007 O AMANHÃ NUNCA MORRE (1997)

(Tomorrow Never Dies)

5 Estrelas 

Videoteca do Beto #208

Dirigido por Roger Spottiswoode.

Elenco: Pierce Brosnan, Jonathan Pryce, Michelle Yeoh, Teri Hatcher, Ricky Jay, Götz Otto, Joe Don Baker, Vincent Schiavelli, Judi Dench, Desmond Llewelyn, Samantha Bond, Colin Salmon, Julian Fellowes, Gerard Butler, Hugh Bonneville e Philip Kwok.

Roteiro: Bruce Feirstein, inspirado nos personagens criados por Ian Fleming.

Produção: Michael G. Wilson e Barbara Broccoli.

007 O Amanhã nunca morre[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Após uma estreia apenas morna na pele do agente secreto mais famoso do mundo, Pierce Brosnan finalmente teve a chance de estrelar um grande filme da franquia James Bond neste “007 O Amanhã nunca morre”, longa eletrizante dirigido por Roger Spottiswoode que, além das inúmeras boas cenas de ação, conta com uma narrativa envolvente e ótimos personagens para nos agradar, trazendo ainda uma interessante crítica em sua temática que ajuda a estabelecê-lo como um dos melhores de toda a série.

Inspirado nos personagens criados por Ian Fleming, Bruce Feirstein escreveu o roteiro de “007 O Amanhã nunca morre” e, mesmo não utilizando uma história concebida pelo escritor como base, conseguiu criar uma narrativa envolvente, que traz todas as características marcantes da obra de Fleming. Aqui, James Bond (Pierce Brosnan) tem dois dias para descobrir os planos do bilionário Elliot Carver (Jonathan Pryce), um poderoso homem da mídia que planeja provocar uma crise política mundial em troca de obter os direitos de transmissão exclusiva na China. Só que Carver não sabe que sua esposa Paris (Teri Hatcher) já teve um caso com Bond no passado e pode ser a chave do sucesso do agente ao lado da agente chinesa Wai Lin (Michele Yeoh).

Com um bom roteiro em mãos, Roger Spottiswoode e seus montadores Michel Arcand e Dominique Fortin imprimem um ritmo alucinante ao longa desde o início, quando acompanhamos Bond mais uma vez salvando a pátria enquanto um míssil enviado pelos próprios britânicos se aproxima perigosamente do acampamento na fronteira russa em que ele se encontra – e os planos que acompanham a viagem do míssil são muito interessantes e plasticamente belíssimos. Desde então, nota-se também a qualidade do excepcional design de som, que nos permite distinguir os diálogos das barulhentas explosões que tomam conta do local, numa sequência de abertura agitada que já estabelece o tom da narrativa.

Desta vez explorando a bela Hamburgo, no norte da Alemanha, e a exótica locação no Vietnã em que se passa o segundo ato da narrativa, a fotografia de Robert Elswit define muito bem a diferença entre o frio escritório do comando britânico, o visual mais vivo das sequências ao ar livre e o sufocante encerramento dentro dos navios no ato final, estabelecendo uma diferença que ajuda a gradualmente aumentar o clima de tensão. Obviamente, o ótimo design de produção de Allan Cameron contribui significativamente neste processo através das linhas retas do escritório de onde partem as ordens para Bond, da imponente casa noturna que recebe a festa de Elliot Carver e dos apertados compartimentos de onde os marujos seguem as ordens recebidas no mar. Substituindo Peter Lamont após muitos anos de serviços prestados, o trabalho de Cameron se destaca ainda pelo criativo equipamento de Lin que surge do nada em determinado momento e na divertida apresentação dos acessórios da BMW de 007, que mantém a tradição criativa e inovadora dos gadgets elaborados por Q (Desmond Llewelyn).

Viagem do míssilCriativo equipamento de LinAcessórios da BMWSublinhando muito bem as cenas de ação e servindo também para ampliar a atmosfera de tensão, a boa trilha sonora de David Arnold se destaca mesmo no encontro entre Bond e Paris Carver, criando uma atmosfera romântica sem jamais soar apelativa, trazendo ainda inserções pontuais e bem sucedidas do tema clássico do agente e criando boas variações para a bela música tema “Tomorrow Never Dies”, de Sheryl Crowe.

Numa ousadia rara na série, “007 O Amanhã nunca morre” traz em sua temática uma interessante crítica ao poder da mídia, representada pela figura megalomaníaca de Elliot Carver, o vilão midiático interpretado de maneira eficiente por Jonathan Pryce. Além disso, os diálogos bem construídos ajudam a criar uma dinâmica interessante entre os personagens, como ocorre no primeiro encontro entre Bond e Carver na festa, repleto de ironias de ambas as partes, numa sequência que também serve para evidenciar que a sensual Paris Carver vivida por Teri Hatcher ainda sente atração pelo agente secreto e, de quebra, introduz de maneira eficiente a agente chinesa Lin, que na pele de Michelle Yeoh ganha à agilidade e o carisma necessários para o sucesso da personagem – e a rápida Yeoh se sai muito bem, especialmente nas lutas corporais.

Entretanto, o destaque do elenco fica mesmo para Pierce Brosnan, que equilibra muito bem o charme e o carisma já tradicionais do personagem com seu lado mais agressivo, evidenciado no repentino e convincente ataque ao Dr. Kaufman (Vincent Schiavelli, sempre notável) que faz jus ao famoso bordão “licença para matar”. Já nas ótimas sequências de ação, Brosnan nos faz acreditar que Bond realmente corre perigo, fazendo um esforço físico enorme para livrar-se das arriscadas situações sem jamais perder o senso de humor peculiar do personagem.

Megalomaníaco Elliot CarverSensual Paris CarverCharme e carismaSeguramente o ponto forte do longa, as citadas cenas de ação se espalham por toda a narrativa, misturando sequências de alta tensão com outras extremamente divertidas, todas elas conduzidas com enorme segurança por Roger Spottiswoode. Entre as divertidas, destaca-se a sequência eletrizante que se passa dentro do estacionamento do hotel Atlantic, em Hamburgo, na qual Bond dirige sua BWM pelo controle remoto deitado no banco de trás do veículo – e o diretor nos coloca ao lado dele dentro do carro, nos permitindo ter as mesmas sensações do agente. Em outro instante, Bond se joga de um avião pra mergulhar diretamente no oceano e a câmera o acompanha por todo trajeto, novamente nos permitindo compartilhar a sensação do protagonista, que se transforma radicalmente durante esta investigação, terminando de maneira sufocante na fuga de Bond e Lin de dentro do navio afundado.

Eletrizante também é a sequência em que Bond e Lin fogem do prédio da CMGN e saem de moto pelas ruas algemados, seguidos de perto por um helicóptero. Além de estilosa, a cena é muito bem dirigida por Spottiswoode, que novamente conta com seus montadores para alternar entre planos gerais, planos médios e planos subjetivos num ritmo alucinante, nos permitindo compreender perfeitamente a geografia local e o que está acontecendo na tela. E finalmente, o ato final dentro dos navios também é tenso e agitado na medida certa, concluindo com precisão esta empolgante aventura.

Repleto de personagens interessantes e principalmente de excelentes cenas de ação, “007 O Amanhã nunca morre” representa outro ponto alto na franquia 007. Olhando em retrospectiva, é uma pena notar que este foi o último momento de destaque de Pierce Brosnan como James Bond, já que o ator tinha muitas das qualidades necessárias para viver o personagem. Ao menos, hoje já sabemos que seu substituto faria um trabalho ainda melhor.

007 O Amanhã nunca morre foto 2Texto publicado em 04 de Junho de 2014 por Roberto Siqueira

007 CONTRA GOLDENEYE (1995)

(GoldenEye)

3 Estrelas 

Videoteca do Beto #207

Dirigido por Martin Campbell.

Elenco: Pierce Brosnan, Sean Bean, Izabella Scorupco, Famke Janssen, Joe Don Baker, Judi Dench, Gottfried John, Robbie Coltrane, Alan Cumming, Tchéky Karyo, Desmond Llewelyn, Samantha Bond, Michael Kitchen e Serena Gordon.

Roteiro: Jeffrey Caine e Bruce Feirstein, baseado em história de Michael France e personagens criados por Ian Fleming.

Produção: Barbara Broccoli e Michael G. Wilson.

007 Contra GoldenEye[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Após os dois ótimos filmes da curta passagem de Timothy Dalton como o agente 007, a franquia mais duradoura da história teve que esperar longos 6 anos por seu próximo longa, graças a uma batalha judicial pelos direitos da série. Assim, o ótimo ator acabou deixando a franquia e abriu espaço para a primeira aparição de Pierce Brosnan. Lançado após o fim da guerra fria, “007 Contra GoldenEye” traz ainda outras novidades, como o primeiro roteiro original da série e a introdução de uma mulher no papel de M. As novidades, no entanto, não garantem sozinhas o sucesso do longa, mas ainda que seja claramente inferior aos seus dois antecessores, o filme dirigido por Martin Campbell consegue agradar.

Escrito por Jeffrey Caine e Bruce Feirstein com base em história de Michael France e nos personagens criados por Ian Fleming, “007 Contra GoldenEye” é, como mencionado, o primeiro roteiro não inspirado em material de Fleming. Desta vez, James Bond (Pierce Brosnan) precisa encontrar uma perigosa arma espacial conhecida como GoldenEye, capaz de destruir tudo que tenha circuito elétrico na face da Terra. Após a arma letal destruir uma base de operações na Rússia, Bond descobre uma sobrevivente, a bela programadora de computadores Natalya Simonova (Izabella Scorupco), que aceita ajudá-lo. Só que o assassinato de seu amigo e agente secreto Alec Trevelyan (Sean Bean) em outra operação na Rússia tinha mais ligações com GoldenEye do que Bond poderia imaginar.

Assumindo pela primeira vez a direção de um filme da franquia, Martin Campbell e seu montador Terry Rawlings imprimem um ritmo dinâmico à narrativa desde seu interessante início em que marcam presença a ação absurda e o humor britânico tão característicos da série na sequência em que Bond invade uma base russa ao lado do amigo Alec. No entanto, este ritmo inicial não se mantém, sofrendo uma queda especialmente no sombrio segundo ato após a revelação de que Alec é, na verdade, o mentor do projeto envolvendo GoldenEye. Esta cena, aliás, é muito bem conduzida pelo diretor, explorando o visual afundado nas sombras criado pelo diretor de fotografia Phil Meheux para manter o suspense até o momento da revelação.

Enquanto o designer de produção Peter Lamont acerta novamente na criação de cenários imponentes como a ilha cubana que esconde os armamentos de Alec e os figurinos de Lindy Hemming mantém a elegância marcante de James Bond, a trilha sonora de Eric Serra aposta numa composição grandiosa em certos momentos, como na sequência da destruição da base russa em Severnaya, criando ainda variações para a pouco empolgante música tema “GoldenEye”, de Tina Turner.

Responsável por uma boa reviravolta na trama, o Alec de Sean Bean é um bom vilão, demonstrando inteligência e carisma na medida certa com sua postura agressiva e seu humor irônico. Por outro lado, Gottfried John cria um General Ourumov bastante caricato, ao passo que Robbie Coltrane nos diverte como Valentin Zukovsky, ex-agente da KGB que trava um interessante e engraçado diálogo com James Bond antes de ajudá-lo. E porque raios os russos falam inglês com um sotaque ridículo ao invés de simplesmente conversarem entre eles em russo é algo mais difícil de compreender do que o próprio idioma.

Bond invade uma base russa ao lado do amigo AlecAlec é o mentor do projetoGeneral Ourumov caricatoEntre as mulheres, a bela Natalya Simonova é vivida com carisma e leveza por Izabella Scorupco, criando boa empatia com 007 e estabelecendo um contraponto interessante para a postura mais rígida das outras atuações femininas, a começar por Judi Dench, que assume o papel de M com firmeza, numa subversão de expectativa que agrada e, de maneira elegante, se preocupa até mesmo em fazer uma menção ao seu antecessor. Por outro lado, a postura agressiva não combina muito bem com Onatopp (que nome hein!), a caricata personagem vivida por Famke Janssen que em nada agrega a narrativa. E fechando o elenco feminino, Samantha Bond mantém o tom bem humorado da interessante relação entre Bond e Moneypenny, demonstrando ainda uma curiosa e bem vinda evolução na autoconfiança da garota.

Com porte, carisma e timing cômico para viver 007, Pierce Brosnan se sai bem, carregando o projeto com facilidade e convencendo também nas cenas que exigem esforço físico, numa atuação equilibrada e coerente com o personagem. Com classe e estilo, Bond continua o mesmo de sempre, como fica evidente logo no início quando ele protagoniza uma eletrizante perseguição de carros numa montanha e, de quebra, ainda beija a psicóloga contratada para avalia-lo. Da mesma forma, o agente continua demonstrando enorme capacidade de improviso diante do perigo, além é claro do gosto refinado tão característico.

Bela Natalya SimonovaJudi Dench assume o papel de MPorte, carisma e timing cômico para viver 007No entanto, a queda de ritmo do segundo ato deixa a incômoda sensação de que faltam grandes cenas de ação em “007 Contra GoldenEye”, o que não é algo positivo, especialmente num filme de James Bond. A rigor, temos somente uma cena realmente marcante, que inicia na frenética fuga de Bond de uma base russa, seguida pela perseguição a bordo de um tanque de guerra pelas ruas da cidade em busca de Natalya Simonova. Além dela, somente o ato final contém momentos empolgantes, começando pelo movimento de câmera que revela que Bond deixou um explosivo na parede antes de ser levado pelos russos e terminando na esperada luta corporal entre o agente e o vilão, que é levemente prejudicada pelos pouco verossímeis efeitos visuais.

Assim, “007 Contra GoldenEye” diverte, mas o trabalho inicial de Pierce Brosnan representa uma leve queda no nível de qualidade apresentado na curta passagem de Timothy Dalton pela franquia. Nada, porém, que pudesse preocupar os fãs, especialmente se compararmos com os trabalhos que Brosnan seria obrigado a encarar alguns anos depois.

007 Contra GoldenEye foto 2Texto publicado em 03 de Junho de 2014 por Roberto Siqueira

007 MARCADO PARA A MORTE (1987)

(The Living Daylights)

4 Estrelas 

Videoteca do Beto #205

Dirigido por John Glen.

Elenco: Timothy Dalton, Maryam d’Abo, Jeroen Krabbé, Joe Don Baker, John Rhys-Davies, Art Malik, Andreas Wisniewski, Desmond Llewelyn, Robert Brown, Geoffrey Keen, Walter Gotell, Caroline Bliss e John Terry.

Roteiro: Richard Maibaum e Michael G. Wilson, baseado em história de Ian Fleming.

Produção: Albert R. Broccoli e Michael G. Wilson.

007 Marcado para a Morte[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

A saída de Roger Moore marcou o fim de uma fase complicada na franquia 007. Sem conseguir dosar muito bem a ação e o humor e contando com Moore cada vez menos interessado, John Glen acabou sendo responsável por dirigir alguns dos momentos mais embaraçosos do agente secreto (o grito do Tarzan é imperdoável!). Coube então a Timothy Dalton a missão de resgatar a abordagem mais séria neste “007 Marcado para a Morte” e, felizmente, o ator se saiu bem na missão, ainda que desta vez a dosagem peque justamente pela falta de alívios cômicos. Menos mal. Melhor exagerar na criação de uma atmosfera crível de ameaça ao protagonista do que ridicularizar o mesmo.

Pela quarta vez seguida, a missão de adaptar a história de Ian Fleming para o cinema ficou a cargo de Richard Maibaum e Michael G. Wilson. Em “007 Marcado para a Morte”, eles trazem James Bond (Timothy Dalton) ajudando o general Georgi Koskov (Jeroen Krabbé) a fugir da Cortina de Ferro, mas logo depois o russo é capturado e levado de volta a União Soviética. Antes de voltar, Koskov denuncia um plano do general Leonid Pushkin (John Rhys-Davies) que envolvia o assassinato de agentes secretos britânicos, o que leva Bond a investigar o caso e descobrir que, na realidade, o traficante de armas Brad Whitaker (Joe Don Baker) é quem tinha planos potencialmente perigosos.

Ainda que a trama não seja o mais importante num filme de James Bond, construir um roteiro minimamente interessante era o primeiro passo para recuperar o prestígio da franquia. Felizmente, a dupla responsável por roteiros bem fracos com o de “007 Contra Octopussy” surpreendeu neste “007 Marcado para a Morte”, elaborando uma trama com boas reviravoltas e que, mesmo com exageros, consegue prender a atenção do espectador. Por sua vez, John Glen procura conduzir a narrativa de maneira mais séria, já que, em pleno auge dos macho movies, seguir na linha cômica que marcou seus trabalhos anteriores poderia enterrar de vez a franquia.

Assim, o diretor procura criar uma atmosfera mais sóbria, ainda que abra espaço para momentos bem humorados como quando Bond e Kara (Maryam d’Abo) fogem para a Áustria utilizando um violoncelo e, ao passarem pela fronteira, gritam que não tem nada a declarar. Nesta mesma linha, a fotografia de Alec Mills aposta num visual predominantemente obscuro, especialmente nas sequências que se passam dentro da Cortina de Ferro, criando um contraste interessante com a fotografia árida em Tangier, no Marrocos, e com toda a beleza imperial de Viena.

Auxiliando ao estabelecer com clareza cada ambiente através da decoração detalhada, o design de produção de Peter Lamont mais uma vez chama a atenção através de cenários como a casa de Óperas na antiga Tchecoslováquia e a casa repleta de armas de Whitaker, assim como são importantes também os figurinos de Emma Porteous que diferenciam bem as elegantes vestimentas britânicas dos uniformes utilizados pelos soviéticos e, principalmente, das roupas despojadas dos afegãos.

Por sua vez, a trilha sonora de John Barry também oscila bastante de um ambiente para o outro, surgindo numa composição tensa na Cortina de Ferro, numa marcha triunfal na chegada ao Afeganistão após a fuga de 007 da prisão e com variações da música tema “The Living Daylights”, do A-ha, que segue a tendência mais dançante estabelecida no filme anterior com o Duran Duran, escorregando apenas na composição deslocada que acompanha o ataque do agente da KGB disfarçado de leiteiro.

Visual obscuro na Cortina de FerroCasa de Óperas na antiga TchecoslováquiaJames Bond mais sérioSuperando o natural incômodo inicial do espectador após sete filmes estrelados por Roger Moore, Timothy Dalton compõe um James Bond mais sério, adotando uma postura firme e até mesmo agressiva que recupera o respeito perdido em sequências ridículas dos filmes anteriores, ainda que falte um pouco do charme diante das mulheres que, por exemplo, Connery tinha. Mesmo assim, Dalton segue uma linha coerente com o histórico do personagem, por exemplo, ao hesitar na hora de assassinar uma atiradora, demonstrando no rosto o interesse de James Bond na garota, da mesma forma como seu semblante indica a fúria de 007 após a morte de Saunders (Thomas Wheatley) no parque Prater em Viena. Convencendo ainda nas lutas corporais, como no segmento de abertura, o ator se sai bem na difícil tarefa de assumir um personagem já bem estabelecido e com uma enorme quantidade de fãs.

Para a alegria destes mesmos fãs, “007 Marcado para a Morte” marca também a volta do estiloso Aston Martin, o carro de luxo super equipado que estrela a fuga alucinada de Bond com a violinista Kara, na qual somos apresentados aos engenhosos opcionais do veículo que ajudam o protagonista a se livrar dos inimigos. Interpretada por Maryam d’Abo, Kara divide-se entre o amor por Kostov e a atração momentânea por Bond até que reencontre o amado e, enganada por ele, traia o agente britânico, numa das interessantes reviravoltas do roteiro. Outro destaque feminino do elenco fica para a primeira aparição de Caroline Bliss como a nova Moneypenny, mantendo o estilo “esquisita, mas simpática” que marcou a adorável Lois Maxwell.

Volta do estiloso Aston MartinViolinista KaraRespeitável general Leonid PushkinEntre os vilões, o mais respeitável é o general Leonid Pushkin interpretado com firmeza por John Rhys-Davies com seu tom de voz imponente e expressão rígida. No entanto, Pushkin acaba servindo apenas como isca, escondendo os verdadeiros vilões Georgi Koskov e Brad Whitaker, vividos de maneira mais leve e caricata por Jeroen Krabbé e Joe Don Baker, o que infelizmente enfraquece a narrativa já que estes são personagens bem menos ameaçadores que Pushkin. E finalmente, Art Malik tem uma participação rápida e sem grande destaque na pele de Kamran Shah, o líder afegão que ajuda Bond a derrotar os russos.

A batalha no Afeganistão, aliás, dura mais tempo do que deveria, enquanto o confronto final com Whitaker acaba rápido demais, o que denuncia um problema na montagem de Peter Davies e John Grover que até ali caminhava muito bem. Em todo caso, a condução do restante da narrativa agrada e sua solução é satisfatória.

Para a alegria dos fãs, James Bond finalmente estava de volta com todo vigor após algumas escorregadas perigosas. E ainda que John Glen tenha seus méritos, é inegável que a presença de Timothy Dalton foi crucial neste processo, trazendo de volta parte da credibilidade e do respeito perdidos nos últimos anos de Roger Moore.

007 Marcado para a Morte foto 2Texto publicado em 30 de Maio de 2014 por Roberto Siqueira