O EXORCISTA (1973)

(The Exorcist) 

5 Estrelas 

Videoteca do Beto #14

Dirigido por William Friedkin.

Elenco: Ellen Burstyn, Linda Blair, Jason Miller, Max Von Sydow, Lee J. Cobb, Kitty Winn, Jack MacGowran, William O’Malley, Barton Heyman, Peter Masterson, Gina Petrushka, Robert Symonds, Thomas Birmingham e Mercedes McCambridge (voz).

Roteiro: William Peter Blatty, baseado em livro de William Peter Blatty.

Produção: William Peter Blatty.

[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido o filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

Para algumas pessoas – como eu – poucos temas são capazes de provocar medo como os relacionados aos espíritos. Por isso mesmo, confesso que dos filmes recentes de suspense que eu assisti, os que mais me agradaram tinham este tema em comum (“O Chamado” e “Os Outros”). Em “O Exorcista”, clássico dirigido por William Friedkin, este tema foi explorado com absoluta competência, provocando um frio na espinha da maioria dos espectadores e criando um festival de imagens que são capazes de atormentar a mais incrédula das pessoas.

A atriz Chris MacNeil (Ellen Burstyn) começa a perceber gradativamente que sua pequena filha Regan MacNeil (Linda Blair) está tendo um comportamento bastante estranho. Após frustradas tentativas de curar a garota procurando a ajuda de médicos, psiquiatras e até mesmo através da hipnose, ela se rende à ajuda do padre Karras (Jason Miller), que chega à conclusão de que a menina está possuída pelo demônio e precisa de um ritual que já não é mais utilizado nos dias de hoje, chamado exorcismo.

Friedkin inicia o filme mostrando o cotidiano do experiente Padre Merrin (Max Von Sydow), que está fazendo escavações no Iraque. Durante estas escavações, Merrin acaba se encontrando com uma estátua macabra no alto de um monte. O plano final desta seqüência no Iraque, com o pôr-do-sol avermelhado, remete ao inferno. Em seguida, o diretor nos ambienta profundamente no relacionamento entre Chris e Regan, mostrando imagens das duas brincando e conversando na cama (neste plano vemos o rosto de Regan em close, o que dá a exata noção do contraste quando ela está possuída). Desta forma, ele cria empatia entre o espectador e aquela família, o que aumenta ainda mais o drama quando Regan começa a dar sinais de mudança em seu comportamento. O diretor também é inteligente ao nos situar nos problemas da família, como no plano em que Chris tenta falar com o pai de Regan e discute com a operadora de telefone. A câmera lentamente se afasta até mostrar Regan ouvindo a conversa escondida. A falta do pai seria utilizada como justificativa posteriormente para a mudança de comportamento da garota. Além disso, lentamente Friedkin vai introduzindo elementos que nos mostram sinais do que aconteceria depois, como a cama balançando freneticamente, a reação de Regan nos exames e os palavrões que a garota começa a falar. Finalmente, somos apresentados ao sofrimento do Padre Karras ao ver sua mãe doente, que também terá reflexo no restante da narrativa.

Vale dizer que todo este cuidadoso primeiro ato é mérito também do excelente roteiro de William Peter Blatty (baseado em livro do próprio Blatty). O roteiro desenvolve muito bem os personagens e seus dramas familiares, o que colabora com o nosso envolvimento no filme. É também corajoso ao trabalhar muito bem questões delicadas como a vida pessoal dos padres, normalmente vistos como pessoas acima do bem e do mal, mas que são seres humanos normais, que têm defeitos, medos e enfrentam problemas pessoais como qualquer um. Observe, por exemplo, este trecho de uma das conversas entre Chris e Karras: (Chris: “Padres sabem guardar segredo?” / Karras: “Depende.” / Chris: “Do que?” / Karras: “Do Padre.”). Não é por ser padre que uma pessoa é ou não é confiável, isto depende exclusivamente da pessoa. Blatty conseguiu ainda ilustrar de forma correta o conflito comum entre a medicina e a religião, através do ceticismo dos médicos no início do tratamento da garota. Finalmente, o filme jamais abre espaço para o humor, o que soaria falso e deslocado, a não ser pela repetição da piada sobre o filme que está passando no cinema no final do filme, já quando o espectador está mais relaxado.

Também colabora sensivelmente para o sucesso do longa o talentoso elenco dirigido por Friedkin. Ellen Burstyn e Linda Blair mostram uma boa química no início, o que serve até como comparação para a incrível transformação que ambas sofrerão durante o restante do filme. Regan, sempre sorridente, e Chris, sempre carinhosa, vão lentamente se transformando em pessoas completamente diferentes por razões distintas. Burstyn é extremamente competente, por exemplo, ao demonstrar sua comoção com a notícia da morte de Burke, chorando escandalosamente e com as mãos trêmulas. Seu desespero para tentar curar a filha é tocante, apelando para toda e qualquer ajuda vinda dos médicos, psiquiatras ou até mesmo de um especialista em hipnose. Observe sua reação ao ouvir a sugestão de um médico para procurar o exorcismo (e aqui ele dá uma explicação técnica para o sucesso do ritual, mostrando novamente que a medicina não tolera a explicação religiosa). Ela olha assustada para todos na mesa, mudando o foco do olhar da direita para a esquerda e vice-versa, tentando entender o que era aquilo. Finalmente, Burstyn completa sua transformação na cena em que expõe todo seu sofrimento ao gritar para o padre Karras que ela reconheceria sua filha de qualquer jeito (“Aquela coisa lá em cima não é minha filha!”). A atriz é muito competente na transmissão da dor e do desespero de Chris. Da mesma forma, Linda Blair também merece destaque pela excelente performance como Regan MacNeil. Inicialmente meiga e apegada à mãe, a garota lentamente se transforma num verdadeiro monstro, e o desempenho de Blair cresce consideravelmente quando está possuída. Aterrorizante, o resultado final de sua transformação é mérito também da excelente maquiagem e dos sensacionais efeitos sonoros, como podemos observar na primeira vez que a garota fala com a voz alterada. Jason Miller consegue transmitir muito bem o drama vivido pelo Padre Karras, que tem uma vida extremamente complicada. Localizada em um bairro pobre (as ruas pichadas e cheias de lixo mostram o bom trabalho de Direção de Arte), a velha e desorganizada casa reflete seu estado psicológico, seriamente afetado pela doença de sua mãe. A relação com a mãe, aliás, é algo muito importante para Karras. Talvez pelo fato de não ser casado, ela se tornou sua única companheira. Um dos seus bons momentos acontece quando Chris fala sobre exorcismo e ele pergunta espantado: “Como é?”. Completando o elenco principal, Max Von Sydow oferece uma ótima atuação como o experiente Padre Merrin, que encontra o seu destino no quarto de Regan e reforça o primeiro ato do filme, dando um peso maior à forte cena do exorcismo. Sydow é extremamente competente na criação do clima perfeito para o ritual, transmitindo ao espectador o perigo que aquilo representa, por exemplo, quando está rezando no banheiro.

Além do talentoso elenco, “O Exorcista” conta ainda com um apurado trabalho técnico que aumenta ainda mais o clima de suspense. Observe como a fotografia (Direção de Owen Roizman e Billy Williams) começa a escurecer na medida em que Regan começa a dar sinais de estar possuída. Com o passar do tempo, a fotografia se torna ainda mais sombria, ajudada também pela paleta granulada que torna a imagem menos nítida. Friedkin aumenta a sensação de horror ao jogar imagens demoníacas que piscam rapidamente na tela. O ótimo trabalho de som também colabora para criar o clima perfeito, como na cena em que podemos ouvir os barulhos no sótão da casa de Regan. O som ajuda também nos sustos causados na platéia, como na cena em que Chris investiga a origem dos barulhos na casa, além de funcionar perfeitamente nas cenas em que Regan está possuída.

Ao contrário de filmes como “Tubarão”, onde o suspense é muito mais psicológico, “O Exorcista” aposta no visual para causar medo no espectador. De maneiras diferentes, os dois filmes conseguem sucesso. Quando Regan desce as escadas no meio de uma festa, diz uma frase macabra e faz xixi no chão, o espectador percebe o nível das assustadoras cenas que vai presenciar. E a coleção de cenas aterrorizantes é enorme. Regan vira a cabeça completamente para trás, desce a escada de costas com as mãos e os pés apoiados nos degraus (na famosa cena conhecida como a “menina-aranha”), agride sua própria genital com um crucifixo dizendo palavras obscenas, levita sobre a cama e move objetos para tentar agredir quem entra em seu quarto, entre outras cenas impressionantes.

Assustador e repleto de imagens chocantes, “O Exorcista” faz ainda um excelente estudo sobre a perda da fé. Observamos pessoas completamente diferentes e que enxergam a fé de formas ainda mais distantes, alterarem suas vidas após serem atingidos por tragédias particulares. O Padre Karras, completamente modificado após a perda da mãe, enxerga no drama de Chris a possibilidade de se reencontrar com sua fé. Chris, que segundo ela mesma não tem religião, se entrega à fé para tentar salvar sua pequena filha. E o Padre Merrin, mesmo com toda sua experiência na vida religiosa, tem sua fé realmente testada dentro do quarto de Regan.

Extremamente visual sem se descuidar de seu conteúdo, “O Exorcista” é um filme aterrorizante, com imagens fortes e boas atuações. Seu roteiro coeso aborda a complicada possessão da garota de forma lenta, elevando a tensão a níveis extremos de maneira inteligente. Acredite ou não em espíritos ou demônios e, independente de qual seja a sua fé, o espectador jamais sai indiferente ao filme. Goste ou não, é impossível não respeitar a qualidade do trabalho realizado e o resultado alcançado.

Texto publicado em 15 de Outubro de 2009 por Roberto Siqueira

DOZE HOMENS E UMA SENTENÇA (1957)

(12 Angry Men) 

5 Estrelas 

Obra-Prima 

Videoteca do Beto #13

Dirigido por Sidney Lumet.

Elenco: Henry Fonda, Lee J. Cobb, E. G. Marshall, Jack Klugman, Ed Begley, Martin Balsam, John Fiedler, Ed Binns, Jack Warden, Joseph Sweeney, George Voskovec, Robert Webber. 

Roteiro: Reginald Rose. 

Produção: Henry Fonda e Reginald Rose. 

[Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir que só leia esta crítica se já tiver assistido o filme. Para fazer uma análise mais detalhada é necessário citar cenas importantes da trama].

“É sempre difícil deixar o preconceito fora de uma questão dessas. Não importa pra que lado vá, o preconceito sempre obscurece a verdade”. A poderosa frase dita por um personagem chave em determinado momento da trama resume bem a mensagem principal deste filme absolutamente corajoso, envolvente e surpreendentemente original. Filmado quase que em sua totalidade dentro de uma única sala (somente 3 minutos acontecem fora dela), “Doze Homens e uma Sentença” é a prova de que um filme pode sim ser do mais alto nível sem a necessidade de grandes investimentos, apenas utilizando a criatividade e o talento.

Doze jurados têm a responsabilidade de decidir se um jovem garoto, acusado de matar o próprio pai, é culpado ou inocente. Com base na enorme quantidade de provas apresentadas pela promotoria, onze deles têm absoluta certeza de que o menino é culpado. Mas um dos jurados não pensa desta forma. Como a lei exige unanimidade na decisão, todos tentarão argumentar para convencer o último jurado de que eles têm razão.

A obra-prima de Lumet nos leva inicialmente ao tribunal onde o julgamento do garoto está acontecendo. Minutos depois, somos transportados, junto com os atores, para dentro da sala onde a importante decisão será tomada. O close no garoto antes de nos jogar dentro dela, auxiliado pela lenta e triste trilha sonora, nos lembra o que está em jogo naquele momento. Um dos grandes méritos do filme, aliás, é que o roteiro de Reginald Rose nunca nos diz se o garoto é de fato inocente ou culpado. Mesmo assim, a perfeita argumentação de apenas um jurado é suficiente para nos fazer concordar com ele logo no início do filme. Desta forma, quando a segunda votação proposta pelo personagem de Henry Fonda tem inicio, nos pegamos torcendo para alguém ter escrito “não culpado” no papel, pois os argumentos apresentados por ele foram convincentes e nos provam que não temos a certeza necessária para acusar o menino.

A direção de Lumet é absolutamente competente na direção de atores, evitando que o filme se torne maçante (o que seria compreensível em um filme que se passa o tempo todo no mesmo local). Observe como os atores sempre fazem algo para ter um pouco de movimentação em cena, como tirar os casacos, mexer nos óculos, levantar, olhar pela janela, ligar o ventilador ou mudar de posição na mesa. Este absoluto controle da movimentação em cena (misè-en-scene) pode ser observado em detalhes na cena em que um jurado preconceituoso (Ed Begley) começa a fazer seu discurso inflamado contra o garoto. Os outros jurados começam a se levantar e ficar de costas pra ele, demonstrando que não concordam com o que ele fala. A câmera se distancia lentamente, diminuindo o personagem na cena. Simultaneamente, ele vai diminuindo o tom de voz, até ficar desolado e sentar numa cadeira. O elenco atua em conjunto e a cena visualmente é perfeita na tradução do sentimento de todos. Além disso, Lumet explora ao máximo as possibilidades que a situação oferece, utilizando a câmera para nos transmitir sentimentos. Em uma das votações, Lumet vai aproximando lentamente a câmera do imigrante enquanto eles contam nove a três para “culpado”. Quando a câmera está bem próxima, ele muda de opinião e vota inocente. A câmera traduz visualmente o momento em que ele se convence e muda, engrandecendo-o na tela, como se a coragem para mudar estivesse crescendo dentro dele até o ponto de externar esta decisão. Outro detalhe perceptível é que a câmera inicia o longa filmando a maioria do tempo por cima, em plano geral. Com o passar do tempo ela vai descendo e filma os atores pela metade do corpo e quando se aproxima o final do filme, Lumet abusa da utilização de close no rosto deles. Desta forma, o diretor traduz visualmente o aumento da tensão e da sensação de angústia dos jurados. A chuva também é um artifício muito bem utilizado para aumentar esta sensação de incomodo e desconforto, como se eles estivessem se sentindo enclausurados. Finalmente, Lumet capta muito bem as excelentes atuações de todo o elenco. Repare, por exemplo, a cena em que os jurados discutem sobre a velocidade dos passos de uma das testemunhas do caso. Um jurado diz que “um velho daquele jamais saberia precisar esta informação” e a câmera da um close nele exatamente no momento em que percebe ter escancarado seu preconceito, o que se agrava pela presença de um senhor de idade na sala.

É preciso dizer que, para o sucesso absoluto do filme, a excepcional direção de Lumet não seria suficiente. Seria preciso também um elenco extremamente capaz. E felizmente, este é o caso. Isto porque mesmo quando não estão diretamente ligados à cena, os atores estão sempre aparecendo, mesmo que seja em segundo plano, o que os obriga a “atuar” praticamente durante todo o filme. Logo na primeira votação dois detalhes já mostram sutilmente como é o ser humano, graças à fenomenal interpretação coletiva do elenco. Ao perguntar quem considera o garoto culpado, alguns erguem as mãos na hora. Outros aguardam alguns segundos, observam e só depois erguem, claramente seguindo a opinião da maioria sem a menor convicção. Já quando começa a contagem, ao ver que Fonda não ergueu a mão, o rapaz que conta faz uma pausa, mostrando-se impressionado com o voto dele. Todos olham pra ele como forma de intimidá-lo pela atitude tomada. Henry Fonda encabeça o elenco com uma atuação do melhor nível. Inicialmente pensativo, ele vai lentamente mostrando que os seus argumentos são mais do que suficientes para não condenar o garoto. Quando o jurado nº 1 (Martin Balsam) pergunta: “Você não acha que ele é culpado?”, ele responde: “Eu não sei”. Esta é à base do seu argumento, e a grande lição do filme, ou seja, se você não tem certeza absoluta, não pode condenar uma pessoa à morte. Um dos seus grandes momentos acontece logo após a demonstração de que a testemunha não conseguiria correr determinada distância em 15 segundos. Um dos jurados (interpretado magnificamente por Lee J. Cobb) diz que eles estão loucos, sendo convencidos por contos de fadas e deixando o garoto escapar pelas mãos. Ao ser provocado por Fonda, Cobb explode em cena, rangendo os dentes, cerrando os olhos e furiosamente partindo pra cima dele. Fonda, cinicamente, prova que estava certo antes ao afirmar que nem sempre queremos fazer o que dizemos. Lee J. Cobb reafirma seu talento quando altera seu voto, mostrando com muita emoção o motivo de sua posição firme até ali. É até difícil apontar destaques no elenco, já que todos têm atuações de alto nível. O jurado nº 7 (Jack Warden), por exemplo, se mostra logo no inicio como alguém fanático por esporte e que pouco se importa com o que está em jogo. Seu desinteresse fica ainda mais evidente quando muda seu voto sem nenhum motivo plausível, o que gera a revolta do jurado imigrante, interpretado por George Voskovec. John Fiedler, como o jurado nº 2, mostra através da voz sua timidez e insegurança. Martin Balsam conduz a votação com firmeza e se mostra bem justo e convicto de suas opiniões. O jurado nº 4 (E. G. Marshall) também mostra a mesma postura e quando Fonda questiona o que ele fez nos últimos dias, suas respostas são rápidas, como quem quer mostrar que tem certeza do que está falando. Joseph Sweeney, como o jurado nº 9, fala com muita propriedade sobre os motivos que levariam uma testemunha a mentir, numa alusão clara a ele mesmo, que também é um senhor de idade. Observe como ele faz uma pequena pausa quando alguém tosse e depois prossegue no discurso. Estes pequenos detalhes mostram a qualidade da interpretação de todo elenco.

O roteiro de Reginald Rose também tem grande mérito no sucesso do filme. Com diálogos ágeis e sempre interessantes, consegue prender a atenção do espectador em todos os momentos. Aborda também diversos temas polêmicos e escancara preconceitos, o que é bastante válido. Na primeira votação, por exemplo, os jurados começam a explicar porque votaram em “culpado”. E já no primeiro jurado podemos ver um erro que é freqüentemente cometido pelas pessoas, quando ele diz que acha que é culpado porque ninguém provou o contrário. Ora, como diz o personagem de Fonda, o ônus da prova é da promotoria, ou seja, o réu pode ficar calado. Quem tem que provar é quem acusa. Só que infelizmente o ser humano tem a tendência de julgar imediatamente como culpado alguém que é apenas acusado de algo. Outro trecho interessante do roteiro é a cena em que um jurado diz que o menino não sabe nem falar o inglês correto (“He don’t speak good english”. O imigrante corrige: “He doesn’t”). Este trecho irônico mostra que o preconceito dele é idiota, já que o imigrante fala inglês melhor do que ele próprio.

Como se não bastassem todas estas qualidades, “Doze Homens e uma Sentença” propõe ainda uma reflexão interessante no espectador, ao abordar o já citado preconceito de diversas formas diferentes. Temos o preconceito contra a origem da pessoa (um dos homens diz que o cortiço é uma escola de bandidos), contra os imigrantes (o esportista diz: “eles vêm para o nosso país e já querem dar opinião”), o preconceito contra os mais velhos e até mesmo contra os jovens, que é o grande motor da fúria de um dos jurados que havia brigado com o filho e deixou este problema pessoal afetar sua decisão no caso. Em resumo, o filme nos mostra claramente que jamais devemos nos deixar levar pelas aparências. Por tudo isso, podemos dizer que a parte técnica discreta e limitada pelo ambiente único não faz nenhuma falta. O filme é completo e não precisa de mais nada.

Sidney Lumet conseguiu realizar em “Doze Homens e uma Sentença” uma verdadeira aula de cinema, utilizando de forma excepcional o seu talentoso elenco, abusando de sua qualidade como diretor e criando, no fim das contas, uma verdadeira obra-prima. Admiradores do cinema devem saborear este filme singular, que é a prova de que mesmo sem grandes recursos técnicos o cinema pode nos oferecer grandes obras.

PS: Para ver outra crítica interessante do filme no Blog Cinepapo, de meu amigo Augusto, clique aqui.

Texto publicado em 29 de Setembro de 2009 por Roberto Siqueira