Antes de começar a escrever sobre as cidades que conheci na última viagem, quero fazer alguns comentários sobre este país fascinante, que nos encantou definitivamente: a Alemanha.
Se as viagens anteriores foram marcantes por diferentes motivos, desta vez, além da presença do Arthur, o passeio pelo velho mundo serviu para derrubar mitos. Definitivamente, a maioria das coisas que eu ouvia falar da Alemanha antes da viagem caiu por terra. Cheguei até a escrever no Facebook que nunca mais vou falar de algo que não conheço só porque alguém me contou, já que a cada dia aprendo que só podemos falar de algo que conhecemos, caso contrário, será um mero exercício de adivinhação.
É óbvio que numa viagem a passeio tudo fica mais lindo, mais legal, mais interessante. Mas os relatos negativos que eu ouvia também eram de pessoas que estavam viajando a passeio, portanto, o parâmetro é o mesmo.
Em primeiro lugar, a Alemanha está longe, mas bem longe de ser o país cinza e sem vida que me pintaram. Aliás, Berlim e Munique estão entre as cidades grandes mais “verdes” que eu já conheci. E no trajeto entre elas (passei por Praga e Viena no caminho, que ficam fora da Alemanha), a paisagem que vimos através da janela do trem não fica atrás, repleta de lugares cinematográficos, com árvores, lagos e rios belíssimos cercados pelas típicas casinhas alemãs que tanto me encantam. E se a limpeza e a organização das cidades impressionam, a imponência do peso da história que parece pulsar em cada esquina só torna estas duas cidades ainda melhores.
Quanto ao povo alemão, só posso dizer que a maioria absoluta das pessoas que cruzaram nosso caminho nos acolheu muito bem e mesmo os que não falavam inglês tentavam nos ajudar no que era preciso. A imagem que criamos dos alemães foi a melhor possível, um povo festeiro, alegre, hospitaleiro e, o mais interessante de tudo, muito família. A cena mais comum de se notar na rua ou num parque é uma família, com pais, filhos e avós brincando, se divertindo ou apenas relaxando e deixando o tempo passar.
Ah, é claro, tem também a cerveja, uma espécie de liquido sagrado para os alemães, que se divertem em seus bares e “Biergartens” tomando litros e litros da bebida preferida no país. Esta história de que alemão é bravo e sisudo não colou. Eles são bastante festeiros, saem do trabalho no horário e vão curtir, num estilo de vida bem mais interessante do que o que temos, por exemplo, na estressante metrópole paulistana. E por sinal, a tal da “cerveja quente” também me pareceu não passar de mais uma lenda, já que em praticamente todos os bares e “Biergartens” que eu fui a cerveja era no mínimo fria. De fato, eles não tomam cerveja “trincando” como nós aqui porque alegam que perde o sabor, mas isto não quer dizer que a cerveja seja quente.
Além de tudo isso, a infraestrutura do país nos permite conhecer diversos lugares sem precisar de carro, sem enfrentar um transito caótico, sempre com acessibilidade nos trens, ônibus e metrôs para idosos, portadores de necessidades especiais e pessoas (como nós) que carregam crianças em carrinhos de bebê. E eles respeitam muito a prioridade destas pessoas, assim como quem está de carro respeita nossa prioridade na hora de atravessar a rua, respeita os ciclistas (que são muitos), etc.
Outro medo que eu tinha era de levar uma criança de 2 anos numa viagem como esta. Mas o Arthur não poderia ter se saído melhor, curtindo cada novidade, adorando os parques, castelos, os alegres mercados de rua e os playgrounds espalhados pelas cidades. Quando voltei para o Brasil, decidi viajar no feriado de 07 de Setembro e aí sim foi complicado. Levamos 6 horas para fazer uma viagem que normalmente leva 3 horas, o Arthur passou mal por causa do calor, etc. O pessoal achava que éramos malucos de levar ele pra Europa. Mas, na verdade, eu acho que maluco é quem leva criança pra viajar num feriado prolongado em São Paulo. A falta de estrutura, de ferrovias, etc., cria uma situação infernal tanto para quem vai para o interior quanto para quem vai para o litoral. Já na Europa, a facilidade é tamanha que nós ficávamos pensando: “Qual é a loucura de viajar num trem confortável como este, de andar num sistema público de transporte tão eficiente e de conhecer lugares tão lindos?”.
No fim das contas, a grande verdade é que a cada vez que viajo pra Europa eu volto ainda mais decepcionado com o nosso país. Nós brasileiros nos apoiamos na beleza natural (que existe, em maior ou menor escala, em todos os países do mundo) para justificar inúmeros defeitos criados durante anos de corrupção, má administração e jogos de interesses. Aceitamos passivamente a falta de estrutura, de condições melhores de vida, de segurança, de saúde, de educação, etc., alegando que em todo lugar é assim. Não, não é assim! Existem lugares melhores para viver por aí. E isto não é uma opinião, é um fato – e tenho certeza que a maioria das pessoas que já teve a oportunidade de conhecer um país mais desenvolvido vai concordar comigo.
Não conheço muitos países que imagino serem excelentes para viver, como os EUA, a Austrália ou o Japão, por isso não posso falar nada a respeito deles. Mas da Europa eu me sinto a vontade para falar. Existem problemas, é claro, mas são problemas que tem pouca interferência do ser humano (ou seja, não dependem de ações dos governantes), como o frio ou a saudade que os “expatriados” tendem a sentir da família e da terra natal. Mas as vantagens são tantas que se um dia eu tiver a oportunidade, certamente vou optar por morar no exterior, ainda que eu saiba que sentirei saudades de muitas pessoas que ficarão para trás. É mais fácil morar num lugar assim do que esperar que nossos governantes melhorem nosso país. É egoísmo? Sim, é. Mas é a triste realidade e não posso negar meu sentimento.
O texto começou feliz e terminou em tom de desabafo, mas não vou apagar nem uma frase sequer. Espero que compreendam e curtam. E espero também que um dia o povo brasileiro acorde e passe a exigir melhorias reais em nossa pátria amada.
Um grande abraço.
Texto publicado em 22 de Setembro de 2012 por Roberto Siqueira
Roberto, você está de parabéns pelo seu texto tão lúcido, esclarecido e fluente. Concordo 100% com tudo o que você disse.O pior cego é aquele que não quer ver, e parece que o que não falta neste nosso Brasil varonil são cegos que insistem em não querer ver e achar, como você disse, que todo lugar do mundo é igual. Parece que ficam sempre à procura dos pontos negativos de outros países como que para justificar nossas mazelas. Quem disse que os problemas são um privilégio do Brasil ou de qualquer outro país? É claro que, em maior ou menor escala, eles existem em qualquer lugar do mundo. Então, por que, em vez de ficar procurando os defeitos para apontá-los e fazer comparações quase sempre inconsistentes e injustificáveis, não nos miramos em tantos pontos positivos que outros países têm a nos dar como exemplo, não é mesmo?
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Olá Abnáder,
Muito obrigado pelos elogios. Fico feliz ao ler comentários de pessoas com a mente aberta e esclarecida como você.
Um abraço.
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Sem dúvidas a Alemanha é um país interessante. Eu particularmente não gosto de viajar, mas se fosse pra ir em algum lugar da Europa, iria para a Itália. Imagina, passar por lugares onde foram gravados tantos filmes inesquecíveis, como O Poderoso Chefão, Cinema Paradiso e tantos outros… Abraço.
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A Itália é um país muito interessante também Mateus.
Em breve escreverei sobre as cidades italianas que conheci.
Abraço.
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