STAR WARS EPISÓDIO IV: UMA NOVA ESPERANÇA (1977)

(Star Wars: Episode IV – A New Hope)

 

Videoteca do Beto #69

Dirigido por George Lucas.

Elenco: Mark Hamill, Harrison Ford, Carrie Fisher, Peter Cushing, Alec Guinness, Anthony Daniels, Kenny Baker, Peter Mayhew, David Prowse, Phil Brown, Shelagh Fraser, Alex McCrindle, Eddie Byrne e James Earl Jones (Darth Vader – Voz).

Roteiro: George Lucas.

Produção: Gary Kurtz.

[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Com uma narrativa simples, que serve de introdução ao complexo universo da trilogia Star Wars, efeitos especiais magníficos e personagens que personificam a eterna luta ente as forças do bem e do mal, “Star Wars Episódio IV: Uma Nova Esperança” é o marco inicial de um momento histórico do cinema, quando os grandes estúdios perceberam a importância do público jovem e passaram a priorizar produções voltadas para este público. Mas ao contrário da maioria das produções contemporâneas, o longa dirigido por George Lucas exala criatividade, levando o espectador numa viagem inesquecível por cenários e personagens fascinantes.

O jovem Luke Skywalker (Mark Hamill) se vê envolvido numa verdadeira guerra intergaláctica quando seu tio (Phil Brown) compra os robôs C3PO (Anthony Daniels) e R2D2 (Kenny Baker) e encontra com eles uma mensagem da princesa Leia Organa (Carrie Fisher) para Obi-Wan Kenobi (Alec Guinness), alertando sobre os planos do poderoso império liderado pelo temível Darth Vader (David Prowse, voz de James Earl Jones). Luke e Kenobi se juntam então ao mercenário Han Solo (Harrison Ford) e ao feioso Chewbacca (Peter Mayhew) e partem para enfrentar as forças do mal.

“Star Wars Episódio IV: Uma Nova Esperança” é uma grande aventura. Falar sobre ele hoje, mais de trinta anos após o seu lançamento, não é tarefa fácil, principalmente porque não é possível medir o tamanho de seu impacto na cultura cinematográfica com exatidão. Mas para se ter uma pequena idéia da importância do filme, basta dizer que a ópera espacial de George Lucas marca (ao lado de Tubarão, de seu amigo Spielberg) o inicio dos blockbusters, com sua narrativa ágil, voltada para o público jovem, repleta de efeitos especiais e muita ação. Mas ao contrário de muitos dos filmes atuais do gênero, a narrativa de “Uma Nova Esperança” é muito interessante e os efeitos especiais, ainda que impecáveis, não são um fim, mas apenas um meio utilizado para colaborar com o andamento da trama. “Uma Nova Esperança” é também o responsável por nos apresentar aos encantadores personagens do universo “Star Wars”. Alguns deles nos acompanharão por toda a trilogia, enquanto outros ficarão pelo caminho, mas é incrível notar como praticamente todos conseguem deixar sua marca na memória do espectador. Neste primeiro filme da trilogia, estes personagens não são plenamente desenvolvidos e, por isso, nós pouco sabemos sobre seu passado e suas motivações. Sabemos que a princesa Leia se rebela contra o império e que Darth Vader quer destruir determinado planeta, mas não sabemos por que o vilão deseja fazer aquilo. E qual a natureza da relação entre Kenobi e o pai de Skywalker? Algumas respostas até começam a aparecer de maneira sutil, mas o primeiro filme serve mesmo apenas como preparação para o restante da trilogia.

Ainda assim, os personagens de “Uma Nova Esperança” se destacam. A começar pelo vilão da história, provavelmente presente em quase todas as listas de grandes vilões da história do cinema. A caracterização de Darth Vader é perfeita, desde o figurino completamente preto (figurinos de John Mollo), passando pela voz firme e ameaçadora de James Earl Jones e terminando com seu sabre de luz vermelha, numa completa personificação do mal. Já Luke Skywalker é exatamente o oposto do vilão e seu figurino branco ajuda a reforçar esta idéia. Interpretado pelo carismático Mark Hamill, Luke é a força que equilibra o universo na eterna luta do bem contra o mal. Hamill demonstra muito bem a gradual transformação do personagem, inicialmente inocente, no grande herói da narrativa. No entanto, ainda que algumas dicas sejam dadas no primeiro filme, seu arco dramático só se completará mesmo no segundo filme (mas vamos deixar este assunto para a crítica de “O Império Contra-Ataca”). Já a princesa Leia, além de corajosa e determinada, demonstra um interessante conflito de sentimentos ao não saber se gosta mais de Han Solo ou de Luke Skywalker e Carrie Fisher demonstra este dilema com competência. Além disso, suas constantes discussões com Han servem como alívio cômico para a narrativa, desafogando a tensão em diversos momentos (e nestas cenas, Fisher consegue contracenar muito bem com o talentoso Harrison Ford). Ford, aliás, que aparece somente com quase uma hora de projeção, o que é suficiente para que ele roube a cena e demonstre todo seu talento, compondo um Han Solo egoísta, representando com exatidão o estereótipo do malandro, ao buscar sempre uma solução que melhor lhe convenha, independente de prejudicar os outros ou não. E finalmente, Alec Guinness demonstra segurança na pele do jedi Obi-Wan Kenobi, transmitindo muita segurança nos ensinamentos do veterano para o jovem Luke. Seu duelo de sabres de luz com Darth Vader é tenso, porém jamais alcança a intensidade de outro duelo similar que aconteceria no segundo filme da trilogia, não por causa do ator e sim por causa da carga dramática infinitamente maior no segundo duelo. Vale citar ainda os apaixonantes robôs C3PO e R2D2, interpretados por Anthony Daniels e Kenny Baker, além de Chewbacca, vivido por Peter Mayhew, cuja aparência assustadora é inversamente proporcional à bondade de seu coração.

Além dos fascinantes personagens, “Uma Nova Esperança” conta ainda com a empolgante trilha sonora de John Williams, tão marcante que até mesmo quem nunca assistiu ao filme é capaz de reconhecê-la. A fotografia de Gilbert Taylor destaca cores sem vida no planeta Tatooine, conferindo um visual árido, que reflete a vida dura daquelas pessoas constantemente ameaçadas pelo império. Por outro lado, quando a ação se passa na nave de Darth Vader, a fotografia sombria, que destaca o azul escuro e o preto, representa a maldade que paira sobre o local. Todo este cuidado com o aspecto visual é impressionante, desde as inúmeras criaturas que cruzam pela narrativa (como o perigoso Jabba) até as imponentes naves que cortam em alta velocidade o espaço sideral, atestando a qualidade dos sensacionais efeitos visuais da Industrial Light & Magic. E obviamente, as seqüências de perseguição e combate no espaço marcam alguns dos grandes momentos do longa, graças à condução segura e competente de George Lucas.

E chegamos então ao grande idealizador de “Star Wars”. O criativo cineasta pertence à geração que marcou o cinema norte-americano, no movimento que ficou conhecido como “nova Hollywood”. Mas ao contrário de Coppola e Scorsese, que seguiram outro caminho, preferindo filmes sombrios e personagens extremamente complexos, Lucas (assim como o amigo Spielberg) seguiu pelo caminho do chamado “cinema-pipoca”, voltado para o público jovem, mas que nem por isso subestima a inteligência de seu espectador. Neste primeiro episódio da velha trilogia, Lucas nos apresenta um visual esplêndido nas cenas espaciais, graças aos belos planos e enquadramentos do diretor. Repare também como quando Luke e Kenobi chegam numa vila para negociar com Han a utilização de uma nave, o plano geral de Lucas destaca o belo trabalho de direção de arte de Leslie Dilley e Norman Reynolds, que cria uma vila diferente e impressionante, repleta de detalhes em cada uma de suas imponentes construções. Lucas é responsável também pelo bom roteiro de “Uma Nova Esperança”, que além de conter interessantes reviravoltas, como quando Han inesperadamente retorna para ajudar Luke, faz pequenas menções ao pai de Skywalker, deixando claro o peso que sua ausência tem na vida do rapaz. A narrativa é coesa e muito bem conduzida pelo diretor, auxiliado também pela boa montagem do trio Richard Chew, Paul Hirsch e Marcia Lucas, que imprime um ritmo mais lento no primeiro ato, acelerando a partir do segundo e chegando ao clímax no terceiro, já num ritmo de tirar o fôlego bastante coerente com uma aventura. Colabora com esta sensação de urgência a câmera ágil de Lucas, especialmente nas batalhas espaciais, alternando, sem jamais soar confusa, entre os planos abertos que nos mostram as naves e os planos fechados que ilustram a tensão dos pilotos. A montagem utiliza ainda com freqüência o fade e a transição de imagens que se sobrepõem na tela, dando um ar episódico proposital à narrativa. O diretor queria que o filme se parecesse com os seriados norte-americanos e este efeito dá esta sensação. Talvez o único problema de “Uma Nova Esperança” seja o seu final pouco aberto à continuação, que não deixa a sensação de “quero mais” esperada para um primeiro filme de trilogia. Além disso, sua narrativa não consegue desenvolver os personagens completamente, mas este não chega a ser um problema, já que este desenvolvimento seria feito com maestria no segundo filme e foi planejado pelo diretor. Ainda assim, o longa consegue um resultado bastante satisfatório, se estabelecendo como uma aventura capaz de nos transportar para outro universo de maneira mais que eficiente.

Responsável por criar uma verdadeira legião de fãs e preparar o terreno para o maravilhoso “O Império Contra-Ataca”, “Star Wars, uma nova esperança” jamais alcança os níveis de tensão e o aspecto sombrio de sua seqüência, mas ainda assim consegue agradar o espectador ao nos apresentar personagens importantes, cenários magníficos e uma história capaz de prender a atenção com sua narrativa ágil, inteligente e bem conduzida. Assim como o poderoso ataque da estrela da morte, George Lucas deixou sua marca neste importante filme de estréia da trilogia “Star Wars”.

Texto publicado em 10 de Outubro de 2010 por Roberto Siqueira

14 comentários sobre “STAR WARS EPISÓDIO IV: UMA NOVA ESPERANÇA (1977)

  1. Luigi Filipe Bonvenuto 17 fevereiro, 2018 / 7:12 pm

    Gostei muito da análise, foi muito bem feita. Esse pra mim é o mais fraco da trilogia mas não que isso o torne ruim, pois os três filmes são maravilhosos. Vou conferir a análise dos outros filmes, parabéns pelo bom trabalho

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  2. francisco 12 abril, 2012 / 9:53 pm

    Roberto, eu tinha imaginado que vc daria cinco estrelas para esse Star Wars pela analogia com outros clássicos já comentados por vc e me surmpreendi quando vi uma a menos, mas não discordei. Eu também tirei uma na minha ‘modesta’ avaliação, só que sei que não são pelos mesmos motivos ou critérios. Pra mim o único senão em relação à este filme foi por ele parecer em alguns momentos um tanto infantilizado, mas isso não compromete em hipótese nenhuma sua grandeza e sua importância revolucionária na história do cinema moderno que, infelizmente, como vc mesmo disse, esta revolução seria mal aproveitada futuramente pela maioria dos filmes do estilo, mas (felizmente) muito bem utilizada nas continuações da série. Um abraço

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    • Roberto Siqueira 20 abril, 2012 / 11:27 pm

      Que legal Francisco. Concordamos de maneiras diferentes. rs
      Acho que a infantilização da série se consolidou mesmo no terceiro filme. E é uma pena que os estúdios tenham se aproveitado do sucesso de Star Wars para nos encher com tanta porcaria ao longo dos anos.
      Abraço.

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    • francisco 23 abril, 2012 / 1:19 am

      Exatamente…mas eu ainda não conferi os outros dois segmentos da saga que já estão comigo e vou vê-los nos próximos dias, e confesso que vc me desanimou em relação ao Retorno de Jedi que eu esperava ser o melhor da série, mas td bem, assim não vou me decepcionar mais né, rsrs…um abraço, muito obrigado!

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    • Roberto Siqueira 2 maio, 2012 / 10:09 pm

      Desculpe Francisco. Espero que goste dos filmes.
      Abraço.

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  3. Cross98 1 março, 2012 / 10:09 pm

    Grande filme , sem duvidas nenhuma . Mas é so para fans mesmo , eu sou um deles

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    • Roberto Siqueira 4 março, 2012 / 8:48 pm

      Eu gosto também, mas prefiro o segundo.
      Abraço.

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