GREASE – NOS TEMPOS DA BRILHANTINA (1978)

(Grease)

 

Videoteca do Beto #68

Dirigido por Randal Kleiser.

Elenco: John Travolta, Olivia Newton-John, Stockard Channing, Jeff Conaway, Barry Pearl, Michael Tucci, Kelly Ward, Didi Conn, Jamie Donnelly, Dinah Manoff, Eve Arden, Edd Byrnes, Sid Caesar, Susan Buckner, Lorenzo Lamas e Michael Biehn.

Roteiro: Bronte Woodard e Allan Carr, baseado em peça teatral de Jim Jacobs e Warren Casey.

Produção: Allan Carr e Robert Stigwood.

[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

A história é simples, talvez até simples demais. O tema principal da narrativa também não é nada original. Mas o vigor empregado pelo diretor Randal Kleiser e pelo afinado elenco liderado por John Travolta e Olivia Newton-John transforma o musical “Grease, nos tempos da brilhantina” num filme apaixonante, que conquista o espectador com sua energia.

É fim de verão na Califórnia quando o jovem Danny (John Travolta) e a bela Sandy (Olivia Newton-John) fazem juras de amor, pouco antes de a garota voltar para Sidney, na Austrália. Mas inesperadamente ela muda seus planos e acaba se matriculando na mesma escola de Danny. O problema é que lá o rapaz tem fama de garanhão, o que o leva a esnobá-la na frente dos amigos, somente para manter a fama ao não se “prender” numa garota só. Mas no íntimo, ele sabia que estava apaixonado por ela.

Logo nos créditos iniciais, “Grease” nos mostra sua característica mais marcante, através de uma divertida animação, embalada por uma bela canção, que dá o tom divertido e jovial do musical. É com esta abordagem alegre e enérgica que o diretor Randal Kleiser consegue salvar um roteiro apenas razoável, que na realidade apresenta uma história pouco atraente. Ainda assim, o roteiro da dupla Bronte Woodard e Allan Carr consegue ilustrar a fase da juventude, quando ainda estamos cheios de dúvidas e temos que começar a tomar decisões importantes em nossas vidas, além de ser também a época em que as paqueras no colégio se iniciam. Nesta complicada fase, começamos a deixar os amigos de infância em segundo plano e passamos a conviver mais com o sexo oposto, mas ainda não temos a segurança necessária para fazer esta transição tranquilamente. O conflito entre manter a moral diante dos amigos e entregar-se a uma paixão, aliás, é a única razão para que Danny renegue Sandy diante dos amigos. E se este dilema é ilustrado com muito charme e eficiência em “Grease”, os méritos são da boa direção de Kleiser, que emprega muita energia nas cenas e, esbanjando jovialidade, ameniza a fragilidade do roteiro. Não por acaso, o filme conquista o público jovem quase que instantaneamente. Por fim, a descoberta do sexo não poderia faltar num filme sobre jovens, e ela aparece, por exemplo, quando Betty (Stockard Channing) e Kenickie (Jeff Conaway) decidem seguir em frente sem um importante (hoje em dia vital!) acessório. Fica evidente a inocência daqueles jovens diante do tema neste episódio e em diversos outros, como quando um deles pergunta se a duração de uma relação é mesmo de apenas 15 minutos.

Como musical “Grease” é bastante eficiente, também porque as canções são orgânicas, ainda que oscilem entre aquelas apenas regulares e outras maravilhosas. Sendo assim, nenhuma canção soa artificial, como se fosse colocada na trama de qualquer maneira apenas para preencher espaço. Desta forma, quando ouvimos Danny contando vantagem para os seus amigos enquanto Sandy romantiza o encontro na excelente “Summer Nights”, a letra tem todo sentido dentro da narrativa, expondo os sentimentos de cada personagem. Talvez a seqüência musical mais famosa do longa, a bela “Summer Nights”, aliás, é também um dos momentos mais empolgantes do filme, graças à boa condução de Kleiser, ilustrando bem a diferença com que homens e mulheres encaram a paquera nesta fase da vida. Colabora também o show de Travolta, que mostra seu talento como dançarino, apesar da coreografia apenas razoável, que não atinge o mesmo nível de excelência de outros musicais como “Os Embalos de Sábado à Noite”, estrelado por ele próprio. O diretor também conduz bem as seqüências de humor, como quando Danny tenta sem sucesso praticar algum esporte para reconquistar Sandy ou quando o boato sobre a gravidez de Betty começa a correr pela turma. Em outro momento, a câmera de Kleiser acompanha Sandy com poucos cortes, criando uma seqüência elegante enquanto ela canta a música “Hopelessly Devoted To You”. E finalmente, a interessante música “Look At Me I’m Sandra Dee”, cantada por Betty Rizzo, claramente critica o puritanismo e serve, de maneira sutil, como uma alfinetada na “velha Hollywood”, ao citar Doris Day e Rock Hudson.

E se “Grease” caminha num ritmo extremamente agradável, é também devido à dinâmica montagem de John F. Burnett, bastante apropriada para um musical juvenil, e que, além disso, ainda utiliza com elegância a sobreposição de imagens em algumas canções para nos mostrar Danny e Sandy em locais diferentes simultaneamente. Já as cores quentes da fotografia de Bill Butler reforçam o tom alegre do filme, se destacando na ensolarada despedida do casal na praia, onde os raios solares reforçam o momento mágico. Os figurinos coloridos de Albert Wolsky, além de marcantes, certamente carregam a cara de sua geração. As roupas de couro, saias e perucas coloridas garantem um visual alegre e divertido, também coerente com o tom da narrativa. Vale notar ainda como em suas primeiras aparições, Betty, a garota pink mais cética, se veste de preto, representando visualmente seu estado de espírito. Betty, aliás, que é muito bem interpretada por Channing, que demonstra muito bem o jeito despojado da garota. Devo destacar ainda o carro preto que solta fogo pelo escapamento dos “Scorpions”, que deixa claro para o espectador quem são os rivais dos “T-Birds”, ainda mais quando estes últimos aparecem com um carro branco (lembrando as cores dos cavalos de Messala e Ben-Hur), revelando o bom trabalho de direção de arte.

E chegamos então à outra razão para o sucesso de “Grease”. Além da eficiente direção de Kleiser, é a energia do elenco que garante o sucesso do longa. Apesar de já ter aparecido em cena antes, a introdução de Danny na escola é cheia de estilo, graças à pose de John Travolta e a forma como a câmera vai buscá-lo em meio às garotas, ilustrando muito bem o poder de sedução do rapaz. Poder este que fica mais evidente graças ao carisma do ator, extremamente solto no papel. Travolta demonstra bem o típico comportamento adolescente de Danny, por exemplo, quando muda radicalmente a forma de tratar Sandy somente porque está na frente dos amigos. E apesar de se sair bem no papel dramático, ele se destaca mesmo como dançarino, demonstrando seu enorme talento nos números musicais. Já Olivia Newton-John conquista a empatia do espectador com seu charme, compondo uma Sandy praticamente irresistível com sua fragilidade e insegurança. E nem mesmo a improvável mudança de comportamento da garota no final compromete sua atuação, já que é fruto do roteiro e ela pouco poderia fazer a respeito. Pelo menos, a mudança radical rende mais um empolgante número musical, já que é praticamente impossível não balançar os pés com a deliciosa “You’re the one that I want”.

Ainda que tenha pequenos defeitos, “Grease, nos tempos da brilhantina” se destaca principalmente pela forma divertida e empolgante que ilustra uma fase marcante de nossas vidas. Apesar das incertezas que nos cercam, a época da escola certamente traz deliciosas lembranças de um tempo onde nossa maior preocupação era para onde e com quem iríamos passar o final de semana.

Texto publicado em 06 de Outubro de 2010 por Roberto Siqueira

11 comentários sobre “GREASE – NOS TEMPOS DA BRILHANTINA (1978)

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  2. Francisco 19 junho, 2013 / 2:17 am

    Olá roberto, muito ótima esta análise, gosto um pouco de Grease e só não gosto mais devido exatamente esta questão do John travolta cantar mal, aliás, falar que ele canta ‘mal’ chega a ser elogio, é péssimo, devia ter sido dublado pelo Frankie Avalon, ídolo do inicio dos anos 60 e que é homenageado no filme em aparição rápida. Concordo tbm que Swayze dançou melhor em Dirty Dancing, mas em Saturday Night Travolta é imbatível e felizmente só dança. Abraço!

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    • Roberto Siqueira 8 agosto, 2013 / 10:40 pm

      Olá Francisco,
      Obrigado pelo comentário.
      Eu também gosto mais do Travolta em “Embalos de Sábado a Noite”, que é um filme melhor também.
      Abraço.

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  3. Donisete santos de oliveira 10 dezembro, 2011 / 1:09 pm

    otimo bom good elogiado por donizete santos Estudante Brazil Sao Paulo telephone 76625765 ou 87570443, city Diadema,Sao Paulo,Brasil.

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    • Roberto Siqueira 10 dezembro, 2011 / 9:46 pm

      Obrigado.

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  4. Mandy Intelecto 10 outubro, 2010 / 12:19 am

    Eu adoro esse filme…a história é só mais um cliche…mas é demais!!!
    Lembro que minha mãe gravou para mim, em fita cassete, na sessão da tarde…e eu demorei uma vida para conseguir assistir, começava e parava…várias vezes!!! Até que um dia assisti inteiro e simplesmente me apaixonei!!!

    O John Travolta é expetacular…a unica coisa que penso…é que os atores pareciam um pouco velhos para o papel de adolescentes no colégio…

    Mas acho o filme excelente!!!

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    • Roberto Siqueira 10 outubro, 2010 / 7:21 pm

      Que legal que curtiu o filme. Lembro que sua mãe falou bem dele naquele churrasco.
      Valeu pelo comentário e pela visita!

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  5. Vane 8 outubro, 2010 / 12:58 am

    Oii! Sou meio [mto!] suspeita pra falar desse tipo de filme, visto que é meu tipo preferido de filme! rs Praticamente só tenho filmes de dança! Grease, Dirty Dancing, Embalos 1 e 2! rsss Amo! Qdo assisto, sinto como se já tivesse vivido aquela época, como se fizesse parte do elenco!
    Grease me encantou muito na parte musical. Gosto mto das músicas e até ouço no dia a dia, qdo bate aquela saudade de ver o filme e não posso! Porém, Dirty Dancing será sempre meu favorito! Concordo que Patrick é um ótimo dançarino, bem melhor que John Travolta. Cada um tem sua forma de atuar, sua particularidade, que faz serem diferentes. Vejo Patrick em seus filmes como um professor, um cara que sabe o que faz e faz mto bem feito, sem sombra de dúvidas. Já nos filmes de John Travolta, o vejo como um cara “normal”, um aprendiz, que gosta de dançar e faz disso uma diversão. Ele se esforça pra fazer bem feito e gosta daquilo.
    Enfim, ambos atores são ótimos e cada filme tem sua identidade e transmite sua essência de forma única! Adoro! Sou fã!

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    • Roberto Siqueira 8 outubro, 2010 / 2:24 am

      Oi Vãn.
      Musicais são muito legais mesmo. Existem muitos outros que você talvez não tenha assistido ainda e pode gostar, como “Hair”, “Chicago” e “Moulin Rouge”. Caso não tenha assistido ainda, fica a dica.
      Obrigado pela visita e pelo inspirado comentário!

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  6. Thiago Barrionuevo 7 outubro, 2010 / 11:56 am

    Gosto muito desse filme e principalmente das músicas. Acho que o John Travolta canta mal, mas dança bem mesmo. O filme é divertido e bem organizado. Curti! Lembro que assisti na mesma semana que Dirty Dancing, e assim como você, gostei mais de Grease. Mas se comparar Patrick Swayze com John Travolta, Patrick é muito melhor dançando! Não acha?

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    • Roberto Siqueira 7 outubro, 2010 / 10:31 pm

      Olá Thi.
      O John Travolta não canta bem mesmo, mas muitas músicas divertem. Gosto mais de “Grease” do que de “Dirty Dancing”, mas se compararmos a dança dos atores com base nestes dois filmes, Swayze é melhor mesmo. Depois de assistir “Os Embalos de Sábado à Noite” vou dar meu voto definitido. Quem sabe até faço um “Cinema & Debate pergunta” sobre o caso. rsrs
      Abraço e valeu pelo comentário.

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