Durante boa parte da minha infância, criei uma imagem estereotipada das bandas de heavy metal e de seus fãs bem próxima daquilo que muitas pessoas ainda pensam nos dias de hoje. Expressões como “é só barulho” ou “um bando de drogados que só balança a cabeça” eram comuns. Até que entrei na Escola Técnica Estadual Lauro Gomes, em São Bernardo do Campo, e conheci o mundo dos metaleiros. E me apaixonei. É verdade que me limitei a bandas mais tradicionais como o Iron Maiden, Black Sabbath, AC/DC e o próprio Metallica, por exemplo, mas garanto que já valeu a viagem. Além de conhecer músicas que curto até hoje, pude comprovar o tamanho do preconceito que eu carregava, já que os fãs de metal que conheci não poderiam ser pessoas mais legais, o que me fez enxergar o quão errado é rotular alguém. Encontrei nelas algo bem distante daquilo que imaginava, criei fortes amizades com pessoas divertidas e humanas, que, tirando o gosto musical, nada têm de diferente daquelas que gostam de MPB, samba ou música eletrônica. Elas simplesmente amam o heavy metal.
Musicalmente, meus preconceitos estavam tão errados quanto as minhas impressões sobre os metaleiros. E basta ouvir qualquer álbum do Metallica (até mesmo o apedrejado “Load”) para notar a qualidade do trabalho da banda de San Francisco. Pode parecer exagero até, mas enxergo até mesmo forte influencia da musica clássica no trabalho deles – e o álbum Mettalica S&M, com a Orquestra Sinfônica de San Francisco, só amplia esta impressão. Tenho certeza de que, se fossem vivos, Mozart e Beethoven aprovariam a perfeição das composições do Metallica.
Por isso, posso considerar o Metallica uma banda muito importante em minha vida. Gosto de todos os álbuns da banda, mas tenho um carinho muito especial pelos cinco primeiros. E entre eles, meu favorito é “…And Justice for All”. Existe ainda um componente emocional nesta escolha. Este álbum me faz recordar das tardes que eu passava jogando Elifoot com meus grandes amigos escutando este álbum seguidas vezes. Bons tempos.
Análise do álbum:
Se a temática sombria repleta de ódio e criticas ao sistema, a guerra e a privação da liberdade sempre esteve presente na discografia da banda, em “…And Justice for All” o peso é ainda maior. Certamente influenciados pela morte do espetacular baixista Cliff Burton, substituído por Jason Newsted, James Hetfield e companhia pegaram pesado, tanto nas letras quanto na estrutura complexa das músicas, caracterizadas pela longa duração e pelo perfeccionismo na composição das melodias. O resultado é um álbum com o mais puro heavy metal, com sua atmosfera pesada e a notável técnica dos integrantes da banda, perceptível em todas as canções. Cinco estrelas, sem dúvida.
Análise das músicas (Para ouvir a música, basta clicar no nome):
1 – Blackened: O som das guitarras sobe lentamente até ser interrompido pela batida seca de Lars Ulrich, iniciando o ritmo alucinante deste clássico absoluto. O riff inconfundível de Kirk Hammett e o refrão poderoso, ainda mais marcante na voz de Hetfield, nos levam ao melhor trecho da música (“Opposition… Contradiction… Premonition…”), seguido pelo solo de Hammett que praticamente encerra esta maravilha do metal.
2 – And Justice for All: A perfeição da melodia que abre a canção e a lógica impecável de toda a composição instrumental reforçam a influência da música clássica sobre o Metallica (eu juro que imagino Mozart regendo esta canção). Questionando o senso de justiça e o excesso de poder, os gritos revoltados de Hetfield são acompanhados pelo ritmo marcante do restante da banda por toda a longa canção. A justiça está feita.
3 – Eye Of The Beholder: Novamente o volume sobe lentamente e apresenta o poderoso riff até ser interrompido pela pergunta de Hetfield “Do you see what I see?” e retornar ao ritmo original, mudando radicalmente no empolgante refrão “Independence limited, Freedom of choice…”. Um delicioso solo de guitarra complementa a canção.
4 – One: Clássico indiscutível e minha música favorita da banda, “One” é mais do que um protesto contra a guerra. É um momento inspirado e genial do Metallica, onde cada nota parece no lugar certo. O som dos tiros e do helicóptero nos leva ao início melancólico, seguido pelo show de Ulrich, que varia com destreza as batidas secas na bateria, e pelo canto melódico de Hetfield que desemboca no espetacular final, cheio de energia e raiva, como todo bom heavy metal deve ser. O solo inacreditável de Hammett encerra a obra-prima do álbum.
5 – The Shortest Straw: Outra pancada que já começa em ritmo alucinante, sempre contando com o perfeito entrosamento da banda. Com frases rápidas, Hetfield caminha até o refrão mais lento, mas ainda assim potente. Outro excelente solo de Hammett completa a música.
6 – Harvester Of Sorrow: O inicio solene confere peso à música, reforçado pelo coro ao fundo e pelo riff poderoso. Uma leve mudança no ritmo traz a voz marcante e furiosa de Hetfield, que acompanha a melodia até o ótimo refrão. Desta vez, o solo é mais lento, mas confirma o talento de Hammett, enquanto o peso da dupla Hammett e Newsted garante a base perfeita.
7 – The Frayed Ends Of Sanity: A marcha inicial dá lugar ao peso das guitarras e o ritmo alterna com frequência até o refrão. Entretanto, é o solo de Hammett que se destaca no meio da canção.
8 – To Live Is To Die: Os belos acordes iniciais são interrompidos pela batida constante da bateria que inicia a sensacional música instrumental do álbum. O talento musical da banda fica ainda mais evidente, numa composição empolgante, recheada por solos e alternâncias de ritmo marcantes. Meu trecho favorito começa aos 4:30min e se estende até o final. A música ainda traz frases de Cliff Burton, numa bela homenagem ao excepcional baixista morto dois anos antes.
9 – Dyers Eve: Um torpedo do inicio ao fim. O ritmo frenético de toda a banda (incluindo os malabarismos de Hammett na guitarra) é acompanhado pela voz de Hetfield na música mais curta do álbum, que fecha muito bem o ótimo “…And Justice for All”.
Sombrio e pesado, “…And Justice for All” carrega em cada nota musical a marca dos grandes álbuns da história do heavy metal. E ainda deu ao mundo clássicos absolutos como “One” e “Blackened”. E pensar que antes dele o Metallica já tinha lançado os magníficos álbuns “Kill ‘Em All”, “Ride the Lightning” e “Master os Puppets”; e dois anos depois lançaria o ótimo “Metallica”, mais conhecido como “Black Album”. Não precisava tanto, mas para os amantes do metal, esta discografia até parece um presente dos céus (ou seria do inferno?). Brincadeiras a parte, Ludwig estaria orgulhoso. Se a justiça está perdida, a boa música está salva.
Um abraço.
Muito comunicativo
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Muito obrigado.
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Ok, pra mim metaleiro é um drogado que balança a cabeça e faz barulho (rs). Faça um post sobre o disco do Raul Seixas, que li em uma lista antiga, Raul é o meu favorito
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Mas não é não viu…
Raul está na lista, assim que possível farei.
Abraço.
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e voce mateus aquino e um retardado
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