguém para ajudá-la na batalha final. E um beijo. Desnecessário. Deve ter ocorrido uma união estável, já que agora ela é uma Skywalker. Ao menos ela herdou umas terras em Tatooine.

Mas para não ficar só nas coisas ruim. A melhor coisa do filme é a interação entre Rey, Poe e Finn. É algo natural entre eles e agradável de se ver, e por isso entendo as críticas em Os Últimos Jedi pela falta de tempo de tela com os três juntos.

Voltamos a nossa programação normal. Senti falta de momentos “wow”. Os momentos em que isso poderia ocorrer estão nos trailers do filme e diminui seu impacto. Vai ser impossível não comparar com Vingadores Ultimato. Inclusive, diversos momentos do filme são copia e cola do sucesso da Marvel. A chegada das naves no momento em que a esperança de vitória diminui (os portais em Vingadores), a frase final de Rey é praticamente igual ao ato final do Homem de Ferro. E ao contrário de em Ultimato, não causa nenhum impacto emocional. O plano para a batalha final é “genial”. Pra que levar naves, que serão identificadas. Vamos levar cavalos e atacar os naves da Ordem Final enquanto elas alçam voo. Bastava o piloto da nave dar uma leve guinada. Problema resolvido.

Reforços

Os atos do filme não possuem consequências. Vai ser extensa essa lista. Chewbacca morre, é mentira. C-3PO tem a memória apagada. A despedida é emocionante. Ele recupera a memória. Kylo Ren morre, revive, morre de novo, volta, morre de vez. Incrível como ninguém que cai em buracos abismais na saga Star Wars continua morto. Além disso, ele banaliza a Estrela da Morte. Na falta de uma, agora há milhares de naves com o poder de fogo de uma Estrela da Morte. Para demonstrar seu poder, a Ordem Final (a antiga Primeira Ordem, longa história, faltei na aula) decide destruir um planeta. Resultado: é destruído um planeta qualquer que apareceu no filme mas que causa zero comoção.

C3PO

Ai chegamos no final. De volta a Tatooine onde tudo começou. Esse era o momento para escorrer a lágrima. Mas no meu estado, foi impossível. Primeiro: Leia nunca pisou em Tatooine. Não tinha relação nenhuma com o planeta. Qual a explicação para enterrar o sabre de luz dela lá? E por último, a pergunta para Rey. Qual o seu nome?, questiona uma andarilha. Rey, ela responde. E seu sobrenome?, novamente a andarilha. O que podia ficar pior fica. Rey Skywalker. Imagina se ela fala “somente Rey”. Olha o poder disso. Uma pessoa que aceitou seu passado, enfrentou o presente e viverá em paz o futuro. Mas, como nesse ponto e em diversas soluções do roteiro, decidiram dar ouvido aos fãs tóxicos da saga. Ao invés de tentar fazer algo diferente, miraram na mesmice. E pelo menos para mim, e creio para diversos outros fãs, só desagradou.

Rey Skywalker

Para os que chegaram até aqui, acho que não foi bem uma crítica. Foi mais um desabafo. Como eu disse na minha apresentação aqui no blog, a minha ideia era retratar as sensações, os diálogos internos que tenho assim que vejo um filme. Essa crítica foi difícil para sair. Assisti ao filme em Dezembro nos cinemas. Somente agora consegui finalizar. Eu queria gostar do filme. Queria sair feliz do cinema. Queria ter coisas boas para falar. Mas…

E até agora não tive coragem de rever o filme.

Babu
Heheeeey!!

 

Balanço de 2019

O primeiro ano da nova vida em Lisboa ficou marcado pelo processo de adaptação de toda nossa família e pela definição de novos rumos em todos os sentidos da minha vida. Emagreci 8 quilos (sim, estava precisando), consegui evoluir no estudo do alemão e comecei a aprender italiano, consegui aproveitar mais o tempo em família e abracei de corpo e alma um gigante desafio profissional que começa a render excelentes frutos. O sonho de viver na Europa revelou-se ainda mais acertado, infelizmente, pelo previsível caminho do retrocesso social adotado pelo governo eleito no Brasil – mas isso é tema para outro texto e em outro canal, não aqui.

Já no Cinema & Debate, 2019 marcou o renascimento desejado no texto “Balanço de 2018”, com novidades como as críticas sobre lançamentos e o canal no YouTube e, mais importante, os primeiros colaboradores além deste que vos escreve, o que trouxe uma bem-vinda oxigenação e novas abordagens e idéias que, tenho certeza, serão ainda mais desenvolvidas em 2020. Há tempos eu queria que meu grande amigo Thyago Bertoni colaborasse com o C&D e finalmente em 2019 tive o prazer de ver isso acontecer, o que só enriquece este espaço com sua visão a respeito do cinema que tanto respeito e admiro. Também importante foi a participação do meu amigo Adriano Cardoso, que fez uma excelente cobertura da 43ª Mostra de São Paulo, escrevendo sobre na mais nada menos que 42 filmes. Já fica aqui o convite para outras participações sempre que ele quiser.

Não quero fazer promessas, pois anda difícil cumprir com tantas atividades ao mesmo tempo, mas adoraria poder escrever mais textos, divulgar mais vídeos (tenho algumas críticas ilustradas em mente e quero muito conseguir divulgá-las) e também entrar na onda dos Podcasts em 2020. O tempo irá dizer se tudo isso será possível. De momento, só desejo que 2020 seja um ano melhor para o Brasil, o que anda difícil de acreditar quando em pouco tempo já tivemos a confirmação de erro no ENEM, governo torcendo contra filme brasileiro no Oscar e integrante do governo emulando o mais nefasto dos regimes – o que não é surpresa, vindo de pessoas escolhidas por alguém que abertamente defende ditadores.

Em termos de filmes assistidos, até que meu desempenho não foi tão ruim, considerando que 2019 foi provavelmente o ano em que mais assisti séries (o que sempre me incomoda, pois toma muito tempo e não entra em minha contagem de filmes, obviamente). Foi também o ano em que apresentei mais alguns clássicos do cinema para meus meninos, incluindo o sempre empolgante “Curtindo a vida adoidado”, o hilário “Debi & Lóide” e a apresentação de universos cinematográficos que gosto muito como a trilogia “O Senhor dos Anéis” e “O Exterminador do Futuro”, além dos filmes que inauguram as longas séries estreladas por Stallone, “Rocky – Um Lutador” e “Rambo” – no caso de Rocky, eles gostaram tanto que quiseram assistir mais filmes logo em seguida.

Agradeço como de costume a cada leitor que dedica parte de seu tempo para ler e comentar neste espaço. Cada clique é como uma injeção de adrenalina que mantém este blog vivo. Só posso agradecer por isso. Agradeço também à minha família pelo apoio neste ano tão agitado e aos amigos que, mesmo distantes, continuam tão próximos graças ao lado bom da tecnologia.

Vamos então aos números oficiais do Cinema & Debate em 2019:

               – 9 críticas divulgadas, sendo 6 na Videoteca do Beto e 3 na recém lançada categoria Lançamentos.

             – 5 vídeos divulgados no recém inaugurado canal no YouTube, incluindo a primeira crítica ilustrada.

Segundo dados do WordPress, os 5 textos mais acessados em 2019 foram:

               5° lugar = “À Espera de um Milagre

               4° lugar = “Um Dia de Fúria

               3° lugar = “Dança com Lobos

               2° lugar = “Um Sonho de Liberdade

               1° lugar = “A Missão

Pela primeira vez desde 2012, o texto de “2001 – Uma Odisséia no Espaço” fica de fora do top5. Já “A Missão” e “Um Sonho de Liberdade” mantém a presença entre os três primeiros desde 2013 e revezam-se nas duas primeiras colocações desde 2015, sendo que esta é a quarta vez que “A Missão” é a crítica mais lida do ano no C&D. Temos ainda duas novidades na lista, “À Espera de um Milagre” e “Dança com Lobos”, mais dois filmes da década de 90 que conseguem emplacar no top5, assim como tinha ocorrido no ano anterior com “Perfume de Mulher” e “Um Dia de Fúria”.

E agora, a lista dos 118 filmes assistidos em 2019 com a cotação no tradicional formado das estrelinhas.

Um grande abraço, obrigado e que 2020 seja um ano cinematográfico para todos nós!

Texto publicado em 21 de Fevereiro de 2020 por Roberto Siqueira

DETETIVE PIKACHU (2019)

 

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Antes de começar a falar deste filme, tenho que contar algo sobre a minha ligação com Pokémon. Assistia Eliana só pra ver o desenho. Deixava gravando enquanto estava na escola. Acho que parei na segunda geração de Pokémon. E eu jogava o card game de Pokémon. Eu, com meus 17 anos, indo disputar todo sábado a Liga Pokémon. Até que um dia tomei um pau de um molequinho que devia ter uns seis anos, e caiu a ficha: o que eu estou fazendo aqui?

Mas vamos ao filme. Acho que todo fã e não fã, assim que foi anunciado o filme, ficou ressabiado. O histórico de adaptações de games ou animes não era muito animador. E pra piorar, o filme se baseia numa versão que não tem nada a ver com o jogo ou série original. Aí veio o trailer. E mais do que isso. Veio o anúncio de que Ryan Reynolds faria a voz do Pikachu. E todo o receio ficou pra trás. O design nos Pokémon ficou ótimo, um trailer cheio de referências (assim como o pôster que veio depois) e a voz do Deadpool, ops, Ryan Reynolds caiu como uma luva no personagem principal.

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Já vou tirar o elefante da sala. Pra mim, é a melhor adaptação de um jogo ou anime para o cinema (sarrafo não estava lá muito alto). Eu me senti representado. É um filme para crianças, e para crianças que cresceram, e consegue atingir os dois públicos. É bom para aqueles que querem nostalgia e para aqueles que estão sendo apresentados ao universo agora. Que outros aprendam que é possível (esse recado é pra você, Cavaleiros do Zodíaco).

Não esperem atuações soberbas. Os humanos são o ponto fraco do filme. Roteiro é simplista, com plot que quando você para pra pensar nele, não faz sentido. E o vilão é só pra cumprir a cota de clichês com vilão inglês. Basicamente é o Space Jam da década.

Num primeiro momento causa estranheza a decisão de adaptar para o cinema um jogo que não tem nada a ver com o que Pokémon sempre propôs. Mas quando paramos pra pensar, a decisão faz todo sentindo. Não ia ser legal ver humanos batendo nos animais de seu mundo até eles ficarem fracos, os capturarem numa gaiola minúscula e colocá-los para brigar em arenas. Um duelo aparece rapidamente no filme, numa liga clandestina. É errado, mas ia ser legal. Os roteiristas que se virem para fazer dar certo numa possível sequência.

O mundo criado é o destaque do filme, com Pokémon e humanos vivendo em harmonia. Isso fica exemplificado na cidade modelo de Ryme, que quer provar que humanos e Pokémon podem coexistir além das batalhas. Um mundo colorido, onde os Pokémon vivem livres, ou com humanos (como pets), e ajudam no dia a dia da cidade. Cada take é pelo menos uma referência a ser capturada. Os Pokémon ficaram realistas, mas continuaram caricatos e foram mantidas as expressões faciais. Alguns se destacam mais do que outros, principalmente os da primeira e segunda geração. Da terceira em diante, senti uma estranheza, mas ai não é culpa do filme, e sim dos criadores da série, que, quando acabou a inspiração nos animais de nosso mundo para os Pokémon, passaram a viajar cada vez mais no design.

Escrevi bastante, mas percebi que não falei muito sobre a história. Acho que é por que não tem muito que se falar. Em resumo, o filme conta a história de Tim, um garoto que não sabe seu lugar no mundo. Tem dificuldade em se relacionar com humanos e desistiu de seu sonho de ser um treinador Pokémon. Recebe a notícia da morte de seu pai, um renomado detetive da cidade Ryme, em um acidente de carro, após ser atacado enquanto investigava um laboratório secreto. Por esse motivo, Tim decide ir até a cidade para obter mais detalhes. No apartamento de seu pai, Tim encontra um Pikachu desmemoriado, que se acha detetive e viciado em cafeína. Para sua surpresa, ambos conseguem se comunicar. Depois da desconfiança, e da dificuldade de Tim em se relacionar, e de algumas pistas de que talvez seu pai não esteja morto, eles partem em busca de solucionar o mistério do desaparecimento do pai de Tim, com a ajuda de uma repórter novata e de um Psyduck problemático, num clima bem noir.

Acho que acabei dando o plot nesse resumo. Mas sinceramente, esse não é um filme pra se apegar à história. É pra assistir, sem pensar muito, e deixar a nostalgia de dias mais fáceis te levar.  Um fato legal para os fãs, é que em um vídeo do laboratório, onde um Mewtwo sofre experimentos (a revelação do Mewtwo ocorre no começo do filme, não é spoiler), há uma informação de que ele é o mesmo Mewtwo que fugiu do continente de Kanto há 20 anos. Uma referência à primeira animação de Pokémon nos cinemas. Ou seja, está tudo conectado, Ash existe…

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Ah, e não posso deixar de dizer qual o meu Pokémon favorito. É esse aqui.

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43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Queridos leitores,

É com grande orgulho que anuncio que o Cinema & Debate irá cobrir a 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo graças a uma parceria com meu amigo Adriano Cardoso, que irá colaborar conosco durante o festival.

Conheci o Adriano no curso de Teoria, Linguagem e Crítica cinematográfica do Pablo Villaça que inspirou a criação do Cinema & Debate e, desde então, trocamos ideias sobre cinema, política e diversos outros temas cotidianos.

Agradeço ao Adriano pela parceria e deixo abaixo o texto que ele nos enviou sobre o evento:

 

“Mesmo com cortes em seu investimento, fruto da política ignorante e nefasta que nos permeia, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo terá sua 43ª edição este ano. Tendo início na próxima quinta-feira, dia 17, trará até seu encerramento em 30 de outubro, cerca de 300 títulos produzidos nas mais diversas regiões do mundo. Os filmes poderão ser conferidos numa grande gama de salas, espalhadas por toda cidade, e haverá programação especial no canal online da SP Cine, onde alguns exemplares poderão ser assistidos gratuitamente.

O diretor Olivier Assayas será o grande homenageado desta edição, ganhando uma retrospectiva com seus trabalhos mais emblemáticos. Além do cineasta francês, também receberão homenagens Amos Gitai e Elia Suleiman, este último pelo foco de sua filmografia ao colocar o povo palestino em evidência.

Escreverei textos diários sobre muitas das obras em exibição para o Cinema & Debate.

Adriano Cardoso”

 

Site oficial da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo: http://43.mostra.org/br/home/

Locais de exibição do circuito: http://43.mostra.org/br/encontre-as-salas/

Site da Spcine: http://spcine.com.br/

Texto publicado em 16 de Outubro de 2019 por Roberto Siqueira

X-MEN: FÊNIX NEGRA

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Esse é um filme que nasceu morto. É triste falar isso. Afinal, sem X-Men, lá no longínquo ano 2000, não teríamos essa onda de filmes de heróis. Foi o filme que mostrou que é possível adaptar HQ’s para o cinema. Foi o filme que começou a tornar moda ser nerd.

Depois de tudo que li sobre esse filme, minha expectativa foi lá embaixo. E sinceramente, é um filme vazio. Não me causou emoções. Não tem uma cena épica (tem uma cena boa, já chegaremos lá). E a perda que ocorre no filme, ao invés de causar tristeza, causa alívio.

Simon Kinberg, que você tenha sucesso na carreira, mas você não sabe fazer filme de heróis. Para vocês terem uma ideia, é dele o roteiro de X-Men 3, Quarteto Fantástico (as loucuras do diretor ajudaram a estragar o filme), X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (ok, esse é bom, mas aquele final… e pra quê erguer um estádio??), X-Men: Apocalipse e Fênix Negra, que também dirige.

A Fox conseguiu cometer duas vezes o mesmo erro. Fênix Negra é praticamente igual a X-Men 3, com mais efeitos, viagem ao espaço, e menos mutantes. Mas novamente não aproveitaram uma das melhores sagas dos Mutantes nas HQ’s. Falta à Fox, o que a Marvel teve de sobra. Paciência. A Saga da Fênix não dá pra ser adaptada de forma tão corrida.

Olhando só os filmes da nova geração, o encerramento é melancólico, mesmo após as esperanças terem sido renovadas com o fantástico Primeira Classe. Um elenco de primeira linha, mas que pelas atuações no último filme, não queriam estar lá. Só ver a (des)evolução da maquiagem da Jennifer Lawrence. Com a aquisição da Fox pela Disney, os X-Men vão para a geladeira por uns bons anos.

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Sobre o filme, mais uma vez é tudo apressado. Em Apocalipse, foram apresentados os novos membros, com bons atores, mas não deram tempo em tela pra interação entre eles e a formação da equipe e logo foram pra cena de ação genérica no final. Em Fênix Negra, aparentemente, já como equipe consolidada e amados pelo mundo todo, já partem pra ação no começo e logo a equipe já se desfaz. Tudo apressado. Assim, sei que estou sendo chato. Dá pra pegar nas entrelinhas o que aconteceu pra chegar do ponto A ao ponto B. Mas merecia um desenvolvimento. E a falta disso me fez não me importar com nenhum dos personagens.

equipe

O começo é promissor. A cena do resgate do ônibus espacial é muito bem feita, assim como a interação da equipe (por isso fiquei com vontade de ver mais disso). Depois dessa cena é tudo mais do mesmo. Personagens sem profundidade. Atuações no automático. Mercúrio, que é um dos melhores personagens dessa geração, é tirado de cena logo no começo, sem motivo aparente. E todo aquele assunto sobre Magneto ser seu pai é totalmente esquecido. Uma raça alienígena totalmente genérica jogada no filme. Uma vilã extremamente descartável. Conseguiram fazer a Jessica Chastain ser a pior coisa do filme. De novo Magneto do mal, do bem, do mal e do bem, vivendo numa ilha sem nome. Ele tenta matar o presidente em Dias de um Futuro Esquecido, ajuda na destruição do mundo em Apocalipse, e ai ganha do governo uma ilha? Ia ser um baita fan service, mas por que decidiram não falar que a ilha era Genosha? Mística que não fica como Mística (cadê o “mutant and proud”?). Fera que não fica como Fera. Uma Jean que só sofre com os poderes e as revelações. Faltou aquele momento em que ela curte os poderes e se descobre.

cena do espaço

jessica chastain

mercurio

A desconstrução do Xavier faria sentido se fosse feita com tempo. Fica estranho ele, que sempre colocou os alunos e a equipe em primeiro lugar, colocá-los em risco apenas por status. São interessantes os dilemas apresentados por ele, sua soberba em não admitir os erros. Mas é uma sensação de deja vu. São os mesmos erros cometidos em X-Men 3.

Os efeitos são bons, principalmente a forma que eles escolheram para mostrar a Força Fênix transbordando da Jean.

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E pra variar, a linha do tempo continua uma bagunça. Passaram-se 30 anos desde Primeira Classe, e Xavier e Magneto tão com a mesma cara. Fico assustado com o que pode ter acontecido em menos de 10 anos, para o James McAvoy e o Michael Fassbender virarem Patrick Stewart e Ian McKellen.

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Pra finalizar, uma curiosidade. Existe no filme uma unidade de contenção de mutantes. Sigla em inglês: MCU. Eles prendem os X-Men, e num momento de ataque à unidade, os mutantes avisam: nos libertem, vocês vão precisar da gente. Proposital?

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TURMA DA MÔNICA: LAÇOS

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Os gibis da Turma da Mônica marcaram minha infância, assim como da grande maioria dos brasileiros. É difícil alguém, mesmo que nunca tenha lido, não conhecer o quarteto e suas características.

Eu não li a graphic novel em que o filme se baseia, mas só vi coisas boas a respeito. Então assisti ao filme as cegas. E me surpreendi positivamente. É um filme leve, divertido, colorido, que respeita seu público (tanto as crianças quanto os adultos nostálgicos) e os gibis. Um belo exemplo de “feel good movie”.

Daniel Rezende mais uma vez se mostra um diretor competente. Já tinha feito um trabalho fenomenal e corajoso em Bingo e repete a dose aqui. Tem que ser muito corajoso para adaptar essas histórias. Destaque para a montagem e a fotografia belíssima do filme, que colore o bairro do Limoeiro.

Eu tinha medo de o filme ser caricato, mas passa longe disso. Lógico, todas as características marcantes dos personagens estão lá. Mas é tudo tão natural e orgânico. E o filme brinca com isso, desde o armário da Mônica só com vestidos vermelhos ou o fato de só o Cebolinha usar calçado.

E grande parte do sucesso do filme em conseguir essa naturalidade se deve ao elenco infantil. Giulia Benite (Mônica), Kevin Vechiatto (Cebolinha), Laura Rauseo (Magali) e Gabriel Moreira (Cascão) conseguiram incorporar os personagens, com respeito às características de cada um. É possível sentir uma sinergia entre a turma, uma amizade sincera. Acho que o fato de eu já conhecer bem os gibis ajuda nesse sentido, mas mesmo se não conhecesse, isso não afetaria a experiência.

Gosto da participação do Rodrigo Santoro, no papel do Louco. Outro que consegue não ser caricato, apesar da loucura (ba dum tss!!) do personagem. Ressalto o sucesso da montagem do filme nesse momento, que apesar dos vários cortes e do movimento da câmera, não deixa a cena ser confusa.

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Os Laços que dão nome ao filme, apesar de retratados como as marcações para o caminho de volta, na realidade reflete a união dos personagens. Para superar os obstáculos colocados no caminho, a ignorância e o individualismo não são a solução. Os personagens descobrem que ao se unirem, cada um com o seu melhor, fica mais fácil alcançar o objetivo.

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Talvez esse seja o filme que o Brasil precisa para esse momento. Nesses tempos de cada um por si, de mídias sociais que mais afastam do que agrupam, brigas por opiniões divergentes, é bom ver um filme onde as pessoas engolem seu orgulho e se unem em prol de algo maior.

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CORINGA

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Esse é um filme que precisa ser visto e discutido. Entendo o medo e a paranoia ao seu redor. Sinceramente, eu tive medo de ir assistir no cinema. Medo de acontecer alguma tragédia na sala. Nunca tive essa sensação. Talvez seja a paternidade, mas não podemos negar que vivemos em um mundo louco.

Um mundo tão louco, que descontrói as pessoas, as quebra, e depois que elas cometem suas loucuras, a sociedade se isenta da culpa. Afinal, era só mais um louco. Acho que esse é o mote do Coringa, e é por isso que ressalto que precisa ser visto.

Vamos ao filme. Esqueçam a ideia de filme de herói, ou baseado em HQ’s. A própria Warner não quer isso. No começo do filme, num fato inédito, não aparece o logo da DC. Sim, é a história de um vilão icônico, mas poderia ser a história de qualquer um.

Talvez, Coringa seja para nossa década, o que Taxi Driver e Clube da Luta foram para as suas (guardadas as devidas proporções). O filme é um estudo sobre doenças mentais e a sociedade em que vivemos. A forma como os que não se enquadram são deixados de lado. Não só devido a doenças mentais, mas também a classe, cor, gênero etc. Se passa no final dos anos 70, mas é extremamente atual.

Não tenho a intenção de relativizar o personagem do filme, ou os personagens da vida real, e transformá-los em mártires. Mas é importante aprender com os erros para que estes não se repitam.

Joaquin Phoenix é a alma do filme. Que atuação monstruosa. A melhor que vi nesse ano sem dúvida. O filme é dele. É perturbador vê-lo em cena. Sua risada ainda ecoa na minha cabeça. E não é apenas um tipo de risada. Para cada ocasião, ele entrega uma risada diferente, quase que como um diálogo. É angustiante. É um Coringa caótico e imprevisível. E muito disso vem da atuação. É impossível ler seu rosto e tentar adivinhar o que ele vai fazer.

Essa imprevisibilidade atinge seu auge assim que as cortinas se abrem, no momento em que ele se apresenta ao mundo e todos passam a vê-lo.

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A cena no banheiro entra no rol das maiores improvisações do cinema. E é nessa cena que os três pilares do filme, atuação, trilha sonora e fotografia, pra mim, chegam ao ápice. Se Rami Malek ganhou o Oscar fazendo playback, é justo um Oscar coroar a interpretação de Joaquin Phoenix.

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A fotografia é sensacional. Uma Gotham suja, quase sem cores, como se fosse um purgatório para o personagem. E quando ele se descobre, quando somem as amarras que o prendiam à sanidade, o filme fica mais colorido, seja pelas roupas ou no palco em que faz sua apresentação ao mundo, ou na noite em chamas de Gotham. Até as escadas, que ele subia sempre de cabeça baixa, como se caminhasse em direção a um sacrifício, após sua “transformação”, fica mais viva.

A trilha sonora, que depois descobri ser do mesmo compositor de Chernobyl é angustiante. Ela te martela a todo o momento, refletindo a mente do personagem, quase que desafinando. Chega a ser claustrofóbica.

Apesar de deixar claro que não está inserida no mesmo universo, Coringa tem algumas rimas visuais com O Cavaleiro das Trevas. Principalmente em uma cena que considero icônica, com Heath Ledger dentro do carro da polícia. É possível enxergar no Coringa de Phoenix, referências aos outros Coringas do cinema. A anarquia do Coringa de Ledger. A violência e deboche do Coringa de Nicholson. A comédia do Coringa de Cesar Romero (Jared Leto eu desconsidero). E apesar de esse Coringa ter um nome, o filme não crava sua origem. Na realidade, brinca com ela, a ponto de não saber o que é certo ou o que é loucura (ou o que foi corrompido).

Não vou entrar em mais detalhes para não dar spoiler, mas o plot no meio do filme é totalmente inesperado, assim como o final que nos deixa com a pulga atrás da orelha. Será que era tudo uma piada?

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