(Snow White and the Seven Dwarfs)
Filmes em Geral #47
Dirigido por David Hand.
Elenco: Adriana Caselotti, Harry Stockwell, Lucille La Verne, Moroni Olsen, Billy Gilbert, Pinto Colvig, Otis Harlan, Scotty Mattraw, Roy Atwell e Stuart Buchanan.
Roteiro: Dorothy Ann Blank, Richard Creedon, Merrill De Maris, Otto Englander, Earl Hurd, Dick Rickard, Ted Sears e Webb Smith, baseado em história de Jacob Ludwig Carl Grimm e Wilhelm Carl Grimm.
Produção: Walt Disney.
[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].
Como já abordei na semana especial “Inovação”, a história do cinema é marcada por diversos momentos importantes, com o lançamento de filmes que influenciaram muitos outros e colaboraram para a evolução da linguagem cinematográfica. E entre tantos filmes importantes que podem ser encaixados nesta categoria, um dos meus favoritos é “Branca de Neve e os Sete Anões”, o primeiro longa-metragem de animação da história, responsável por esta técnica tão querida, que nos delicia todos os anos com lançamentos de ótima qualidade. Se hoje podemos assistir obras-primas como “Wall.E” ou “Toy Story” é porque um dia Walt Disney teve a coragem de desafiar o pessimismo geral e lançar um longa totalmente feito em animação.
Uma bela rainha (voz de Lucille La Verne) decide matar sua enteada quando descobre que ela é a mais linda de todas as mulheres. Mas o carrasco (voz de Stuart Buchanan) escolhido para executá-la desiste da idéia e permite que ela fuja. A jovem, chamada Branca de Neve (voz de Adriana Caselotti), encontra abrigo numa cabana, onde vivem sete anões que trabalham numa mina. Mas a rainha descobre seu paradeiro, se transforma numa bruxa e vai atrás dela, numa última tentativa de concretizar seu plano e se tornar a mais bela de todas as mulheres.
Contrariando a crença da época de que era impossível realizar um longa-metragem totalmente feito em animação, “Branca de Neve e os Sete Anões” foi um enorme sucesso de crítica e público e alavancou muitos dos projetos seguintes dos estúdios Walt Disney. Aliás, o longa fez mais do que isso, lançando uma técnica que faz sucesso até hoje e que até mesmo é, erroneamente, confundida como um gênero. Por isso, é bom deixar claro: animação não é gênero, é técnica. Um filme de animação pode ser um drama, uma comédia, uma aventura, um romance, ou até mesmo tudo isto ao mesmo tempo. No caso de “Branca de Neve”, temos um conto de fadas clássico (baseado na história dos irmãos Grimm, do século XIX), responsável por estabelecer alguns clichês do gênero (gênero “contos de fadas”, que fique claro), como a introdução através das páginas de um livro, a rainha malvada, a bela princesa, o príncipe encantado e o final em que “todos viveram felizes para sempre”. Além disto, o longa estabeleceu a estrutura narrativa ideal para animações (rápida e objetiva), graças à montagem fluída e a curta duração, prendendo a atenção de uma platéia normalmente dominada por crianças. Finalmente, a narrativa estabelece com clareza quem é a grande vilã, fazendo o espectador torcer pela mocinha e sofrer junto com ela até o final.
Além da estrutura narrativa, “Branca de Neve” também representou o passo inicial das animações tecnicamente falando. Por isso, é normal que a qualidade das imagens (excelente para a época) seja inferior aos filmes seguintes, como “Pinóquio” ou “Bambi”. Ainda assim, vale destacar o belo trabalho dos animadores da Disney e do diretor David Hand, que cria cenas de grande beleza plástica, como a primeira aparição da casa dos anões, a marcha da volta pra casa e a obscura perseguição à bruxa na chuva, que contrasta com o visual colorido predominante até então. E mesmo com uma direção econômica sob o ponto de vista técnico, vale destacar alguns movimentos de câmera interessantes, como o travelling que sai de Branca de Neve e vai até a rainha enquanto o príncipe canta pra ela no jardim ou o zoom out que nos distancia de Branca de Neve enquanto ela varre a frente da casa dos anões. Escrito por oito pessoas, baseado na citada história dos irmãos Grimm, “Branca de Neve” foi responsável por algumas frases clássicas da história da animação, como o inesquecível “Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu?” da malvada rainha, além de mostrar coragem ao abordar sem floreios a inveja cruel da rainha e as conseqüências drásticas de sua maldade, o que pode impressionar as crianças. Aliás, é engraçado como a Disney, costumeiramente acusada de ser conservadora, demonstrava grande ousadia temática em seus primeiros anos, como podemos notar em “Pinóquio”, com os meninos fumando e jogando sinuca, e neste “Branca de Neve”, quando a rainha ordena a morte da enteada.
Estabelecendo o padrão Disney que duraria por muitas décadas, a narrativa é constantemente interrompida por canções, que felizmente sempre tem alguma função narrativa, como a famosa (e deliciosa) música cantada pelos anões no fim do dia de trabalho (“Eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou…”) ou quando eles são “obrigados” a lavar as mãos antes de comer. Além disso, a trilha sonora de Frank Churchill, Leigh Harline, Paul J. Smith e Larry Morey preenche grande parte da narrativa, alternando entre momentos melódicos e agitados, como quando a protagonista foge para a floresta, sob um visual sombrio, com árvores escuras que mais parecem monstros, morcegos e troncos que parecem jacarés. Este contraste entre momentos obscuros e alegres também reforça a qualidade do trabalho dos animadores. Repare, por exemplo, a iluminação perfeita dentro da casa dos anões, que muda quando a luz se apaga, além da movimentação das sombras e do reflexo da luz que é alterado conforme os personagens se movimentam na casa. E, assim como em “Bambi”, os animais que rodeiam Branca de Neve na floresta trazem vida ao plano e devolvem o clima leve à narrativa, principalmente quando ajudam à donzela, dividindo as tarefas durante a limpeza da casa.
Charmosa por fora e sem vida por dentro, a casa dos anões reflete a personalidade deles através da bagunça, ganhando vida após a limpeza – o que provoca a irritação de quase todos eles. Aliás, assim como seus nomes, os anões são personagens graciosos, que conquistam o espectador desde o momento em que entram em cena. Como não se divertir quando eles se organizam para expulsar o invasor, mandando Dunga (tremendo) para o quarto? E depois, quando ele se assusta com o “fantasma” e sai correndo, sendo confundido com o invasor e agredido por todos? Os sete anões são personagens tão marcantes que até mesmo quem nunca assistiu ao filme (ou leu o conto) provavelmente sabe seus nomes. Mestre, Feliz, Atchim, Zangado, Dunga, Soneca e Dengoso são realmente fascinantes. Com inteligência, o roteiro aproveita os curiosos nomes dos personagens para criar gags divertidas, especialmente com Atchim, Dengoso e Soneca. E até mesmo Zangado consegue nos divertir, mostrando que não é tão zangado assim quando ganha um beijo da princesa, que, com sua beleza, encanta a todos eles. Aliás, o primeiro contato entre Branca de Neve e os anões só acontece com 35 minutos de filme e, mesmo com tão pouco tempo de relacionamento, eles conseguem criar empatia e fazer com que o espectador acredite no sofrimento dos anões após a tragédia.
Mas nem só de personagens graciosos vive “Branca de Neve” e a rainha malvada é certamente uma vilã temível e um dos personagens marcantes da história das animações. Mesmo em sua forma mais bela, a rainha consegue intimidar o espectador, com seu olhar penetrante e sua voz firme. Após sua transformação numa bruxa, ela se torna ainda mais ameaçadora e, acompanhada de terríveis urubus, parte para visitar a donzela e oferecer-lhe a maçã (sempre a maçã!) envenenada. E nem mesmo o aviso dos pássaros evita que Branca de Neve morda a maça e desmaie, numa seqüência sombria, reforçada pela chuva e pela noite, que cria a atmosfera perfeita para a morte da donzela. Desta forma, quando os anões chegam ao local e choram pela protagonista, nós também sofremos por ela e acreditamos na tragédia, sob influência do peso dramático da cena e do visual obscuro que predomina na tela. E a imagem de Branca de Neve sendo velada reforça a coragem da narrativa, com alguns momentos pesados dramaticamente para sua época e, principalmente, para o seu público alvo. Só que, felizmente, este é um conto de fadas (talvez o maior deles) e o tão aguardado príncipe encantado (voz de Harry Stockwell) aparece para beijar a donzela e devolvê-la à vida, ao mesmo tempo em que o sol volta a brilhar e nos leva ao clássico final em que “todos viveram felizes para sempre”.
E assim como os personagens, os fãs de cinema também viveram felizes para sempre graças a “Branca de Neve e os Sete Anões”, o filme responsável pelo surgimento de uma técnica tão bela, que nos brindou com inúmeros filmes marcantes desde então.
acho um filme lindo demais!-só quis dizer! 28 de outubro de 2012 ás 22;21horas flavia c da silva de bom jardim
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Um belo filme Flávia.
Abraço e obrigado pelo comentário.
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Eu sofri Buli por que eu gostava desse filme
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Sério? Qual o problema do filme?
Abraço.
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Meu , tem queresponder , essa parada é de menina , mas é um filme legal
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Não é um filme de menina, é um marco do cinema.
Abraço.
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Beto, uma dúvida. o IMdB há registro de SEIS (!!) diretores para Branca de Neve. Você escolheu Hand aleatoriamente entre eles para colocar aqui ou o colocou porque ele foi o principal (ou mais importante) dos diretores?
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Achilles,
Realmente foram vários diretores, divididos entre os diretores de seqüências (sequence director) e o David Hand, que era o principal diretor (supervising director), por isso o escolhi. Mas você está certo, são 6 diretores no total.
Um grande abraço.
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