CONTATOS IMEDIATOS DO TERCEIRO GRAU (1977)

(Close Encounters of the Third Kind)

4 Estrelas 

Videoteca do Beto #168

Dirigido por Steven Spielberg.

Elenco: Richard Dreyfuss, Bob Balaban, Teri Garr, François Truffaut, Melinda Dillon, J. Patrick McNamara, Warren J. Kemmerling, Cary Guffey e Roberts Blossom.

Roteiro: Steven Spielberg.

Produção: Julia Phillips e Michael Phillips.

Contatos Imediatos do Terceiro Grau[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Após o sucesso avassalador de “Tubarão”, Steven Spielberg teria carta branca para tocar o projeto que quisesse. Não surpreende, portanto, que o próximo longa do diretor seja justamente aquele que marca sua primeira incursão num de seus gêneros favoritos. Contando novamente com Richard Dreyfuss no elenco e conseguindo ainda a participação de uma lenda do cinema francês (o diretor François Truffaut), Spielberg tinha tudo nas mãos para emplacar outro grande sucesso e, felizmente, ele não decepcionou. “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” é uma ficção científica cativante, que mantém seu encanto mesmo décadas após seu lançamento.

“Contatos Imediatos do Terceiro Grau” era um projeto tão pessoal que Spielberg não apenas dirigiu o filme como também se encarregou de escrever o roteiro, que tem início quando o tranquilo Roy (Dreyfuss) começa a ter visões de uma misteriosa montanha ao mesmo tempo em que presencia estranhas luzes cortarem o céu da pequena cidade em que vive no interior dos EUA. Obcecado pela estranha montanha, ele acaba se distanciando da família e, após ser abandonado, parte em busca de respostas. Em paralelo, o cientista Claude Lacombe (Truffaut) investiga a estranha aparição de um grupo de aviões desaparecidos há muitos anos, enquanto Jillian Guiler (Melinda Dillon) ganha destaque na mídia após afirmar que seu pequeno filho Barry (Cary Guffey) foi levado por uma nave espacial.

Com sua costumeira habilidade na construção de narrativas que misturam eventos grandiosos com dramas extremamente pessoais, Spielberg e seu montador Michael Kahn conduzem as três linhas narrativas de “Contatos Imediatos” num ritmo agradável, priorizando a trajetória de Roy sem jamais tornar os segmentos que acompanham Lacombe ou Jillian menos interessantes. Assim como ocorria em “Tubarão” (e, posteriormente, na maioria dos filmes de Spielberg), a ausência da figura paterna é um tema marcante, surgindo primeiro na casa do menino Barry, criado por uma mãe forte e solitária, e depois na própria trajetória de Roy, que larga mulher e filhos para ir atrás dos OVNI’s e acaba embarcando no disco voador com os extraterrestres. Apesar disto, este não será o tema central do longa, que concentra sua força nas imagens marcantes conseguidas com efeitos visuais extremamente eficientes e na sensação de encanto das pessoas diante do que veem – algo que o diretor faz questão de ressaltar em diversos momentos com planos que realçam o olhar de admiração dos personagens.

Efeitos visuais extremamente eficientesEncanto das pessoasOlhar de admiraçãoPara isto, Spielberg capricha na composição dos planos, como fica evidente desde o impressionante plano geral que mostra toda a cidade escurecendo após a queda da energia elétrica e, logicamente, no deslumbrante ato final. Além disso, o diretor usa sua câmera com habilidade para criar suspense, por exemplo, na cena em que a luz do farol de um carro atrás da caminhonete de Roy se movimenta para o lado quando este o ultrapassa e, minutos depois, outra luz também se movimenta, só que desta vez para cima, indicando para a plateia a presença de algo estranho. Repare ainda como o diretor sabe trabalhar muito bem a expectativa do espectador na cena em que acompanhamos os controladores de voo captando a presença dos OVNI’s e, especialmente, quando nos coloca dentro da casa junto com Barry e sua mãe, criando uma cena absolutamente tensa que culmina no impressionante plano em que ela sai correndo pra fora e vê as naves sumindo no horizonte distante com seu filho.

Cidade escurecendoCarro atrás da caminhonete de RoyDentro da casaObviamente, o diretor de fotografia Vilmos Zsigmond tem participação fundamental neste processo, trabalhando na maior parte do tempo com paletas claras e cenas diurnas que criam um contraste interessante com o espetacular visual do ato final, que se passa praticamente o tempo todo à noite, num cenário perfeito para o festival de cores e luzes que toma conta da tela após a chegada das espaçonaves. Quem também dá um show em “Contatos Imediatos” é o design de som, que se destaca logo de cara ao captar com precisão o barulho do vento e as vozes dos personagens na sequência que abre o longa no México. E finalmente, a trilha sonora do mestre John Williams é responsável por criar as cinco notas icônicas que estabelecem contato com os extraterrestres, além de servir também para aumentar a tensão em alguns momentos pontuais, como na chegada dos ET’s à casa de Barry.

Paletas clarasFestival de cores e luzesCinco notas icônicasEm outro momento bem conduzido por Spielberg, acompanhamos Roy conversando com a esposa por telefone e, no segundo plano, a imagem da montanha Devil’s Tower na televisão – e o próprio movimento de câmera que revela a montanha real é belíssimo. No entanto, “Contatos Imediatos” não se resume apenas ao apuro técnico, já que o diretor é competente também ao extrair boas atuações de praticamente todo o elenco, a começar pelo próprio Richard Dreyfuss, que demonstra a determinação do personagem através de suas expressões marcantes, evidenciando também o quanto sua vida foi afetada por aquele evento incomum – algo que sua esposa e seus filhos não demoram a perceber, o que os leva a deixar a casa (com razão) após um surto de loucura do pai. E se a esposa de Roy vivida por Teri Garr não ganha grande destaque, Melinda Dillon quase rouba a cena com seu desempenho envolvente na pele da desesperada mãe de Barry, comovendo pela maneira determinada com que parte em busca do filho.

Roy conversando com a esposa por telefoneExpressões marcantesDesesperada mãe de BarryApesar de serem impulsionados por motivações distintas (ela vai atrás do filho enquanto ele se distancia deles), Jillian e Roy compartilham a obstinação por algo que eles sequer têm certeza que vão conseguir encontrar, o que justifica a identificação dos personagens e, por consequência, conquista também a empatia da plateia. Assim como eles, nós não sabemos exatamente aonde a narrativa irá nos levar, mas aguardamos ansiosamente pelo contato que dá nome ao filme.

Inteligente, Spielberg constrói o clímax cuidadosamente, criando uma atmosfera perfeita e fazendo com que a plateia aguarde ansiosamente pelo contato com os extraterrestres através de planos belíssimos como aquele que mostra a montanha preparada para a chegada dos discos voadores. Quando o aguardado momento chega, o diretor segue uma linha diferente da maioria das obras relacionadas à invasão de alienígenas, nos apresentando seres pacíficos e interessados somente em comunicar-se com a raça humana. E isto acontece de maneira mágica, num espetáculo de luzes e sons que dificilmente é apagado da memória do espectador. Neste instante, os olhares fascinados dos personagens se confundem com os da própria plateia, maravilhada diante de tamanho espetáculo visual.

Montanha preparadaLuzes e sonsOlhares fascinadosConfirmando sua habilidade ímpar de construir narrativas absolutamente cativantes, Steven Spielberg se consolidava como um diretor com rara capacidade de agradar público e crítica, narrando histórias visualmente marcantes sem jamais deixar de se preocupar com o lado humano de seus personagens. Envolvente e espetaculoso, “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” é um trabalho memorável na carreira de Spielberg, o que não deixa de ser um feito, considerando a filmografia deste aclamado diretor.

Contatos Imediatos do Terceiro Grau foto 2Texto publicado em 14 de Maio de 2013 por Roberto Siqueira

4 comentários sobre “CONTATOS IMEDIATOS DO TERCEIRO GRAU (1977)

  1. Francisco 19 junho, 2013 / 1:52 am

    Concordo com tudo o que li neste seu excelente texto, roberto porque “Close encounters” é um filme muito especial pra mim, principalmente pelo fato de eu achar que foi a primeira vez em que o cinema tratou esse tema com todo o respeito e sensibilidade que ele merece… a segunda vez foi com “E.T.” (tinha que ser Spielberg de novo). Infelizmente (opinião minha) a maioria dos outros exemplares do gênero só conseguiram vulgarizar e banalizar a ufologia. Parabéns ao Spielberg e parabéns a vc e a todos que souberam valorizar esta obra de mestre. Abraços amigo!

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    • Roberto Siqueira 8 agosto, 2013 / 10:38 pm

      Muito obrigado pelo elogio e pelo comentário Francisco.
      O Spielberg tem talento mesmo de sobra pra abordar este tema.
      Forte abraço.

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