007 CONTRA O FOGUETE DA MORTE (1979)

(Moonraker)

3 Estrelas 

Videoteca do Beto #201

Dirigido por Lewis Gilbert.

Elenco: Roger Moore, Lois Chiles, Michael Lonsdale, Richard Kiel, Corinne Clery, Bernard Lee, Geoffrey Keen, Desmond Llewelyn, Lois Maxwell, Toshirô Suga e Emily Bolton.

Roteiro: Christopher Wood, baseado em romance de Ian Fleming.

Produção: Albert R. Broccoli.

007 Contra o Foguete da Morte[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Primeiro filme da franquia 007 a passar pelo Brasil, “007 Contra o Foguete da Morte” diverte não apenas pela famosa cena no bonde do Rio de Janeiro, mas também pela presença de bons personagens e, principalmente, pela qualidade de algumas de suas cenas de ação. No entanto, o longa dá a sensação de durar mais do que realmente dura, o que nunca é um bom sinal. Ainda assim, a interessante sequência final no espaço compensa muitos de seus deslizes e salva o filme dirigido por Lewis Gilbert.

Adaptado do romance de Ian Fleming por Christopher Wood, “007 Contra o Foguete da Morte” tem início quando uma nave espacial some durante um voo sobre a Inglaterra, levando o agente secreto James Bond (Roger Moore) a investigar o caso e descobrir o envolvimento de um milionário conhecido como Hugo Drax (Michael Lonsdale), responsável pela fabricação das naves espaciais Moonraker na Califórnia. Auxiliado pela inicialmente arredia agente da CIA Dra. Goodhead (Lois Chiles), Bond acaba descobrindo que na realidade os planos de Drax eram muitos mais ambiciosos do que pareciam, envolvendo uma cidade espacial e o extermínio de toda a raça humana na Terra.

Apesar de partir de uma premissa baseada num dos capítulos mais negros da história da humanidade, o roteiro de Christopher Wood tende a misturar com frequência as cenas de ação com momentos bem humorados, acertando em diversos instantes, mas também errando em piadas sem graça como aquela em que um homem se choca contra uma placa da British Airways e na péssima referência ao western que surge em seguida, totalmente deslocada e sem propósito – e os chapéus utilizados pelos personagens dá a sensação de estarmos no México e não mais no Brasil. Ao menos, o diretor Lewis Gilbert acerta na condução de grande parte das cenas de ação, o que é crucial para o sucesso de um filme da série 007.

Mantendo a tradição de passar por diversos lugares do mundo, James Bond desta vez volta a sempre bela Veneza, passando também pela Califórnia e finalmente vindo ao Brasil. Aliás, a linda sede da Drax na Califórnia onde são fabricadas as espaçonaves Moonraker, toda construída em estilo francês e detalhadamente bem decorada no interior do palácio realça o habitual bom design de produção de Ken Adam, notável também no imponente centro de lançamentos das naves construído em plena floresta amazônica e, principalmente, na cidade espacial que surge já no ato final.

Outro costumeiro colaborador da franquia, John Barry retorna em “007 Contra o Foguete da Morte” para compor uma trilha sonora muito interessante através de melodias inspiradas e variações da bela música tema “Moonraker” (terceira canção de James Bond interpretada por Shirley Bassey), trazendo ainda uma brincadeira com o tema principal de “Contatos Imediatos de Terceiro Grau” através do toque do interfone que abre um laboratório em Veneza.

Estreante na série, o diretor de fotografia Jean Tournier faz um trabalho fabuloso, explorando inicialmente todo o charme de Veneza, com seus canais cortando a cidade e criando um visual singular, assim como ocorre no ensolarado Rio de Janeiro, enquadrado em belos planos gerais de Lewis Gilbert, que capricha também na composição dos planos e até mesmo de alguns travellings que passeiam pela linda Amazônia, com suas cachoeiras e a floresta criando um visual que é um deleite para os olhos.

Linda sede da DraxCharme de VenezaEnsolarado Rio de JaneiroNo entanto, a beleza do Brasil se limita mesmo aos aspectos naturais, já que “007 Contra o Foguete da Morte” segue quase todos os estereótipos possíveis, passando pelo Carnaval repleto de pessoas seminuas na rua e terminando, é claro, numa viagem para a perigosa Amazônia onde, obviamente, uma serpente gigante tentaria acabar com o protagonista. Por outro lado, o Rio de Janeiro ganha um visual bastante obscuro na noite de Carnaval em que Bond invade a sede da Drax, refletindo não apenas a aflição dos personagens como também o risco que eles corriam ali. Já quando Bond rouba os arquivos da Drax na Califórnia, não apenas a fotografia como também a trilha sonora indicam o risco da operação, com a diferença de que a trilha mistura seus tons sombrios com notas românticas por causa da presença de Corinne (Corinne Clery), a funcionária de Drax que se apaixona por Bond e, por isso, é assassinada de maneira cruel, numa cena simultaneamente linda e triste em que as luzes que vazam as árvores conferem um visual poético, conduzida em câmera lenta pelo diretor e seu montador John Glen, alternando entre a corrida desesperada da moça e a aproximação dos cães ferozes que a perseguem.

Sempre sério, mas com o semblante tranquilo e a voz calma, Michael Lonsdale compõe Drax como um vilão extremamente autoconfiante, o que é ótimo na construção da imagem de um antagonista que ofereça alguma ameaça ao protagonista, ainda que episódios como o da caça aos faisões o enfraqueçam diante da esperteza de 007. Mas o maior peso que o personagem poderia ter vem mesmo de seu plano audacioso e minuciosamente elaborado para que uma nova era tenha início sob seu comando no planeta. Fazendo clara alusão ao nazismo, a raça pura imaginada por Drax encontra em Mandíbula – o personagem caricato e icônico interpretado por Richard Kiel – e sua estranha namorada o seu ponto de ruptura, dando início à queda do império antes mesmo que ele se consolide.

Aliás, Drax não deve ser mesmo um chefe agradável, já que além de Corinne e Mandíbula, ele também é traído pela Dra. Goodhead, só que ao menos neste último caso a traição é justificada pelo fato da moça ser, na verdade, uma agente da CIA. Bela e muito esperta, a agente interpretada com carisma por Lois Chiles compartilha algumas das características marcantes de James Bond, demonstrando um faro aguçado para o perigo e total desconfiança de todos ao seu redor. Dona ainda de uma notável habilidade para a luta, Goodhead se constitui na melhor parceira de James Bond até então na franquia.

Cena simultaneamente linda e tristeVilão extremamente autoconfianteBela e muito espertaSurpreso com o fato de Goodhead ser mulher, Bond continua machista, é claro, mas mantém o charme e a elegância característicos do personagem, além do humor irônico notável, por exemplo, quando sorri imitando Mandíbula ao encontrar o velho rival. Cada vez mais a vontade no papel (até demais!), Roger Moore demonstra alguma evolução naquela que era sua deficiência mais chamativa, esforçando-se, por exemplo, na vibrante luta contra Chang (Toshirô Suga) na sala de um importante museu de Veneza. Além disso, o ator mostra boa empatia com Lois Chiles, o que torna a relação entre os personagens mais agradável.

Mas o ponto alto dos filmes de 007 são sempre as cenas de ação e elas surgem em quantidade e qualidade razoáveis neste “007 Contra o Foguete da Morte”, começando pela absurda e estilosa abertura em que Bond é jogado sem paraquedas de um avião, luta no ar com um inimigo e rouba o paraquedas dele, passando pela divertida perseguição de barco em que Bond foge numa gôndola motorizada e também pela perseguição das lanchas no rio Amazonas que, apesar de empolgante, dá a sensação de que os vilões brotam das árvores. No entanto, o grande destaque fica mesmo para a famosa sequência no bonde do Rio de Janeiro. Um pouco datada, especialmente pelos efeitos visuais e pelos golpes extremamente lentos e mal coreografados, a ousada sequência carrega grande tensão e ainda funciona.

E quando digo que os efeitos visuais estão datados, me refiro especialmente aos momentos que colocam os personagens em primeiro plano e imagens das locações no segundo, permitindo notar claramente a montagem. Este problema ocorre com frequência em “007 Contra o Foguete da Morte”, mas é compensado pelos excelentes efeitos visuais nas belíssimas cenas no espaço, que nos permitem acompanhar o balé das naves e dos próprios personagens enquanto se deslocam até a cidade construída por Drax – e apesar da ideologia condenável por trás daquela ideia, gosto muito do beijo romântico de um casal enquadrado com extrema sensibilidade pelo diretor durante a viagem.

Ambientando-nos perfeitamente ao local através da citada cidade espacial concebida por Ken Adam e das roupas espaciais escolhidas pela figurinista Jacques Fonteray, Lewis Gilbert conduz o confronto final com energia, ainda que alguns momentos pareçam inspirados nos antigos jogos de videogame, com tiros laser cortando a tela a todo instante – e o fraco design de som realça esta semelhança. Mas o importante é que a sequência final funciona bem, reservando ainda um pequeno momento de tensão quando Bond tenta destruir as bolas letais enviadas por Drax para a Terra. A costumeira piada final envolvendo Bond e sua parceira desta vez também é bem divertida.

Escorregando especialmente em seu irregular segundo ato, “007 Contra o Foguete da Morte” compensa seu deslize ao oferecer uma conclusão não apenas atraente visualmente como também envolvente narrativamente. Não é o caso de dizer que a ausência de Sean Connery não era mais sentida, mas Roger Moore ao menos demonstrava alguma evolução como James Bond.

007 Contra o Foguete da Morte foto 2Texto publicado em 26 de Maio de 2014 por Roberto Siqueira

007 O ESPIÃO QUE ME AMAVA (1977)

(The Spy Who Loved Me)

3 Estrelas 

Videoteca do Beto #200

Dirigido por Lewis Gilbert.

Elenco: Roger Moore, Barbara Bach, Vernon Dobtcheff, Caroline Munro, Richard Kiel, Curd Jürgens, Robert Brown, Walter Gotell, Lois Maxwell, Desmond Llewelyn, Bernard Lee, Edward de Souza, Michael Billington e George Baker.

Roteiro: Richard Maibaum e Christopher Wood, baseado em romance de Ian Fleming.

Produção: Albert R. Broccoli.

007 O Espião que me Amava[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Após “007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro” encerrar com dignidade a fase Guy Hamilton, Lewis Gilbert foi o escolhido para retomar a série 007 neste “007 O Espião que me Amava”, longa bastante irregular que, mesmo trazendo novos elementos para a tradicional fórmula da franquia, não consegue se equiparar ao bom trabalho de Gilbert em “Com 007 só se vive duas vezes”.

Escrito por Richard Maibaum e Christopher Wood com base em romance de Ian Fleming, “007 O Espião que me Amava” marca a primeira investigação de James Bond (Roger Moore) oficialmente acompanhado de outro agente, no caso, a agente secreta soviética Anya Amasova (Barbara Bach). Juntos, eles devem investigar o desaparecimento de um submarino carregado com 16 ogivas nucleares.

Outra vez utilizando a guerra fria como pano de fundo, o roteiro de Maibaum e Wood segue a fórmula de sucesso já estabelecida na série ao trazer James Bond diante de um temível vilão prestes a destruir o planeta, passando é claro pela conquista de belas mulheres, pela tradicional conversa com a charmosa Moneypenny (Lois Maxwell) e pelas inúmeras situações mirabolantes pelas quais o agente deve passar antes de atingir seu objetivo. Mas se todos os filmes de 007 seguem a mesma estrutura narrativa, onde está o diferencial entre eles? A resposta está na forma como cada aventura é conduzida – e, infelizmente, neste caso a condução não é das melhores.

É importante ressaltar que, além do diretor Lewis Gilbert, somente o montador John Glen e o designer de produção Ken Adam já tinham participado da série antes, enquanto todos os outros integrantes da equipe técnica de “007 O Espião que me Amava” eram estreantes. Não que a experiência seja tão crucial, mas certamente a inclusão de uma equipe técnica praticamente toda nova interferiu, ainda que este aspecto também tenha o seu lado positivo, injetando novas ideias que beneficiaram o longa. Caminhando entre a inexperiência e a novidade, o trabalho técnico em geral acaba soando irregular.

Entre as novidades bem sucedidas, podemos destacar a linda música tema “Nobody does it better”, que traz uma carga romântica interessante e, de quebra, inspira o bom trabalho de Marvin Hamlisch na composição da trilha sonora instrumental que, por outro lado, é pouco inspirada e totalmente datada quando embala as cenas de ação, como numa perseguição no fundo do mar. Já a escolha da música clássica nas cenas dentro do complexo onde vive o vilão Stromberg (Curd Jürgens) é muito eficiente, casando bem o som com o balé dos peixes dentro da água.

A própria estrutura interna do complexo submarino de Stromberg concebida pelo design de produção realça outro aspecto técnico que chama a atenção, notável também no inventivo carro-submarino Lotus Esprit desenvolvido por Q (Desmond Llewelyn), que deixa metade das pessoas presentes numa praia da Sardenha boquiabertas. A linda Sardenha, aliás, é captada de maneira sempre exuberante pelo diretor de fotografia Claude Renoir, criando um forte contraste com o árido visual das sequências que se passam no Egito. O visual de tirar o fôlego também se destaca na excelente fuga de Bond nos Alpes austríacos, conduzida com energia pelo diretor e seu montador. E finalmente, Renoir adota tons avermelhados no interior dos submarinos quando estes sofrem ataques, reforçando a sensação de perigo dos personagens.

Complexo submarino de StrombergInventivo Lotus EspritLinda SardenhaA fotografia também é marcante na sombria apresentação de Mandíbula, o homem quase indestrutível interpretado de maneira bem caricata por Richard Kiel que surge pela primeira vez durante um evento noturno no deserto egípcio. Caminhando quase como uma múmia, Mandíbula soa como um personagem cartunesco, chegando a nos divertir pela maneira como escapa dos diversos ataques que sofre – a cena em que ele sai ileso após a queda de um carro sobre uma casa é hilária. Já o vilão Karl Stromberg interpretado por Curd Jürgens está longe de ser divertido, demonstrando sua ganância e crueldade logo no início quando assassina a própria secretária e, em seguida, os dois cientistas que lhe entregaram um precioso projeto. No entanto, assim como ocorre com muitos dos vilões da franquia, Stromberg perde força ao longo da narrativa.

Responsável por dividir a investigação com James Bond, a sexy agente Anya Amasova vivida por Barbara Bach é apresentada através de uma interessante subversão de expectativa durante uma cena amorosa envolvendo outro agente secreto. Ao ouvirmos a menção ao nome do agente “XXX”, inicialmente podemos pensar que quem dividirá as ações com Bond é o homem que está com ela (e ele é mesmo um agente), mas quando Anya pega o telefone, descobrimos que ela é escolhida para a missão. Sedutora e perigosa, Anya foge um pouco do estereótipo de mulher frágil predominante na série, demonstrando até mesmo conhecimento de mecânica após uma piada machista de Bond envolvendo mulheres na direção, em outra subversão do clichê bastante interessante.

Mandíbula, o homem quase indestrutívelKarl Stromberg está longe de ser divertidoSedutora e perigosa AnyaA importância da participação de Anya é realçada até mesmo na mencionada trilha sonora de Marvin Hamlisch, claramente mais romântica que de costume – e o sorriso deles após receberem a noticia de que viajarão juntos pra Sardenha indica a atração mútua que resultará no romance. Claramente mais a vontade no papel, Roger Moore encarna Bond novamente como um homem inteligente e elegante, conferindo algum peso dramático ao personagem, por exemplo, ao demonstrar tristeza após Anya mencionar sua falecida esposa, sem jamais perder o ar irônico tão marcante em sua composição.

Responsável pelas atuações minimamente homogêneas, Lewis Gilbert acerta ainda na condução de cenas vitais como a perseguição na ilha envolvendo alguns carros, uma moto e até um helicóptero, que certamente é a melhor cena de ação do filme, culminando na apresentação do criativo carro-submarino já citado. Além dela, o extenso confronto final dentro do navio, repleto de explosões que realçam o bom design de som, e a tensa cena em que Bond desmonta um míssil também são eficientes, mas a sensação que temos ao final de “007 O Espião que me Amava” é a de que faltou algo.

E esta nunca é uma sensação boa, ainda mais num filme de James Bond.

007 O Espião que me Amava foto 2Texto publicado em 23 de Maio de 2014 por Roberto Siqueira

007 CONTRA O HOMEM COM A PISTOLA DE OURO (1974)

(The Man with the Golden Gun)

4 Estrelas 

Videoteca do Beto #199

Dirigido por Guy Hamilton.

Elenco: Roger Moore, Christopher Lee, Maud Adams, Britt Ekland, Richard Loo, Yiu Lam Chan, Hervé Villechaize, Lois Maxwell, Desmond Llewelyn, Clifton James, Bernard Lee, Marne Maitland  e Marc Lawrence.

Roteiro: Richard Maibaum e Tom Mankiewicz, baseado em romance de Ian Fleming.

Produção: Albert R. Broccoli e Harry Saltzman.

007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Após tropeçar em “Com 007 Viva e Deixe Morrer”, Guy Hamilton volta a boa forma neste interessante “007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro” que, mesmo com falhas, consegue resgatar a essência dos bons filmes da série graças a mescla mais equilibrada entre as boas cenas de ação e os momentos de humor, passando também pela narrativa coesa e por personagens mais carismáticos – entre eles, o ótimo vilão interpretado por Christopher Lee.

O roteiro escrito pelos experientes Richard Maibaum e Tom Mankiewicz inspirado em romance de Ian Fleming parte de uma premissa muito interessante ao trazer o icônico James Bond (Roger Moore) recebendo uma curiosa ameaça de morte através da inscrição “007” numa bala de ouro enviada ao Serviço Secreto Britânico. Após M (Bernard Lee) sugerir que ele peça demissão ou tire férias, Bonde decide investigar o caso e acaba descobrindo a ligação entre o sequestro de um cientista que descobriu como captar energia solar e o assassino profissional que o ameaçou conhecido como Francisco Scaramanga (Christopher Lee).

Ao colocar Bond sob a mira de um perigoso assassino, “007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro” faz uma interessante inversão de papeis que torna sua narrativa mais envolvente, num verdadeiro jogo de gato e rato repleto de momentos inspirados, como quando Bond utiliza uma estranha anomalia para se passar por Scaramanga e, assim, conseguir conversar com o poderoso Hai Fat (Richard Loo). Desta forma, passamos a temer constantemente pelo destino do agente secreto, especialmente quando percebemos que Scaramanga é um vilão bem mais ameaçador do que os que estamos acostumados na série.

Explorando desta vez o lado exótico das locações em Macau e Hong Kong, Guy Hamilton e seus diretores de fotografia Ted Moore e Oswald Morris criam um primeiro ato bastante sombrio, repleto de cenas noturnas e ambientes fechados que ajudam a criar uma atmosfera mais séria, ilustrando bem a ameaça ao protagonista. Além disso, Hamilton utiliza a câmera de maneira inteligente para dar dicas essenciais ao espectador, seja na maneira quase idêntica que filma o segmento de abertura e o ato final, chamando nossa atenção para qualquer detalhe que não seja similar, seja ao realçar o navio Queen Elizabeth encalhado no porto de Hong Kong através de planos gerais e de uma narração diegética, indicando um local que seria importante para a narrativa no futuro, no qual um diálogo expositivo entre Bond e seus companheiros de Serviço Secreto basicamente explica a trama e as motivações dos personagens para a plateia.

Intercalando entre as ações de James Bond e Scaramanga, os montadores Raymond Poulton e John Shirley são responsáveis também por imprimir um ritmo dinâmico nas cenas de ação (que abordarei em instantes), assim como é importante também o design de som, ainda que este só se destaque mesmo no ato final, ao demonstrar a potencia das explosões que destroem o esconderijo de Scaramanga e o impacto delas na ilha. Compondo uma trilha sonora repleta de toques orientais, John Barry volta à franquia sem grande destaque, economizando também na utilização do tema clássico de 007, que, como de costume, surge somente em momentos pontuais.

Adotando um tom mais cômico que o de costume, Guy Hamilton consegue um balanço eficiente que mantém o espectador atento sem jamais permitir que ele relaxe, ainda que a divertida participação do xerife J. W. Pepper (Clifton James) de “Com 007 Viva e Deixe Morrer” renda boas gargalhadas. Mas estes momentos não tiram o foco principal da narrativa nem quebram a tensão gerada sempre que Scaramanga entra em cena. Mas e quanto a James Bond?

Estranha anomaliaNavio Queen ElizabethBond mais virilLogo na primeira luta em Istambul, Roger Moore já demonstra evolução no que tange aos aspectos físicos e parece muito mais convincente do que no longa anterior, o que confere uma nova dimensão para o personagem. Só que na busca por soar mais viril, o ator parece passar da conta em certos instantes, como quando ameaça o fabricante de armas Lazar (Marne Maitland) para obter informações, assim como faz com a Srta. Anders (Maud Adams, que voltaria em “007 Contra Octopussy”), chegando a agir violentamente no segundo caso, numa abordagem que foge do estereótipo de herói tradicional, mas que por outro lado nos faz questionar onde foi parar o 007 que utilizava seu charme a favor nestes momentos. Por outro lado, esta agressividade também rende bons momentos, como quando Bond acerta um chute num adversário ainda nos cumprimentos pré-luta de um torneio, quebrando a regra de maneira surpreendente e divertida.

Quem também quebra regras é o próprio longa ao trazer uma moça completamente nua numa piscina enquanto fala com Bond. Ainda que a água dificulte a visão, é a primeira vez que vemos uma mulher completamente nua na série. Aliás, é difícil dizer qual é a mais bela entre as bondgirls de “007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro”. Enquanto a Srta. Anders de Maud Adams revela uma vulnerabilidade tocante sendo facilmente descartada pelo vilão, a agente secreta Goodnight interpretada por Britt Ekland nos diverte com suas trapalhadas que, por outro lado, enfraquecem profissionalmente a personagem.

Quem nunca perde força é o vilão, um homem inteligente e cruel, capaz de matar o poderoso Hai Fat a sangue frio e, no segundo seguinte, assumir o comando de seu império. Discreto e realmente perigoso, Christopher Lee compõe Scaramanga como um homem fino que esconde suas cruéis ambições sob aquela carcaça de elegância, chegando a soar carismático em diversos momentos, especialmente nos diálogos com Bond em que demonstra sua inteligência. Observe, por exemplo, sua clareza e fluência enquanto apresenta o inventivo sistema de captação de energia solar – que, aliás, também impressiona pela criatividade das instalações concebidas pelo design de produção de Peter Murton. Na pele de um ator talentoso como Lee, James Bond encontra um antagonista à altura.

Vulnerabilidade tocanteAtrapalhada GoodnightScaramanga inteligente e cruelCom um vilão respeitável e Roger Moore claramente mais a vontade no papel de 007, Hamilton concentra esforços no desenvolvimento de cenas de ação empolgantes, como a excelente perseguição de carros que culmina na espetacular travessia de Bond de um lado para o outro do rio antes de chegar ao local onde Scaramanga fugiria em seu criativo carro voador. No entanto, o destaque fica mesmo para o duelo final que remete a cena de abertura dentro dos ambientes preparados por Scaramanga, numa rima narrativa elegante que funciona também dramaticamente justamente porque o espectador sabe exatamente os perigos que aguardam James Bond, enquanto o próprio personagem ainda terá que descobri-los. Após uma tensa perseguição, chegamos ao momento crucial em que Hamilton enquadra o suposto boneco de 007 por trás, realçando os dedos inteiros em sua mão e anunciando que aquele é o verdadeiro James Bond, numa solução eficiente que conclui muito bem o duelo ao som do tiro fatal do agente secreto que finalmente vence Scaramanga.

O ato final ainda nos traz um último instante de alta tensão enquanto Bond tenta retirar o Solex, com a montagem intercalando entre sua ação, as trapalhadas de Goodnight e a nuvem que encobre o sol momentaneamente. Já o ataque final do anão Nick Nack (Hervé Villechaize) poderia tranquilamente ser descartado, pois não agrega em nada à narrativa.

Ao contrário de Nick Nack, “007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro” agrega bastante à filmografia de James Bond, com sua narrativa envolvente e seu marcante vilão. A música tema pouco inspirada e recheada com uma deselegante conotação sexual a gente até perdoa.

007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro foto 2Texto publicado em 22 de Maio de 2014 por Roberto Siqueira

COM 007 VIVA E DEIXE MORRER (1973)

(Live and Let Die)

2 Estrelas 

Videoteca do Beto #198

Dirigido por Guy Hamilton.

Elenco: Roger Moore, Yaphet Kotto, Jane Seymour, Clifton James, Julius Harris, Geoffrey Holder, David Hedison, Gloria Hendry, Bernard Lee e Lois Maxwell.

Roteiro: Tom Mankiewicz, baseado em romance de Ian Fleming.

Produção: Albert R. Broccoli e Harry Saltzman.

Com 007 Viva e deixe morrer[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Primeiro trabalho de Roger Moore na pele de 007, “Com 007 Viva e deixe morrer” representa uma nova queda de qualidade na série, confirmando-se também como o primeiro escorregão de Guy Hamilton na direção de um filme de James Bond após realizar o excelente “007 Contra Goldfinger” e o mediano “007 Os Diamantes são eternos”. Ressentindo-se de bons momentos de ação e da falta de carisma de alguns personagens, o longa até diverte em alguns momentos, mas está longe de corresponder a expectativa que cerca um filme de James Bond.

Escrito pelo desta vez solitário Tom Mankiewicz com base em romance de Ian Fleming, “Com 007 Viva e deixe morrer” tem início quando três agentes do governo britânico são mortos durante uma investigação, deixando o caso sob a responsabilidade de James Bond (Roger Moore). Após rastrear o tráfico de drogas da África até a Europa, Bond chega aos EUA e acaba descobrindo o envolvimento de um diplomata internacional (Yaphet Kotto).

O primeiro problema de “Com 007 Viva e deixe morrer” está na falta de inspiração do roteiro, ainda que seja criativa a maneira como os agentes são assassinados, especialmente aquela que envolve um funeral. Não que o roteiro seja o ponto forte dos filmes da franquia, mas aqui a narrativa parece atirar para todos os lados, passando por tráfico de drogas, política internacional e envolvendo até mesmo esoterismo. Além disso, é bastante incômoda a maneira como a maioria dos negros é retratada. Ainda que alguns deles ajudem Bond, como o agente da CIA e o piloto do barco, na maior parte do tempo os negros são mostrados como selvagens e criminosos, numa abordagem pateticamente racista.

Continuando o giro pelo mundo, Nova York e a ilha de San Monique são as locações da vez. Enquanto a primeira é fotografada de maneira naturalista por Ted Moore, a segunda ganha um visual extravagante que, reforçado pelas vestimentas nativas desenvolvidas pela figurinista Julie Harris, torna as sessões ocultistas ocorridas ali ainda mais impactantes, especialmente no quase todo noturno terceiro ato em que túmulos e caveiras ganham destaque. Da mesma forma, os tons em vermelho e o fogo que compõe a sala de Kananga em Nova York concebida pelo design de produção de Syd Cain criam uma atmosfera negativa que reflete bem a ameaça aos protagonistas.

Negros são mostrados como selvagens e criminososSessões ocultistasSala de KanangaComposta pela primeira vez sem a presença de John Barry desde “007 Contra o Satânico Dr. No”, a trilha sonora de George Martin segue a mesma linha ao utilizar somente pontualmente o tema clássico composto por Monty Norman, compondo ainda boas variações da música tema “Live and Let Die”, que se tornou um clássico de Paul McCartney e uma das mais famosas já utilizadas na franquia.

Mas se tecnicamente o longa segue razoavelmente o padrão da série, a grande expectativa ficava mesmo por conta do substituto de Sean Connery após sua saída definitiva. Mais debochado e menos carismático, Roger Moore demonstrava neste que seria o primeiro de seus sete trabalhos como James Bond que tinha porte para encarnar o personagem, ainda que lhe faltasse o charme natural de Connery e, principalmente, a leveza nas sequências que exigem esforço físico, o que faz as lutas corporais soarem pouco convincentes. Por outro lado, Moore se sai bem nos momentos em que Bond é irônico, mantendo uma característica tipicamente britânica e marcante do personagem com precisão, como na previsível e ainda assim eficiente brincadeira que faz com as cartas “Lovers”.

Já Yaphet Kotto divide sua atuação em dois segmentos bastante distintos. Enquanto encarna Mr. Ben, o ator surge bastante caricato, numa atuação exagerada que fica ainda pior graças à maquiagem inverossímil que, de quebra, ainda entrega de bandeja uma revelação que teoricamente deveria ser bombástica. Já na pele de Kananga o ator se sai bem melhor, compondo um personagem ameaçador somente através da forma como fala com Solitaire, a garota esotérica vivida por Jane Seymour.

Mais debochado e menos carismáticoPersonagem ameaçadorSolitaire, a garota esotéricaSorrindo de maneira sutil ao ser cortejada por Bond já na ilha, Solitaire não esconde sua atração pelo agente e se torna mais uma bondgirl, acompanhando 007 em sua aventura pela ilha. Já Rosie Carver, a primeira bondgirl negra da história que ganha vida na pele de Gloria Hendry, utiliza a famosa queda do agente por mulheres para atraí-lo à ilha, mas infelizmente a personagem é praticamente arruinada pela atuação bastante exagerada da atriz.

Não bastassem as atuações comprometedoras, “Com 007 Viva e deixe morrer” falha num ponto crucial em qualquer filme do gênero, que é a falta de inspiração e inventividade de suas cenas de ação. Repare, por exemplo, a sequência em que Bond é perseguido na ilha dirigindo um ônibus, conduzida de maneira burocrática e sem nenhum momento de grande emoção. Esta falta de cenas que prendam a atenção do espectador é determinante para o fracasso da narrativa.

Ao menos, a cena em que Kananga interroga Bond e Solitaire é tensa, assim como a sequência em que Bond consegue escapar dos enormes crocodilos (e que provavelmente inspirou o game “Pitfall”). Além delas, merece destaque a engraçada aparição do xerife valentão interpretado por Clifton James, que tenta insistentemente prender Bond e os criminosos sem ter a menor noção do que está acontecendo ali. Trata-se de um personagem estereotipado e exagerado como os outros, mas este ao menos diverte. E finalmente, a perseguição com lanchas é a melhor sequência do filme, empolgando através da montagem dinâmica de Bert Bates, Raymond Poulton e John Shirley, que alterna entre os belos planos aéreos de Guy Hamilton que nos permitem compreender a geografia local e os planos fechados que realçam a tensão dos personagens, mas sua longa duração acaba minando um pouco o impacto sobre o espectador.

Estes bons momentos, no entanto, são raros e não conseguem salvar “Com 007 Viva e deixe morrer”. E se nem mesmo o agente secreto mais famoso do mundo consegue tal feito, é melhor ouvir o conselho da música de Paul McCartney e seguir a vida, deixando o longa de estreia de Roger Moore na franquia pra lá.

Com 007 Viva e deixe morrer foto 2Texto publicado em 21 de Maio de 2014 por Roberto Siqueira

007 OS DIAMANTES SÃO ETERNOS (1971)

(Diamonds Are Forever)

3 Estrelas 

Videoteca do Beto #197

Dirigido por Guy Hamilton.

Elenco: Sean Connery, Jill St. John, Charles Gray, Bruce Cabot, Putter Smith, Norman Burton, Lana Wood, Desmond Llewelyn, Bernard Lee, Bruce Glover, Lois Maxwell e Leonard Barr.

Roteiro: Tom Mankiewicz e Richard Maibaum, baseado em romance de Ian Fleming.

Produção: Albert R. Broccoli e Harry Saltzman.

007 Os Diamantes são eternos[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Conhecido por marcar a despedida de Sean Connery da série 007 (na verdade, ele ainda voltaria em “007 – Nunca mais outra vez”, mas esta é uma refilmagem de “007 Contra a Chantagem Atômica” e não é considerado um filme oficial da série), “007 Os Diamantes são eternos” marca também a volta de Guy Hamilton, diretor de “007 Contra Goldfinger”, o melhor filme da franquia até então. Partindo de uma premissa interessante e contando com um primeiro ato promissor, o longa caminha bem até próximo de seu ato final, quando infelizmente não consegue sustentar o ótimo ritmo imprimido até ali.

Adaptado para o cinema por Tom Mankiewicz e Richard Maibaum com base em romance de Ian Fleming, “007 Os Diamantes são eternos” tem início quando o governo britânico decide enviar James Bond (Sean Connery) atrás de um suspeito de contrabandear diamantes da África do Sul para a Europa e os EUA. Com a ajuda da intermediadora Tiffany Case (Jill St. John), ele viaja para Los Angeles e acaba descobrindo que os diamantes na verdade iriam parar nas mãos de seu grande inimigo Blofeld (Charles Gray) como parte de um plano que poderia destruir grandes cidades em todo o mundo.

Para tentar repetir o sucesso de “007 Contra Goldfinger”, Guy Hamilton resolveu convocar boa parte da equipe técnica responsável por aquele e alguns outros filmes da série. Assim, além da volta de Sean Connery e do ator Charles Gray, que havia chamado a atenção em sua rápida participação como Henderson em “Com 007 só se vive duas vezes”, voltaram também o diretor de fotografia Ted Moore, o designer de produção Ken Adam e o roteirista Richard Maibaum, agora auxiliado por Tom Mankiewicz, estreante que viria a escrever o roteiro de outros filmes da franquia.

Continuando o tour da série pelo mundo, Amsterdam e Las Vegas foram as locações escolhidas desta vez, com a primeira se destacando pelos charmosos canais captados com eficiência pela câmera de Hamilton e de seu diretor de fotografia, enquanto a segunda ganha um visual colorido reforçado pelos fortes raios solares da Califórnia, que criam um contraste com as sequências que se passam em ambientes fechados e, especialmente, com o visual sombrio do deserto californiano no assassinato do dentista que introduz os assassinos comandados por Blofeld.

Quem também voltou foi o vozeirão de Shirley Bassey, responsável pela bela música tema “Diamonds are forever”, que inspirou as variações da trilha sonora de John Barry. Utilizando o tema clássico pontualmente como de costume, Barry erra apenas na composição pouco inspirada nas cenas de ação, como na terrível trilha que embala a fuga de Bond da Willard White a bordo de um carro lunar, que por sua vez é uma cena tão absurda que chega a ser divertida, assim como ocorre na perseguição de carros à noite em que Bond despista os inimigos. Esta diversão, no entanto, deve-se muito mais à forma como Hamilton conduz a cena e, principalmente, à maneira debochada que Connery as encara do que propriamente ao roteiro.

O trabalho da dupla de roteiristas até que começa bem, construindo uma trama envolvente que aborda questões interessantes como o tráfico internacional de diamantes, mas se perde ao longo da narrativa, especialmente naquilo que é o principal num filme de 007, ou seja, a construção de cenas de ação realmente empolgantes. Por sua vez, Guy Hamilton e seus montadores Bert Bates e John W. Holmes imprimem um ritmo muito interessante nesta primeira parte do longa, que acompanha a inventiva forma de contrabando dos diamantes, mas falham por também não conseguirem melhorar o ato final, carente de momentos de maior impacto.

Assassinato do dentistaCarro lunarCharme e autoconfiançaJá na direção de atores, Hamilton se sai novamente bem, extraindo atuações carismáticas de boa parte do elenco. Em sua despedida da série, Sean Connery volta para trazer o charme e a autoconfiança que tanto caracterizam seu James Bond, pronunciando logo em sua primeira aparição a famosa frase “Bond. James Bond”, assim como acontece no primeiro filme da série – e é interessante observar a rápida menção as férias do personagem na conversa com “M” (Bernard Lee), numa elegante referência ao longa anterior que demonstra respeito pelo trabalho realizado. Novamente demonstrando indiferença diante do perigo e muita astúcia para enfrentar os problemas, Bond protagoniza ótimos momentos como a sufocante luta num elevador em Amsterdam e a tensa sequência em que é colocado num caixão que será cremado – e em ambas, acreditamos no esforço e na dor do personagem graças ao bom desempenho de Connery.

Escolhidas para viverem as bondgirls da vez, Lana Wood tem uma rápida participação como a sexy Plenty (e Bond faz uma piada impagável com o nome da moça), enquanto Jill St. John inicialmente compõe Tiffany como uma mulher sensual e esperta que não será facilmente enganada por James Bond, mas acaba perdendo força ao longo da narrativa, muito mais por culpa do roteiro do que por demérito da atriz, que encerra sua participação de maneira melancólica ao apoiar-se apenas no forte apelo sexual das roupas que é obrigada a usar no ato final (figurinos de Don Feld).

Sexy PlentyForte apelo sexualDivertido vilãoJá Charles Gray percorre o caminho inverso na pele de Blofeld. Inicialmente parecendo frágil ao ser derrotado com facilidade por Bond, o divertido vilão surpreendentemente retorna com força total durante a narrativa, protagonizando ótimos momentos até que seja novamente derrotado pelo agente secreto. E é justamente na visível queda de ritmo da segunda metade da narrativa que reside o maior escorregão de “007 Os Diamantes são eternos”, confirmada no fraco desfecho que, além de enfraquecer seu ótimo vilão, ainda está muito aquém da empolgante primeira metade do longa, dando a sensação de que tudo é resolvido de qualquer jeito e sem o mesmo cuidado demonstrando na engenhosa construção inicial da trama. Em questão de minutos, Bond descobre o paradeiro de Blofeld, invade o local e consegue impedir a destruição imaginada por ele, que pouco consegue fazer mesmo com tamanho poderio a seu favor.

Claramente dividido em duas partes distintas, “007 Os Diamantes são eternos” define muito bem a fase da franquia 007 estrelada por Sean Connery. É irregular, porém divertido.

007 Os Diamantes são eternos foto 2Texto publicado em 20 de Maio de 2014 por Roberto Siqueira

007 A SERVIÇO SECRETO DE SUA MAJESTADE (1969)

(On Her Majesty’s Secret Service)

5 Estrelas 

Videoteca do Beto #196

Dirigido por Peter Hunt.

Elenco: George Lazenby, Diana Rigg, Gabriele Ferzetti, George Baker, Ilse Steppat, Telly Savalas, Lois Maxwell, Desmond Llewelyn, Bernard Lee e Irvin Allen.

Roteiro: Richard Maibaum e Simon Raven, baseado em romance de Ian Fleming.

Produção: Albert R. Broccoli e Harry Saltzman.

007 A Serviço Secreto de Sua Majestade[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Após interpretar James Bond nos cinco primeiros filmes da franquia, Sean Connery decidiu deixar a série, criando um enorme problema para os produtores Albert R. Broccoli e Harry Saltzman. Coube então ao australiano George Lazenby a dura missão de substituir o agora famoso ator escocês, que já tinha sua imagem totalmente ligada ao agente secreto britânico. Felizmente, Lazenby se saiu muito bem e “007 A Serviço Secreto de sua Majestade” não deve nada aos seus antecessores, merecendo inclusive um lugar de destaque na filmografia de James Bond.

Escrito por Richard Maibaum e Simon Raven com base em romance homônimo de Ian Fleming, “007 A Serviço Secreto de sua Majestade” coloca James Bond (George Lazenby) numa situação inusitada: em troca de informações privilegiadas sobre o paradeiro de Blofeld (Telly Savalas), o líder da SPECTRE que planeja esterilizar todos os seres vivos do planeta, Bond deverá se casar com Tracy (Diana Rigg), uma jovem que ele impediu de suicidar-se e cujo pai, Sir Hilary Bray (George Baker), é quem detém as informações por ele desejadas.

Responsável pela montagem de quatro dos cinco filmes anteriores (a exceção foi “007 Contra a Chantagem Atômica”, o pior entre eles) e tendo atuado ainda como diretor de segunda unidade em “Com 007 só se vive duas vezes”, Peter Hunt já tinha experiência na franquia quando se ofereceu para dirigir “007 A Serviço Secreto de sua Majestade”. Talvez por isso, o longa não se distancie tanto do padrão já estabelecido tanto visualmente quanto em sua estrutura narrativa, ainda que em certos momentos ouse quebrar regras e surpreenda positivamente, como quando Bond finalmente dá um beijo em  Moneypenny (Lois Maxwell, sempre simpática). Por outro lado, a evolução do romance entre Bond e Tracy destoa bastante do restante da série, permitindo um melhor desenvolvimento dos personagens que só agrega mais a franquia justamente por trazer um raro arco dramático para o protagonista.

Seja através do luxuoso hotel extremamente bem decorado na França, do escritório em Londres ou da intrigante clínica nos Alpes suíços, o caprichado design de produção de Syd Cain também mantém o padrão da série, transportando o espectador pra dentro daqueles ambientes. Enquanto isto, a fotografia de Michael Reed realça a beleza dos ambientes externos, seja na viva sequência do namoro de Bond e Tracy, seja na empolgante fuga do casal esquiando. A belíssima fotografia é realçada também pelos belos movimentos de câmera de Hunt, especialmente nos lindos Alpes captados em tomadas aéreas impressionantes.

Já a misteriosa clínica ganha cores chamativas que reforçam o tom esotérico do processo de cura aplicado, ilustrando também a empolgação de Bond ao descobrir que o local tinha somente pacientes mulheres. Obviamente, ele ficaria com algumas delas, mas para isto teria que driblar a durona Fräulin Bunt vivida com rispidez por Ilse Steppat. No entanto, o grande alvo de 007 era mesmo Blofeld, que desta vez ganha vida na pele de Telly Savalas. Compondo o vilão como um homem culto que usa sua inteligência para manter-se afastado dos holofotes, Savalas trava ótimos duelos verbais com 007 enquanto este finge ser um importante advogado, mantendo outra tradição da série.

Namoro de Bond e TracyMisteriosa clínicaDurona Fräulin BuntMas a grande expectativa em “007 A Serviço Secreto de sua Majestade” era mesmo pela aparição do substituto de Sean Connery na pele de James Bond. Ciente disto, Peter Hunt leva um tempo até finalmente revelar o rosto de George Lazenby na divertida sequência de abertura, que além de prender a atenção do espectador, ainda faz uma excelente piada com a saída de Connery ao trazer o novo 007 dizendo que “isto nunca aconteceu com o outro cara” após Tracy fugir dele. Mantendo a postura elegante nos refinados ternos usados pelo personagem (figurinos de Marjory Cornelius), Lazenby demonstra também agilidade, saindo-se muito bem nas sequências que exigem esforço físico, como nos confrontos com os vilões e na fuga cheia de estilo em que ele esquia na neve. Além disso, o ator consegue manter o sarcasmo e a ironia que tanto marcam o personagem, demonstrando uma autoconfiança inabalável diante de qualquer situação perigosa.

No entanto, existe uma diferença clara entre o James Bond de Connery e o de Lazenby, evidenciada logo na mencionada piada que abre o longa. Enquanto o primeiro exala charme, conquistando praticamente toda mulher que cruza seu caminho, o segundo, mesmo com boa capacidade de conquista, demonstra maior vulnerabilidade diante do sexo oposto, o que facilita sua aproximação e consequente paixão por Tracy. O que? James Bond apaixonado? Você leu certo meu amigo. E esta mudança no personagem é um dos pontos mais interessantes de “007 A Serviço Secreto de sua Majestade”.

A razão para esta mudança atende pelo nome de Tracy e é vivida com muito carisma por Diana Rigg, que inicialmente adota uma postura agressiva que na verdade serve como couraça, escondendo a fragilidade emocional daquela jovem com tendências suicidas. Após conquistar Bond, a garota claramente demonstra mais confiança, surgindo sorridente e encantadora sempre que entra em cena, criando forte empatia com o protagonista. Até por isso, sentimos sua falta quando Tracy se ausenta durante o segundo ato, voltando somente no momento mais crítico para salvar 007 – mais tristes ainda ficaremos no desfecho da narrativa, mas voltaremos a este assunto em instantes.

Fechando os destaques do elenco, temos George Baker vivendo o simpático Sir Hilary Bray, demonstrando total compreensão sobre o que se passa com sua filha desde o início, quando conta a sofrida historia de vida dela para James Bond embalado pela trilha sonora melancólica de John Barry. Barry, aliás, que desta vez acerta também nas composições que embalam as ótimas cenas de ação que, por sua vez, ajudam a fazer de “007 A Serviço Secreto de sua Majestade” um dos grandes filmes da franquia.

Abusando dos cortes rápidos, a montagem de John Glen busca tornar estas cenas ainda mais empolgantes, mas a câmera agitada e o uso frequente do close acabam tornando alguns momentos um pouco confusos, o que não tira o mérito de cenas espetaculares como a fuga do casal esquiando na neve e a perseguição noturna de carro. Além deles, vale mencionar ainda o engenhoso roubo de arquivos num escritório de advocacia na Suíça ainda no início e o empolgante ato final com a explosão da clínica e a perseguição nos trenós.

Postura eleganteEncantadora TracyFuga do casal esquiandoApós baixar a adrenalina, “007 A Serviço Secreto de sua Majestade” nos presenteia com uma cena impensável nos filmes anteriores, trazendo a cerimônia de casamento de James Bond e Tracy – e mesmo gostando do que vemos, é inevitável sentirmos pena de Moneypenny ao vê-la chorando. Só que o final feliz se transforma em pura melancolia quando Bond para na estrada e o carro de Blofeld passa atirando, atingindo sua esposa e levando-a a morte, numa cena que, longe de ser desnecessária ou gratuita, soa totalmente fora de tom por seu enorme peso dramático, levando o espectador da euforia à tristeza em questão de segundos. Mas é justamente na decisão corajosa dos roteiristas de manterem-se fieis ao livro que reside à força desta conclusão, que poderia inclusive preparar o terreno para a continuidade da série com um James Bond mais complexo e tridimensional caso assim os produtores desejassem – e sabemos que não foi o que aconteceu, ainda que a morte da esposa seja mencionada algumas vezes nos filmes seguintes.

Superando a troca de seu ator principal com louvor, “007 A Serviço Secreto de sua Majestade” deu sequência à franquia 007 com dignidade, trazendo novos e interessantes elementos e agregando componentes emocionais ao personagem até então ausentes. Além disso, serviu para provar que, por melhor que Sean Connery seja (e ele é mesmo um grande ator), existia vida após ele.

007 A Serviço Secreto de Sua Majestade foto 2Texto publicado em 19 de Maio de 2014 por Roberto Siqueira

COM 007 SÓ SE VIVE DUAS VEZES (1967)

(You Only Live Twice)

4 Estrelas 

Videoteca do Beto #195

Dirigido por Lewis Gilbert.

Elenco: Sean Connery, Teru Shimada, Tetsuro Tamba, Mie Hama, Akiko Wakabayashi, Lois Maxwell, Desmond Llewelyn, Donald Pleasence, Karin Dor, Bernard Lee, Charles Gray e Tsai Chin.

Roteiro: Roald Dahl, baseado em material de Harold Jack Bloom inspirado em romance de Ian Fleming.

Produção: Albert R. Broccoli e Harry Saltzman.

Com 007 só se vive duas vezes[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Após derrubar consideravelmente o nível de qualidade da franquia com o fraco “007 Contra a Chantagem Atômica”, o lendário agente secreto James Bond estava de volta ao cinema neste “Com 007 só se vive duas vezes”, longa dirigido por Lewis Gilbert que, com personagens mais interessantes e uma narrativa envolvente, felizmente recuperou o fôlego perdido.

Desta vez, coube a Roald Dahl a tarefa de adaptar o material de Harold Jack Bloom inspirado em romance de Ian Fleming, no qual acompanhamos James Bond (Sean Connery) sendo enviado para Tóquio a fim de descobrir a razão do desaparecimento de uma espaçonave norte-americana, que supostamente teria sido atacada pelos russos. Após a esperada retaliação russa, Bond e seu novo parceiro Tanaka (Tetsuro Tamba) percebem que tem pouco tempo para desvendar o caso e evitar a Terceira Guerra Mundial.

Criando uma narrativa envolvente deste o intrigante início no espaço, “Com 007 só se vive duas vezes” rapidamente fisga a atenção do espectador através da armação envolvendo a morte de James Bond e o misterioso sumiço da espaçonave que cria um clima político instável entre as duas potências mundiais da época. Além de utilizar muito bem a guerra fria como pano de fundo para construir um ótimo filme de ação, o diretor Lewis Gilbert acerta ainda ao equilibrar com precisão momentos de tensão, como a tensa sequência em que Bond rouba informações do cofre da Osato, e instantes bem humorados, como a divertida apresentação dos ninjas modernos, que numa sacada interessante do roteiro de Dahl surgem praticando com armas de fogo.

Transportando a ação para oriente, a fotografia de Freddie Young apresenta Hong Kong e especialmente Tóquio como metrópoles grandiosas, criando um visual inicialmente obscuro que reflete o processo de compreensão de Bond sobre o que estava acontecendo ali. Na medida em que o agente vai se interando dos fatos, o visual progressivamente se torna mais claro, abrindo espaço para cenas coloridas banhadas pela luz do dia, como no belo plano geral que acompanha Bond enfrentando diversos japoneses no porto de Kobe. Já no terceiro ato, o visual volta a ser tomado pelas sombras, o que serve para ampliar a escala de tensão que acompanha toda a sequência ocorrida dentro da imponente caverna concebida pelo design de produção de Ken Adam, que impressiona pela engenhosa estrutura construída sob a superfície de um vulcão.

Metrópoles grandiosasBond enfrenta diversos japoneses no porto de KobeImponente cavernaEnquanto isto, a trilha sonora de John Barry também é claramente mais inspirada que a anterior, especialmente na composição angustiante que acompanha os ataques da misteriosa nave no espaço e na utilização pontual e certeira do tema clássico de 007, como ocorre na empolgante perseguição de helicópteros, criando ainda variações da bela “You only live twice”, de Nancy Sinatra, que surgem ao longo da narrativa.

E já que mencionei os helicópteros, vale citar o criativo Nellie construído por “Q” (Desmond Llewelyn), que protagoniza uma das grandes cenas de “Com 007 só se vive duas vezes”. Indicando a aproximação dos inimigos através das sombras na superfície de um vulcão, Lewis Gilbert conduz a ótima sequência de maneira empolgante, auxiliado pela montagem dinâmica de Peter Hunt e pela clássica trilha sonora. Com a rápida transição entre planos subjetivos e outros que mostram a posição dos helicópteros, o diretor nos coloca no meio da ação sem jamais tornar a cena confusa, fazendo com que o espectador se sinta como o próprio 007 por alguns instantes.

Vivido por Sean Connery com mais seriedade do que no longa anterior, James Bond volta a apresentar características marcantes como o gosto refinado (ele não resiste a um bom champanhe Dom Perignon mesmo em território inimigo, por exemplo) e a incapacidade de resistir às mulheres, ainda que isto não tenha faltado em “007 Contra a Chantagem Atômica”. Mantendo o charme nos sempre interessantes diálogos com a simpática Moneypenny (Lois Maxwell), o agente continua perspicaz e sempre pronto para um bom confronto físico, como na feroz luta entre ele e um segurança da Osato, dotada de um realismo inédito na franquia até então. Mais difícil ainda é conter o impulso diante do sexo oposto, o que faz com que Bond revele até mais do que poderia no sensual “encontro” com Helga Brandt, a secretária de Osato vivida por Karin Dor que desiste de torturar o agente secreto para beijá-lo, mas em seguida tenta assassiná-lo ao abandonar o avião que pilotava.

Numa rápida participação, Charles Gray transforma Henderson num personagem intrigante através da fala mansa e da postura confiante, mas acaba friamente assassinado dentro da sua própria casa totalmente decorada no estilo oriental. Também carismática é a atuação de Tetsuro Tamba como Tanaka, o parceiro da vez que ajuda Bond a desvendar o caso e derrotar o grande vilão. Já Akiko Wakabayashi compõe Aki como uma jovem simultaneamente independente e delicada, criando boa empatia com o protagonista até morrer de forma melancólica na tensa e triste sequência em que é envenenada, conduzida lentamente pelo diretor.E finalmente, Mie Hama interpreta Kissy, a esposa de fachada de Bond que ajudará o agente no momento chave da narrativa. No entanto, infelizmente a longa cena do casamento deles parece fora de contexto e quebra momentaneamente o bom ritmo da narrativa, numa falha que poderia ser corrigida na sala de montagem, mas que ao menos é amenizada logo em seguida quando o longa retoma seu ritmo normal.

Surgindo novamente sem mostrar o rosto, o líder da SPECTRE mantém a aura de mistério enquanto acaricia o gato em seu colo, demonstrando firmeza através do tom de voz que transmite ordens com autoridade para seus comandados. Impiedoso, ele continua intolerante a falhas e não hesita antes de eliminar Helga após descobrir que Bond continua vivo. Só que “Com 007 só se vive duas vezes” nos reserva uma boa surpresa quando, já no ato final, finalmente revela o rosto de Blofeld, o misterioso vilão interpretado por Donald Pleasence.

NellieSensual encontro com Helga BrandtBlofeld finalmente revela o rostoNovamente apostando numa extensa batalha entre Bond e seus inimigos no encerramento da narrativa, ao menos desta vez podemos acompanhar uma sequência extremamente dinâmica e envolvente dentro da engenhosa cratera onde trabalham os integrantes da SPECTRE, repleta de confrontos empolgantes captados com destreza pela câmera ágil de Lewis Gilbert e reforçada pelos ótimos efeitos visuais e pelo excelente design de som que nos permite captar gritos, explosões e diálogos com clareza até que 007 novamente salve o mundo e termine a missão ao lado de outra bela garota.

Envolvente e recheado de bons personagens, “Com 007 só se vive duas vezes” representa a volta à boa forma da franquia 007, apostando numa narrativa mais dinâmica e repleta de boas cenas de ação para alcançar o sucesso. Considerando a quantidade de mulheres que ainda cruzariam o caminho de James Bond, era mesmo aconselhável que ele voltasse à boa forma.

Com 007 só se vive duas vezes foto 2Texto publicado em 16 de Maio de 2014 por Roberto Siqueira

007 CONTRA A CHANTAGEM ATÔMICA (1965)

(Thunderball)

2 Estrelas 

Videoteca do Beto #194

Dirigido por Terence Young.

Elenco: Sean Connery, Claudine Auger, Adolfo Celi, Luciana Paluzzi, Rik Van Nutter, Guy Doleman, Bernard Lee, Desmond Llewelyn, Molly Peters, Anthony Dawson, Jack Gwillim e Lois Maxwell.

Roteiro: Richard Maibaum, John Hopkins e Jack Whittingham, baseado em história do próprio Whittingham escrita em conjunto com Kevin McClory e Ian Fleming.

Produção: Kevin McClory, Albert R. Broccoli e Harry Saltzman.

007 Contra a Chantagem Atômica[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Após ser substituído por Guy Hamilton no excelente “007 Contra Goldfinger”, Terence Young retornava à série 007, acompanhado de boa parte da equipe técnica responsável pelos três primeiros filmes e ancorado ainda na força de Sean Connery no papel principal. Isto, no entanto, não impediu que “007 Contra a Chantagem Atômica” se transformasse numa verdadeira decepção, representando uma queda gigantesca no nível de qualidade da franquia. Apesar do sucesso de bilheteria e dos bons efeitos visuais, o longa peca em aspectos determinantes para o sucesso narrativo de seus antecessores.

Adaptado a seis mãos por Richard Maibaum, John Hopkins e Jack Whittingham, baseado em história também escrita a seis mãos pelo próprio Whittingham em conjunto com Kevin McClory e o criador do agente Ian Fleming, “007 Contra a Chantagem Atômica” traz o agente James Bond (Sean Connery) na caça ao misterioso criminoso que ameaça explodir uma grande cidade britânica ou norte-americana com uma bomba atômica roubada pela SPECTRE caso não receba 100 milhões de dólares em determinado prazo.

Apostando inicialmente numa abordagem mais leve e bem humorada que infelizmente é prejudicada pelas piadas pouco inspiradas do roteiro e investindo ainda num maior apelo sexual, Terence Young até parece pender para a paródia, talvez buscando disfarçar a trama pouco envolvente que tem em mãos. Mas o fato é que se o roteiro não ajuda, a direção de Young pouco faz para amenizar a situação, conduzindo a narrativa de maneira irregular e errando bastante em muitas escolhas, como ao distorcer a tela na ridícula cena em que, durante um exame, Bond é amarrado a um aparelho que tem sua velocidade acelerada por um invasor.

Constrangedora também é a luta corporal que abre o longa. Totalmente datada, a cena ao menos tem a desculpa de seguir o padrão da maioria dos confrontos físicos da série até então. Por outro lado, o estiloso Aston Martin apresenta mais acessórios criativos na sequência inicial, logo após Bond utilizar um interessante artefato voador que até nos dá a esperança de que “007 Contra a Chantagem Atômica” tenha mais momentos criativos como este. Doce ilusão.

Desta vez explorando o charme de Paris e a beleza dos Bahamas, a fotografia de Ted Moore adota um visual opaco na maior parte das cenas em terra firme, criando um forte contraste com a vivacidade das cenas no mar. Além disso, Moore aposta num visual mais sombrio quase sempre que os vilões entram em cena, como na reunião da SPECTRE em que os tons de preto predominam ou na sequência do roubo das bombas atômicas, numa escolha que reforça a clara divisão entre o bem e o mal.

Interessante artefato voadorVivacidade das cenas no marReunião da SPECTREApesar de constante, a trilha sonora de John Barry inicialmente é mais discreta que o de costume, mas este quadro muda no decorrer da narrativa, infelizmente através de composições péssimas como aquela que embala o confronto final embaixo d’água e a perseguição no carnaval de rua, que, aliás, é uma sequência extremamente mal conduzida pelo diretor, incapaz de criar a mínima tensão na plateia.

Ao menos, o líder da SPECTRE mantém o ar misterioso ao não mostrar o rosto, mantendo também a aura ameaçadora intacta ao eliminar um dos integrantes da equipe após descobrir que ele pegou parte do dinheiro arrecadado em um crime. No entanto, a ameaça termina por aqui, já que Adolfo Celi compõe Largo como um vilão extremamente fraco, não tendo um momento sequer que pareça colocar James Bond em risco real. Talvez em consequência da falta de um antagonista a altura, o próprio Bond é interpretado de maneira mais relaxada por Connery, o que é uma pena. No restante do elenco, somente as bondgirls Patricia (a enfermeira vivida por Molly Peters), Domino (Claudine Auger) e Fiona (Luciana Paluzzi) merecem algum destaque, mantendo inviolada uma das marcantes características da franquia.

Servindo ao menos pela curiosidade de mostrar pela primeira vez uma convenção entre os agentes “00” (repare que James Bond senta exatamente na sétima cadeira da esquerda pra direita), “007 Contra a Chantagem Atômica” acerta também ao trazer pela primeira vez uma bondgirl que não é fisgada pelo charme do protagonista (“Não se pode ganhar todas”, diz Bond). Talvez por isso, Fiona seja sumariamente assassinada no meio da trama, como uma espécie de punição inconsciente dos roteiristas pelo atrevimento da moça.

Numa tentativa desesperada de dar mais ritmo ao longa, Terence Young diminui o número de frames por segundo em diversas cenas de ação, num efeito que de fato acelera a imagem, mas soa deselegante e não provoca o impacto pretendido pelo diretor, já que a falta de grandes cenas e de uma atmosfera de tensão que realmente ofereça perigo ao protagonista é latente e não seria resolvida de maneira tão simples. É na construção das cenas e não na forma como elas são apresentadas que reside o maior problema de “007 Contra a Chantagem Atômica”.

Largo um vilão extremamente fracoBond mais relaxadoLongo e cansativo conflito finalPra piorar, nem mesmo os bons efeitos visuais salvam o longo e cansativo conflito final ocorrido no fundo do mar, que além de durar muito mais do que deveria, não tem um instante sequer que fique guardado na memória do espectador, mais parecendo uma longa tortura que se prolonga enquanto desejamos que o filme acabe logo. Aliás, o montador Ernest Hosler, que substitui Peter Hunt, parece não perceber o momento certo de cortar algumas cenas, estendendo sequências totalmente sem graça como o citado confronto final e a arrastada sequência em que os integrantes da SPECTRE escondem as bombas no oceano.

Escancarando a falta de criatividade do roteiro e a ausência de cenas de impacto, endossado ainda por um vilão totalmente sem carisma e nada ameaçador e pela ausência de personagens marcantes, “007 Contra a Chantagem Atômica” mal parece um filme da franquia 007, pecando em quase todos os aspectos que fizeram a fama mundial do agente secreto britânico. Pra piorar, muitas de suas cenas parecem durar mais do que deveriam, deixando o espectador entediado enquanto aguarda a próxima sequência na esperança de que o ritmo vá melhorar. E tédio é algo que nós jamais deveríamos sentir num filme de James Bond.

007 Contra a Chantagem Atômica foto 2Texto publicado em 15 de Maio de 2014 por Roberto Siqueira

007 CONTRA GOLDFINGER (1964)

(Goldfinger)

5 Estrelas 

Videoteca do Beto #193

Dirigido por Guy Hamilton.

Elenco: Sean Connery, Gert Fröbe, Honor Blackman, Martin Benson, Harold Sakata, Tania Mallet, Shirley Eaton, Desmond Llewelyn, Bernard Lee e Victor Brooks.

Roteiro: Richard Maibaum e Paul Dehn, baseado em romance de Ian Fleming.

Produção: Albert R. Broccoli e Harry Saltzman.

007 Contra Goldfinger[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Terceiro filme da franquia, “007 Contra Goldfinger” preserva até hoje um lugar de destaque em qualquer lista dos melhores longas estrelados pelo agente secreto britânico, o que não é pouco, considerando a quantidade de bons filmes produzidos desde então. Recheado de personagens carismáticos, balanceando momentos divertidos com outros de alta tensão e engrandecido ainda por um bom vilão, o longa dirigido por Guy Hamilton conseguiu superar seus ótimos antecessores, conquistando lugar cativo no coração dos fãs da franquia.

Novamente baseado em romance de Ian Fleming, o roteiro escrito por Richard Maibaum e Paul Dehn traz James Bond (Sean Connery) sendo incumbido de investigar um excêntrico milionário conhecido como Goldfinger (Gert Fröbe), mas o seu envolvimento com a namorada do alvo acaba colocando-o em rota de colisão com o poderoso homem. Após ser capturado e preso, Bond descobre que os planos de Goldfinger são bem mais ousados do que ele imaginava anteriormente.

Seguindo a já clássica abertura em que um tiro é disparado em direção à tela, um travelling nos apresenta a bela locação da vez e nos transporta por Miami até encontrarmos James Bond recebendo uma massagem, obviamente, acompanhado de uma linda moça. No entanto, instantes depois o criativo roteiro de “007 Contra Goldfinger” já estabelece o caminho que vai seguir, apresentando o grande vilão logo de cara e sem mistério, numa quebra da estrutura adotada antes que funciona muito bem. Assim, fica evidente que os roteiristas se equilibrarão entre momentos que respeitam o padrão pré-estabelecido e outros que buscam novidades que injetem energia à franquia.

Entre as novidades, talvez a que mais chame a atenção seja a primeira aparição do Aston Martin DB-V repleto de acessórios interessantes criados pelo genial “Q”, novamente interpretado por Desmond Llewelyn. Concebidos de maneira engenhosa pelo design de produção de Ken Adam, os aparatos tecnológicos do veículo são muito criativos e permanecem atraentes ainda hoje. O inventivo roteiro traz ainda a primeira menção ao agente 008, além da célebre frase de James Bond sobre seu gosto refinado para bebidas (“Martini batido, não mexido”).

Recheado pelo típico humor irônico britânico, “007 Contra Goldfinger” não deixa de lado o que vinha funcionando até então, como as conversas cada vez mais divertidas e sarcásticas entre Bond e a secretária Moneypenny (Lois Maxwell), mantendo-se também fiel à composição do personagem através de sua paixão irresistível pelas mulheres e de sua preferência, por exemplo, pelo champanhe Dom Perignon 53. Assim, ao mesmo tempo em que delicia as novidades, o espectador aprecia as características marcantes de James Bond, jamais tendo a sensação de estar vendo outro personagem na tela. Esta sensação é reforçada pelo uso constante da trilha sonora de John Barry, que emprega variações da excelente música tema “Goldfinger”, de Shirley Bassey, para pontuar as cenas e, assim como nos filmes anteriores, inserindo esporadicamente o tema clássico composto por Monty Norman.

Também mantendo a coerência, a fotografia de Ted Moore mantém o padrão adotado até então, apostando num visual naturalista e predominantemente diurno, ainda que algumas cenas marcantes ocorram à noite, como o assassinato de Tilly (Tania Mallet) e a dinâmica perseguição de carros que a antecede. É interessante notar também como em diversos momentos temos a presença de objetos dourados em cena, como na decoração do avião que leva Bond para os EUA, no qual também as aeromoças usam roupas com tons que remetem ao vilão do longa. Estes pequenos detalhes do design de produção realçados pela fotografia servem para fixar inconscientemente na mente do espectador o perigo que ronda constantemente o protagonista.

Aston Martin repleto de acessóriosObjetos douradosHerói de carne e ossoCada vez mais a vontade na pele de James Bond, Sean Connery encarna o sujeito com a costumeira imponência, demonstrando também sagacidade, por exemplo, ao pensar rápido após ver um inimigo se aproximando através do reflexo na retina da moça que tenta beijar (!) – e é curioso notar como exageros como este jamais soam ofensivos e se tornam até mesmos charmosos pela maneira como são conduzidos pelo diretor e interpretados pelo ator. Conferindo humanidade ao personagem ao demonstrar seu conflito interno após ver a bela Tilly passar por ele de carro, equilibrando-se entre a atitude racional (continuar perseguindo Goldfinger) e a passional (ir atrás da moça), Connery evidencia também que estamos diante de um herói de carne e osso ao demonstrar medo diante da morte iminente quando Goldfinger ameaça cortar Bond com laser, numa cena muito tensa conduzida lentamente por Guy Hamilton na qual, assim como o apreensivo agente, o espectador praticamente gruda na cadeira até a conclusão da sequência.

Entre as bondgirls, o destaque fica mesmo para Honor Blackman, que compõe a bela e independente Pussy Galore com muito charme e firmeza, demorando a render-se ao charme de Bond e, justamente por isso, conquistando o galanteador agente com seu jeito descolado e a inteligência necessária para alguém que convive naquele meio repleto de homens poderosos e, ainda por cima, pilota aviões. Comandando a própria companhia aérea que, para a alegria de Bond, é composta somente por garotas, Pussy só cede quando é pega por Bond à força, num momento que foge do politicamente correto sem soar ofensivo, exatamente pela maneira como é conduzido pelo diretor e pela forma descontraída que é interpretado por Connery e Blackman.

Já as outras duas garotas de “007 Contra Goldfinger” não tiveram tanta sorte. Vivendo a primeira das irmãs que se apaixonam por Bond e são assassinadas, Shirley Eaton mal tem tempo de mostrar algo como Jill, mas ainda assim protagoniza uma boa cena quando revela a razão das vitórias seguidas de Goldfinger nas cartas, sendo dela ainda a icônica imagem da garota nua coberta pela tinta dourada. Já sua misteriosa e determinada irmã Tilly é interpretada por Tania Mallet de maneira obstinada, justificando sua postura após revelar que busca vingar a morte de Jill. No entanto, sua triste morte não apenas surpreende o espectador, como também evidencia que desta vez James Bond se encontra diante de um vilão realmente perigoso e ameaçador.

Soando inicialmente tão inofensivo inicialmente que chega a ser patético, o Goldfinger de Gert Fröbe se transforma ao longo da narrativa e se consolida como o melhor vilão da franquia até então, representando uma ameaça real ao protagonista. Poderoso, ele domina diversos negócios espalhados pelo mundo, mantendo até mesmo a máfia sob controle, como fica evidente quando ele elimina friamente alguns gângsteres de seu caminho. O mais curioso, no entanto, é que Goldfinger jamais se parece com os vilões caricatos que parecem acordar e esfregar as mãos pensando na próxima maldade que farão, soando até mesmo simpático em diversos momentos nos inúmeros diálogos que tem com Bond, que também servem para comprovar a inteligência do personagem. Observe, por exemplo, seu sorriso de canto de boca após ser elogiado por Bond, num momento sutil e muito interessante da composição de Fröbe, que, curiosamente, teve que ser dublado na versão final devido ao forte sotaque germânico. Fechando o elenco, o capanga Oddjob vivido por Harold Sakata representa outra séria ameaça, ainda que sua atuação seja extremamente caricata e destoe bastante.

Bela e independente Pussy GaloreMisteriosa e determinada TillyMelhor vilão da franquiaApós estabelecer o perigo que 007 corre e explicar detalhadamente o plano do grande vilão, o empolgante ato final começa com os aviões de Pussy Galore despejando o gás letal no forte que contém toda a reserva de ouro dos EUA. Fazendo questão de ressaltar o rosto dos parceiros de Bond no meio das vítimas, Guy Hamilton cria um plano que será essencial logo depois, quando ao ver os corpos se levantando e descobrir que eles estavam fingindo, a plateia se questiona como aquilo era possível, tendo a deliciosa tarefa de ligar os pontos e entender como James Bond havia contornado aquela complicada situação e derrotado Goldfinger. Momentos tensos como o confronto entre o exército e os comandados por Goldfinger, o duelo entre Bond e o forte Oddjob, a bomba desativada a sete segundos da explosão e a luta final entre herói e vilão no avião concluem este excelente filme de maneira empolgante.

Contando com um roteiro criativo, o carisma de seu protagonista e um vilão realmente ameaçador, além é claro de cenas marcantes e sequências empolgantes de ação, Guy Hamilton fez deste um filme superior aos anteriores, estabelecendo um padrão que seria seguido dali em diante. Aliás, justiça seja feita: “007 Contra Goldfinger” não é somente o melhor filme da franquia até então, como também é ainda hoje um dos melhores filmes do agente em seus mais de 50 anos de existência.

007 Contra Goldfinger foto 2Texto publicado em 14 de Maio de 2014 por Roberto Siqueira

MOSCOU CONTRA 007 (1963)

(From Russia with Love)

4 Estrelas 

Videoteca do Beto #192

Dirigido por Terence Young.

Elenco: Sean Connery, Daniela Bianchi, Pedro Armendáriz, Lotte Lenya, Robert Shaw, Bernard Lee, Eunice Gayson, Walter Gotell, Francis De Wolff, Desmond Llewelyn, Lois Maxwell, Anthony Dawson e Eric Pohlmann.

Roteiro: Richard Maibaum e Johanna Harwood, baseado em romance criado por Ian Fleming.

Produção: Albert R. Broccoli e Harry Saltzman.

Moscou contra 007[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Um ano após estrear com sucesso no cinema, o agente secreto James Bond ganhava seu segundo filme. Novamente dirigido por Terence Young e estrelado por Sean Connery, “Moscou contra 007” aposta em elementos narrativos fundamentais para o sucesso do longa anterior, estabelecendo também novos conceitos que seriam utilizados nos filmes seguintes. A diferença, no entanto, é que este segundo longa claramente apresenta um ritmo mais intenso, numa indicação sutil dos caminhos que a franquia seguiria ao longo das décadas.

Mais uma vez adaptado para a telona por Richard Maibaum e Johanna Harwood com base no romance escrito por Ian Fleming, “Moscou contra 007” traz o agente secreto James Bond (Sean Connery) numa missão em Istambul, onde ele terá que ajudar uma agente russa (Daniela Bianchi) a fugir e, de quebra, ainda poderá capturar uma desejada máquina chamada Lektor. Auxiliado pelo turco Kerim Bey (Pedro Armendáriz), ele se sai bem na missão até descobrir que na verdade está ajudando a executar o plano da temida organização SPECTRE.

Desta vez desfalcados de Berkely Mather, os roteiristas Maibaum e Harwood abusam de um artifício narrativo conhecido como dica e recompensa, com diversas ações e situações refletindo em momentos futuros da projeção, como a explicação sobre como a maleta poderia explodir se aberta incorretamente e a bota envenenada usada pelos agentes da SPECTRE, o que sempre chama a atenção do espectador mais atento, funcionando como uma piscadela que nos faz vibrar ao reconhecermos o artifício em questão. Beneficiado pelo roteiro relativamente mais elaborado, ainda que este desenvolva os personagens apenas superficialmente, desta vez o diretor Terence Young e seu montador Peter Hunt empregam um ritmo mais envolvente e dinâmico do que o adotado em “007 Contra o Satânico Dr. No”, mantendo a narrativa mais focada nos acontecimentos do que nos personagens.

Visualmente, “Moscou contra 007” também é claramente mais obscuro que seu antecessor, já que desta vez o diretor de fotografia Ted Moore aposta no predomínio de cenas noturnas e ambientes fechados para criar uma atmosfera de tensão. Além disso, a escolha de locações internacionais naturalmente belíssimas como Veneza e Istambul torna-se visualmente ainda mais interessante pela maneira como estas cidades são captadas pela fotografia de Moore, realçando em planos gerais a linda geografia local ao mesmo tempo em que nos revela detalhes obscuros, especialmente em Istambul onde acompanhamos a estrutura do subsolo, contrastando com o luxo e a beleza, por exemplo, do quarto de hotel em que Bond está hospedado. As locações internacionais, aliás, também se estabeleceriam como outra marca da franquia.

Vale destacar também a primeira aparição de Desmond Llewelyn como o genial “Q”, introduzindo pela primeira vez na franquia os famosos acessórios usados pelo agente através da maleta com diversas funções concebida pelo design de produção de Syd Cain, que acerta ainda na decoração dos cenários turcos, o que, somado aos caprichados figurinos de Jocelyn Rickards, transporta o espectador para aquele ambiente com precisão. Como curiosidade, observe ainda a máscara de disfarce facial que surge logo no início, que serviria de inspiração para outro famoso artifício usado na franquia “Missão: Impossível” muitos anos depois.

Estrutura do subsoloLuxo e belezaO genial “Q”Presença praticamente constante durante todo o longa, a trilha sonora de John Barry acerta quase sempre que utiliza o tema clássico composto por Monty Norman, pecando apenas pelo exagero que acaba desgastando um pouco a ótima composição e errando também na composição totalmente dissonante que acompanha o datado combate físico entre duas turcas na luta pelo amor de um homem. Quem também exagera é o design de som, que amplia consideravelmente o barulho natural de tapas e tiros numa tentativa de realçar o efeito daquelas ações.

Mas se tecnicamente o longa oscila, estas derrapadas são compensadas pela presença de características determinantes para o sucesso de James Bond como personagem, trazendo novamente sua inteligência e capacidade de prever situações perigosas, a elegância ao falar e andar e, obviamente, a incapacidade de resistir a belas mulheres (desta vez, até os créditos iniciais são apresentados no corpo de uma mulher). Obviamente, o talento e a imponência de Sean Connery são determinantes para que o personagem funcione tão bem, já que o ator escocês tem uma capacidade natural de transmitir segurança através da expressão corporal e da fala.

Criando boa empatia com Bond, a bela Daniela Bianchi transforma Tatiana Romanova numa moça frágil e apaixonada, jamais passando a impressão de que ela estava ali cumprindo uma missão, o que de certa forma é coerente, já que a personagem de fato se apaixona pelo agente britânico, como fica claro no ato final. Até hoje a mais nova dentre todas as bondgirls, a italiana Bianchi tinha apenas 21 anos na época do lançamento do filme e, assim como a suíça Ursula Andress em “007 Contra o Satânico Dr. No”, teve que ser dublada por causa do forte sotaque italiano falando inglês. Ainda entre os destaques do elenco, o carismático Pedro Armendáriz transforma Kerim Bey no verdadeiro braço direito de Bond na Turquia, numa atuação simpática que nos faz lamentar sua morte como se tivéssemos perdido um amigo de longa data.

E finalmente, os vilões de “Moscou contra 007” não representam uma ameaça real até os instantes finais do longa, passando quase desapercebidos não fosse pela caricatural composição de Lotte Lenya como a general russa Rosa Klebb e pela aparição misteriosa do líder da organização SPECTRE, que sequer chega a mostrar o rosto (voz de Ernest Blofeld). E nem mesmo a explosão de uma bomba no meio de um momento íntimo de Kerim Bey chega a ameaçar, provocando apenas um susto repentino no espectador. Mas este cenário muda completamente quando Robert Shaw entra em cena com seu assustador Donald Grant.

Romanova frágil e apaixonadaKerim Bey o verdadeiro braço direitoAssustador Donald GrantNum momento raro até então, a tensa sequência dentro do trem após a morte de Kerim Bey faz o espectador realmente temer pelo destino de Bond (o que é ótimo!), assim como a feroz luta entre ele e o agente da SPECTRE vivido por Shaw é claramente mais intensa e realista do que todas as outras realizadas até então. A partir daí, toda a sequência final mantém um ritmo intenso, com Bond fugindo de um helicóptero e de vários barcos até finalmente chegar a Veneza e, com a esperada ajuda de Romanova, despachar a última inimiga em seu caminho.

Mais empolgante que o longa anterior, “Moscou contra 007” é outra ótima aventura do agente britânico que, logo em seu segundo filme, já dava mostras de que tinha mesmo vindo pra ficar. Sorte nossa.

Moscou contra 007 foto 2Texto publicado em 13 de Maio de 2014 por Roberto Siqueira