MONTY PYTHON – O SENTIDO DA VIDA (1983)

(The Meaning of Life)

5 Estrelas 

Filmes em Geral #120

Dirigido por Terry Jones e Terry Gilliam.

Elenco: Graham Chapman, John Cleese, Eric Idle, Terry Gilliam, Michael Palin e Terry Jones.

Roteiro: Graham Chapman, John Cleese, Terry Gilliam, Eric Idle e Terry Jones.

Produção: John Goldstone.

Monty Python - O Sentido da Vida[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Após realizarem dois dos mais engraçados e influentes filmes de comédia da história, os britânicos do Monty Python decidiram tentar o impossível e, à sua maneira muito peculiar, explicar o sentido da vida, misturando muito bom humor com críticas ácidas a diversos setores da sociedade britânica. Contando com o talento e a criatividade ímpar de seus integrantes, o grupo realizou mais um bom trabalho, ainda que as gargalhadas conquistadas com tanta frequência nos longas anteriores não surjam com a mesma intensidade aqui. Por outro lado, desta vez o espectador deixará o filme não apenas com um largo sorriso no rosto, mas também com interessantes reflexões.

Dividindo a narrativa em vários capítulos que funcionam como esquetes, o roteiro escrito por cinco dos integrantes clássicos do Monty Python nos leva por várias fases da vida, começando no nascimento e obviamente terminando na morte, enquanto tenta neste processo descobrir algum sentido para tudo que vivemos. Assim, se por um lado a quebra em diversos capítulos pode prejudicar um pouco o ritmo da narrativa, por outro o espectador sabe que se por acaso algum segmento não lhe agradar, o próximo pode trazê-lo de volta ao filme, o que mantém a nossa expectativa constantemente.

Menos engraçado e mais cerebral que os longas anteriores, “O Sentido da Vida” dispara críticas ácidas contra a falta de humanidade de alguns partos e hospitais contemporâneos, num esquete rápido e eficiente. Critica também a cegueira imposta pela igreja na sociedade, desta vez através de uma sequência hilária que começa na casa de um casal católico lotada de crianças e termina na sensacional música “Todo esperma é sagrado”, entoada pelas crianças como se fosse um hino. Há também uma ácida crítica a imbecilidade dos conflitos bélicos, primeiro num segmento divertido em que os soldados presenteiam seu comandante e depois durante a Guerra Zulu, duas sátiras que apostam no exagero para expor os absurdos da guerra.

Mais uma vez comprovando ser o mais engraçado dentre todo o elenco, Michael Palin nos diverte quase sempre que entra em cena, seja como o pai católico ou como o divertido Sargento do exército. Por sua vez, Graham Chapman, John Cleese, Eric Idle, Terry Gilliam e Terry Jones também se divertem em diversos papeis, abusando do humor sutil e inteligente tão característico dos britânicos em atuações bastante niveladas e consistentes.

Todo esperma é sagradoDivertido Sargento do exércitoAnimações datadasTerry Jones e Terry Gilliam, aliás, também mantém características marcantes do grupo na condução da narrativa, quebrando convenções e abusando do visual propositalmente “tosco” que marca a filmografia do Monty Python, seja através das animações datadas, seja através de sequências que escancaram o baixo orçamento do longa. Quase anárquicos, os diretores não hesitam, por exemplo, em utilizar o curta-metragem que abre o filme para interromper a narrativa em determinado instante, pedindo desculpas pela interrupção minutos depois, numa escolha criativa e divertida.

O curta que abre “O Sentido da Vida”, aliás, também destila seu veneno, desta vez utilizando a metáfora para criticar o feroz sistema financeiro e suas selvagens especulações através da revolta dos funcionários da Crimson Permanent Assurance, que navegam até Wall Street e invadem os prédios lotados de Yuppies. A crítica à ganância do capitalismo não poderia passar em branco na filmografia do Monty Python.

Em “O Sentido da Vida”, os diretores se mostram inclusive mais inventivos visualmente, como no plano em que o casal de protestantes fala dos católicos (num diálogo hilário, aliás) enquanto dezenas de crianças saem em fila indiana da casa ao fundo ou na engraçada aula de educação sexual, em que a composição do plano nos permite ver a reação dos alunos enquanto o professor ensina na prática como ter uma relação sexual. Finalmente, temos até mesmo um interessante plano-sequência que nos permite acompanhar o garçom Gaston enquanto este fala sobre as coisas importantes em sua vida, num instante, aliás, em que outra convenção narrativa é deixada de lado, já que o personagem fala diretamente com a câmera e quebra a quarta parede.

Navegam até Wall StreetEngraçada aula de educação sexualSistema de doação de órgãosEscorregando numa piada escatológica totalmente sem graça num restaurante, “O Sentido da Vida” provoca boas reflexões na excelente sequência musical que fala sobre o tamanho do universo e a nossa insignificância diante dele, logo após outra cena muito engraçada que aborda o sistema de doação de órgãos. Divertida também é a aparição do Senhor Morte, num esquete que brinca com a figura icônica normalmente associada à morte ao mesmo tempo em que nos leva ao encerramento da narrativa.

Após tudo que vimos, a pergunta é: temos a resposta para o sentido da vida? Não, não temos, mas talvez a vida ganhe mais sentido quando buscamos pensar nela de maneira bem humorada e criativa. O bom humor é uma excelente válvula para expor os nossos problemas e nos fazer refletir sobre eles. É isto que o Monty Python sempre buscou fazer.

Monty Python - O Sentido da Vida foto 2Texto publicado em 06 de Dezembro de 2013 por Roberto Siqueira

4 comentários sobre “MONTY PYTHON – O SENTIDO DA VIDA (1983)

  1. Rafael 30 dezembro, 2018 / 10:29 pm

    Olá, boa a análise do filme! Simplesmente adoro Monty Python, os comparo muito com a companhia Os melhores do mundo. Ainda acho que Hermanoteu bebeu na fonte de Life of Brian. O sentido da vida, é uma obra-prima deles. Adoro a cena do nascimento em que há todo aquela valorização para os equipamentos do hospital, principalmente o aparelho que faz PiNg… o programa de humor dos anos 60 deles, era legal também. Acredito que essa seja a tal liberdade de expressão. Viva Monty Python!

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  2. Mauricio Lobato 19 janeiro, 2015 / 12:29 pm

    [comentário removido pelo conteúdo ofensivo]

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    • Roberto Siqueira 19 janeiro, 2015 / 12:59 pm

      Olá Mauricio,
      Talvez você não acompanhe meus textos ou esteja apenas se aventurando pelo site. Em primeiro lugar, quero avisar que seu comentário será moderado pelo conteúdo ofensivo. Mas, antes disso, quero te pedir que leia alguns dos textos do site que criticam o atual governo, incluindo aquele em que explico porque votei nulo no segundo turno das eleições.
      Isto não quer dizer que eu entre na onda de demonização do PT. O PT é um partido com muitos problemas como qualquer outro partido brasileiro. Só está mais na vitrine e por isso chama mais a atenção, mas não faz nada que PSDB, PMDB e outros não façam.
      Gosto das ideias de esquerda sim, mas sou adepto da social democracia que funciona tão bem na Europa e não de ideias radicais como em países comunistas. Me identifico com o estilo de vida alemão, sueco, norueguês, etc, muito mais do que com o estilo neoliberal norte-americano, por exemplo. E isto nada tem a ver com a política adotada pelo PT no Brasil, por exemplo, apesar de eu gostar de políticas de assistência social, como também já expliquei algumas vezes.
      Se quiser debater política de verdade, sem se prender a dogmas e sem partir para ofensas, fique a vontade. Mas se voltar a usar palavras ofensivas como fez acima, não apenas moderarei o comentário como bloquearei seu IP, ok?
      Um abraço.

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