007 CONTRA O HOMEM COM A PISTOLA DE OURO (1974)

(The Man with the Golden Gun)

4 Estrelas 

Videoteca do Beto #199

Dirigido por Guy Hamilton.

Elenco: Roger Moore, Christopher Lee, Maud Adams, Britt Ekland, Richard Loo, Yiu Lam Chan, Hervé Villechaize, Lois Maxwell, Desmond Llewelyn, Clifton James, Bernard Lee, Marne Maitland  e Marc Lawrence.

Roteiro: Richard Maibaum e Tom Mankiewicz, baseado em romance de Ian Fleming.

Produção: Albert R. Broccoli e Harry Saltzman.

007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Após tropeçar em “Com 007 Viva e Deixe Morrer”, Guy Hamilton volta a boa forma neste interessante “007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro” que, mesmo com falhas, consegue resgatar a essência dos bons filmes da série graças a mescla mais equilibrada entre as boas cenas de ação e os momentos de humor, passando também pela narrativa coesa e por personagens mais carismáticos – entre eles, o ótimo vilão interpretado por Christopher Lee.

O roteiro escrito pelos experientes Richard Maibaum e Tom Mankiewicz inspirado em romance de Ian Fleming parte de uma premissa muito interessante ao trazer o icônico James Bond (Roger Moore) recebendo uma curiosa ameaça de morte através da inscrição “007” numa bala de ouro enviada ao Serviço Secreto Britânico. Após M (Bernard Lee) sugerir que ele peça demissão ou tire férias, Bonde decide investigar o caso e acaba descobrindo a ligação entre o sequestro de um cientista que descobriu como captar energia solar e o assassino profissional que o ameaçou conhecido como Francisco Scaramanga (Christopher Lee).

Ao colocar Bond sob a mira de um perigoso assassino, “007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro” faz uma interessante inversão de papeis que torna sua narrativa mais envolvente, num verdadeiro jogo de gato e rato repleto de momentos inspirados, como quando Bond utiliza uma estranha anomalia para se passar por Scaramanga e, assim, conseguir conversar com o poderoso Hai Fat (Richard Loo). Desta forma, passamos a temer constantemente pelo destino do agente secreto, especialmente quando percebemos que Scaramanga é um vilão bem mais ameaçador do que os que estamos acostumados na série.

Explorando desta vez o lado exótico das locações em Macau e Hong Kong, Guy Hamilton e seus diretores de fotografia Ted Moore e Oswald Morris criam um primeiro ato bastante sombrio, repleto de cenas noturnas e ambientes fechados que ajudam a criar uma atmosfera mais séria, ilustrando bem a ameaça ao protagonista. Além disso, Hamilton utiliza a câmera de maneira inteligente para dar dicas essenciais ao espectador, seja na maneira quase idêntica que filma o segmento de abertura e o ato final, chamando nossa atenção para qualquer detalhe que não seja similar, seja ao realçar o navio Queen Elizabeth encalhado no porto de Hong Kong através de planos gerais e de uma narração diegética, indicando um local que seria importante para a narrativa no futuro, no qual um diálogo expositivo entre Bond e seus companheiros de Serviço Secreto basicamente explica a trama e as motivações dos personagens para a plateia.

Intercalando entre as ações de James Bond e Scaramanga, os montadores Raymond Poulton e John Shirley são responsáveis também por imprimir um ritmo dinâmico nas cenas de ação (que abordarei em instantes), assim como é importante também o design de som, ainda que este só se destaque mesmo no ato final, ao demonstrar a potencia das explosões que destroem o esconderijo de Scaramanga e o impacto delas na ilha. Compondo uma trilha sonora repleta de toques orientais, John Barry volta à franquia sem grande destaque, economizando também na utilização do tema clássico de 007, que, como de costume, surge somente em momentos pontuais.

Adotando um tom mais cômico que o de costume, Guy Hamilton consegue um balanço eficiente que mantém o espectador atento sem jamais permitir que ele relaxe, ainda que a divertida participação do xerife J. W. Pepper (Clifton James) de “Com 007 Viva e Deixe Morrer” renda boas gargalhadas. Mas estes momentos não tiram o foco principal da narrativa nem quebram a tensão gerada sempre que Scaramanga entra em cena. Mas e quanto a James Bond?

Estranha anomaliaNavio Queen ElizabethBond mais virilLogo na primeira luta em Istambul, Roger Moore já demonstra evolução no que tange aos aspectos físicos e parece muito mais convincente do que no longa anterior, o que confere uma nova dimensão para o personagem. Só que na busca por soar mais viril, o ator parece passar da conta em certos instantes, como quando ameaça o fabricante de armas Lazar (Marne Maitland) para obter informações, assim como faz com a Srta. Anders (Maud Adams, que voltaria em “007 Contra Octopussy”), chegando a agir violentamente no segundo caso, numa abordagem que foge do estereótipo de herói tradicional, mas que por outro lado nos faz questionar onde foi parar o 007 que utilizava seu charme a favor nestes momentos. Por outro lado, esta agressividade também rende bons momentos, como quando Bond acerta um chute num adversário ainda nos cumprimentos pré-luta de um torneio, quebrando a regra de maneira surpreendente e divertida.

Quem também quebra regras é o próprio longa ao trazer uma moça completamente nua numa piscina enquanto fala com Bond. Ainda que a água dificulte a visão, é a primeira vez que vemos uma mulher completamente nua na série. Aliás, é difícil dizer qual é a mais bela entre as bondgirls de “007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro”. Enquanto a Srta. Anders de Maud Adams revela uma vulnerabilidade tocante sendo facilmente descartada pelo vilão, a agente secreta Goodnight interpretada por Britt Ekland nos diverte com suas trapalhadas que, por outro lado, enfraquecem profissionalmente a personagem.

Quem nunca perde força é o vilão, um homem inteligente e cruel, capaz de matar o poderoso Hai Fat a sangue frio e, no segundo seguinte, assumir o comando de seu império. Discreto e realmente perigoso, Christopher Lee compõe Scaramanga como um homem fino que esconde suas cruéis ambições sob aquela carcaça de elegância, chegando a soar carismático em diversos momentos, especialmente nos diálogos com Bond em que demonstra sua inteligência. Observe, por exemplo, sua clareza e fluência enquanto apresenta o inventivo sistema de captação de energia solar – que, aliás, também impressiona pela criatividade das instalações concebidas pelo design de produção de Peter Murton. Na pele de um ator talentoso como Lee, James Bond encontra um antagonista à altura.

Vulnerabilidade tocanteAtrapalhada GoodnightScaramanga inteligente e cruelCom um vilão respeitável e Roger Moore claramente mais a vontade no papel de 007, Hamilton concentra esforços no desenvolvimento de cenas de ação empolgantes, como a excelente perseguição de carros que culmina na espetacular travessia de Bond de um lado para o outro do rio antes de chegar ao local onde Scaramanga fugiria em seu criativo carro voador. No entanto, o destaque fica mesmo para o duelo final que remete a cena de abertura dentro dos ambientes preparados por Scaramanga, numa rima narrativa elegante que funciona também dramaticamente justamente porque o espectador sabe exatamente os perigos que aguardam James Bond, enquanto o próprio personagem ainda terá que descobri-los. Após uma tensa perseguição, chegamos ao momento crucial em que Hamilton enquadra o suposto boneco de 007 por trás, realçando os dedos inteiros em sua mão e anunciando que aquele é o verdadeiro James Bond, numa solução eficiente que conclui muito bem o duelo ao som do tiro fatal do agente secreto que finalmente vence Scaramanga.

O ato final ainda nos traz um último instante de alta tensão enquanto Bond tenta retirar o Solex, com a montagem intercalando entre sua ação, as trapalhadas de Goodnight e a nuvem que encobre o sol momentaneamente. Já o ataque final do anão Nick Nack (Hervé Villechaize) poderia tranquilamente ser descartado, pois não agrega em nada à narrativa.

Ao contrário de Nick Nack, “007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro” agrega bastante à filmografia de James Bond, com sua narrativa envolvente e seu marcante vilão. A música tema pouco inspirada e recheada com uma deselegante conotação sexual a gente até perdoa.

007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro foto 2Texto publicado em 22 de Maio de 2014 por Roberto Siqueira

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