COM 007 VIVA E DEIXE MORRER (1973)

(Live and Let Die)

2 Estrelas 

Videoteca do Beto #198

Dirigido por Guy Hamilton.

Elenco: Roger Moore, Yaphet Kotto, Jane Seymour, Clifton James, Julius Harris, Geoffrey Holder, David Hedison, Gloria Hendry, Bernard Lee e Lois Maxwell.

Roteiro: Tom Mankiewicz, baseado em romance de Ian Fleming.

Produção: Albert R. Broccoli e Harry Saltzman.

Com 007 Viva e deixe morrer[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Primeiro trabalho de Roger Moore na pele de 007, “Com 007 Viva e deixe morrer” representa uma nova queda de qualidade na série, confirmando-se também como o primeiro escorregão de Guy Hamilton na direção de um filme de James Bond após realizar o excelente “007 Contra Goldfinger” e o mediano “007 Os Diamantes são eternos”. Ressentindo-se de bons momentos de ação e da falta de carisma de alguns personagens, o longa até diverte em alguns momentos, mas está longe de corresponder a expectativa que cerca um filme de James Bond.

Escrito pelo desta vez solitário Tom Mankiewicz com base em romance de Ian Fleming, “Com 007 Viva e deixe morrer” tem início quando três agentes do governo britânico são mortos durante uma investigação, deixando o caso sob a responsabilidade de James Bond (Roger Moore). Após rastrear o tráfico de drogas da África até a Europa, Bond chega aos EUA e acaba descobrindo o envolvimento de um diplomata internacional (Yaphet Kotto).

O primeiro problema de “Com 007 Viva e deixe morrer” está na falta de inspiração do roteiro, ainda que seja criativa a maneira como os agentes são assassinados, especialmente aquela que envolve um funeral. Não que o roteiro seja o ponto forte dos filmes da franquia, mas aqui a narrativa parece atirar para todos os lados, passando por tráfico de drogas, política internacional e envolvendo até mesmo esoterismo. Além disso, é bastante incômoda a maneira como a maioria dos negros é retratada. Ainda que alguns deles ajudem Bond, como o agente da CIA e o piloto do barco, na maior parte do tempo os negros são mostrados como selvagens e criminosos, numa abordagem pateticamente racista.

Continuando o giro pelo mundo, Nova York e a ilha de San Monique são as locações da vez. Enquanto a primeira é fotografada de maneira naturalista por Ted Moore, a segunda ganha um visual extravagante que, reforçado pelas vestimentas nativas desenvolvidas pela figurinista Julie Harris, torna as sessões ocultistas ocorridas ali ainda mais impactantes, especialmente no quase todo noturno terceiro ato em que túmulos e caveiras ganham destaque. Da mesma forma, os tons em vermelho e o fogo que compõe a sala de Kananga em Nova York concebida pelo design de produção de Syd Cain criam uma atmosfera negativa que reflete bem a ameaça aos protagonistas.

Negros são mostrados como selvagens e criminososSessões ocultistasSala de KanangaComposta pela primeira vez sem a presença de John Barry desde “007 Contra o Satânico Dr. No”, a trilha sonora de George Martin segue a mesma linha ao utilizar somente pontualmente o tema clássico composto por Monty Norman, compondo ainda boas variações da música tema “Live and Let Die”, que se tornou um clássico de Paul McCartney e uma das mais famosas já utilizadas na franquia.

Mas se tecnicamente o longa segue razoavelmente o padrão da série, a grande expectativa ficava mesmo por conta do substituto de Sean Connery após sua saída definitiva. Mais debochado e menos carismático, Roger Moore demonstrava neste que seria o primeiro de seus sete trabalhos como James Bond que tinha porte para encarnar o personagem, ainda que lhe faltasse o charme natural de Connery e, principalmente, a leveza nas sequências que exigem esforço físico, o que faz as lutas corporais soarem pouco convincentes. Por outro lado, Moore se sai bem nos momentos em que Bond é irônico, mantendo uma característica tipicamente britânica e marcante do personagem com precisão, como na previsível e ainda assim eficiente brincadeira que faz com as cartas “Lovers”.

Já Yaphet Kotto divide sua atuação em dois segmentos bastante distintos. Enquanto encarna Mr. Ben, o ator surge bastante caricato, numa atuação exagerada que fica ainda pior graças à maquiagem inverossímil que, de quebra, ainda entrega de bandeja uma revelação que teoricamente deveria ser bombástica. Já na pele de Kananga o ator se sai bem melhor, compondo um personagem ameaçador somente através da forma como fala com Solitaire, a garota esotérica vivida por Jane Seymour.

Mais debochado e menos carismáticoPersonagem ameaçadorSolitaire, a garota esotéricaSorrindo de maneira sutil ao ser cortejada por Bond já na ilha, Solitaire não esconde sua atração pelo agente e se torna mais uma bondgirl, acompanhando 007 em sua aventura pela ilha. Já Rosie Carver, a primeira bondgirl negra da história que ganha vida na pele de Gloria Hendry, utiliza a famosa queda do agente por mulheres para atraí-lo à ilha, mas infelizmente a personagem é praticamente arruinada pela atuação bastante exagerada da atriz.

Não bastassem as atuações comprometedoras, “Com 007 Viva e deixe morrer” falha num ponto crucial em qualquer filme do gênero, que é a falta de inspiração e inventividade de suas cenas de ação. Repare, por exemplo, a sequência em que Bond é perseguido na ilha dirigindo um ônibus, conduzida de maneira burocrática e sem nenhum momento de grande emoção. Esta falta de cenas que prendam a atenção do espectador é determinante para o fracasso da narrativa.

Ao menos, a cena em que Kananga interroga Bond e Solitaire é tensa, assim como a sequência em que Bond consegue escapar dos enormes crocodilos (e que provavelmente inspirou o game “Pitfall”). Além delas, merece destaque a engraçada aparição do xerife valentão interpretado por Clifton James, que tenta insistentemente prender Bond e os criminosos sem ter a menor noção do que está acontecendo ali. Trata-se de um personagem estereotipado e exagerado como os outros, mas este ao menos diverte. E finalmente, a perseguição com lanchas é a melhor sequência do filme, empolgando através da montagem dinâmica de Bert Bates, Raymond Poulton e John Shirley, que alterna entre os belos planos aéreos de Guy Hamilton que nos permitem compreender a geografia local e os planos fechados que realçam a tensão dos personagens, mas sua longa duração acaba minando um pouco o impacto sobre o espectador.

Estes bons momentos, no entanto, são raros e não conseguem salvar “Com 007 Viva e deixe morrer”. E se nem mesmo o agente secreto mais famoso do mundo consegue tal feito, é melhor ouvir o conselho da música de Paul McCartney e seguir a vida, deixando o longa de estreia de Roger Moore na franquia pra lá.

Com 007 Viva e deixe morrer foto 2Texto publicado em 21 de Maio de 2014 por Roberto Siqueira

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