MONTY PYTHON – EM BUSCA DO CÁLICE SAGRADO (1975)

(Monty Python and the Holy Grail)

5 Estrelas 

Filmes em Geral #118

Filmes Comentados #4 (Comentários transformados em crítica em 02 de Dezembro de 2013)

Dirigido por Terry Gilliam e Terry Jones.

Elenco: John Cleese, Graham Chapman, Eric Idle, Terry Gilliam, Terry Jones, Michael Palin, Coonie Booth e Carol Cleveland.

Roteiro: Graham Chapman, John Cleese, Eric Idle, Terry Gilliam e Terry Jones.

Produção: Mark Forstater e Michael White.

Em Busca do Cálice Sagrado[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Criadores e intérpretes da série cômica de enorme sucesso na televisão no final dos anos 60 intitulada como Monty Python’s Flying Circus, o Monty Python estreou no cinema com este divertido “Em Busca do Cálice Sagrado”, filme que carrega em cada fotograma as principais marcas do influente grupo britânico. Abusando da criatividade e apostando em cenas tão surreais que beiram o absurdo, o sexteto deixou sua marca eternizando um estilo autêntico de fazer comédia que é exaustivamente explorado (na maioria das vezes muito mal) até hoje.

Escrito por cinco dos seis integrantes clássicos do grupo e dirigido pela dupla Terry Gilliam e Terry Jones, “Em Busca do Cálice Sagrado” se passa na Inglaterra durante a Idade Média e narra a jornada do lendário Rei Arthur em busca dos famosos Cavaleiros da Távola Redonda. Após reunir todo o grupo, ele recebe a missão divina de encontrar o cálice sagrado, há muito tempo perdido em algum lugar esquecido da ilha britânica.

Por ser a primeira incursão do Monty Python no cinema (antes eles haviam apenas compilado alguns esquetes no longa “E agora para algo completamente diferente”), “Em Busca do Cálice Sagrado” não hesita em fazer inúmeras brincadeiras com a falta de recursos do projeto, numa abordagem irreverente que surge já nas legendas dos créditos iniciais e que acompanhará toda a narrativa, por exemplo, através do som da batida de metades de coco simbolizando o som dos cavalos. Além disso, Gilliam e Jones não tem medo de ousar e conduzir a narrativa de maneira nada convencional, quebrando a quarta parede em diversos momentos e brincando com a ideia do filme ser “apenas um filme”, como na piada envolvendo o cartunista e na cena final do ataque ao castelo abruptamente interrompido. Outro recurso narrativo muito bem utilizado é aquele conhecido como “dica e recompensa”, através da piada envolvendo andorinhas numa ponte já no ato final que remete ao primeiro diálogo do longa.

Já tecnicamente o longa é bem simplório. A começar pela fotografia dessaturada de Terry Bedford que, em conjunto com os uniformes dos soldados (figurinos de Hazel Pethig) e os castelos concebidos pelo design de produção de Roy Smith (na realidade, maquetes, como comenta um dos personagens), remetem a época medieval, mas sempre num tom muito mais cômico e surreal do que propriamente numa recriação que busca apoiar-se no realismo, ainda que a trilha sonora remeta às composições triunfais típicas de filmes sobre aquela época. Este surrealismo ganha ainda mais força através das animações propositalmente “toscas” que surgem durante a narrativa em diversos momentos, que também fazem piadas constantes com a falta de recursos e abusam da metalinguagem. Por outro lado, a montagem de John Hackney é essencial para que o excelente timing cômico de algumas piadas funcione, assim como é responsável pelo ritmo dinâmico que intercala as histórias dos Cavaleiros através de uma sequência inspirada de esquetes que mantém o espectador sempre interessado.

Batida de metades de cocoMorte do cartunistaAnimações propositalmente toscasAssim, o grande mérito de “Em Busca do Cálice Sagrado” fica mesmo por conta do roteiro extremamente criativo, nada convencional e recheado pelo típico humor autodepreciativo britânico (como nas muitas piadas envolvendo a histórica rivalidade entre ingleses e franceses), que fica ainda melhor graças às interpretações inspiradas de todo o elenco. Encarnando diversos papéis ao longo da narrativa, John Cleese, Graham Chapman, Eric Idle, Terry Gilliam, Terry Jones e Michael Palin se divertem enquanto protagonizam cenas antológicas, que se tornam ainda mais engraçadas pela maneira como eles pronunciam as palavras e pela imprevisibilidade que caracteriza a narrativa, que impede que o espectador antecipe o que vai acontecer. Inteligentes, os integrantes do Monty Python ensinam como utilizar o perigoso humor pastelão de maneira ousada e criativa, o que está longe de ser uma tarefa simples.

Destacar os momentos cômicos de “Em Busca do Cálice Sagrado” é tarefa hercúlea. A luta contra o temível cavaleiro negro e o ataque do coelho assassino certamente estão entre os meus favoritos, mas não posso deixar de citar o resgate repleto de piadas sexuais de Sir Gahlard num castelo repleto de mulheres, o curioso diálogo sobre as andorinhas que abre o filme, as aparições dos cavaleiros que dizem “Ní”, as perguntas que antecedem a travessia da ponte, o resgate do príncipe preso na torre e o temível monstro Aaahhhhrrrrgggghhhh.

Luta contra o temível cavaleiro negroAtaque do coelho assassinoCavaleiros que dizem “Ní”Mesmo com tantos momentos surreais, o longa não deixa de fazer interessantes críticas, como no diálogo entre o Rei Arthur e um camponês sobre o que dá direito ao Rei de comandar ou não um país, que, além de ser muito engraçado, toca em um tema bastante polêmico: a monarquia. Da mesma forma, a sequência em que uma jovem é acusada de ser bruxa demonstra como o povo medieval era ignorante (será que evoluímos?), utilizando argumentos estúpidos para condenar mulheres à morte. Morte que é utilizada durante a perseguição do monstro ao grupo, na primeira inserção de um recurso conhecido como “Deus ex-macchina”, que será essencial na piada que encerra a narrativa – e quando policiais surgem investigando os vestígios deixados por Arthur e companhia, a narrativa indica o que acontecerá no excelente final, em que as viaturas interrompem as gravações e prendem os protagonistas.

Apostando no humor irreverente que influencia muitos comediantes ainda hoje, “Em Busca do Cálice Sagrado” confirmou o enorme talento do grupo Monty Python, cravando seu nome na história do cinema. Mesmo décadas depois, o longa ainda serve como referência e deveria ser obrigatório para todo e qualquer comediante, para evitar que piadas frustrantes e sem criatividade alguma invadissem nossas vidas como acontece hoje. Não é preciso ser politicamente incorreto para ser engraçado, mas se decidir seguir por este caminho, que o faça com competência.

PS: Depois de assistir “A Vida de Brian” e “Em Busca do Cálice Sagrado” ficou evidente pra mim a influencia do grupo inglês sobre a “TV Pirata” e o “Casseta & Planeta”. Pena que os brasileiros, principalmente no segundo caso, não conseguiram realizar um trabalho do mesmo nível.

PS2: Comentários divulgados em 26 de Agosto de 2009 e transformados em crítica em 02 de Dezembro de 2013.

Em Busca do Cálice Sagrado foto 2Texto atualizado em 02 de Dezembro de 2013 por Roberto Siqueira

7 comentários sobre “MONTY PYTHON – EM BUSCA DO CÁLICE SAGRADO (1975)

  1. Mateus Aquino 2 dezembro, 2013 / 10:02 pm

    Na minha opinião, um dos melhores finais da história do cinema.

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    • Roberto Siqueira 11 janeiro, 2014 / 8:26 pm

      Muito bom mesmo Mateus.
      Um abraço.

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  2. Augusto (2) 28 agosto, 2009 / 11:59 am

    Fala Roberto..Adoro este filme.. não assisti ainda a Vida de Brian para poder opinar sobre toda a obra do Monty Phyton porém sei que este é bem superior o Sentido da vida…
    Quanto ao comentário final, vale dizer que o problema do humor brasiliero é o tempo de desenvolvimento, compare o humor produzido pelo pessoal do Casseta quando o programa era mensal e o mesmo agora com o programa é semanal.. com pouco tempo e material escasso para a produção com maior cuidado acabamos voltando para um humor bordão igual ao zorra total.

    Abraços.

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    • Roberto Siqueira 1 setembro, 2009 / 9:15 pm

      É verdade Augusto, o Casseta caiu muito de qualidade quando passou a ser semanal. E assista “A Vida de Brian”, vale muito a pena.
      Abraço e valeu pelo comentário.

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  3. Renato (Renis) 27 agosto, 2009 / 2:50 pm

    Deve ser bem legal mesmo!!!

    Abraço

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    • Roberto Siqueira 27 agosto, 2009 / 6:58 pm

      Valeu pela visita ao blog e pelo comentário.
      Abraço Renis!

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