(Home Alone 3)
Videoteca do Beto #173
Dirigido por Raja Gosnell.
Elenco: Alex D. Linz, Olek Krupa, Rya Kihlstedt, Lenny von Dohlen, David Thornton, Scarlett Johansson, Haviland Morris, Kevin Kilner, Marian Seldes, Seth Smith e Christopher Curry.
Roteiro: John Hughes.
Produção: Hilton Green e John Hughes.
[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido ao filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].
Se “Esqueceram de mim” era um filme que dependia exclusivamente da predisposição do espectador em aceitar sua premissa absurda para funcionar e “Esqueceram de mim 2” já apresentava um claro desgaste desta fórmula, imagine então o que acontece neste “Esqueceram de mim 3” que, além de apostar exatamente na mesma estrutura narrativa e nos mesmos elementos utilizados nos filmes anteriores, ainda se ressente da falta do carisma de Macaulay Culkin. Assim, se o longa anterior se salvava justamente por se apoiar no carisma do então jovem astro, este terceiro filme da franquia não consegue escapar do fracasso.
Escrito novamente por John Hughes, “Esqueceram de mim 3” tem início quando um grupo de criminosos escondem um valioso chip de computador dentro de um carrinho de brinquedo que, por acidente, acaba parando nas mãos do pequeno Alex (Alex D. Linz), um jovem que costuma ficar sozinho em casa durante o dia enquanto sua mãe (Haviland Morris) trabalha. Após descobrirem o paradeiro do chip, os ladrões terão que enfrentar as armadilhas do garoto para recuperar o importante objeto.
Ao contrário do que ocorria nos longas anteriores, “Esqueceram de mim 3” sugere uma narrativa mais sombria em seus minutos iniciais através da trama envolvendo o chip capaz de ativar um míssil, o que, convenhamos, está bem longe de ser uma premissa infantil. No entanto, engana-se quem pensa que isto significa um sopro de criatividade e uma tentativa de revigorar a fórmula que consagrou o primeiro filme da franquia, ainda que a fotografia de Julio Macat também seja claramente mais obscura, apostando em conjunto com os figurinos de Jodie Tillen em cores sem vida e ressaltando o predomínio da neve naquela época do ano de maneira mais ostensiva.
Contudo, os escorregões não passam tanto pelo aspecto visual, mas sim pelas derrapadas do roteiro de Hughes, que parece incapaz de inovar, apostando novamente numa narrativa que se passa na época do Natal, nos problemas entre o protagonista e a família e em coincidências difíceis de engolir, como a confusão pouco verossímil envolvendo sacolas iguais e a maneira como eles conseguem um voo de última hora para Chicago – ao menos o Papagaio que conversa normalmente é tão absurdo que chega a ser simpático. Por outro lado, a trilha sonora de Nick Glennie-Smith acertadamente mantém as músicas joviais e o tema principal da série, trazendo ainda uma empolgante composição que acompanha a preparação da defesa da casa, mantendo outra tradição da franquia.
Da mesma forma, o diretor Raja Gosnell e seus montadores Malcolm Campbell, Bruce Green e David Rennie não conseguem evitar que a narrativa se torne arrastada, perdendo-se em alguns momentos ao investir, por exemplo, um longo tempo nas sequências em que o garoto chama a polícia e ninguém acredita nele. Ao menos, o diretor tem méritos por repetir uma estratégia adotada por Chris Columbus, apresentando alguns brinquedos de Alex (design de produção de Henry Bumstead) que serão essenciais no ato final, acertando também na empolgante sequência em que acompanhamos o carrinho do garoto através de uma câmera amarrada sobre ele, ainda que ocasionalmente tenhamos a sensação de que o brinquedo está sendo pilotado pelo MacGyver, conseguindo quebrar madeiras, correr mais que as pessoas e até mesmo pular as cercas entre as casas.
Estes pequenos acertos não apagam, porém, sua falta de habilidade na direção de atores, o que permite que Olek Krupa, Rya Kihlstedt, Lenny von Dohlen e David Thornton encarnem seus ladrões, que teoricamente deveriam ser mais profissionais que os personagens de Pesci e Stern, de maneira extremamente caricata, em atuações que tentam soar mais perigosas, mas acabam sendo patéticas. Pra piorar, o menino Alex D. Linz não tem nem de perto o carisma de Culkin, ainda que seu personagem Alex consiga criar empatia com a mãe interpretada por Haviland Morris. Ela que também chega a irritar ao desconfiar constantemente do garoto por achar que tudo não passa de pura imaginação dele, mas esta é uma atitude justificável diante da falta de provas concretas e da fase da vida que ele está atravessando. Fechando o elenco, vale destacar a presença de Scarlet Johansson ainda bem jovem no papel de Molly, a irmã do protagonista.
Ao menos, a melhor tradição da franquia é mantida e a tentativa de invadir a casa é mais uma vez repleta de momentos engraçados, apostando novamente no humor puramente físico para agradar. Só que, infelizmente, desta vez isto não é suficiente para salvar o filme do desastre. A fórmula muito desgastada de John Hughes já não colava mais.
Texto publicado em 27 de Agosto de 2013 por Roberto Siqueira