Recomeço

Nem eu e nem minha esposa sabíamos, mas nossas vidas – e de todos que nos cercam – começaram a mudar no dia 06 de Agosto de 2012, no instante em que pousamos pela primeira vez na vida na capital alemã. Nós já éramos apaixonados pelo estilo de vida europeu desde a deliciosa viagem de lua-de-mel realizada ainda em 2007 e falávamos abertamente que adoraríamos viver nesta região do mundo, mas nossa admiração nunca se concretizou em ações que pudessem de fato nos levar a uma mudança. Foram os dias maravilhosos que passamos em Berlim e, posteriormente, em Munique que nos levaram a conclusão de que era preciso agir.

Curiosamente, foi somente na terceira viagem ao velho continente que incluímos a Alemanha no roteiro, talvez por conta do estereótipo mentiroso que temos no Brasil sobre o país, que já desmenti neste post. Nós já tínhamos nos encantado com cidades como Paris, Amsterdam, Roma e Barcelona, mas somente quando conhecemos o país de Goethe que a ficha verdadeiramente caiu. Nós tínhamos que morar ali. Não propriamente ali, em Berlim ou Munique, mas a admiração pela Alemanha – que ganhou mais força ainda ao longo dos anos e das novas visitas – foi o motor para concretizar o que era apenas um sonho e dar início ao nosso projeto de mudança para a Europa.

Na volta daquela viagem, iniciamos o processo de cidadania italiana por parte da família da minha esposa e, já em 2013, eu iniciei o estudo do idioma alemão, ainda que o primeiro ano tenha sido praticamente perdido pelo método caseiro que escolhi, o que me motivou a buscar uma escola especializada em 2014. Pela primeira vez, nós tínhamos um plano concreto e agíamos em direção ao sonho.

Passaram-se os anos, nós quase mudamos em 2015, mas uma proposta de trabalho me segurou no Brasil – e que decisão acertada ela se revelou. Vivi anos maravilhosos numa experiência profissional marcante que deixou saudades e que me fez crescer como profissional e como pessoa. Até por isso, não foi nada fácil decidir partir. Obviamente que ficar longe de familiares e amigos era o que mais dificultava a decisão de mudar de país, mas deixar um emprego que eu de fato amava também não era algo simples.03

Por outro lado, a onda conservadora que nasceu nas manifestações de 2013 e que nos levou a eleição de você-sabe-quem facilitou bastante a decisão de mudar. A cada ano que passava e a cada debate que eu tinha sobre ideias políticas e visão de mundo com amigos, familiares e em redes sociais (sim, cometi este erro), eu percebia que estava me desconectando do Brasil e que, se o modelo de sociedade que eu defendo é visto de maneira totalmente distorcida em nosso país, era mais fácil abandonar o inútil debate que já estava me trazendo problemas de saúde e viver logo de uma vez onde ele já é aplicado, afinal, como diz o brilhante texto de Ivana Ebel, o brasileiro de classe média acha chique a Europa, mas critica toda e qualquer política progressista do velho continente quando alguém tenta aplicá-la no Brasil, como por exemplo as ciclovias em São Paulo e programas que visem o bem-estar social, igualdade de gênero, etc.

O sombrio cenário eleitoral somado aos anos de planejamento e ao timing para que nossos filhos não fossem prejudicados em sua formação escolar fizeram com que Dezembro de 2018 fosse a data ideal para nossa sonhada mudança. E assim aconteceu. Desde então, vivemos em Lisboa, numa fase de adaptação ao velho continente que pode tornar-se definitiva, já que estamos adorando viver aqui. Eu ainda passei o mês de Janeiro em Berlim fazendo um curso intensivo de alemão que, além da experiência de imersão que obviamente me ajudou bastante, ainda me rendeu boas amizades, e agora estou novamente com a família em terras lusitanas.

O fato é que não sabemos onde iremos viver em definitivo até que eu encontre um novo emprego – o que pode me levar a algum outro país europeu. Até lá, quem sabe consigo voltar a focar no blog e talvez dar um passo adiante, tratando-o de maneira mais profissional e não apenas como um hobby. Ideias para isso eu tenho aos montes, o que faltava realmente era tempo.

E como o Cinema & Debate sofreu nestes últimos anos. Eu praticamente não conseguia escrever mais, ainda que conseguisse assistir filmes num ritmo razoavelmente bom para quem viajava tanto a trabalho, estudava alemão e, claro, tinha uma família e uma vida social. O blog praticamente sobreviveu respirando por aparelhos, com textos esporádicos, idas e vindas, sumiços e retornos, ainda que o número de acessos jamais tenha caído.

A minha paixão pelo cinema, no entanto, nunca morreu, assim como minha vontade de manter o blog vivo, que era renovada a cada comentário que recebia mesmo com a longa ausência. Talvez esteja na hora de retribuir o carinho de todos vocês que, com comentários e cliques, mantiveram acesa a chama da esperança neste espaço criado para debater a sétima arte de uma maneira mais profunda.

A chama ganhou força. É chegada a hora do recomeço.

Texto publicado em 03 de Março de 2019 por Roberto Siqueira

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