O EXTERMINADOR DO FUTURO (1984)

(Terminator)

 

Videoteca do Beto #32

Dirigido por James Cameron.

Elenco: Arnold Schwarzenegger, Michael Biehn, Linda Hamilton, Paul Winfield, Lance Henriksen, Rick Rossovich, Bess Motta, Earl Boen, Shawn Schepps, Franco Columbu e Bill Paxton.

Roteiro: James Cameron e Gale Anne Hurd.

Produção: Gale Anne Hurd.

[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido o filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

A premissa de “O Exterminador do Futuro”, filme que alavancou a carreira do diretor James Cameron, é de uma inteligência e criatividade assombrosa, estabelecendo o filme como uma ficção científica de alta qualidade, recheada com elementos de suspense e terror, além é claro, de contar com maravilhosas seqüências de ação. Além disso, conta com um vilão absolutamente assustador e aparentemente indestrutível. E o que é melhor, tudo isto trabalha a favor de um roteiro inteligente, que desenvolve personagens complexos e fascinantes, interpretados com competência por todo o elenco.

E que premissa inteligente e criativa seria esta? Num futuro próximo, os humanos entraram em guerra com as máquinas, e sua aniquilação total só não foi consumada graças à liderança de um homem. É então que as máquinas decidem enviar ao passado um andróide (Arnold Schwarzenegger) com a única e exclusiva missão de matar a mãe deste homem, chamada Sarah Connor (Linda Hamilton), evitando assim o seu nascimento. Entretanto, os humanos também conseguem enviar ao passado um representante, chamado Kyle Reese (Michael Biehn), que terá a missão de proteger esta mulher e garantir o futuro da humanidade. É ou não é de uma criatividade extrema?

Mas uma idéia criativa não basta para garantir a qualidade de um filme. Felizmente, o roteiro seco e direto do próprio James Cameron e de Gale Anne Hurd desenvolve a narrativa com competência e sem rodeios, explorando corretamente os personagens e envolvendo completamente o espectador na trama. A introdução dos três personagens que conduzem a narrativa é perfeita. Primeiro testemunhamos o aparecimento do andróide, que trata de nos apresentar em poucos minutos o seu jeito nada sutil, quando se depara com um grupo de jovens. Depois acompanhamos o surgimento de Kyle Reese, que também aparece do nada para, de uma forma menos agressiva (apesar de roubar um mendigo e chamar acidentalmente a atenção da policia), conseguir suas roupas e partir para sua missão. E finalmente, Sarah Connor é apresentada como uma mulher simples, que trabalha como garçonete e não tem a menor noção do que sua vida se tornaria deste dia em diante. O cenário para uma angustiante caçada está pronto.

James Cameron explora o maravilhoso roteiro de forma bastante segura, utilizando movimentos de câmera e enquadramentos que funcionam perfeitamente. Observe como na seqüência do primeiro ataque do exterminador contra Sarah, dentro da danceteria Technoir, a câmera lenta de James Cameron ajuda a atenuar o suspense, além de captar com precisão cada detalhe da reação dela e de Reese. Além disso, o diretor mostra todo seu talento nas sensacionais seqüências de ação, garantindo adrenalina e tensão na medida certa. Cameron mantém a câmera em movimento, utilizando muitos planos, mas sem exageros, evitando que as cenas sejam confusas ou enjoativas. Para isso, conta com a excelente montagem de Mark Goldblatt, que alterna entre os planos de maneira empolgante sem exceder o número ideal de cortes, o que permite ao espectador entender perfeitamente o que se passa na tela. Outro exemplo do bom trabalho de Goldblatt é a elegante transição quando Reese está pensando e olhando para um trator trabalhando. Através do próprio trator, somos transportados para o futuro, e no pesadelo de Reese, voltamos para o presente. O inteligente roteiro aproveita este pensamento para nos situar em sua missão. Ainda na parte técnica, a fotografia azulada (Direção de Adam Greenberg) reflete a frieza do exterminador, que não tem sentimentos, somente um objetivo a cumprir. Além disso, o fato da maioria das cenas se passarem à noite ajuda a aumentar a carga de suspense. A trilha sonora de Brad Friedel é envolvente e coerente com o ritmo do filme. Nas perseguições é cheia de batidas rápidas e repetitivas, conferindo um ritmo ainda mais alucinado à cena (em certos momentos lembra trilhas típicas de videogames). Pra completar, o som e os efeitos sonoros são espetaculares, captando desde os pequenos detalhes, como o barulho mecânico do movimento dos olhos do exterminador, até os atordoantes tiros das potentes armas utilizadas por Reese e pelo andróide. Finalmente, os efeitos visuais, que hoje podem parecer ultrapassados, na época eram bastante realistas. E Cameron sabe muito bem utilizá-los a favor do filme, e não transformar o filme em refém deles.

E então chegamos aos personagens de “O Exterminador do Futuro”. O andróide T-800 (o papel perfeito para Arnold Schwarzenegger) se revela um vilão aterrorizante, que parece ser indestrutível e, pior que isso, não desiste jamais de sua missão. Pragmático e direto, não para e nunca descansa. Sua missão é sua razão de existir, e ele não vai parar até alcançá-la. Mal encarado e com poucas falas, suas reações intuitivas e diretas – como no momento em que expulsa um homem de um caminhão – e seus movimentos robóticos de pescoço e cabeça – como quando entra na delegacia de policia – mostram que Arnold acertou em cheio neste papel, interpretando de forma competente e marcante. Interessante notar também o inventivo modo como ele escolhe as respostas que dará através de seu campo visual, reafirmando a criatividade do longa. A agressividade do Exterminador é demonstrada através de atitudes simples, como no plano do caminhão de brinquedo que é esmagado pela chegada de seu carro. Ele simplesmente quer cumprir a missão para qual foi programado. É um vilão temível (o olho vermelho é assustador), pois nada parece ser capaz de detê-lo. Afinal de contas, como não temer alguém que não é parado por balas, que não descansa e que invade sozinho um distrito policial (onde teoricamente estaríamos mais seguros)?

Por outro lado, Sarah Connor se mostra inicialmente uma mulher simples, que trabalha e sai pra namorar como outra qualquer. Um dos raros momentos cômicos do filme acontece nesta fase, quando o namorado de Ginger (Bess Motta) fala com Sarah no telefone sem saber. Vulnerável, a moça cria empatia com o espectador facilmente, o que aumenta o drama quando ela passa a ser caçada. Porém, a transformação de Sarah é impressionante. Após superar o susto inicial quando percebe que está sendo perseguida, ela se transforma numa mulher forte e corajosa, e é interessante notar o paralelo entre Sarah Connor e Maria, mãe de Jesus, já que ambas eram pessoas humildes e carregavam no ventre homens responsáveis pela “salvação” da humanidade. O desespero de Sarah ao conferir a lista telefônica e sair do bar olhando para todos os lados, como se qualquer pessoa na rua fosse suspeita, comprova a qualidade da interpretação de Linda Hamilton, que consegue transmitir a angústia da personagem através do olhar. Observe também como ela reage de forma convincente à morte da amiga Ginger, com um choro compulsivo na delegacia. Michael Biehn convence como Kyle Reese, conseguindo expor todo o drama de seu personagem, que viaja no tempo para salvar a humanidade e, além disso, encontrar a mulher por quem se apaixonou no futuro. Ironicamente, e talvez este pensamento já existisse em seu subconsciente, ele será o pai de John Connor. E foi exatamente o amor e, nas palavras dele, “a oportunidade de conhecer o mito”, que fizeram Reese voltar no tempo. Observe a convincente explicação de Reese para Sarah dentro do carro, num diálogo esclarecedor, que expõe toda a originalidade do excelente roteiro. E como era de se esperar, a compreensível incredulidade e ironia dos policias diante da história contada por Reese acaba por condenar a todos no local, deixando o caminho livre para que o temível Exterminador continue sua caçada.

Quando vemos Sarah e Reese iniciando uma relação sexual, sabemos, mesmo que de forma intuitiva, que ali está sendo gerado o lendário John Connor. Mérito do roteiro que, mesmo sem dizer muito, nos leva a imaginar que isto aconteça, nos compensando depois com a confirmação da gravidez dela no final do filme. A forma com que eles se relacionam, tornando-se amigos e confidentes, além das razões que levam Reese a voltar no tempo, são indícios de que eles teriam uma ligação maior do que imaginavam inicialmente. E a espetacular seqüência final nas máquinas é de um simbolismo tremendo. A máquina, que tanto lutou para destruir o homem, foi destruída por outra máquina. É claro que a inteligência humana teve participação nisto, mas a ironia é evidente ao ver o exterminador ser esmagado por uma máquina industrial. Porém o lado mais obscuro (e fascinante) de “O Exterminador do Futuro” reside no fato de que, mesmo após toda esta batalha, o terrível futuro da humanidade não havia sido evitado. Sarah e Reese garantiram o nascimento de John Connor, mas não o fim da guerra entre humanos e máquinas. Por isso, quando ouve o menino mexicano dizer que uma tempestade se aproxima, ela responde: “Eu sei”.

Pesado, seco, tenso e direto, “O Exterminador do Futuro” é um exemplo raro de ficção científica inteligente que consegue misturar elementos angustiantes de terror com cenas espetaculares de ação, alcançando um resultado final bastante agradável. Dirigido com competência por James Cameron e contando ainda com um elenco afiado, garante ao espectador entretenimento de primeira qualidade. Se o futuro da humanidade será sombrio como no filme eu não sei. Mas o passado nos concedeu obras maravilhosas, e este filme com certeza é uma delas.

Texto publicado em 31 de Dezembro de 2009 por Roberto Siqueira

12 comentários sobre “O EXTERMINADOR DO FUTURO (1984)

  1. Thiago Barrionuevo 26 setembro, 2011 / 10:49 am

    Ótima crítica Beto. Gosto quando você é mais objetivo e suscinto. Depois de tanto tempo, finalmente assisti o filme e li seu texto. Realmente o filme surpreende e não é apenas ação. É inteligente e intrigante. Apenas uma crítica: No segundo filme, Schwarzenegger´é muito melhor, representando o Exterminador de forma mais correta, bem durão. Neste primeiro filme, ele “solta o corpo” em alguns momentos, o que tira o aspecto de robô. De qualquer forma, muito bom filme!

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    • Roberto Siqueira 13 outubro, 2011 / 11:47 pm

      Olá Thi,
      Valeu pelo comentário e pelo elogio. Agora só falta rever o segundo filme pra poder debater tudo novamente (com aquela gelada do lado, rs).
      Abraço.

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  2. Edson Cinaqui Filho 26 dezembro, 2010 / 9:59 pm

    Grande crítica…adoro Terminator (menos o 4º filme) marcou muito minha vida de cinéfilo. Espero que melhore nas próximas continuações.

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    • Roberto Siqueira 27 dezembro, 2010 / 10:56 am

      Também espero que melhore. Os dois primeiros filmes são fantásticos.
      Um abraço.

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  3. raul 25 julho, 2010 / 4:03 am

    é mesmo ela é muito linda, eu tenho 13 anos e assistir o dants peak e me apaixonei por ela,apaixonei mesmo ela é muito linda!!!

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  4. Alessandro Soares 14 janeiro, 2010 / 3:42 pm

    Engraçado deste Filme que quando eu o vi pela primeira vez fiquei apaixonado pela Linda hamilton(eu Tinha 13 anos)uma paixão surreal.grande filme e Grande Critica a Sua.parabéns!!!

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    • Roberto Siqueira 14 janeiro, 2010 / 6:59 pm

      Paixão platônica de verdade hein Alessandro! rs 🙂
      Obrigado pela visita e pelo comentário.
      Seja bem vindo ao Cinema & Debate e volte sempre!

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  5. Achilles de Leo 6 janeiro, 2010 / 11:22 am

    Linda crítica, Beto. Por algum motivo que nunca soube identificar, a história dos filmes Exterminador do Futuro (exceto o 4º) sempre me fascinaram e perturbaram. Aliás, ler seu texto me deu duas vontades: rever os 3 filmes, e escrever sobre eles, ressaltando um ponto que já pus em discussão no grupo.

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    • Roberto Siqueira 6 janeiro, 2010 / 6:57 pm

      Obrigado Achilles. Também gosto muito da série Exterminador do Futuro.
      Desde já fico ansioso pela sua crítica.
      Abraço.

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