O REI LEÃO (1994)

(The Lion King)

 

 

Filmes em Geral #52

Videoteca do Beto #150 (Filme comprado após ter a crítica divulgada no site e transferido para a Videoteca em 06 de Janeiro de 2013)

Dirigido por Roger Allers e Rob Minkoff.

Elenco: Matthew Broderick, Rowan Atkinson, Whoopi Goldberg, Jeremy Irons, Nathan Lane, Niketa Calame, Jim Cummings, Robert Guillaume, James Earl Jones, Moira Kelly, Zoe Leader, Cheech Marin, Ernie Sabella, Madge Sinclair e Jonathan Taylor Thomas.

Roteiro: Irene Mecchi, Jonathan Roberts e Linda Woolverton, baseado em história de Jim Capobianco, Lorna Cook, Thom Enriquez, Andy Gaskill, Francis Glebas, Ed Gombert, Kevin Harkey, Barry Johnson, Mark Kausler, Jorgen Klubien, Larry Leker, Ricki Maki e Burny.

Produção: Don Hahn.

[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Apesar de alguns tropeços ao longo de sua história, os estúdios Disney se especializaram em produzir animações de grande qualidade, que utilizam uma estrutura narrativa simples e o talento de seus animadores para deixar mensagens marcantes tanto para crianças como para adultos. Mas existem alguns momentos em que este trabalho em conjunto se supera e alcança a perfeição, entregando filmes capazes de marcar gerações, como é o caso deste lindo “O Rei Leão”, que consegue narrar uma história vigorosa, utilizando como pano de fundo a deslumbrante paisagem da selva africana para ensinar valores fundamentais de maneira tocante. Em outras palavras, trata-se de um filme belo tematicamente e deslumbrante visualmente. Em resumo, uma obra-prima.

O rei leão Mufasa (voz de James Earl Jones) apresenta seu filhote Simba (voz de Matthew Broderick) aos animais do reino, provocando a ira de seu invejoso irmão Scar (voz de Jeremy Irons), que arquiteta um plano cruel na busca pelo trono. Aproveitando a inocência e a curiosidade do pequeno Simba, Scar consegue colocar em prática seu plano, mas, com o passar do tempo e a ajuda do astuto macaco Rafiki (voz de Robert Guillaume), Simba volta para ocupar o seu lugar de direito.

Por razões óbvias, a selva africana é um local dos sonhos para animadores, que podem criar (ou reproduzir) cenários capazes de tirar o fôlego de qualquer um. Felizmente, a equipe da Disney não perdeu a oportunidade, permitindo aos diretores Roger Allers e Rob Minkoff viajarem pelos belíssimos cenários, nos levando por deslumbrantes paisagens e, auxiliados pela excelente trilha sonora de Hans Zimmer (que remete aos sons típicos da África), nos ambientando ao local onde se passará à narrativa. Na realidade, o trabalho de criação de cenários e o som – que, por exemplo, permite distinguir nitidamente gotas da chuva, raios e os ruídos de cada animal – fazem mais do que ambientar o espectador, conseguindo uma verdadeira imersão no universo de “O Rei Leão”. Impressiona também a fidelidade com que a narrativa recria os hábitos dos animais, como quando Scar diz que “é função das leoas trazerem comida para o bando”, assim como os animadores retratam com perfeição os movimentos dos leões, como quando Simba caminha de um lado para o outro pensativo, da mesma forma que um leão real faria. Repare ainda como os movimentos felinos de caça são idênticos à realidade, assim como o movimento de praticamente todos os animais, reforçando a qualidade do trabalho dos animadores. Captando este visual rico e cheio de cores com competência, Allers e Minkoff criam planos belíssimos, que soam como um verdadeiro deleite visual, seja na chuva, seja no sol, fazendo com que diversos momentos do longa mais pareçam um quadro vivo. E até mesmo os locais mais sombrios têm sua beleza, como o obscuro cemitério dos elefantes, apresentado lentamente ao espectador através de um zoom e habitado pelas cinzentas hienas, que criam um contraste interessante com os pardos leões. Aliás, não são poucos os momentos em que um movimento de câmera nos revela algo deslumbrante, como nos elegantes travellings que passeiam pela selva, ou algo importante para a narrativa, como quando somos apresentados às centenas de gnus que pastam no monte próximo ao local onde Simba se encontra. Quando os gnus aparecem na tela, o espectador sente o perigo e praticamente prevê a tragédia – ainda que neste momento esteja mais preocupado com Simba do que com Mufasa -, que se consumará na impressionante cena do estouro dos gnus.

Mantendo a tradição Disney, a trama é interrompida algumas vezes por canções diegéticas que tem alguma função narrativa, como quando Timão e Pumba apresentam sua filosofia “Hakuna Matata”, no momento mais leve do filme, que aproveita para fazer a transição do jovem Simba para o Simba adulto. Aliás, já que citei a divertida dupla, vale ressaltar que a narrativa é preenchida por diversos personagens coadjuvantes fascinantes, como o sábio macaco Rafiki, o fiel Zazu e os próprios Timão e Pumba, que surgem após o momento mais intenso dramaticamente, funcionando como um alívio cômico perfeito. E ainda que seja o vilão, Scar, com sua juba preta, não deixa de ser um personagem interessante, amargurado por ser relegado ao segundo plano diante do poderoso irmão e seu legítimo herdeiro, o que o leva a arquitetar um plano diabólico, revelado num número musical sombrio, quando ele canta para as hienas – repare como a fotografia migra de tons esverdeados para o amarelo e, finalmente, para o vermelho, o que é coerente com as intenções demoníacas do invejoso leão.

Auxiliados pela montagem de Tom Finan, a dupla de diretores acertadamente investe boa parte da narrativa na relação entre Simba e Mufasa, estabelecendo a importância da figura paterna na formação do caráter daquele jovem. Além disso, Finan cria elegantes transições entre planos, como quando Rafiki está sentado e reflexivo durante a posse de Scar e, no plano seguinte, aparece dormindo numa árvore, assim como a imagem de Simba numa pedra se transforma no próprio leão, agora deitado e dormindo no deserto. Escrito por Irene Mecchi, Jonathan Roberts e Linda Woolverton, “O Rei Leão” aborda temas fortes e universais, como o amor, a inveja e a morte – este último de maneira profunda e tocante. Desde o seu nascimento, Simba é festejado e reverenciado pelos outros animais. Mas, como seu pai lhe ensinaria a seguir, ser rei não era uma tarefa tão simples assim. E é justamente nos ensinamentos de Mufasa que reside a grande mensagem do longa, ao abordar o chamado “ciclo da vida” e a natureza finita de todos nós. Num destes diálogos, Mufasa explica para seu filhote que da mesma forma que eles se alimentam de antílopes, um dia eles morreriam, virariam grama e serviriam de alimento para estes mesmos animais, num exemplo interessante da vida selvagem, onde todos são importantes no equilíbrio do ecossistema. Em outro momento, o sábio Mufasa ensina ao filho que “o tempo de um reinado se levanta e se põe como o sol”, numa bela metáfora para a própria vida – que serve também para preparar o espectador para a perda de Mufasa. Da mesma forma que viemos para o mundo, um dia partiremos, deixando o lugar para outro ser, que dará continuidade à nossa espécie. Nossos antepassados tiveram o seu tempo, depois vieram nossos pais e, finalmente, a nossa geração, que será sucedida pela dos nossos filhos e assim por diante. A lição, forte e direta, cai como uma bomba nos jovens espectadores (e afirmo isto porque assisti ao filme pela primeira vez com 13 anos de idade e lembro muito bem o quanto fiquei impressionado). Um dia, mais cedo ou mais tarde, teremos que assumir responsabilidades e ser como nossos pais.

Para que esta mensagem marcante funcione, é vital que a relação entre pai e filho conquiste a platéia, e felizmente o roteiro trata esta questão com carinho, criando um vinculo excepcional entre Mufasa e Simba. Desde os primeiros momentos, o pai pacientemente ensina tudo ao filho, sempre com muito carinho e amor, preparando seu pequeno para a vida. E mesmo quando precisa ser enérgico, Mufasa é sábio na condução da situação, como quando salva Simba no cemitério e pede para Zazu acompanhar Nala enquanto ele ensinaria uma lição ao filho. Misturando autoridade e amor, Mufasa transita do recado claro sobre os perigos da atitude de Simba para a brincadeira descontraída, numa cena linda e marcante. É nesta cena também que Mufasa fala sobre as estrelas e os reis, num diálogo que refletirá em outra cena emocionante, quando Simba, deitado na grama ao lado de Timão e Pumba, olha para as estrelas e lembra o pai (e observe como no momento em que Mufasa fala com o filho, o zoom out diminui os personagens em cena, refletindo a aflição de Simba ao pensar que um dia perderia seu pai). Assustado, o garoto encontra conforto em outra frase marcante de seu velho, que lhe ensina o quanto aquele sentimento era normal: “Os reis também têm medo”.

Conduzida com muita energia, a triste cena da morte de Mufasa provocará a fuga de Simba, impulsionado pelos gritos de seu tio Scar, que lhe aconselha a fugir, segundos antes de ordenar sua morte. Mas o jovem leão tinha o sangue dos grandes e consegue escapar, fugindo para a savana, num plano belíssimo onde podemos ver as hienas observando o pequeno leão que se perde no horizonte. E após viver bons momentos ao lado de Timão e Pumba, Simba, agora um leão adulto, reencontra sua amiga Nala quando ela pula em cima dele durante uma caçada, numa interessante rima narrativa que remete a “Bambi”, onde o personagem principal também reencontrava sua amada da mesma maneira que a conhecera na infância. Embalados pela bela “Can you feel the Love tonight”, Simba e Nala se apaixonam, só que a paixão não seria suficiente para levar o leão de volta ao seu lugar. Cabe então ao macaco Rafiki a árdua missão de convencê-lo, algo que ele consegue de maneira marcante, provando para Simba que Mufasa estava vivo. Simba, empolgado com a notícia, corre para o local apontado pelo macaco e vê, no reflexo da água, sua própria imagem, compreendendo que uma parte de seu pai existia dentro dele agora – confesso que, após esta bela cena, pensei imediatamente na frase “ter um filho é uma maneira de continuar vivo” e me emocionei. Ainda sentindo-se culpado pela morte do pai e demonstrando grande carência afetiva, Simba finalmente compreende seu lugar no ciclo da vida e decide voltar.

Chegamos então ao esperado confronto final entre “vilão” e “mocinho”, onde, após reencontrar o tio, Simba se vê na mesma situação em que seu pai morreu e descobre a verdade sobre a morte dele (repare novamente no tom vermelho da fotografia, que cria uma atmosfera tensa e violenta, remetendo ao sangue, à própria raiva de Simba e ao seu desejo de matar o tio). Buscando forças após a bombástica revelação, Simba manda o tio pelos ares, dando às hienas a oportunidade de se vingar de Scar, num exemplo claro da famosa lei da selva. E então, Simba assume seu posto, na mesma pedra em que foi apresentado aos outros animais e onde apresentará o seu filhote, que, da mesma maneira, dará seqüência ao ciclo da vida.

Com grandes ensinamentos, um visual rico e uma mensagem marcante, “O Rei Leão” é um lindo filme, capaz de emocionar sem ser melodramático. De maneira simples e direta, ensina valores importantes, conquistando o espectador com seus personagens graciosos e seu interessante conceito de continuidade da vida e inevitabilidade da morte. E já que a morte é inevitável, nada melhor do que aproveitar a vida da melhor maneira possível, amando, sendo amado, e assistindo a grandes filmes como este. Hakuna Matata!

Texto publicado em 09 de Abril de 2011 por Roberto Siqueira

14 comentários sobre “O REI LEÃO (1994)

  1. Anônimo 12 novembro, 2015 / 12:46 pm

    O rei leao e a meu boneco predileto espero que continuem assim as personagems sao boas o mufasa,o simba e outros bom tra

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  2. Anônimo 26 maio, 2015 / 8:00 am

    Kkkkkkkkkkkkkk e muito bom o filme

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  3. Cross98 24 fevereiro, 2012 / 6:08 pm

    Eu gosto mesmo é do 3

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    • Roberto Siqueira 26 fevereiro, 2012 / 8:58 am

      Pra mim o primeiro está entre as melhores animações da história.
      Abraço.

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  4. Rick Lobo 21 janeiro, 2012 / 6:12 pm

    Quando vejo o “Rei Leão”, eu revejo minha infância! Marcante é a caracteristica desse filme, que é o clássico n° 1 da Disney.

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    • Roberto Siqueira 21 janeiro, 2012 / 10:32 pm

      Certamente um dos melhores filmes da Disney Rick.
      Abraço e obrigado pelo comentário.

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  5. Amanda 18 abril, 2011 / 1:55 pm

    Muito boa a critica Beto…
    E o filme realmente é sensacional…o meu preferido diga-se de passagem!!!

    Deve ter sido bem legal para você revê-lo agoa que tem o Tutu!!!
    E certeza que será ainda melhor quando assitir junto com ele…

    Bjo

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    • Roberto Siqueira 9 maio, 2011 / 9:00 pm

      Oi Amanda,
      Foi muito bom mesmo e será ainda melhor assistir ao lado dele.
      Valeu pelo comentário! E parabéns, é um filme preferido digno do posto! rs
      Bj.

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  6. 12 abril, 2011 / 12:34 pm

    Bé,

    Estou amando ler essas críticas 🙂
    Sem dúvidas, esses filmes fizeram parte da minha infância. Da nossa né!

    Parabéns!

    Um beijo!

    Ká!

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    • Roberto Siqueira 14 abril, 2011 / 8:40 pm

      Obrigado Ká, filmes marcantes e belos.
      Beijo.

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