Nova Hollywood

Em 1967, um filme estrelado pelo incisivo Warren Beatty e dirigido por Arthur Penn surpreendeu Hollywood. Violência, apelo sexual e uma dupla de anti-heróis protagonistas eram apenas algumas das novidades de “Bonnie & Clyde, uma rajada de balas”. Um ano depois, caía o rígido “Código de Produção” (ou “Código Hays”), que controlava minuciosamente cada filme que era lançado nos EUA de acordo com o que eles consideravam moralmente aceitável pra época, sendo substituído pela censura por idade (vigente ainda hoje) e abrindo espaço para filmes mais ousados tematicamente. Estava aberto também o caminho para o mais importante movimento cinematográfico da história de Hollywood.

"Bonnie & Clyde", 1967: Filme seminal do movimento

Foi então que, em 1969, dois malucos que estavam à margem da indústria de Hollywood simplesmente mandaram tudo pelos ares e redefiniram a forma de se fazer cinema nos EUA. Dennis Hopper e Peter Fonda lançaram o road-movieSem Destino”, um dos mais perfeitos símbolos da contracultura, que vivia o seu auge naquele período. Após o sucesso de “Sem Destino”, todos os estúdios demitiram seus produtores de meia-idade e firmaram contratos com produtoras independentes como a BBS, para a realização de filmes de baixo orçamento, dando total liberdade criativa para os jovens diretores que surgiam. Nascia a “nova Hollywood”, claramente influenciada pelo cinema “de autor” da nouvelle vague francesa, substituindo a figura poderosa do produtor pela figura criativa do diretor, agora tido como a grande mente pensante por trás dos filmes. Estava pavimentado o caminho para grandes diretores como Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Stanley Kubrick, Roman Polanski, Peter Bogdanovich, Sam Peckinpah, Steven Spielberg e George Lucas.

"Sem Destino", 1969: A revolução

Listar os filmes importantes da “nova Hollywood”, ou até mesmo seus diretores, não é tarefa das mais fáceis. Basta dizer que podemos somar ainda à turma citada acima nomes como William Friedkin, Robert Altman, Arthur Penn, John Boorman, Mike Nichols, Brian de Palma, Bob Rafelson, Sidney Lumet e Hal Ashby. Quanto aos filmes, deixarei no final da página uma lista para que possam apreciar a enorme quantidade de obras magníficas do período. Inútil destacar algum filme em especial, já que a grande maioria tem muita qualidade e importância.

Finalmente, é importante registrar que esta época mágica durou apenas 13 anos aproximadamente, se encerrando no início dos anos 80 com o fracasso de “Portal do Paraíso”, filme que praticamente enterrou a carreira de Michael Cimino, e a obra-prima “Touro Indomável”, de Martin Scorsese. Foram anos de muita criatividade e liberdade, que resultaram em filmes espetaculares, mas também foram anos regados a sexo, drogas e muita autodestruição, o que levou toda esta geração a perder o controle criativo que eles conquistaram e devolver o poder aos estúdios. Toda esta época fascinante é descrita em detalhes no excepcional livro de Peter Biskand, traduzido por Ana Maria Bahiana para o português, chamado “Como a geração sexo-drogas-e-rock n’ roll salvou Hollywood”. Trata-se de um ótimo livro, muito bem escrito, repleto de detalhes que explicam o cenário sócio-cultural da época que permitiu o surgimento do movimento, além de destrinchar a vida particular de muitos nomes importantes de Hollywood, mostrando o reflexo que todo aquele sucesso teve em todos eles. Recomendo!

Filmes importantes

A lista de bons filmes da nova Hollywood é enorme. Por isso, filtrei apenas alguns filmes desta época dourada do cinema que gosto muito e recomendo, além de outros que, por mais que não me agradem tanto, têm grande importância.

Segue a lista:

Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas (1967)

No Calor da Noite (1967)

A Primeira Noite de um Homem (1967)

O Planeta dos Macacos (1968)

2001: Uma Odisséia no Espaço (1968)

O Bebê de Rosemary (1968)

Sem Destino (1969)

Perdidos na Noite (1969)

Meu ódio será sua Herança (1969)

Bob & Carol & Ted & Alice (1969)

Butch Cassidy (1969)

M*A*S*H (1970)

Love Story (1970)

Patton – Rebelde ou Herói? (1970)

THX 1138 (1971)

A Última Sessão de Cinema (1971)

Operação França (1971)

Laranja Mecânica (1971)

Cabaret (1972)

Amargo Pesadelo (1972)

O Poderoso Chefão (1972)

Papillon (1973)

O Exorcista (1973)

Caminhos Perigosos (1973)

Lua de Papel (1973)

Serpico (1973)

Golpe de Mestre (1973)

Alice não mora mais aqui (1974)

Chinatown (1974)

A Conversação (1974)

O Poderoso Chefão – Parte II (1974)

Louca Escapada (1974)

Um Estranho no Ninho (1975)

Barry Lyndon (1975)

Um Dia de Cão (1975)

Nashville (1975)

Tubarão (1975)

Shampoo (1975)

Todos os Homens do Presidente (1976)

Carrie – A Estranha (1976)

Rede de Intrigas (1976)

Rocky, um Lutador (1976)

Taxi Driver (1976)

Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977)

Star Wars (1977)

Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977)

New York, New York (1977)

Amargo Regresso (1978)

O Franco-Atirador (1978)

Cinzas no Paraíso (1978)

O Céu pode esperar (1978)

Apocalypse Now (1979)

Alien – O Oitavo Passageiro (1979)

Muito Além do Jardim (1979)

Kramer vs. Kramer (1979)

Manhattan (1979)

Rocky II (1979)

O Iluminado (1980)

O Portal do Paraíso (1980)

Touro Indomável (1980)

O Império Contra-Ataca (1980)

Um grande abraço.

PS: Se tiver interesse na história do Código Hays e da censura, clique aqui. E se quiser ler mais sobre a “nova Hollywood”, sugiro acessar a boa matéria do site Hollywood clicando aqui.

 Como a geração sexo-drogas-e-rock n’ roll salvou Hollywood
Como a geração sexo-drogas-e-rock n’ roll salvou Hollywood”, de Peter Biskand.

Texto publicado em 07 de Novembro de 2010 por Roberto Siqueira

15 comentários sobre “Nova Hollywood

  1. marcelo ribeiro 31 dezembro, 2012 / 7:15 pm

    vale lembrar que esse livro nao é bem aceito entre os cineastas da epoca,é a visao do autor ,nao a verdade necessariamente.hj esses cineastas ainda gozam de liberdade,desde que os estudios tenham lucro com os filmes ,e outrosque surgiram depois tb como clint eastwood,mel gibson,oliver stone spike lee,a liberdade é mais restrita quando se faz um grande blockbuster ja que é ai que os estudios faturam mesmo ou quando o cineasta é novo no ramo

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    • Roberto Siqueira 2 janeiro, 2013 / 5:23 pm

      Obrigado pelo comentário Marcelo.
      Abraço.

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    • Roberto Siqueira 2 novembro, 2012 / 10:21 am

      Assim ficou melhor.
      Abraço.

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