Muitos brasileiros vibraram como nunca nas redes sociais após a vexatória eliminação da seleção espanhola ainda na fase de grupos da Copa, numa reação natural e esperada diante da derrocada de uma geração que conquistou tudo que temos de importante no futebol nos últimos 6 anos.
Antes de abordar a questão, uma pitadinha histórica: esta é a terceira vez nas últimas 4 Copas que o campeão é eliminado na primeira fase e a quinta em toda a história – o próprio Brasil, em 1966, caiu na primeira fase também com duas derrotas.
Mas voltando ao tiki-taka, não são poucos os detratores do sistema de jogo que fez da geração Xavi e Iniesta uma das mais vitoriosas do futebol mundial. No entanto, engana-se quem pensa que o tiki-taka morreu juntamente com o fim desta geração. O estilo de jogo espanhol mudou o futebol mundial e, como é natural, foi aprimorado por outros centros. A Itália, por exemplo, bateu o recorde de passes certos em Copas no último sábado, acertando 93% dos 601 passes que tentou contra 92% da Dinamarca em 1986.
No entanto, são os alemães que melhor aproveitaram a inovação espanhola. Utilizando a mesma marcação pressão que caracteriza seus principais clubes (o Bayern de Munique e o meu Borussia Dortmund), a seleção alemã alterna momentos em que troca passes com precisão para manter o controle do jogo e outros em que parte com intensidade em direção ao gol, numa clara evolução do sistema de jogo espanhol. Esta evolução já estava clara no ano passado quando Bayern e Borussia massacraram Barcelona e Real Madrid nas semifinais da Champions (veja vídeo abaixo que mostra a marcação pressão que caracteriza o estilo de jogo agressivo do Dortmund).
Assim, você tem todo o direito de detestar o tiki-taka, mas não pode fechar os olhos para sua importância na evolução do futebol. Do mesmo jeito que a Laranja Mecânica marcou os anos 70 e a Dinamáquina marcou os anos 80, esta geração espanhola será lembrada por muitos e muitos anos. E eu fico feliz por ter a oportunidade de acompanhar mais uma etapa marcante da história deste esporte tão mágico.
Que venham novas táticas de jogo ousadas e inovadoras. O futebol agradece!
Abaixo o gol que marcou o nascimento do tiki-taka, em partida válida pelas eliminatórias da Euro 2008 contra a Dinamarca. Com todo o respeito, não gostar de lances assim é não gostar do futebol bem jogado. Observe a precisão no toque de bola, o controle do jogo e a espera paciente pelo momento preciso de atacar. Genial.
Texto publicado em 19 de Junho de 2014 por Roberto Siqueira