MONTY PYTHON – A VIDA DE BRIAN (1979)

(Monty Python’s Life of Brian)

5 Estrelas 

Filmes em Geral #119

Filmes Comentados #3 (Comentários transformados em crítica em 04 de Dezembro de 2013)

Dirigido por Terry Jones.

Elenco: Graham Chapman, Terry Jones, John Cleese, Michael Palin, Eric Idle, Terry Gilliam, Spike Milligan, Sue Jones-Davis, Ken Colley e Terence Bayler.

Roteiro: Graham Chapman e John Cleese.

Produção: John Goldstone.

A Vida de Brian[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Segundo longa-metragem do lendário grupo britânico Monty Python, “A Vida de Brian” mantém o frescor e a força criativa do primeiro filme, apesar do distanciamento temático e cronológico entre eles. Na verdade, o bom espaço de tempo entre os dois filmes só ajudou, retirando a pressão por uma nova empreitada cinematográfica e dando o tempo necessário para a elaboração de novas piadas, o que seria algo muito mais complicado de se conseguir nos tempos de hoje. Assim, Terry Jones e companhia puderam presentear os fãs com outro longa divertidíssimo, repleto de cenas memoráveis e tiradas inspiradas.

Desta vez escrito apenas por Graham Chapman e John Cleese, “A Vida de Brian” tem início na Judéia quando o jovem judeu Brian Cohen (Graham Chapman) se torna acidentalmente um importante líder religioso, sendo seguido por multidões e, para o desespero de sua mãe (Terry Jones), caçado pelos soldados romanos à serviço de Pilatos (Michael Palin).

Ácido como de costume, o roteiro de Chapman e Cleese aborda de forma inteligente temas polêmicos, como na hilária cena da sandália e da cabaça que satiriza a divisão de igrejas que teoricamente se baseiam na mesma fé, seguida pelo falso milagre da árvore no deserto, criticando também o fanatismo religioso na ótima cena do apedrejamento, na qual eles acusam de blasfêmia qualquer simples menção ao nome sagrado e, finalmente, ilustrando como as inúmeras divisões dentro do povo judeu (que teoricamente lutava pelo mesmo objetivo, mas na prática lutava entre si) deixavam de lado a causa do movimento e priorizavam o poder.

No entanto, a qualidade principal de “A Vida de Brian” não está no teor crítico de suas piadas, mas sim na qualidade das mesmas. Construindo diálogos primorosos que se tornam ainda mais engraçados pela maneira como os atores encarnam seus personagens, Chapman e Cleese acumulam uma série de momentos hilários, conduzidos com precisão pela câmera de Terry Jones, como na reunião em que os judeus discutem que benefícios os romanos trouxeram pra eles ou na cena em que Pilatos cita o nome de seu amigo romano, na qual os soldados mal conseguem segurar o riso diante do imperador.

A sandália e a cabaçaÓtima cena do apedrejamentoJudeus discutem que benefícios os romanos trouxeramEsta conversa de Pilatos com Brian e os soldados está entre os momentos mais engraçados do longa, dentre os quais também vale destacar seu discurso diante da multidão que se diverte enquanto escolhe qual prisioneiro será libertado – com participação de seu amigo romano -, a perseguição de Brian por um grupo de soldados e a conversa entre um prisioneiro animado e o calmo soldado romano que dá as orientações na fila da crucificação. Finalmente, a cena em que os líderes do movimento são avisados que Brian será crucificado e decidem fazer uma reunião de emergência para discutir o caso deveria ser usada em palestras para grandes corporações contemporâneas.

Exibindo sua melhor forma, os integrantes do Monty Python interpretam nada menos que 40 personagens em “A Vida de Brian”, em atuações de alto nível que confirmam a versatilidade do grupo. Mas se todos têm os seus bons momentos, o grande destaque certamente vai para Michael Palin na pele de um engraçado Pilatos que não consegue pronunciar a letra R – observe, por exemplo, sua hilária expressão facial ao questionar seu amigo se os cidadãos judeus estão zombando dele.

Já tecnicamente “A Vida de Brian” não tem grande destaque, evidenciando o lado B das produções do Monty Python sem pudor, ainda que a fotografia árida e cheia de cores quentes de Peter Biziou e a reconstituição de época de Roger Christian colaborem na imersão do espectador naquela época. Por outro lado, Terry Jones e seu montador Julian Doyle são inteligentes o bastante para imprimir um ritmo ágil e evitar que a narrativa perca tempo com cenas desnecessárias, como fica evidente no momento em que o líder do movimento dos judeus narra como será o plano de invasão do palácio de César enquanto as imagens já mostram a execução do plano.

Conversa de Pilatos com Brian e os soldadosHilária expressão facialPasseio de Brian com os ET´sEsta benéfica economia narrativa também se reflete na direção discreta de Jones, que emprega movimentos de câmera mais estilizados apenas quando estes tem alguma função, como quando a câmera se afasta de Jesus Cristo e, auxiliada pelo design de som, ilustra a dificuldade dos personagens para ouvir o sermão da montanha. Da mesma forma, Jones prolonga ao máximo o suspense antes de revelar o grupo rival que invade o palácio de César no mesmo instante que os parceiros de Brian. Além disso, o diretor mostra coragem ao nos tirar completamente do universo da narrativa através do passeio de Brian com os ET´s, numa estratégia arriscada que poderia arruinar completamente a experiência do espectador, mas que funciona justamente pelo absurdo da situação – e por sabermos que o grupo não costuma seguir convenções narrativas ou respeitar regras cinematográficas.

Assim, os ingleses do Monty Python conseguiram mais uma vez nos divertir com seu humor criativo, baseado na inteligência da composição de seus diálogos e situações em detrimento do humor puramente físico (que também pode funcionar nas mãos de pessoas talentosas, vale dizer). A excelente canção “Always look to the good side of life” cantada pelos prisioneiros crucificados no final mostra bem a real intenção do grupo. Olhar para o lado bom da vida, dar risada e levar as coisas de um modo menos sério. Muito bom.

PS: Comentários divulgados em 19 de Agosto de 2009 e transformados em crítica em 04 de Dezembro de 2013.

A Vida de Brian foto 2Texto atualizado em 04 de Dezembro de 2013 por Roberto Siqueira

3 comentários sobre “MONTY PYTHON – A VIDA DE BRIAN (1979)

  1. Mateus Aquino 5 dezembro, 2013 / 9:16 am

    Ótimo, sem dúvida nenhuma. Mas prefiro Em Busca do Cálice Sagrado.

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    • Roberto Siqueira 11 janeiro, 2014 / 8:27 pm

      Difícil escolher entre os dois.
      Um abraço Mateus.

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