007 SOMENTE PARA SEUS OLHOS (1981)

(For Your Eyes Only)

2 Estrelas 

Videoteca do Beto #202

Dirigido por John Glen.

Elenco: Roger Moore, Carole Bouquet, Topol, Lynn-Holly Johnson, Julian Glover, Cassandra Harris, Jill Bennett, Michael Gothard, John Wyman, Jack Hedley, Lois Maxwell, Desmond Llewelyn, Geoffrey Keen, Walter Gotell e Charles Dance.

Roteiro: Richard Maibaum e Michael G. Wilson, baseado em história de Ian Fleming.

Produção: Albert R. Broccoli.

007 Somente para seus olhos[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Responsável pela montagem de três filmes da série entre 1969 e 1979, John Glen assumiria a direção em “007 Somente para seus olhos”, o primeiro dos cinco trabalhos que realizaria na franquia. No entanto, o resultado ficou bem abaixo do esperado. Ainda que algumas sequências sejam bem interessantes, a sensação que temos é a de que tanto Glen quanto seus roteiristas apenas seguiram a fórmula básica da franquia, esquecendo-se de que o segredo do sucesso de James Bond não está na estrutura narrativa e sim na maneira – normalmente estilosa – como ela é contada.

Escrito por Richard Maibaum e Michael G. Wilson com base em história de Ian Fleming, “007 Somente para seus olhos” tem início quando um navio britânico que carregava uma poderosa arma secreta é atacado e naufraga próximo à Albânia, gerando enorme preocupação no governo de seu país. Enviado para investigar o caso, James Bond (Roger Moore) acaba descobrindo o envolvimento de um grande contrabandista local conhecido como Milos Columbo (Topol), graças ao auxilio do agente grego Aris Kristatos (Julian Glover). Determinada a vingar a morte dos pais ocorrida logo após o naufrágio, a jovem Melina Havelock (Carole Bouquet) também acaba se envolvendo nas investigações, contrariando a vontade de Bond.

O primeiro deslize de “007 Somente para seus olhos” ocorre logo no tradicional segmento de abertura em que a presença de um gato indica a volta de Blofeld, icônico vilão da série derrotado anteriormente por Bond e responsável pela morte de sua esposa, mas esta expectativa não é confirmada durante a narrativa, o que torna este segmento de abertura envolvendo um helicóptero controlado à distância totalmente deslocado, pouco inspirado e sem graça – na realidade, os produtores quiseram apenas provocar Kevin McClory, que travava uma batalha judicial pelos direitos sobre o personagem.

Levando-nos desta vez para a Espanha, os Alpes italianos e o litoral grego, “007 Somente para seus olhos” mantém a característica de explorar bem a beleza dos locais por onde passa o agente secreto através da fotografia gélida de Alan Hume nos Alpes, que contrasta com o visual ensolarado da pequena cidade próxima à Madri e, especialmente, com o visual romântico da bela Corfu, na Grécia, principalmente nas cenas noturnas ou próximas do anoitecer. Estes lugares pitorescos servem como cenários para sequências repletas de ação como a absurda perseguição de carros nas ruelas espanholas e a fuga de Bond num esqui seguido de perto por duas motos na neve, ambas conduzidas com dinamismo por John Glen e seu montador John Grover, alternando entre planos gerais e interessantes planos subjetivos que nos colocam dentro da ação.

No entanto, estas sequências são prejudicadas pela péssima e deslocada trilha sonora de Bill Conti, o mesmo compositor consagrado alguns anos antes em “Rocky, Um Lutador”, mas que aqui faz um trabalho bastante irregular, criando melodias que parecem tiradas de jogos de videogame nas cenas de ação, salvando-se apenas nas variações da bela música tema “For Your Eyes Only”, de Sheena Easton, e na composição romântica que embala o envolvimento entre a Condessa Lisl (Cassandra Harris) e Bond.

Visual romântico da bela CorfuFuga de Bond num esquiCarismático Milos ColumboQuem também não colabora são os atores Michael Gothard e John Wyman que, em atuações extremamente caricatas, fazem de Locque e Kriegler dois vilões quase risíveis, sendo parcialmente salvos apenas pelo roteiro que, ao evitar dar muitas informações sobre eles, consegue manter uma aura de mistério sobre os personagens. Revelando pouco a pouco as intenções de cada integrante do grupo, a narrativa nos leva até o carismático Milos Columbo interpretado por Topol que, com sua postura extremamente confiante, reverte à imagem pré-concebida do personagem logo nos primeiros minutos da conversa direta que tem com James Bond. Este mesmo diálogo traz ainda uma boa reviravolta na trama ao revelar que Kristatos é o verdadeiro vilão. Inicialmente amigável, o Kristatos de Julian Glover muda drasticamente seu comportamento após a revelação, assumindo uma postura mais agressiva e coerente com o papel de principal vilão.

Determinada a vingar o assassinato dos pais, a inteligente e elegante Melina de Carole Bouquet assume o posto de parceira de 007 da vez, demonstrando força quando necessário e, obviamente, transformando-se na nova bondgirl ao não resistir aos encantos do agente secreto. Novamente interpretado por Roger Moore (que desta vez esforça-se para soar menos debochado), James Bond mantém-se sempre alerta aos perigos que cercam sua profissão sem jamais desesperar-se diante deles, assumindo também uma faceta interessante e distante da postura politicamente correta normalmente associada aos heróis convencionais ao empurrar um carro ladeira abaixo com o indefeso Locque preso dentro dele.

Kristatos o verdadeiro vilãoInteligente e elegante MelinaJames Bond alertaMontador de origem, John Glen consegue criar sequências narrativamente envolventes, como quando Bond sobe correndo uma longa escadaria na Albânia para tentar impedir a fuga do carro de Locque, num momento tenso que se torna mais interessante pela forma como é montado, intercalando entre os planos de Bond e do carro num ritmo dinâmico. Outro momento tenso acontece quando Bond e Melina tentam destruir o ATAC no fundo do mar, culminando numa luta quase em câmera lenta que, mesmo criativa, perde força justamente pelo ritmo arrastado.

Mas é no ato final que reside o momento de destaque de “007 Somente para seus olhos”, começando pela angustiante escalada de James Bond pela montanha, conduzida com precisão pelo diretor. Prendendo nossa atenção a cada movimento do protagonista, Glen cria uma cena realmente impactante, mas o desfecho repentino da narrativa após a chegada ao topo acaba minando um pouco o efeito da subida. Encerrando o longa com outra piada sem graça, desta vez envolvendo Margaret Thatcher (Janet Brown), Glen ao menos demonstra coerência ao amarrar os dois extremos da narrativa com segmentos deslocados e sem nenhuma inspiração.

Seguindo a risca o padrão estabelecido na série, “007 Somente para seus olhos” tem todos os ingredientes de um filme de James Bond. O problema é que estes ingredientes são misturados numa narrativa sem grande inspiração, sem apelo visual e recheada com poucos personagens marcantes. No fim das contas, talvez o segmento de abertura tenha sim algum significado, indicando que toda a narrativa seria conduzida no modo “piloto automático”.

007 Somente para seus olhos foto 2Texto publicado em 27 de Maio de 2014 por Roberto Siqueira

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