007 O MUNDO NÃO É O BASTANTE (1999)

(The World is not enough)

3 Estrelas 

Videoteca do Beto #209

Dirigido por Michael Apted.

Elenco: Pierce Brosnan, Sophie Marceau, Robert Carlyle, Denise Richards, Robbie Coltrane, Judi Dench, Desmond Llewelyn, John Cleese, Maria Grazia Cucinotta, Samantha Bond, Michael Kitchen, Colin Salmon e Ulrich Thomsen.

Roteiro: Neal Purvis, Robert Wade e Bruce Feirstein, com base nos personagens criados por Ian Fleming.

Produção: Michael G. Wilson e Barbara Broccoli.

007 O Mundo não é o bastante[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Se por um lado as cenas de ação não garantem o sucesso de um filme de James Bond, por outro a falta delas normalmente é sentida pelos fãs, ansiosos pelas sequências mirabolantes em que o agente secreto se livrará do perigo das mais diferentes e originais maneiras imagináveis. No entanto, uma boa narrativa e, especialmente, bons antagonistas costumam saciar parte desta ausência e, felizmente, este é o caso de “007 O Mundo não é o bastante”, longa dirigido por Michal Apted que, se não acerta na condução das sequências, digamos, mais agitadas, ao menos desenvolve bem uma das personagens chave da narrativa.

Escrito por Neal Purvis, Robert Wade e Bruce Feirstein com base nos personagens criados por Ian Fleming, “007 O Mundo não é o bastante” traz James Bond (Pierce Brosnan) incumbido de proteger Elektra King (Sophie Marceau), a herdeira de um bilionário assassinado em plena sede da MI6 que tinha sido sequestrada pelo terrorista Renard (Robert Carlyle), um homem atingido por uma bala de outro agente britânico e que, lentamente, perdeu alguns de seus sentidos – entre eles, a capacidade de sentir dor.

Repleta de adrenalina, a sequência de abertura de “007 O Mundo não é o bastante” dá a falsa sensação de que o longa repetirá o ritmo empolgante de seu antecessor, trazendo Bond fugindo de Bilbao com uma maleta cheia de dinheiro, a explosão de parte do centro da MI6 que resulta na morte de Sir Robert King (David Calder) e a perseguição de lancha pelo rio Tâmisa que culmina no suicídio da atiradora enviada por Renard do alto de um balão. No entanto, estes momentos não surgem com tanta frequência ao longo da narrativa e, quando surgem, nem sempre são conduzidos com destreza pelo diretor. O ataque ao galpão de Valentin Zukovsky (Robbie Coltrane) no mar Cáspio, por exemplo, é uma sequência bastante agitada, mas um pouco confusa, graças à montagem excessivamente dinâmica de Jim Clark e a fotografia às vezes sombria de mais de Adrian Biddle, que não nos permite enxergar com clareza o que está acontecendo. Da mesma forma, a sequência final dentro de um submarino jamais consegue nos empolgar e, pra piorar, ainda enfraquece o vilão Renard, que é facilmente derrotado por Bond.

Ainda assim, merecem destaque as belas imagens que surgem na intensa perseguição em que Bond e Elektra fogem esquiando e, principalmente, a cena em que Bond e Christmas Jones (Denise Richards) tentam desarmar uma bomba dentro de um oleoduto, certamente uma das mais tensas do filme. Embalando estes escassos momentos de tensão, a trilha sonora de David Arnold utiliza com mais frequência o tema clássico de 007, incluindo também as tradicionais variações da música tema – a interessante “The World is not enough”, do grupo Garbage.

Perseguição de lancha pelo rio TâmisaAtaque ao galpão de Valentin ZukovskyBond e Christmas Jones tentam desarmar uma bombaComo já mencionado, Robbie Coltrane dá as caras novamente como o divertido ex-agente da KGB Valentin Zukovsky, o “amigo” russo de James Bond que tem envolvimento com os negócios milionários da família King. Já Samantha Bond mantém o charme e o sarcasmo de Moneypenny, a sempre simpática secretária que nunca concretiza o romance com Bond e que, desta vez, tem uma rápida crise de ciúmes diante da médica dele. Escolhido para ser o substituto de “Q”, John Cleese encarna “R” com o mesmo sarcasmo de seu antecessor, numa escolha que me deixa feliz por gostar de Cleese, mas triste pela despedida do ótimo Desmond Llewelyn. Enquanto isso, Judi Dench ganha mais espaço para demonstrar seu talento como “M”, ao passo que Denise Richards se limita ao papel de parceira de Bond sem grande destaque na pele de Christmas Jones. E finalmente, Robert Carlyle até soa ameaçador inicialmente, mas Renard é suplantado por Elektra ao longo da narrativa e perde o posto de vilão mais interessante do longa.

Acompanhada pelo poético som de gaitas de fole em sua primeira aparição (referencia à sua participação em “Coração Valente”?), Sophie Marceau compõe uma Elektra frágil e indefesa que, ao mesmo tempo, exala charme e sensualidade, chamando imediatamente a atenção de Bond. No entanto, a boa atuação de Marceau não é suficiente para disfarçar a abordagem nada sutil do diretor Michal Apted, que parece gritar em diversos momentos que ela esconde algo, tornando perceptível para o espectador mais atento desde o início que Elektra está envolvida na morte do pai. Assim, logo no primeiro encontro entre Bond e Renard durante o roubo de uma bomba, o terrorista dá a dica daquilo que o espectador já desconfiava e escancara que Elektra não é tão inocente assim.

Por outro lado, este problema não diminui a complexidade da personagem, uma vítima da síndrome de Estocolmo que, apaixonada pelo sequestrador, enxerga nele também a oportunidade de recuperar o império da mãe que fora parar nas mãos de seu pai. Esta ambição, no entanto, esconde a fragilidade de uma mulher que enxerga sua sensualidade como a única arma que tem para se defender, como fica claro no envolvente diálogo que ela trava com Bond antes de morrer, um breve momento que diz muito sobre a personagem. Ela de fato acreditava que seu poder de sedução poderia salvá-la em qualquer situação, o que chega a ser melancólico.

Renard até soa ameaçador inicialmenteElektra frágil e indefesaIntensidade e carismaMais uma vez comprovando que pode tranquilamente sustentar o papel, Pierce Brosnan vive James Bond com a mesma intensidade e carisma dos filmes anteriores, destacando-se em momentos especiais como o confronto verbal entre Bond e “M” em que desafia sua liderança imediata e, como de costume, saindo-se muito bem nas cenas que exigem esforço físico. Além disso, o ator demonstra bem a determinação do agente em cumprir seu dever ao atirar a queima roupa contra Elektra na frente de “M”, num momento marcante que comprova a frieza do personagem.

Com uma trama interessante, “007 O Mundo não é o bastante” tem bons momentos, apoiando-se mais na narrativa e na qualidade de alguns de seus personagens do que na própria ação para funcionar. E funciona bem, ainda que não ganhe grande destaque na filmografia do agente mais famoso do planeta.

007 O Mundo não é o bastante foto 2Texto publicado em 05 de Junho de 2014 por Roberto Siqueira

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