Expressionismo Alemão

Quadro "O grito", de 1893 - Edvard Munch

Escrever um texto que explique o que foi o expressionismo alemão e qual foi a sua importância para a história do cinema seria pretensioso demais de minha parte e demandaria um tempo (e estudo) considerável. Ao invés disso, prefiro indicar bons textos já existentes na internet de pessoas que trabalharam sério no tema, transcrevendo parte de seu conteúdo sem jamais deixar de dar o crédito e colocar o link para a matéria original.

Em primeiro lugar, é preciso definir o que é o expressionismo alemão. Segundo a Wikipédia (clique aqui para ver o texto original completo), “o expressionismo alemão foi um estilo cinematográfico que se deu nos anos 20 e se caracterizou pela distorção de cenários e personagens, através da maquiagem, dos recursos de fotografia e de outros mecanismos, com o objetivo de expressar a maneira como os realizadores viam o mundo”. Eu não poderia descrever melhor. Através da distorção de imagens e cenários, de uma fotografia sombria e de uma direção de arte impecável, o expressionismo alemão buscava externar os sentimentos dos personagens e realizadores, narrando estórias do cotidiano urbano, sempre com um tom bastante sombrio. Era a expressão visual dos sentimentos do artista e, no caso do cinema, também dos personagens da narrativa. Por exemplo, num filme do expressionismo uma casa jamais seria uma casa tradicional, com linhas horizontais e verticais e janelas simétricas. Para o expressionista (e para o cinema expressionista), uma casa deveria representar o estado de espírito de seu morador (ou a visão de seu diretor), tendo traços irregulares, janelas de diferentes tamanhos e formas, etc.

Os grandes diretores: Robert Wiene
Os grandes diretores: F. W. Murnau
Os grandes diretores: Fritz Lang

Ainda vagando pela internet é possível encontrar textos mais ricos sobre o tema, como o completo estudo de Michel Silva, graduado em História na Universidade do Estado de Santa Catarina, que você pode conferir na íntegra clicando aqui. Destaque para o seguinte trecho em que Michel cita o escritor Kasimir Edschmid: “Para Edschmid, há uma realidade, um mundo exterior, do qual o artista faz parte e pelo qual é influenciado. Esta realidade, que é pelo artista percebida através dos sentidos, causa o que iremos chamar de “impressões” (sentimentos, estados de espírito, reflexões, idéias, etc.), sendo a arte expressionista a expressão dessas impressões, a vazão em forma de arte da subjetividade do artista”. Perfeito. Falando especificamente do cinema, destaco o trecho em que Michel diz que “Nos filmes produzidos após Caligari [‘O Gabinete do Dr. Caligari’, de Robert Wiene] houve uma integração bastante especial entre os efeitos de luz, os atores, a decoração, a maquiagem, os vestuários, os cenários, formando um conjunto plástico bastante exagerado. Essa estilização de todos os elementos causava a impressão de que uma pintura expressionista havia adquirido vida e começado a se mover, efeito este que foi chamada de caligarismo. O filme de Wiene trazia uma história de horror vivida por personagens sem qualquer ligação com a realidade e cujos sentimentos apareciam traduzidos com um drama plástico repleto de simbolismos” e posteriormente, quando Michel explica que “Cria-se, no filme, uma atmosfera de pesadelo, que teria sido impossível criar sem um suporte da concepção estética expressionista. As linhas e planos tortuosos, oblíquos e abruptos do cenário provocam no público um efeito muito diferente do que teria se conseguido por uma composição visual harmônica. Os planos são inclinados, janelas são mais largas na parte de cima do que na base. Todas essas imagens somadas representam um mundo interior, uma construção mental que nega a realidade objetiva”. Como podemos perceber, o cinema expressionista alemão refletia em imagens os sentimentos e a forma de ver o mundo de seus realizadores.

"O Gabinete do Dr. Caligari", 1919 - Direção: Robert Wiene

Chegamos então aos filmes. E novamente a Wikipedia descreve muito bem o início do expressionismo alemão no cinema, dizendo que “com ‘O gabinete do Dr. Caligari’ (1919), de Robert Wiene, e ‘Nosferatu, uma sinfonia de horrores’ (1922), de Friedrich Wilhelm Murnau, uma nova forma de cinema surgia, com temas sombrios de suspense policial e mistério em um ambiente urbano, personagens bizarros e assustadores, uma distorção da imagem devido a uma excessiva dramaticidade tanto na atuação quanto na maquiagem e cenografia fantástica de recriação do imaginário humano”. Foram produzidos então diversos filmes que, em maior ou menor escala, eram influenciados pelas características do expressionismo como forma de arte. Entre seus principais filmes, além dos já citados “O gabinete do Dr. Caligari” e “Nosferatu, uma sinfonia de horrores”, vale destacar também “A Última Gargalhada”, a obra-prima “Metropolis” e “M – O Vampiro de Dusseldorf”.

"Nosferatu", 1922 - Direção: F. W. Murnau
"A Última Gargalhada", 1924 - Direção: F. W. Murnau
A obra-prima "Metropolis", 1927 - Direção: Fritz Lang

Finalmente, é importante dizer que o expressionismo alemão teve forte influência em Hollywood, tanto na temática quanto na linguagem, algo notável principalmente nos filmes noir. Esta influência foi reforçada pelo fato de muitos diretores alemães da época, como o mestre Fritz Lang, terem migrado para Hollywood e feito filmes por lá. Certamente, entre todas as artes, o cinema é a forma mais lembrada do expressionismo alemão.

PS: Gostaria de agradecer ao Michel Silva pela gentileza de ceder o texto e informar aos leitores que o Michel lançou um livro, chamado “Cinema, História e Política” (para ver a resenha, clique aqui), onde é possível encontrar o texto sobre o expressionismo e outros textos relacionados ao cinema.

 
 
 
 

"M - O Vampiro de Dusseldorf", 1931 - Direção: Fritz Lang

Texto publicado em 01 de Agosto de 2010 por Roberto Siqueira

 

 

5 comentários sobre “Expressionismo Alemão

  1. Davi Cardoso 24 outubro, 2015 / 10:05 pm

    Parabéns Roberto pelo site. É com prazer que hoje admiro muito o cinema expressionismo alemão e tudo isso graças ao seu site onde tive contato com tais obras. Quando quero saber sobre algum filme de um ponto de vista diferente corro para cá e leio tuas análise.

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    • Roberto Siqueira 2 novembro, 2015 / 4:49 pm

      Muito obrigado pelos elogios Davi.

      Fico muito feliz ao saber que estou ajudando de alguma forma.

      Um grande abraço e volte sempre.

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  2. Pedro Henrique 4 janeiro, 2011 / 2:06 pm

    Olá Roberto, conheci seu site esses dias, vou tentar acompanhar desde o início, acho que vai ser uma longa e proveitosa caminhada, hehe.
    No fim do ano passado fiz em conjunto com uma colega um artigo sobre o expressionismo alemão, nada muito aprofundado nem complexo, mas creio eu que interessante. Se voce quiser posso disponibilizar para voce, me envie um email com o seu endereço eletrônico.
    No mais é isto, muito interessante seu texto sobre o movimento cinematográfico na Alemanha, a ideia principal é exatamente o que você diz, retratar o interior sombrio dos diretores.
    Até mais!

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    • Roberto Siqueira 5 janeiro, 2011 / 9:46 pm

      Olá Pedro, que legal que gostou. Espero que a “caminhada” pelo blog seja agradável.
      Pode mandar no cinemaedebate@hotmail.com que eu vou ler com todo prazer.
      Um grande abraço, seja bem vindo ao Cinema & Debate e volte sempre.

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