Sempre fui fã do futebol alemão. Assistia ainda criança às saudosas transmissões da Bundesliga na TV Cultura, na incrível temporada 91/92 em que Eintracht Frankfurt, Borussia Dortmund e Stuttgart brigaram pelo título até a última rodada. Adorava a narração de José Goés e os comentários de Gerd Wenzel e José Trajano e, principalmente, curtia muito a possibilidade de conhecer um campeonato diferente, apesar de também acompanhar de perto a maravilhosa Série A Italiana – na época, o melhor campeonato do mundo.
Alguns anos mais tarde, eu comecei a acompanhar também a Uefa Champions League (na época conhecida como Copa dos Campões da Europa) e vi Milan e Ajax assombrarem o mundo com seus times mágicos. Mas só pude realmente assistir aos jogos em 98, quando consegui assinar a ESPN. Antes disso, ouvi duas decisões de Champions no rádio (acho que na Jovem Pan), uma delas ao lado do meu grande amigo Léo, no ano em que o Real Madrid finalmente voltou a dominar a Europa (1998, gol de Mijatovic).
Mas foi a temporada 96/97 que despertou minha paixão por outro time de futebol além do meu amado Palmeiras. Eu já simpatizava pela camisa amarela e pela torcida fanática do Borussia desde os tempos da TV Cultura, mas foi o time de Matthias Sammer, Andy Möller e Stephanie Chapuisat que me conquistou de vez. Ao ver o Dortmund levar a Champions e o Mundial (2×0 contra o Cruzeiro) eu me tornei seu torcedor. Escolhi o Borussia para jogar campeonatos de Fifa Soccer com meus amigos e passei a acompanhar de perto o time nas ótimas transmissões da Bundesliga na ESPN. Vi o time vencer o alemão mais uma vez, em 2002, com Amoroso jogando muita bola, mas logo depois veio o fundo do poço. Anos de tristeza, goleadas como um 5×0 do Bayern dentro do Westfalenstadion (hoje Signal Iduna Park). Mas os tempos de glória voltaram após a reconstrução do time e, junto com eles, a esperança de brilhar na Europa novamente – algo que eu previ um ano atrás, neste post.
Assim, a última terça-feira tornou-se um dia simbólico em minha trajetória como torcedor. Finalmente, poderei assistir meu time na Europa disputar uma final de Uefa Champions League. É óbvio que o colossal time do Bayern é favorito, mas não podemos subestimar este grande time do Borussia e seu poder letal. Quem acompanha a Bundesliga sabe que o Borussia complicou demais a vida do Bayern nos últimos anos e tem condições de surpreender os bávaros mais uma vez.
Mas a semana reservou ainda outro momento marcante. A primeira final alemã da história da Champions pode não significar nada (como a final italiana em 2003 não representou a volta do domínio do Calcio), mas os frutos do bom trabalho feito em solo germânico estão cada vez mais evidentes. Após muitos anos, o mundo finalmente voltou seus olhos novamente para o futebol alemão. Lembro-me de amigos rirem quando eu dizia que acompanhava a Bundesliga. Durante anos, esta risada era justificável. Hoje, não é mais. O campeonato alemão é muito interessante, ainda que o domínio do Bayern seja incontestável. Mas isto é normal em todos os campeonatos da Europa. Não concorda? Então veja só estes dados:
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Nos últimos 20 anos, o Bayern de Munique venceu onze campeonatos alemães, o Borussia Dortmund venceu cinco e Stuttgart, Werder Bremen, Kaiserslautern e Wolfsburg venceram uma vez cada.
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Nos últimos 20 anos, o Manchester United venceu doze campeonatos ingleses, Chelsea e Arsenal venceram três vezes e Blackburn Rovers e Manchester City venceram uma vez cada.
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Nos últimos 20 anos, o Barcelona venceu nove campeonatos espanhóis, o Real Madrid venceu sete, o Valencia venceu dois e Deportivo La Coruña e Atlético de Madrid venceram uma vez cada.
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E finalmente, nos últimos 20 anos a Juventus venceu sete campeonatos italianos (um deles revogado após o escândalo de compra de resultados), o Milan venceu seis, a Inter cinco e Lazio e Roma venceram uma vez cada.
Por tanto, afirmar que a Bundesliga não pode se tornar o melhor campeonato do planeta por causa do domínio do Bayern é fechar os olhos para o que acontece nas ligas rivais. Assim como tantos e tantos brasileiros parecem fechar os olhos para o que está acontecendo no futebol nos últimos anos. Leio comentários em blogs e vejo entrevistas de treinadores como Felipão (de quem sou fã, mas reconheço que está ultrapassado) e Parreira e só comprovo o que Paul Breitner afirmou em entrevista na ESPN: O futebol brasileiro parou no tempo. Ainda nos consideramos os melhores do mundo, mas estamos cada vez mais longe de tornar esta afirmação uma realidade. E muito comentarista/torcedor parece não perceber isto já há alguns anos (também discuti este tema na última Copa do Mundo).
O que fazer? Poderíamos aprender com o exemplo da própria Alemanha. Potência europeia detentora de muitos títulos e craques em sua história, a Alemanha entrou em decadência no final dos anos 90. A crise técnica fez com que os dirigentes alemães refletissem e buscassem se adaptar ao novo cenário futebolístico mundial. Um grande investimento foi feito na formação de jogadores. Clubes como o próprio Borussia, na época praticamente falido, passaram a buscar na base a solução para os problemas técnicos e financeiros. Mesmo com o vice-campeonato mundial em 2002, os resultados desta nova maneira de pensar começaram mesmo a aparecer em 2006, quando o mundo conheceu a geração de Podolski, Lahm, Schweinsteiger e Klose (este que já tinha brilhado quatro anos antes). Em 2010, novos craques deram as caras para o mundo, como Müller, Özil e Khedira, e quem acompanha a Bundesliga sabe que uma terceira fornada de craques está prontinha para brilhar na Copa, com Götze, Reus, Kroos e Gündogan chegando para completar o grupo da favorita ao título ao lado da ainda ótima seleção espanhola.
Mas esta brilhante geração parecia sofrer com uma síndrome que assolava outros países no passado e que parecia jamais ser capaz de preocupar a poderosa Alemanha nos tempos de outrora. O país que um dia inspirou a frase de Gary Lineker (“O futebol é um esporte jogado por 11 contra 11 e no qual a Alemanha sempre vence”), agora sofria com a falta de resultados. Jogava bonito, encantava o mundo, mas não conquistava nada. Esta síndrome deu o primeiro sinal na virada história do Manchester United contra o Bayern em 1999, no Camp Nou. É verdade que o próprio Bayern venceria uma Champions dois anos depois, naquele que seria o último titulo alemão no futebol internacional, mas depois disto o país sofreria muitas derrotas doloridas tanto nos clubes como na seleção. E foi justamente neste mesmo Camp Nou que nesta quarta-feira o futebol alemão finalmente consolidou seu reencontro com a vitória, com o passeio do Bayern sobre o melhor time do mundo até então e a confirmação da primeira final alemã na história da Champions.
Nem por isso o grande Barcelona deixará de ser maravilhoso e tampouco podemos cravar que a Alemanha vencerá tudo daqui pra frente. Mas como admirador do futebol germânico e do povo alemão, fiquei extremamente feliz com esta final. Torcerei pelo Borussia, é claro, mas de qualquer maneira o povo germânico já tem o que comemorar. Após a implementação do Fair-Play Financeiro pela UEFA (que já é aplicado na Alemanha há tempos) e com os investimentos feitos na base, a Bundesliga tem tudo para se consolidar como um dos melhores campeonatos do mundo; o que, para quem sempre curtiu a liga alemã, é motivo de grande alegria. Para isto, basta manter sua estrutura organizada, continuar respeitando seus torcedores apaixonados com ingressos a preços acessíveis, excelentes estádios, transporte, segurança e a atmosfera festiva que impera nos estádios mais lotados do planeta.
Se você ainda tem um pé atrás, experimente abrir uma boa cerveja num sábado ao meio-dia e assista a Bundesliga. Você não vai se arrepender.
Auf Wiedersehen!
Pô Roberto, eu sou torcedor do Cruzeiro, quando falou do Borussia me trouxe lembranças não muito boas kkkkkkkkkk
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Imagino Filipe. rsrs
Ainda sofro quando falam do Manchester United.
Abraço.
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O Bayern é mais time que o Borussia. Mas o melhor time do mundo, hoje realmente é o Corinthians. Acho que apenas o Corinthians conseguiria vencer o Bayern, mas hoje, O Cruzeiro, o Galo, Inter e Grêmio passariam por cima do Borussia.
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Nenhum time brasileiro seria páreo para os alemães hoje Mateus.
O Bayern é favorito, mas se deu mal contra o Borussia nos últimos anos.
Abraço.
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