ROCKY BALBOA (2006)

(Rocky Balboa)

4 Estrelas 

Filmes em Geral #98

Filmes Comentados #2 (Comentários transformados em crítica em 22 de Dezembro de 2012)

Videoteca do Beto #222 (Filme comprado após ter a crítica divulgada no site e transferido para a Videoteca em 20 de Fevereiro de 2016)

Dirigido por Sylvester Stallone.

Elenco: Sylvester Stallone, Burt Young, Antonio Tarver, Milo Ventimiglia, Geraldine Hughes, Pedro Lovell, James Francis Kelly III, Tony Burton, A.J. Benza, Henry G. Sanders, Ana Gerena, Ângela Boyd, Louis Giansante, Carter Mitchell, Vinod Kumar e Robert Michael Kelly.

Roteiro: Sylvester Stallone.

Produção: William Chartoff, Kevin King, Charles Winkler e David Winkler.

Rocky Balboa[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido o filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

No sexto e último filme da série, Sylvester Stallone encerra de forma correta a saga do lutador que transformou sua vida e fez dele um dos nomes mais importantes de Hollywood entre os anos 70 e 80. Em certo momento de “Rocky Balboa”, o astro decadente reflete sua própria realidade, dando autógrafos pelas ruas e demonstrando o quanto permanece preso ao passado. E é justamente este tom melancólico que garante uma de despedida digna de Stallone para seu melhor personagem em toda a carreira.

Escrito e dirigido pelo próprio Stallone, “Rocky Balboa” nos traz seu personagem título (Sylvester Stallone) já envelhecido e distante dos dias de glória, vivendo de seu pequeno restaurante Adrian’s, batizado em homenagem à sua falecida esposa, enquanto seu filho Rocky Jr. (Milo Ventimiglia) luta para conseguir sucesso na vida profissional sem a ajuda da fama do pai. Só que uma simulação de computador feita pela ESPN coloca o atual campeão mundial dos pesos pesados Mason Dixon (Antonio Tarver) para lutar contra Rocky e gera uma enorme polêmica, chamando a atenção de empresários que, imediatamente, tentam convencer o lendário ex-lutador a voltar aos ringues.

Logo no primeiro minuto de projeção, “Rocky Balboa” evidencia seu tom nostálgico ao destacar a foto de Adrian ao lado da cama do protagonista, que, somada a versão melancólica da famosa trilha sonora de Bill Conti e a fotografia azulada de J. Clark Mathis, transmite ao espectador o mesmo sentimento de tristeza do lutador. Vivendo numa casa simples em um bairro humilde da cidade, Rocky escancara a diferença gritante de realidade entre os esportistas do passado e do presente quando comparamos suas posses com a mansão e o carro de luxo do atual campeão mundial. A partir daí, ganha espaço a eterna discussão existente em quase todos os esportes: passado versus presente. Perguntas como “Quem seria melhor?” ou “Quem venceria?” jamais encontrarão uma resposta definitiva, por isso, a comparação entre épocas é sempre um assunto polêmico e complicado. É óbvio que numa luta realizada no presente um campeão do passado não teria chances, mas se ambos estivessem no auge o vencedor poderia ser outro.

Ainda neste contexto, “Rocky Balboa” aproveita para abordar outro tema interessante, primeiro através de uma metáfora quando Rocky vai comprar um cachorro junto com Steps (James Francis Kelly III) e cada personagem defende seu ponto de vista com alguma dose de razão. O lutador opta pelo cão mais velho e experiente, contrariando o garoto que preferia o mais jovem e cheio de vitalidade. Aliás, até mesmo Steps serve para ilustrar como temos a tendência de julgar pela aparência, já que inicialmente ele parece um marginal, mas na realidade é um bom garoto. O preconceito contra a velhice surge novamente quando jornalistas dizem que Rocky venceria uma improvável luta contra Dixon e muitos respondem que ele é um velho acabado ou ainda quando Marie (Geraldine Hughes) recusa o convite para ser recepcionista do restaurante por entender que sua aparência não seria boa para o negócio dele.

Foto de AdrianRocky compra um cachorro junto com StepsJornalistas dizem que Rocky venceriaFinalmente oferecendo outra grande atuação, Stallone demonstra a falta que sente de Adrian com perfeição na tocante conversa que tem com Paulie (Burt Young) no frigorífico, quando afirma emocionado que é muito difícil conviver com a besta que existe dentro dele, convencendo também na realista discussão entre Rocky e seu filho através da oscilação do tom de voz, do olhar e das marcantes expressões faciais. Sempre com o olhar triste e amargurado, o ator retrata com competência o jeito grosseiro e encantador que o lutador tem de enfrentar a vida, jamais conseguindo esconder seus sentimentos e carregando uma simplicidade desconcertante que fica evidente na brilhante cena em que ele tenta convencer a comissão de que está em condições de voltar a lutar.

Também se destacando na citada discussão entre pai e filho, Milo Ventimiglia transmite muito bem a amargura de Rocky Jr. por ter a sombra da fama do pai sempre por perto. Mostrando-se constrangido por achar que a sombra de Rocky impede que ele evolua por conta própria, o garoto sequer consegue reagir quando os amigos assistem a luta virtual de seu pai num bar, sorrindo sem jeito enquanto todos vibram e falam com ele. Finalmente, vale citar ainda a boa participação de Burt Young, que, vivendo mais uma vez o rabugento Paulie, revela de maneira surpreendente e tocante o arrependimento dele por ter maltratado a irmã Adrian ao longo dos anos.

Besta que existe dentro deleTenta convencer a comissãoDiscussão entre pai e filhoAlém de acertar no ritmo mais lento e coerente com a proposta da narrativa, a montagem de Sean Albertson brinda novamente os fãs com uma sequência que remete a toda à saga, com Rocky correndo pelas ruas, bebendo ovos crus, socando a carne no frigorífico e chegando às escadarias do Museu de Arte da Filadélfia com a empolgante “Gonna Fly Now” tocando ao fundo. Aliás, até mesmo as músicas escolhidas por Bill Conti para a esperada luta casam bem com os personagens, com Rocky entrando no ringue ao som de Frank Sinatra enquanto Dixon escolhe um sucesso de sua época. E já que citei a luta final em que até mesmo Mike Tyson dá as caras, vale destacar a boa forma de Stallone, que colabora para tornar o confronto mais real.

Preparado com cuidado durante toda a narrativa, o grande clímax traz uma brincadeira metalinguística que evoca sentimentos intensos ao trabalhar com a memória afetiva dos fãs do lutador. E é este pequeno detalhe que faz toda a diferença e dá a dimensão da importância daquele momento. Quando o narrador diz que não acredita que vai narrar uma luta de Rocky, muito provavelmente aquele jovem ator também está querendo dizer que jamais pensou que participaria de um filme da saga, assim como boa parte da plateia imaginou que não assistiria Rocky Balboa nos cinemas novamente. Apesar de castigado pelas continuações distantes da qualidade do primeiro filme (“Rocky II – A Revanche é a exceção), um personagem importante da história do cinema está se despedindo; e todos, inclusive o espectador, sabem disso. Daí a carga emocional daquela cena e de todo o filme.

Misturando ficção e realidade, a luta carregada de energia é um dos pontos altos do filme, ainda que seja difícil de acreditar que um homem de 60 anos poderia apresentar aquele desempenho diante de um campeão mundial em plena forma. Mas este é um deslize perdoável e até mesmo compreensível, já que ninguém gostaria de ver Rocky levando uma surra sem tamanho em sua última luta.

Os créditos finais de “Rocky Balboa” trazem a imagem de dezenas de pessoas subindo às escadarias do Museu de Arte da Filadélfia e imitando os gestos de Rocky. Somente este instante já serviria para demonstrar a importância deste personagem na história recente do cinema. Goste dele ou não, é dever do bom cinéfilo respeitar personagens deste calibre.

PS: Comentários divulgados em 17 de Agosto de 2009 e transformados em crítica em 22 de Dezembro de 2012.

Rocky Balboa foto 2Texto atualizado em 22 de Dezembro de 2012 por Roberto Siqueira

17 comentários sobre “ROCKY BALBOA (2006)

  1. Janerson 22 dezembro, 2012 / 5:17 pm

    Olá, Roberto. Assisti a esse filme e o achei bom. Encerra a saga de Rocky de modo satisfatório. Claro que deixei de lado algumas coisas difíceis de acontecer como o fato de um ex-atleta aos 60 anos fazer frente a um lutador bem mais jovem e ainda em atividade.
    Mas o objetivo mesmo é mais uma vez parabenizá-lo pelo ótimo site, desejar a ti e aos familiares um excelente Natal, um ano novo bastante claro e positivo e acrescentar que, certamente estarei por aqui em 2013 para dar algumas opiniões a respeito dos filmes apresentados.
    Forte abraço.

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    • Roberto Siqueira 23 dezembro, 2012 / 9:58 am

      Olá Janerson,
      Agradeço pelas belas palavras e desejo um Feliz Natal e um Ano Novo repleto de alegria pra você também.
      Ano que vem espero postar mais vezes, já que 2012 foi complicado.
      Um grande abraço.

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  2. Filipe Assis 20 junho, 2012 / 5:19 pm

    Caro Roberto, mais uma vez parabens pelo site.
    Permita-me tambem discordar de voce no que diz respeito às continuações de Rocky. Na minha modesta opinião, o quarto filme – salvo engano – onde Rocky luta contra o enorme soviético interpretado por Dolph Lundgren é um dos melhores. A saga completa é para mim obrigatória no mínimo uma vez por ano.
    Parabéns mais uma vez e um abraço…

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    • Roberto Siqueira 20 junho, 2012 / 8:10 pm

      Olá Filipe,
      Agradeço os elogios. Gosto dos dois primeiros filmes e do último, mas respeito a sua opinião.
      Abraço.

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  3. Cross98 24 fevereiro, 2012 / 8:03 am

    esse filme foi o 2º melhor do spielberg

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    • Roberto Siqueira 26 fevereiro, 2012 / 8:55 am

      Oi Mateus, acho que você se enganou, pois este filme é do Stallone.
      Abraço.

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    • cross98 9 maio, 2012 / 6:53 pm

      Me desculpe se eu me confundi no seu maravilhoso site

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    • Roberto Siqueira 9 maio, 2012 / 11:42 pm

      Sem problemas Mateus.
      Abraço.

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  4. Leandro 31 janeiro, 2011 / 4:02 pm

    Rocky e Rambo dois clássicos do cinema

    Rocky, Um Lutador o melhor filme que ja assisti e Rambo a melhor saga de todas

    Provavelmente essa foi a melhor critica que vi sobre esses filmes concordo com quase tudo só não acho que a sequência de filmes após Rocky, Um Lutador tenha castigado a original pois nessas sequências mostraram o caminho da vida do Rocky até chegar esse brilhante ultimo filme

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    • Roberto Siqueira 31 janeiro, 2011 / 6:56 pm

      Olá Leandro.
      Obrigado pelo elogio. Sinceramente, não gosto das seqüências de Rambo, que pra mim fugiram completamente de um aspecto muito interessante do primeiro filme, que mostrava os maus tratos aos veteranos do Vietnã e os efeitos da guerra no ser humano. Sobre as seqüências de Rocky, gosto de Rocky 2, mas os outros 3 filmes anteriores ao “Rocky Balboa” não me agradam. Mas “Rocky, um Lutador”, “Rocky Balboa” e “Rambo, programado para matar” me agradam bastante.
      Um grande abraço.

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    • Roberto Siqueira 30 dezembro, 2009 / 7:04 pm

      Obrigado Osmar.
      Realmente, para fãs de cinema e de Rocky, este é um passeio obrigatório se um dia passarmos pela Philadelphia.
      Abraço.

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